Bom Saber #008: João Paulo Cuenca

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Quando fiz a entrevista da semana passada do meu programa Bom Saber, com o escritor carioca João Paulo Cuenca, ele havia acabado de trancar sua conta no Twitter após ter publicado uma frase polêmica que lhe transformou em alvo das hordas digitais bolsonaristas. Mas o que poderia ser só mais um contratempo infeliz nessa época bizarra que vivemos, acabou por custar-lhe a coluna que mantinha no site brasileiro do canal alemão Deustche Welle. Considerei a possibilidade de retornar o papo para que ele pudesse dar sua versão da história e dar espaço para que ele falasse sobre o ocorrido e é por isso que este Bom Saber tem duas partes: na primeira ele apenas menciona o acontecimento no início e depois falamos sobre o processo de feitura de seu próximo livro, que conta com um diário multimídia de quarentena que vem sendo publicado na revista Quatro Cinco Um e sobre como o momento que atravessamos hoje mexe na criação artística.

O Bom Saber é meu programa semanal de entrevistas que chega primeiro para quem colabora com meu trabalho (pergunte-me como no trabalhosujoporemail@gmail.com), como uma das recompensas do Clube Trabalho Sujo. Além de JP, já conversei com Bruno Torturra, Roberta Martinelli, Ian Black, Negro Leo, Fernando Catatau, André Czarnobai e Alessandra Leão – todas as entrevistas podem ser assistidas aqui ou no meu canal no YouTube, assina lá.

Noites Trabalho Sujo especial 21 anos do Trabalho Sujo!

Noites Trabalho Sujo | 12.11.2016

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Começa então a época do ano em que a inclinação do eixo do planeta nos torna mais próximos do sol e as ondas magnéticas de calor ajudam a tornar nosso experimento mensal de energia orgônico-psíquica ainda mais intenso. É a metade do ano iniciada em novembro, que enfileira comemorações em relação à chegada do verão, à do novo ano, ao aniversário da própria celebração e as folias mominas. A primeira destas datas especiais é a maioridade moral do brainstorm individualista que originou esta própria celebração, quando o Trabalho Sujo, projeto-objeto do ciberasociólogo Alexandre Matias, completa 21 primaveras. O aniversário é celebrado ao lado de seus velhos cúmplices de expedições intracerebrais, o mestre da magia Danilo Cabral e o antropófilo Luiz Pattoli, que se reúnem mais uma vez num culto às graves frequências que conduzem quadris ao chão. Antes desta apresentação, os pesquisadores pernambucanos Jarmeson de Lima e Marcio Padrão repetem a participação recente que fizeram em nosso colóquio expondo os ouvintes a excertos de cultura musical de todas as partes do planeta. No auditório preto, temos a estreia de duas Camilas em uma apresentação, as dras. Proença e Duarte, que prometem tocar a alma dos presentes ao varias referências deste e do século passado num fluxo contínuo de boas vibrações, em homenagem também ao aniversário da primeira. Os cineastas Ricardo Spencer e Vera Egito entram em seguida traçando paralelos entre a new wave e o indie rock, o punk clássico e a psicodelia em uma narrativa sonora envolvente. E ao final da apresentação, o cronista do apocalipse João Paulo Cuenca submete os presentes a uma sessão de descarrego de discomacumba. O seminário acontece mais uma vez no quarto andar de uma construção localizada entre o Largo do Payssandu e a Galeria Olido e só é concedida a presença aos que enviarem os próprios nomes para o endereço eletrônico noitestrabalhosujo@gmail.com até às 23h45 deste sábado 12 de novembro de 2016. Estejam avisados. E aqui segue uma playlist para entrar no clima da festa.

Noites Trabalho Sujo @ Trackers
Sábado, 12 de novembro de 2016
A partir das 23h45
No som: Alexandre Matias, Luiz Pattoli e Danilo Cabral (Noites Trabalho Sujo), Marcio Padrão e Jarmeson Lima, Camila Proença e Camila Duarte, JP Cuenca, Ricardo Spencer e Vera Egito
Trackers: R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
Entrada: R$ 30 só com nome na lista pelo email noitestrabalhosujo@gmail.com. O preço da entrada deve ser pago em dinheiro, toda a consumação na casa é feita com cartões. E chegue cedo.

A voz do morto

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O escritor e compadre João Paulo Cuenca está lentamente mudando sua carreira ao incluir os papéis de diretor de cinema e ator em seu currículo. A Morte de J.P. Cuenca, seu primeiro filme, é irmão de seu novo romance, Descobri Que Estava Morto, que ele lança na próxima edição da Flip, em Paraty, em que participa de uma das mesas da tenda dos autores. As duas obras se complementam ao contar a história de sua morte, descoberta a partir de um homônimo que usava todos seus dados e apareceu morto em um prédio invadido. E como queria lançar livro e filme ao mesmo tempo, abriu uma campanha de financiamento coletivo para colocar o filme no cinema ao mesmo tempo em que o livro chegasse às livrarias.

“O crowdfunding é para levantar dinheiro para a distribuição do filme”, ele me explica por email. “As distribuidoras interessadas só poderiam lançar o filme comercialmente no ano que vem. E como eu achava muito importante que ele saísse junto do livro, na época da Flip, resolvi fazer na raça, mesmo. Distribuição independente de guerrilha. O problema é que realmente é caro distribuir um longa-metragem: você precisa ter alguém cuidando da relação com as salas em todo o país, fazer trailer, cópias em DCP, posters, envios, ter uma assessoria de imprensa etc. Muita coisa envolvida pro filme chegar ao circuito comercial no timing certo. Esse crowdfunding é uma campanha de pré-venda: você recebe tudo o que comprar. Eu estou agradecendo muito cada um que está participando, as pessoas não fazem idéia de como é importante.” Quem quiser colaborar com o filme, basta seguir as coordenadas no link do site Kickante.

Notório crítico tanto do governo derrubado pelo golpe quanto do próprio golpe, JP tem uma visão pessimista sobre o futuro próximo do país: “Sombrio”, resume. “Para melhorar, ainda vai piorar muito. Estou aqui preparando minha armadura de escafandro.” Por ter sido traduzido em vários idiomas, ele é chamado por veículos estrangeiros para explicar o que está acontecendo por aqui. “Já escrevi textos para jornais gringos e também falei pra TV de fora”, continua. “Acho que, por incrível que possa parecer nesse momento, quem mora fora do Brasil entende muito melhor o que está acontecendo do que a média do povo brasileiro. É só comparar a cobertura do NYT, da BBC e do Guardian com o que você encontra em panfletos como a Veja e o Jornal Nacional.” E resume a importância da cultura neste momento trevoso: “É um farol. Único ponto de referência para um país que está derretendo junto a todas as suas instituições.”

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Como aconteceu a história de sua morte?
O cadáver de um homem foi identificado pela PM com a minha certidão de nascimento num edifício ocupado na Lapa, Rio de Janeiro. Isso foi em julho de 2008. Descobri em 2011 e contratei detetives pra descobrir como minha certidão parou lá. No processo, comecei a ir cada vez mais ao quarteirão do prédio que virou um condomínio reformado. E aí começa a história.

Era um livro que virou um filme ou um filme que virou um livro? Como vc acha que essas midias – incluindo disco, HQ etc – que antes viviam separadas vão se juntar neste século?
As duas coisas aconteceram juntas, os processos se retroalimentaram. Eu consegui morar no prédio onde morri com grana do filme. Eu descobri coisas que entraram no filme por causa da pesquisa para o livro. É difícil para mim separar uma coisa da outra nesse momento. Até porque esse tripé se complementa com uma performance presencial: o filme e o livro continuam cada vez que estou lá falando deles. E não é só uma obra aberta: o inquérito policial também ainda está aberto. Quem ler e ver o filme vai entender do que estou falando.

Como será sua participação na Flip este ano? É a primeira vez que você sobe no palco principal da festa ou estou enganado?
Eu fui convidado da primeira Flip, em 2003, e depois participei algumas vezes moderando mesas e em outros espaços da festa. O primeiro lançamento do livro Descobri Que Estava Morto será lá. Tenho uma relação especial com a Flip, eu vi a primeira estourar. Estava em Paraty desde antes – fui escrever um conto que está num livro comemorativo da primeira festa, o Paraty Para Mim, com o Chico Mattoso e o Santiago Nazarian.

Como foi a Noite Trabalho Sujo com o Luiz Pattoli, o Wilson Farina e o JP Cuenca

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Luiz Pattoli fez bonito enquanto estive fora e ao lado do JP e do Wilsera incendiaram a pistinha do Alberta daquele jeito – saca só as fotos da Natália aí embaixo. E se você vai passar o carnaval em São Paulo, prepare-se: sexta quem comanda a Noite Trabalho Sujo é a Babee que chamou o Klaus para viver os tempos áureos da Fireworks em clima de folia. E depois, na terça-feira… Só digo uma coisa: MARQUE NA SUA AGENDA.

 

Adeus ao Rio de Janeiro

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O compadre João Paulo Cuenca – o escritor carioca JP, que tocou na última Noite Trabalho Sujo com o Wilson e o Pattoli – mudou-se para São Paulo desistindo de vez do Rio de Janeiro e deixou seu adeus à antiga Cidade Maravilhosa em sua coluna pro caderno de turismo da Folha. Um trecho:

A política da prefeitura carioca de transformar todos os habitantes da cidade em turistas, priorizando a grana e o lobby de projetos marqueteiros e excludentes, tem transformado o balneário numa cidade ainda mais cara. E, se temos o pior sistema de transporte público do Brasil (é a cidade onde mais se demora a chegar ao trabalho no país), o que dizer da qualidade dos serviços e da nossa mui cara esculhambação? Esse é o principal problema em nascer num cartão-postal careado: acaba-se pagando muito caro, e todos os dias, por algo que não corresponde à fotografia.

É destino melancólico para um lugar que poderia ser a capital cultural do Brasil e do hemisfério sul do planeta. Os maiores artistas brasileiros do século 20 se não nasceram no Rio, moraram ou aconteceram por lá. Hoje, os escassos talentos da província estão à venda e o preço é baixo. Seus pensamentos cheios de fórmulas e receitas velhas, curvados aos fortes, às ideias vencedoras e antigas. As exceções são raras. Como raras as publicações que não contribuem para mascarar a realidade através de manipulações grosseiras. E raros os jornalistas e intelectuais que não se curvam a uma estrutura notoriamente corrupta. Parecem ter medo de perder a boquinha e a pulseira da área VIP.

Leia-a na íntegra aqui. A foto que ilustra o post saiu do Insta dele.

Noites Trabalho Sujo apresenta Luiz Pattoli + Wilson Farina + JP Cuenca

noites6fevereiro2015

Começamos os trabalhos de fevereiro com a presença do grande Luiz Pattoli, que passou janeiro fora do ar e agora volta à toda para nos contar as novidades que trouxe de seu período de descanso. Para ajudar-lhe nessa jornada, Luiz chamou o broder Wilson Farina para ferver a noite, que ainda conta com a presença do escritor carioca JP Cuenca, em sua primeira semana como morador de São Paulo. Nome na lista pro email noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h. Vai ser daquelas noites perfeitas, vai vendo!

Noites Trabalho Sujo apresenta Luiz Pattoli + Wilson Farina + JP Cuenca
Com Luiz Pattoli, Wilson Farina e JP Cuenca
Sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Alberta #3. Avenida São Luís, 272. Centro.
A partir das 22h.
R$ 35 / R$ 25 (com nome na lista pelo noitestrabalhosujo@gmail.com)

Como foi a Noite Trabalho Sujo com o Pattoli, seus primos e o JP Cuenca

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JP começou a Noite Trabalho Sujo passada só no batidão sem suor, esquentando a pista para a entrada do Pattoli com seus primos Daniel e Luciana (e até eu apareci para dar uma palhinha) numa sexta memorável, saca só nas fotos do Bira. E a próxima é o Danilo com a Ligia, promete!

 

Noites Trabalho Sujo apresentam Pattoli + primos + JP Cuenca

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Seguindo a saga do verão 2014, a edição desta semana da melhor sexta-feira de São Paulo fica na mão do velho compadre Luiz Pattoli, que convocou seus primos Daniel Claudio e Luciana Mancini para dividir a cabine do porão do Alberta #3, prometendo não deixar ninguém parado! E antes dos três tomarem conta da noite, que inicia os trabalhos é o escritor carioca e bon vivant João Paulo Cuenca, que dá um gostinho de sua recém inaugurada festa vespertina carioca Mojito. O leque de música desta sexta, portanto, vai dos hits mais grudentos da música pop a hinos hipsters que ninguém ainda ouvido. As coordenadas pra melhor sexta de São Paulo, você sabe – estão tanto no site do Alberta #3 quanto na página do evento do Facebook – e os nomes pra lista de desconto seguem pro email noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h ,combinado? A sexta vai ser daquelas!

A mídia, os artistas, o medo e o silêncio, por João Paulo Cuenca

rio-outubro-2013

JP Cuenca postou no Facebook, mas achei importante reforçar seu nome aos bois:

Você, articulista de jornal, rádio e tv, que ajudou a criminalizar os protestos e abriu espaço para a porrada da polícia no povo: a culpa é sua.

Você, editor preguiçoso, que jamais contou o número de manifestantes feridos, mas sim o número de cacos de vidro no chão: a culpa é sua.

Você, repórter, que fechou uma matéria sem ouvir nem sequer um manifestante, comprando a versão da PM como fato depois de décadas de assassinato e abuso: a culpa é sua.

Você, profissional liberal com voz na sociedade, que prefere não emitir nenhuma opinião porque tem medo de perder o emprego, o contato, a boquinha ou a pulserinha na área VIP: a culpa é sua.

Você, indigente intelectual militante de “esquerda”, que se cala para manter seus negócios, conchavos ou empreguinhos no governo Dilma ou Cabral: a culpa é sua.

Você, escritor, cineasta, diretor de teatro, ator, artista plástico, que se cala com medo de queimar seu filme para os próximos editais, prêmios, bolsas e regadores de mão oferecidos pelas três esferas de poder estatal: a culpa e sua.

Chegou o futuro: somos todos políticos agora. o silêncio é a sua mão suja.

É um bom ponto. (A foto que abre o post foi twittada pelo Rafucko.)