No dia seguinte do aniversário do recém-falecido amigo, o mestre toca sua “Learning to Fly” ao vivo – publiquei o vídeo lá no meu blog no UOL.
A morte de Tom Petty, no início do mês, pegou a todos de surpresa: fãs, amigos, parentes e músicos. Um dos mais abalados pela notícia tenha sido o notoriamente imóvel Bob Dylan, que lamentou a perda do amigo em um raro comunicado emotivo: “Foi uma notícia chocante, devastadora”, disse à revista Rolling Stone. “Eu achava que Tom era o máximo. Era um grande artista, cheio de luz, um amigo e nunca me esquecerei dele.” Dylan assistiu à ascensão do artista, vendo-o firmar-se a ponto ser o caçula da elite de veteranos chamada Travelling Willburys, supergrupo criado nos anos 80 que reunia, além de Tom e Bob, Roy Orbinson, Jeff Lynne e George Harrison. A homenagem ao falecido amigo prosseguiu neste fim de semana, quando, no sábado, Dylan lembrou que Tom Petty completaria 67 anos na véspera, puxando uma versão de um dos maiores hits do cantor e compositor, “Learn to Fly”, durante um show na cidade Denver, no estado do Colorado, nos Estados Unidos.
Smiths relançam sua obra-prima The Queen is Dead em edição cheia de raridades – escrevi sobre o lançamento no meu blog no UOL.
Com um atraso de um ano em relação ao aniversário de trinta anos de seu disco mais clássico (lembrado por este que vos escreve no ano passado), os Smiths voltam a The Queen is Dead em um relançamento cheio de raridades. Além de uma versão remasterizada do álbum, a De Luxe Edition do disco de 1986 é relançada como caixa de três CDs ou em cinco vinis conta com discos que são verdadeiras relíquias para os fãs do disco.
A primeira delas é uma integral versão alternativa para o álbum, criada a partir de demos e versões diferentes do disco original. São versões bem próximas às conhecidas, algumas com diferenças consideráveis, como o trompete e as risadas ao final de “Never Had No One Ever” e as deliciosas versões cruas de “Bigmouth Strikes Again”, “There is a Light That Never Goes Out” e “Some Girls Are Bigger Than Others” (arrisco dizer que esta última é tão boa quanto a original, com seu dedilhado de guitarras esticado como num sonho). O disco ainda conta com músicas que foram lançadas como lados B dos singles do disco, também remasterizadas, como “Rubber Ring” (que já havia sido antecipada no ano passado), “Asleep”, a instrumental “Money Changes Everything” e “Unloveable”.
A outra é a oficialização do registro pirata da primeira apresentação ao vivo do disco nos Estados Unidos, quando os Smiths tocaram no Great Woods Amphitheater, na cidade de Mansfield, na grande Boston, no dia cinco de agosto de 1986. Originalmente lançado em 1986 como o disco pirata duplo Live in the USA, o show é eternizado como Live in Boston e traz as primeiras versões ao vivo para quase todas as faixas do disco clássico, além de outras como “How Soon is Now?”, “Hand in Glove”, “I Want the One I Can’t Have”, “Strech Out and Wait”, “Is it Really So Strange?”, “That Joke Isn’t Funny Anymore”, entre outras. As duas últimas músicas do show, no entanto, ficaram inexplicavelmente de fora da versão oficial. Uma pena, já que “Heaven Knows I’m Miserable Now” e “Bigmouth Strikes Again” são dois dos maiores clássicos do grupo. O disco, no entanto, como a maioria das gravações ao vivo dos Smiths vale mais como registro da banda ao vivo do que propriamente como um bom show capturado em áudio.
A edição Deluxe do Queen is Dead também está disponível nas plataformas digitais.
Pude assisti-lo novamente, aos 75 anos de idade, pela sétima vez na vida – contei como foi lá no meu blog no UOL.
Outro clássico de David Bowie lançado em 1977 faz aniversário hoje – escrevi sobre “Heroes” no meu blog no UOL.
A fase Berlim de David Bowie não foi apenas seu ápice criativo, foi também seu período de amadurecimento e de desintoxicação. Ao sair da Los Angeles em que era tratado como realeza e mudar-se para uma cidade que ninguém parecia dar muita bola para sua fama, o músico inglês tomou vários choques de realidade. Depois de conquistar seu país e os Estados Unidos, ele se reencontrava com o Velho Continente apenas para perceber que nunca o havia conhecido. A frieza de viver em uma cidade dividida ao meio após a Segunda Guerra Mundial no auge da Guerra Fria também lhe causava uma sensação de estranhamento desagradável e a ausência de cocaína na Alemanha daquele período o obrigou a repensar sua própria biografia de diversos pontos de vista.
O principal alicerce nessa fase foi sem dúvida o produtor inglês Brian Eno. Velho amigo de David Bowie, o ex-Roxy Music abandonara de vez os palcos após dois anos com a banda liderada por Bryan Ferry, para dedicar-se ao estúdio, que encarava como um instrumento musical. Diplomado em arte, Eno começava a aplicar a lição que os Beatles e o Pink Floyd exercitaram na virada dos anos 60 para os 70 para um novo patamar e abria mão das canções, de formatos pré-estabelecidos, de instrumentos identificáveis e do ritmo, embarcando em uma viagem quase visual da música, cultivando timbres e texturas sonoras mais do que letras ou melodias. A utilização de sintetizadores e outros instrumentos eletrônicos o tornaram o pai da ambient music, que tinha como uma de suas inspirações as vertentes mais zen do rock psicodélico alemão, vulgarmente conhecido como krautrock.
Eno estava na Alemanha, produzindo o grupo Harmonia, quando Bowie mudou-se para Berlim. O contato entre os dois foi rápido e logo estavam trabalhando juntos, produzindo uma das maiores obras da carreira de Bowie, o monumental disco Low. Contudo, o disco inaugural da fase Berlim de David Bowie, lançado em janeiro de 1977 (cujo aniversário de 40 anos celebrei neste texto), não foi fruto daquela cidade. A maior parte de Low já chegou pronta no estúdio e foi registrada em sua maioria na França, no Castelo de Hérouville. Apenas algumas partes foram gravadas em Berlim, mesmo que a influência da cidade alemã já pudesse ser sentida nas letras e nos títulos das canções.
E por mais que Low tenha iniciado a relação de Bowie com Eno de forma avassaladora, a colaboração entre os dois foi selada de fato no disco seguinte, lançado no dia 14 de outubro de 1977, há exatos 40 anos. “Heroes” – entre aspas mesmo – não é tão importante quanto o disco anterior, mas é o álbum que consagra não apenas a nova fase da carreira do compositor como o eterniza como um dos principais nomes da música pop do século passado, forjando parâmetros que ajudaram a moldar o pop deste século. É o ponto de amadurecimento de um compositor seguro de si mas disposto a correr riscos e o disco que traga aquela que é considerada sua canção mais emblemática.
Foi um disco praticamente composto em estúdio. Apenas uma música – “Sons of the Silent Age” – chegou pronta ao hoje mítico Hansa, um estabelecimento que nos anos 30 e 40 era um salão de bailes nazista e nas décadas seguintes uma sala de gravação de concertos, até começar, em 1974, a gravar discos comerciais, sempre a poucos metros do infame Muro de Berlim. Low e “Heroes” (bem como os dois discos de Iggy Pop que Bowie produziu nesta mesma fase, The Idiot e Lust for Life) foram os primeiros grandes álbuns a sair de suas dependências, abrindo caminho para obras clássicas de artistas de peso como Depeche Mode, Killing Joke, Nick Cave & the Bad Seeds, Marillion, Siouxsie & the Banshees, Wire, Pixies, U2, Snow Patrol, Supergrass, Psychedelic Furs, R.E.M. e Manic Street Preachers, entre outros.
Para ajudá-lo neste novo álbum, Bowie mais uma vez chamou Brian Eno para ser seu parceiro e o produtor Tony Visconti, que também havia trabalhado em Low bem como em discos anteriores de Bowie (como seu disco de estreia, The Man Who Sold the World, David Live e Young Americans). Os dois passaram a explorar a acústica do espaço com os timbres eletrônicos e alienígenas propostos pelos sintetizadores trazidos por Eno, sempre preparando terreno para Bowie sentir-se à vontade para compor.
Como Low, “Heroes” também vinha dividido conceitualmente em dois lados. O primeiro deles, dedicado às canções, abre sorrateiro com um hino à vida sem drogas. “Eu queria acreditar em mim, eu queria ser bom, não queria distrações, como todo bom garoto deveria”, cantava imponente em “Beauty and the Beast” sobre uma paisagem sonora conduzida por um piano e um groove elétrico-eletrônico que repetem o mesmo motivo por toda a música, “nada nos corromperá, nada competirá, felizmente os céus nos deixaram de pé.”
Logo no início do disco é possível ouvir um novo som, metálico e elétrico, completamente distinto das paisagens etéreas de Low. Foi a arma secreta que Eno sacou para o disco, ao convidar o guitarrista Robert Fripp, que havia se aposentado do grupo King Crimson – e da música – três anos antes para estudar as obras do mago armênio George Ivanovich Gurdjieff (voltando para o disco apenas no primeiro disco de Peter Gabriel, gravando sob pseudônimo). Depois de muito conversar com Fripp pelo telefone, Brian o convenceu a vir para o estúdio por uma semana, quando o disco já tinha sido composto e estava sendo finalizado. Sem ouvir nenhuma música nem conhecer David Bowie pessoalmente, Fripp chegou no Hansa, ligou seu instrumento e começou a tocar sobre as canções já existentes. Como quase todo o disco, as participações de Fripp foram registradas no primeiro take, mostrando sua capacidade extraordinária de adaptação, além de sua assinatura musical indefectível. Ao lado de Eno, ficava à vontade para exibir sua criação coletiva, uma técnica chamada de Frippertronics, criada no disco que os dois compuseram juntos em 1973, (No Pussyfooting), e utilizada nos dois primeiros discos solos de Brian, Here Comes the Warm Jets e Taking Tiger Mountain (By Strategy), ambos de 1974. A técnica consistia em repetir os sons elétricos da guitarra de Fripp através de loops eletrônicos e mudou completamente a forma como o guitarrista tocava seu instrumento.
O fato do estúdio ficar do lado do Muro de Berlim – e de sua mesa de controle ser possível avistar os soldados armados em eterna vigília – causava a sensação de estarem não apenas entre dois sistemas políticos, mas entre duas metades. A gravação de “Heroes” foi marcada por essa dualidade, que se refletia entre a música pop e a arte clássica, atrito capturado por Eno e Bowie durante toda a estada em Berlim. Em “Heroes” ela vinha também traduzida pelo aspecto globalista da cidade, em que cidadãos de todas as partes do mundo conviviam numa cidade marcada pela tensão pré-apocalipse. Isso se refletia principalmente no lado instrumental do disco, quando Bowie passou a tocar o instrumento japonês koto na faixa “Moss Garden” ou ao tom árabe da melodia de seu sax na faixa “Neuköln”. “V-2 Schneider”, batizada em homenagem a um dos integrantes do Kraftwerk, Florian Schneider, retribuía a citação que o grupo alemão pai da música eletrônica fez ao próprio Bowie na faixa-título em seu álbum Trans Europe Express, lançado em março daquele ano (citando o disco Station to Station e um encontro com Bowie e Iggy Pop).
Mas o grande momento do disco é sem dúvida sua faixa-título. Logo que definiram o tom da canção, Fripp achou onde encaixaria sua guitarra e aquele ruído sintético que ia e voltava o atingiu com força, a ponto de tornar seu registro da canção decididamente emotivo. Com microfones espalhados pela sala de gravação do Hansa, Eno conseguia capturar tanto os sussurros do início da interpretação como seu momento mais arrebatador, justamente quando fala dos amantes que se encontram à beira do fatídico muro. A inspiração havia surgido quando o produtor Tony Visconti fugiu do estúdio para encontrar-se com a vocalista Antonia Maass, com quem teve um caso à época da gravação. Bowie viu a cena do próprio estúdio sem que os dois percebessem e capturou aquele momento para dentro da canção, a cena mais intensa e apaixonada dessa que é considerada uma de suas maiores canções.
A capa do disco, em preto e branco, saiu de uma sessão de fotos feita pelo japonês Masayoshi Sukita e a imagem escolhida, como a imagem escolhida para a capa de The Idiot, do Iggy Pop, foi inspirada pela pose do personagem da tela Roquairol, pintada pelo alemão Erich Heckel em 1917. Empacotado com aquela imagem reflexiva e robótica, “Heroes” foi lançado pela gravadora RCA com dois slogans publicitários. O primeiro indicava que Bowie ultrapassa gerações (“Há a velha onda. Há a nova onda. E há David Bowie”) e o outro dizia que “o amanhã pertence àqueles que conseguem o ver chegando”, este cunhado pelo próprio Bowie. Ele sabia exatamente o que estava fazendo.
O seriado sobrenatural não cansa de voltar! Falei disso lá no meu blog no UOL.
A notícia passou despercebida no meio da avalanche de novidades exibidas na Comic Con de Nova York, que aconteceu no fim de semana passado, mas o fato é que o canal norte-americano Fox anunciou que uma de suas crias mais clássicas vai voltar à ativa. A décima primeira temporada de Arquivo X é uma realidade, vai ocupar dez episódios e retomar a saga de onde ela parou, em 2018, no desconcertante episódio final de sua curta décima temporada, exibida no início do ano passado. O trailer exibido na feira revelou outras novidades:
Que o final da temporada passada foi apenas uma alucinação não é propriamente uma boa notícia, mas um jeito bobo de resolver um beco sem saída que tiraria toda o prumo e o charme original da série. Em vez disso, o tema da nova temporada, que estreia no ano que vem, gira em torno do filho dos agentes Mulder (David Duchovny) e Scully (Gillian Anderson), além de revelar o passado de personagens importantes como o Fumante (William B. Davis) e do diretor Skinner (Mitch Pileggi) e cogitar a possibilidade de pelo menos um dos Pistoleiros Solitários ainda estar vivo.
O criador de Arquivo X Chris Carter acertou a mão durante quase toda a primeira fase da série, uma das mais importantes do fim do século passado, antes de seu final em 2002, mas não conseguiu ainda emplacar uma continuação decente, nem no filme de 2008, nem na temporada de 2016. Ele continua tentando, afinal, os fãs – me inclua nessa – teimam em acreditar…
Será que Rey e Kylo vão para o mesmo lado? E se forem, vão para qual? O novo trailer (que publiquei no meu blog no UOL) de Os Últimos Jedi mexe com questões sérias no universo de Guerra nas Estrelas…
Novas naves, novos robôs, novos animais, alienígenas e… quem é esse do lado do Chewbacca? E Leia, uou! O novo trailer do Episódio VIII de Guerra nas Estrelas acaba de ser lançado e mostra que o filme concentra-se na dualidade entre os personagens de Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver), que, aos poucos, parecem se aproximar.
O filme estreia em dezembro, mas esse trailer aumenta ainda mais a expectativa para esse que pode ser o grande filme de toda a saga. É muita informação pra ser digerida num fim de noite, mas já já trago mais considerações sobre o que talvez iremos assistir.
E você, o que achou?
Grupo lança trilha sonora de um documentário da BBC em meio a boatos da vinda ao Brasil. Falei sobre isso no meu blog no UOL.
Começou: os boatos sobre uma turnê sul-americana do Radiohead deixaram de ser meras divagações para ganhar um corpo um pouco mais sólido quando o jornalista Lucio Ribeiro anunciou em seu site Popload que a banda estaria planejando uma passagem pelo Brasil em abril do ano que vem, quando faria três shows no país. A especulação acontece quando a banda lança uma versão retrabalhada de uma de suas músicas recentes para continuação da minissérie da BBC Blue Planet. A nova versão foi gravada ao lado do maestro Hans Zimmer, mais conhecido pelas trilhas sonoras que compôs para os filmes de Christopher Nolan, e da BBC Concert Orchestra e recria “Bloom”, lançada no disco The King of Limbs, de 2011, originalmente inspirada pela série Blue Planet original. Eis a nova versão, rebatizada de “(Ocean) Bloom”:
https://www.youtube.com/watch?v=C_ntp2tK0eE
Compare com a versão original:
Em material de divulgação da faixa, Thom Yorke explica que a canção “meio que entrou em meu inconsciente. Comecei a sonhar bastante com essas criaturas”, explica o vocalista da banda no vídeo abaixo (em inglês, sem legendas).
O site Vox também conversou com o Radiohead e com o maestro sobre o processo de transformação da faixa original em trilha sonora (também em inglês sem legendas).
E assim ficou a música retrabalhada no trailer da nova temporada da série, que também foi narrada pelo naturalista inglês David Attenborough, conhecido pela série Life, também produzida pela BBC:
Em outra notícia relacionada ao Radiohead, o vocalista da banda, Thom Yorke, anunciou o lançamento da versão física de seu segundo disco solo, Tomorrow’s Modern Boxes, de 2014, lançado originalmente apenas em formato digital. O disco deve chegar às lojas nas versões CD e vinil no início de dezembro e também chegará às plataformas de streaming. O vocalista aproveitou o anúncio do lançamento para falar das três datas que fará solo nos Estados Unidos em dezembro deste ano, quando toca em Los Angeles (no dia 12), em Oakland (dia 14) e no festival Day for Night, em Houston (dia 17).
Morre o músico que sintetizou a alma caipira norte-americana – escrevi sobre a importância de Tom Petty para o meu blog no UOL.
A súbita e triste notícia da morte de Tom Petty, que foi encontrado inconsciente em sua casa na noite deste domingo e teve seu óbito decretado na noite desta segunda, vem apenas acelerar a importância de sua carreira para a música norte-americana. Popstar nato, roqueiro da velha guarda e com trânsito livre entre as celebridades musicais dos EUA, ele é uma peça-chave para entender não só a música nativa de seu país mas principalmente ao redefinir o conceito de country music após a vinda do rock.
Nascido após a era de ouro do country e testemunha da chegada do rock às paradas de sucesso e ao inconsciente coletivo (ele conheceu Elvis pessoalmente aos dez anos de idade e pode assistir, três anos depois, à chegada dos Beatles aos EUA), ele conseguiu traçar um percurso entre o velho vaqueiro que não queria ir para a cidade grande e o jovem desempregado que foi dispensado por esta. Aos poucos foi criando um personagem que não era propriamente um perdedor, mas não estava interessado apenas em vencer. Fugindo dos estereótipos galvanizados pelo country e pelo rock, ele preferia ficar fora dos holofotes da vida real, cantando a vida comum de pessoas que não almejavam virar astros.
À frente dos Heartbreakers, ele foi tecendo um rosário de hits entre os anos 70 e 80 que conquistou lentamente o público que descrevia. “Até os perdedores têm sorte de vez em quando”, cantava em um de seus primeiros hits, mirando em uma nova geração de caipiras que nunca esteve em uma fazenda ou cavalgou um cavalo. Eram moradores de trailers que viviam com suas famílias numerosas à margem de cidades de médio porte, em acampamentos que viravam vilas de casas com rodas, sem dinheiro para fazer nada mais do que comer, beber, transar e ir para shows. Um perfil que ficou mais tarde conhecido como “white trash”. Tom Petty entendia que aqueles eram os novos vaqueiros, os novos caubóis, pilotando motos ou dirigindo carros caindo aos pedaços, cruzando o país em busca de algum sentido para a própria vida, mesmo que este sentido fosse apenas uma letra de música.
Assim foi construindo sua reputação não apenas artística, mas também pessoal: era visto como um dos caras mais gente boa do rock dos anos 80 e 90, além de um compositor de hits inconfundíveis e um músico de timbre próprio e facilmente reconhecível. A textura de sua voz, doce, grave e levemente rasgada, ia moldando-se cada vez mais à guitarra clara e sem efeitos que puxava sequências de acordes memoráveis, criando uma assinatura musical que pariu hits do calibre de “Free Fallin”‘, “Breakdown”, “Listen to Her Heart”, “I Won’t Back Down”, “The Waiting”, “You Got Lucky”, “Here Comes My Girl” e “Learning to Fly”, sintetizando assim a essência de uma nova alma caipira norte-americana.
A amplitude de sua influência pode ser medida de inúmeras formas – desde sua participação no supergrupo Travelling Willburys (ao lado de ninguém menos que Bob Dylan, George Harrison, Roy Orbison e Jeff Lynne) até a inevitável influência que exerceu nas bandas que ganharam notoriedade depois que o grunge ajudou a revelar este novo caipira norte-americano – de grupos diretamente influenciados por aquela cena alternativa (como Pearl Jam, Screaming Trees, Temple of the Dog e até os Foo Fighters) até outros que só conseguiram espaço graças à explosão daquela cena (como Goo Goo Dolls, Third Eye Blind, Wallflowers, Counting Crows, Black Crowes, Matchbox Twenty, Hootie & the Blowfish e Blues Travellers, entre várias outras bandas dos anos 90 e além).
Sua influência é tão grande que embrenhou-se inclusive em artistas que, aparentemente, não têm nada a ver com seu legado ou com o próprio conceito de caipira norte-americano. Compare “Mary Jane’s Last Dance”…
…com “Dani California” dos Red Hot Chili Peppers.
Ou “I Won’t Back Down”…
…com “Stay With Me” do Sam Smith.
Ou “American Girl”…
…com “Last Nite” dos Strokes.
Mais um monstro sagrado que se vai. Quem sabe agora o reconheçam como tal.
Fotógrafo inglês registra cenas na Ásia em 2017 que mostram que já vivemos o futuro cyberpunk imaginado nos anos 80 – tem mais fotos de Marcus Wendt no meu blog no UOL.
Estamos a apenas dois anos do 2019 sugerido por Blade Runner e embora não haja sinal de que vejamos robôs idênticos a seres humanos andando entre nós em pouco tempo, a realidade visual cogitada pelo filme de Ridley Scott já existe em 2017. Prédios gigantescos e submundos infestados de gente, iluminados pelas cores artificiais das luzes de néon e por logotipos de lojas e corporações, fazem parte do dia a dia de diferentes cidades pelo planeta – e a visão que o fotógrafo inglês Marcus Wendt, diretor do estúdio de design Field.io, teve ao passear à noite pelas cidades de Shenzen e Hong Kong, na China, só reforça isso. “Graças a uma dose pesada de insônia induzida pelo jet lag, eu comecei a explorar a área de Kowloon em Hong Kong e o Huaqiangbei – “o maior mercado de eletrônicos do mundo” – em Shenzen tarde da noite em uma viagem recente à China”, ele escreve em seu site. “Mergulhado em um escuridão estrangeira encontrei uma nova maneira de ver, estranha e alienígena. A luz sintética se infiltrava em meus olhos, o ar cheio de cores que se deslocavam se e ângulos inflexíveis. No meio da noite começava um novo dia.” Eis uma amostra de seu trabalho:
É bom pra ir entrando no clima do novo Blade Runner, que, pelo visto, promete.
A família de Frank Zappa, morto no início dos anos 90, anunciou que veremos, em 2018, o mestre de volta aos palcos – escrevi sobre isso no meu blog no UOL.
Um dos maiores iconoclastas da história da música moderna, o compositor e músico norte-americano Frank Zappa, que morreu em dezembro de 1993, está prestes a romper mais uma barreira: a do além-túmulo. Isso porque sua família acaba de fechar um acordo com a empresa Eyellusion para trazê-lo de volta aos palcos na forma de um holograma. “Estou emocionado que Frank Zappa finalmente estará de volta à estrada tocando suas músicas mais conhecidas bem como material raro e que nunca foi ouvido”, disse Ahmed Zappa, filho do compositor que é responsável por cuidar do legado da família em um comunicado no site oficial de seu pai. “Não vemos a hora de trazer seu trabalho criativo de volta ao lado dos músicos que ele amava tocar junto, como Steve Vai, Ian Underwood, Adrian Belew, Arthur Barrow, Vinnie Colaiuta, Scott Thunes, Mike Keneally, Denny Walley, Warren Cuccurullo e Napoleon Murphy Brock, além de outros que se comprometeram a fazer parte deste esforço épico. Quando falei com eles, eles ficaram excitados com a possibilidade de tocar ao lado de Frank mais uma vez e estão esperando a hora de dar aos fãs essa experiência inesquecível.”
“Frank foi um inovador e sua arte transcendia em tantas mídias diferentes”, continua Diva Zappa, filha de Frank, no mesmo comunicado. “Ele deixou um extenso volume de trabalho e queremos celebrar sua música com uma produção de hologramas realmente criativa e única que apresentará sua música a uma nova geração de fãs e permitirá a tantos que gostavam de sua música quando ele ainda era vivo a experimentá-la mais uma vez. Nós tínhamos essa ideia por muitos anos e depois de nos encontrarmos com a equipe da Eyellusion, sabíamos que eram os parceiros certos para fazer isso se tornar realidade.”
A Eyellusion “ressuscitou” o ex-vocalista do Black Sabbath Ronnie James Dio, morto em 2010, em duas oportunidades, ano passado na Alemanha e este ano nos EUA, que funcionaram a ponto da viúva de Dio, Wendy, ter confirmado uma turnê com o holograma do falecido, chamada de Dio Returns, que começará no final deste ano. O resultado funciona melhor do que as experiências anteriores com nomes como Tupac Shakur e Renato Russo, mas não deixa de ser meio mórbido.
A família de Zappa não se incomoda. “Não seria radical ter (a filha de Zappa) Moon cantando ‘Valley Girl’ com ele no palco? Ou ver Dweezil (outro filho de Zappa) lado a lado com nosso pai duelando solos de guitarras? Esse seria meu maior desejo e quero fazer essa celebração especial do legado de Frank a uma cidade perto de vocês. Mas como se isso não fosse suficiente em termos de coisas legais de Zappa, também estamos planejando uma versão em palco para Joe’s Garage: The Musical, com ninguém menos que o próprio Frank Zappa estrelando como The Central Scrutinizer”, comemorou Ahmed.
Isso seria bem interessante: o fantasma-holograma de Frank Zappa fazendo o papel do narrador e grande vilão de sua ópera rock Joe’s Garage, uma feroz crítica à indústria fonográfica. Mas fica a dúvida no ar para saber o que Zappa acharia de todo esse circo ao redor de sua imagem depois de sua morte. Ele certamente teria alguns comentários bem ácidos a fazer…
A turnê deverá ser anunciada para 2018.













