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Foto: Aline Sales

Foto: Aline Sales

Mítico vocalista do grupo punk pernambucano Devotos, Cannibal ataca em duas frentes neste final de 2018: lançando o livro Música Para Quem Não Ouve, que reúne as letras de sua histórica banda, e o disco novo do grupo de dub Café Preto, batizado de Oferenda. “Café Preto é minha valvula de escape depois do futebol”, explica Cannibal por email. “Adoro música, sou criado no Alto José do Pinho, esse bairro é uma rádio ligada em varias estações onde tudo rola, você sai andando pela comunidade e escuta tudo: samba, brega, rock, reggae, música cubana, afoxé, maracatu, de tudo… Sendo assim não tem como você ser bitolado a um estilo. Fiz a Café Preto no pensamento de musicar as letras que não entraram na Devotos”. Ele antecipa o primeiro single do disco, “120 Km” que tem a participação de Spok da Spok Frevo Orquestra, em primeira mão para o Trabalho Sujo.

https://www.youtube.com/watch?v=7tnonblNV8E&feature=youtu.be

“Não queria fazer uma banda, a ideia era só mostrar um lado meu que as pessoas não conheciam, mostrando as músicas as pessoas ficavam perguntando quando ia ter show e eu falava que não ia rolar porque a ideia era só gravar um disco com influencia na música jamaicana”, ele continua. “Foi tanto incentivo que resolvi montar a banda mas resolvi que teria um conceito, a Café Preto não é só musica. Então convidei um amigo estilista chamado Eduardo Ferreira para fazer o figurino, gosto muito dos cantores que se vestem para cantar: Marvin Gaye, David Bowie, Gregory Isaacs, Grace Jones, todos uma elegância impecável. O novo figurino é feito por Chico Marinho, os sapatos por Jaison Marcos e as fotos de Renato Filho.” A banda fez parte da geração que revelei como curador do Prata da Casa do Sesc Pompéia em 2012.

Cannibal_cafepreto

“O primeiro disco foi lançando em 2012 e teve como carro-chefe a música ‘Dandara’, que virou clipe, e a mixagem ficou por conta do mestre Victor Rice. O novo disco se chama Oferenda, o disco tem a mixagem e masterizarão de Pierre Leite, que é tecladista e efeitos na Café Preto. Oferenda tem as participações de Lucas dos Prazeres, Maestro Spok, Céu, Claudio Negrão no contrabaixo, poeta Miró da muribeca e Maria Vitória e Marina, minha filha e a de Pierre. É um disco com sonoridade diferente, apesar de também tem reggae, não sei rotular, mas é um disco com muitas músicas para dançar. As letras ao contrário da Devotos, na sua maioria são temas fictícios relacionadas ao cotidiano afetivo, relacionamentos e etc, só a música ‘O Samba’ que tem uma temática social. A capa foi feita por Mabuse e Haidde e o desenho por Ganjja”, ele conta, explicando que apesar das referências a orixás do candomblé, não é frequentador. “Respeito todas as religiões, mas tenho grande admiração pela umbanda e pelo candomblé.” Ele conta que nos shows também canta “Preciso Me Encontrar” e “Gostoso Demais”, imortalizadas respectivamente por Cartola e Dominguinhos – e o show de lançamento do disco em São Paulo vai acontecer no Sesc Carmo, dia 29 deste mês, com participação de Alessandra Leão (mais informações aqui).

cafepreto-oferenda

Sobre o livro, ele diz que a ideia surgiu porque muitos o abordavam na rua elogiam sua música mas dizendo que não entendiam as letras. “É engraçado, mas preocupante. Formamos a banda para mudar um quadro social através da música, conseguimos isso aqui na comunidade o Alto José do Pinho, que hoje é conhecida pela sua eferverscência cultural. Muitos problemas ainda precisam ser resolvidos, mas conseguimos resgatar a auto estima da comunidade.” A ideia do livro era ter a cara de fanzine dos anos 80, como se tivesse sido feito com máquina de escrever e fotos chapadas como se fossem xerox. “Os fanzines dos anos 80 eram nossa rede de informação, temos o maior respeito e consideração pelos fanzineiros, até hoje damos entrevista para fanzines”, continua. O livro também tem trabalhos de artistas plásticos convidados pelo grupo, como Darlon, Ganjah e Caio Cezar. “Todos maravilhosos. É bom trabalhar com pessoas que são fãs das banda, elas acompanham e sabem sua história, aí o trabalho flui positivamente.”

“A literatura faz você viajar e ter sua própria opinião em relação ao que está lendo, não tem uma massa sonora te influenciando a ter uma visão radical pelo fato do som ser punk rock”, ele continua explicando sobre o livro. “A sonoridade pode ser pesada, mas a letra pode ser romântica, a sonoridade pode ser uma balada mas a letra pode ser politizada. E aí que o legal do livro é que é só você e a letra, vpcê viajando no que se absorve das frases, dos refrões.”

Sobre o punk rock em si, ele segue ativista. “O movimento não tem a força dos anos 80, mas continua atuante, veja por exemplo os fanzines, que continuam sendo produzidos em varias categorias, as bandas que continuam suas produções e como tem surgido novas bandas”, ele continua. “A tecnologia separou bastante o movimento punk, apesar da facilidade de se conhecer através da internet, o lado humano de se encontrar, trocar ideia, fazer os eventos não é mais o mesmo, Hoje é como se tivesse vários movimentos punk dentro do próprio movimento, a ideologia de formar uma banda para protestar ou reivindicar ficou nos anos 80. Hoje a maioria que faz uma banda quer tocar em primeiro lugar ‘não importa onde’. Se a grande mídia não tivesse fudido o movimento punk hoje ele seria referência social como é o rap!”

O assunto inevitavelmente caminha para a atual situação política do país: “Não se muda um país com ódio, até para você reivindicar causas sociais você tem que fazer com ternura, mas nunca com ódio”, prossegue. “Eu sou a favor que não perdamos a liberdade de expressão que nossos pais conquistaram com muito suor, sangue e vidas ceifadas no período da ditadura. Demos passos muito positivos socialmente falando: as mulheres estão organizadas e se auto-afirmando cada vez mais, a classe LGBT e outros segmentos também estão se afirmando, mostrando que podem pertencer à sociedade sem ter que se esconder e que existe uma indústria de entretenimentos voltada para essas pessoas e essa industria tem um retorno financeiro muito, muito grande para o Brasil. Não há como ignorar essa classe e os tratar como enfermos como algumas igrejas propõe. O princípio da educação é o respeito. Não fecho os olhos para a corrupção, mas não acredito que uma politica de ideologia fascista vá resolver nossos problemas!” É isso aí.

geoff-emerick

Morre Geoff Emerick, o engenheiro de som que ajudou os Beatles a moldar sua sonoridade e a se aventurar no estúdio de gravação. Estive com ele no fim do semestre passado, em Porto Alegre, quando ele me contou sobre algumas das inovações que fez ao lado do grupo – e contei lá no Reverb.

Tika e Kika: Colar

tikakika-centrodaterra

Tika e Kika já tinham carreiras estabelecidas quando começaram a conversar sobre a possibilidade de se transformarem numa dupla – e as duas conversaram comigo sobre isso no mesmo dia sem avisar uma pra outra que fariam isso. Incentivei o gesto na hora, principalmente conhecendo o alcance vocal e as personalidades complementares das duas, e a partir disso elas criaram a temporada Colar, que apresentam nas próximas terças-feiras de outubro no Centro da Terra. As duas são acompanhadas por Igor Caracas e recebem amigos durante toda a temporada (mais informações aqui). Conversei com as duas sobre esta nova fase de suas carreiras e como irão fundir duas carreiras em uma só.

Como vocês duas se conheceram?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-como-voces-duas-se-conheceram

O que já fizeram juntas?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-o-que-ja-fizeram-juntas

Como surgiu a ideia de se transformar em uma dupla?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-como-surgiu-a-ideia-de-se-transformar-em-uma-dupla

Por que a temporada chama-se Colar?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-por-que-a-temporada-chama-se-colar

Como vão funcionar os shows?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-como-vao-funcionar-os-shows

Passada a temporada, vocês vão lançar algo em dupla?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tika-e-kika-passada-a-temporada-voces-vao-lancar-algo-em-dupla

charles-aznavour

Morre Charles Aznavour, um dos maiores ícones da canção do século 20 – escrevi sobre ele em minha primeira colaboração para o site Reverb, confere lá.

criolo-boca-de-lobo

Criolo lança “Boca de Lobo”, em que põe o dedo em várias feridas destes dias apocalípticos que vivemos no país num clipe que vê os bichos escrotos da política destruírem paisagens conhecidas de São Paulo.

A faixa abre com uma citação de Waly Salomão, cada verso da música é uma pedrada, até o refrão que desmonta “1 Por Amor, 2 Por Dinheiro” dos Racionais:

“Agora, entre meu ser e o ser alheio, a linha de fronteira se rompeu”

Aonde a pele preta possa incomodar
Um litro de Pinho Sol pra um preto rodar
Pegar tuberculose na cadeia faz chorar
Aqui a lei dá exemplo: mais um preto pra matar
Colei num mercadinho dum bairro que se diz “pá”
Só foi meu pai encostar pros radin’, tudin’ inflamar
Meu coroa é folgado das Barra do Ceará
Tem um lirismo bom lá, louco pra trabalhar
Num toque de tela, um mundo à sua mão
E no porão da alma, uma escada pra solidão
Via satélite, via satélite
15% é Google, o resto é Deep Web
A guerra do tráfico, perdendo vários ente
Plano de saúde de pobre, fi, é não ficar doente
Está por vir, um louco está por vir
Shinigami, deus da morte, um louco está por vir
Véio, preto, cabelo crespo
Made in Favela é aforismo pra respeito
Mondubim, Messejana, Grajaú, aqui é sem fama
Nos ensinamentos de Oxalá, isso é bacana
Na porta do cursinho, sim, docim de campana
LSD, me envolver, tem a manha
Diz que é contra o tráfico e adora todas as crianças
Só te vejo na biqueira, o ativista da semana

La La Land é o caralho
SP é Glorialândia
Novo herói da Disney
Craquinho, da Cracolândia
Máfia é máfia e o argumento é mandar grana
Em pleno carnaval, fazer nevar em Copacabana
Um por rancor, dois por dinheiro, três por dinheiro, quatro por dinheiro
Cinco por ódio, seis por desespero, sete pra quebrar a tua cabeça num bueiro
Enquanto isso a elite aplaude seus heróis
Pacote de Seven Boys

Nem Pablo Escobar, nem Pablo Neruda
Já faz tempo que São Paulo borda a morte na minha nuca
A pauta dessa mesa “coroné” manda anotar
Esse ano tem massacre pior que de Carajá
Ponto 40 rasga aço de arrombar
Só não mata mais que a frieza do teu olhar
Feito rosa de sal topázio
És minha flecha de cravo
Um coração que cai rasgado nas duna do Ceará
Albert Camus, Dalai Lama
A nós ração humana, Spock, pinça vulcana
Clarice já disse, o verbo é falha e a discrepância
É que o diamante de Miami vem com sangue de Ruanda
Poder economicon, cocaine no helicopteron
Salário de um professor: microscópico
Feito papito de papel próprio
Letra com sangue do olho de Hórus
É que a industria da desgraça pro governo é um bom negócio
Vende mais remédio, vende mais consórcio
Vende até a mãe, dependendo do negócio
Montesquieu padece, lotearam a sua fé
Rap não é um prato aonde cê estica que cê qué
É a caspa do capeta, é o medo que alimenta a besta
Se três poder vira balcão, governo vira biqueira
Olhe, essa é a máquina de matar pobre!
No Brasil, quem tem opinião, morre!

La La Land é o caralho
SP é Glorialândia
Novo herói da Disney
Craquinho, da Cracolândia
Máfia é máfia e o argumento é mandar grana
Em pleno carnaval, fazer nevar em Copacabana
Um por rancor, dois por dinheiro, três por dinheiro, quatro por dinheiro, cinco por ódio, seis por desespero, sete pra quebrar a tua cabeça num bueiro
Enquanto isso a elite aplaude seus heróis
Pacote de Seven Boys

Essa semana promete…

#NósSim

largodabatata

Que movimento maravilhoso. Que data linda. Que exemplo histórico. Quanta organização. O ato puxado pelas mulheres neste sábado dia 29 de setembro de 2018 em dezenas de cidades pelo Brasil reuniu centenas de milhares de brasileiros de todas as cores, tamanhos, gêneros e ideologias num mesmo coro contra a intolerância, a truculência, a agressividade e a tensão que dominam nossos dias desde o início desta década – e pode ter começado a encerrar esta fase deprimente que o país vive desde aqueles nada saudosos dias descontrolados de junho de 2013.

O candidato líder das pesquisas, o inominado Ele a quem o Não se dirigia, conseguiu seu primeiro feito histórico que não é digno de vergonha ou constrangimento: uniu as forças progressistas brasileiras em um mesmo cenário e num mesmo coro, dando voz a sentimentos que não tinham eco nesta época de bolhas digitais em que todos querem gritar mais alto. E apesar da firmeza na insistência do “não”, do pulso firme em não arredar pé e da sempre escandalosa gritaria da torcida do outro time, não se viu nenhum gesto violento, nenhuma truculência, nenhuma agressão.

E isso é mérito feminino. O fato deste grande ato ter vindo das mulheres mudou completamente a cara da discussão e nossos cenhos, sempre fechados a cada novo e surreal acontecimento político em 2018, puderam relaxar. No lugar das expressões tensas e da fisionomia preocupada surgia um sorriso, um brilho no olhar, um suspiro aliviado. No início temia-se que trogloditas da ultradireita pudessem aproveitar da gigantesca reunião para disseminar o medo e o terror. Mas todos estavam a postos caso eles aparecessem – e seriam claramente expostos como os brucutus que provocam este cenário turbulento.

elenao

A primeira coisa que todos percebiam logo ao chegar no Largo da Batata, em São Paulo, ou em qualquer outro ponto de partida do ato em várias cidades do país, era a extrema diversidade de público. Estavam lá gente de todos os credos, cores, preferências, ideologias, idades e classes sociais. Famílias, casais, mulheres grávidas, crianças, idosos, grupos de amigos e conhecidos – todos levantando a bandeira da esperança, da tolerância, da paz e do amor. E, principalmente, vários partidos: bandeiras de quase todos os candidatos à presidência (além de nomes que pleiteiam cargos estaduais) foram erguidas ao lado umas das outras sem nenhum embate, nenhuma discussão – nem sequer um muxoxo ou esgar. Em pouco tempo, todos estavam à vontade, cantarolando e batucando juntos, mas sem perder o foco e a seriedade do momento político.

E quando aquele mar de gente gritava “ele não”, o principal timbre era feminino. Afinal, esta vitória não é apenas feminista – mas feminina. Não temos medida exata de como a força das mulheres está revertendo esta onda reacionária que assola o planeta – mas é inegável seu protagonismo. O futuro deve agradecer a todas as minas e manas que decididas, marcharam contra a perturbação masculina que quer que o mundo volte para o século passado, atropelando conquistas e valores humanistas apenas no grito e no soco. Esta atitude dantesca é uma clara reação aos progressos sociais conquistados nas últimas décadas, não apenas no Brasil.

E não apenas femininos. As vozes das mulheres ecoavam sentimentos presos nas gargantas de negros, gays, pobres, pessoas com necessidades especiais, imigrantes, miseráveis, famintos e tantos outros que compõem a imensa maioria da população do planeta e são chamados de forma quase jocosa pelo establishment branco, rico, hetero e sexagenário de “minorias”.

largodabatata-elenao

Acompanhei a concentração do #EleNão no Largo da Batata e sua dispersão depois na Paulista – não pude seguir a emocionante subida da Avenida Rebouças para assistir à Ana Frango Elétrico no Centro Cultural São Paulo (e digo que valeu a pena, mas perdi o show do Marcelo Callado) – e nos dois momentos me veio um sentimento oposto ao de exclusão e divisão que nos faz parar de falar com amigos, desamigar conhecidos do Facebook ou desistir de dialogar com pessoas que antes pareciam razoáveis. Em vez de nos sentir isolados e acuados, nos sentimos parte de uma coisa só, uma senhora festa, um enorme carnaval – sem brigas, sem álcool, sem nada forçado. Cada um que estava ali pode voltar a se sentir parte deste enorme coletivo que chamamos de país – e ver que a dita cisão que separa o Brasil em dois grupos, a tão propalada polarização pregada pela Globo e pelo Facebook, é artificial e serve interesses específicos. Sabemos gostar uns dos outros e podemos conviver numa boa desde que haja tolerância e respeito. Se isso não acontecer, já sabemos dizer não.

E lá pelo meio do ato esquecíamos da vil figura que nos motivou a nos reunir neste sábado histórico. Tanto o “ele” quanto o “não” se dissolveram na coletividade positiva do #NósSim. Vamos lá.

porcasborboletas-centrodaterra

O grupo mineiro Porcas Borboletas apresenta um desdobramento de seu disco mais recente, Momento Íntimo, em única apresentação no palco do Centro da Terra, na próxima segunda-feira, dia 1° de outubro. Banheiro Químico parte dos dilemas do homem moderno apresentados no disco do ano passado para se aprofundar num aspecto ainda mais épico desta questão – “sondar a beleza deste ícone da modernidade”, como diz o vocalista Danislau. Para isso, a banda formada por Danislau TB (voz), Enzo Banzo (voz e guitarra), Moita Matos (guitarra), Chelo Lion (baixo), Ricardo Ramos (Synth e MPC) e Pedro Gongom (bateria), convidou nomes de peso para participar da única apresentação, como Tulipa Ruiz, Luiz Chagas, Nath Calan e Rafael “Chicão” Montorfano, além de iluminação de Gabriela Luiza e a trupe da Panamá Filmes. Conversei com Danislau e Enzo sobre o que eles irão aprontar nesta segunda.

O que é Banheiro Químico?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/porcas-borboletas-o-que-e-banheiro-quimico

Como este espetáculo se relaciona com o disco mais recente de vocês?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/porcas-borboletas-como-este-espetaculo-se-relaciona-com-o-disco-mais-recente-de-voces

Qual a diferença de apresentar este show num teatro?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/porcas-borboletas-qual-a-diferenca-de-apresentar-este-show-num-teatro

Como esse espetáculo pode se refletir nos próximos passos da banda?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/porcas-borboletas-como-esse-espetaculo-pode-se-refletir-nos-proximos-passos-da-banda

dylan

O décimo-quarto volume da série pirata de Bob Dylan – More Blood, More Tracks – apronfunda-se no clássico que ele lançou no início de 1975. O disco Blood on the Tracks é considerado uma das principais obras do mestre da canção justamente por, mais uma vez, elevar o nível das composições nas canções pop que dominavam a paisagem musical de seu tempo. Ríspido registro sobre o fim de um relacionamento, o disco foi gravado em duas sessões em dois estúdios diferentes – em quatro dias de setembro de 1974 e dois de dezembro daquele mesmo ano. A caixa de 6 discos – que também será lançada em versão reduzida em LP duplo e CD simples – já está em pré-venda e traz a íntegra destas sessões, trazendo os rascunhos musicais de todas as canções do álbum, desde suas primeiras versões apenas com Dylan, violão e gaita, até versões apenas com um contrabaixo elétrico e com a banda na íntegra, formada por Tony Brown (baixo), Chris Weber (guitarra), Kevin Odegard (guitarra), Peter Ostroushko (bandolim), Gregg Inhofer (teclados), Billy Peterson (baixo) e Bill Berg (bateria). A caixa será lançada no dia 2 de novembro e a gravadora Sony já antecipou o primeiro take da primeira gravação feita para o disco, a pesada “If You See Her, Say Hello”. Logo abaixo, a capa do disco e a íntegra do que virá na versão deluxe com seis CDs.

bob-dylan-blood-bootleg-series

Disco 1

A & R Studios, Nova York – 16 de setembro de 1974

“If You See Her, Say Hello (Take 1)”
“If You See Her, Say Hello (Take 2)”
“You’re a Big Girl Now (Take 1)”
“You’re a Big Girl Now (Take 2)”
“Simple Twist of Fate (Take 1)”
“Simple Twist of Fate (Take 2)”
“You’re a Big Girl Now (Take 3)”
“Up to Me (Rehearsal)”
“Up to Me (Take 1)”
“Lily, Rosemary and the Jack of Hearts (Take 1)”
“Lily, Rosemary and the Jack of Hearts (Take 2)”

Disco 2

A & R Studios, Nova York – 16 de setembro de 1974

“Simple Twist of Fate (Take 1A)”
“Simple Twist of Fate (Take 2A)”
“Simple Twist of Fate (Take 3A)”
“Call Letter Blues (Take 1)”
“Meet Me in the Morning (Take 1)”
“Call Letter Blues (Take 2)”
“Idiot Wind (Take 1)”
“Idiot Wind (Take 1, Remake)”
“Idiot Wind (Take 3 with insert)”
“Idiot Wind (Take 5)”
“Idiot Wind (Take 6)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Rehearsal and Take 1)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 2)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 3)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 4)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 5)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 6)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 6, Remake)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 7)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 8)”

Disco 3

A & R Studios, Nova York – 16 de setembro de 1974

“Tangled Up in Blue (Take 1)”

A & R Studios, Nova York – 17 de setembro de 1974

“You’re a Big Girl Now (Take 1, Remake)”
“You’re a Big Girl Now (Take 2, Remake)”
“Tangled Up in Blue (Rehearsal)”
“Tangled Up in Blue (Take 2, Remake)”
“Spanish is the Loving Tongue (Take 1)”
“Call Letter Blues (Rehearsal)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 1, Remake)”
“Shelter From The Storm (Take 1)”
“Buckets of Rain (Take 1)”
“Tangled Up in Blue (Take 3, Remake)”
“Buckets of Rain (Take 2)”
“Shelter From The Storm (Take 2)”
“Shelter From The Storm (Take 3)”
“Shelter From The Storm (Take 4)”

Disco 4

A & R Studios, Nova York – 17 de setembro de 1974

“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 1, Remake 2)”
“You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Take 2, Remake 2)”

A & R Studios, Nova York – 18 de setembro de 1974

“Buckets of Rain (Take 1, Remake)”
“Buckets of Rain (Take 2, Remake)”
“Buckets of Rain (Take 3, Remake)”
“Buckets of Rain (Take 4, Remake)”

A & R Studios, Nova York – 19 de setyembro de 1974

“Up to Me (Take 1, Remake)”
“Up to Me (Take 2, Remake)”
“Buckets of Rain (Take 1, Remake 2)”
“Buckets of Rain (Take 2, Remake 2)”
“Buckets of Rain (Take 3, Remake 2)”
“Buckets of Rain (Take 4, Remake 2)”
“If You See Her, Say Hello (Take 1, Remake)”
“Up to Me (Take 1, Remake 2)”
“Up to Me (Take 2, Remake 2)”
“Up to Me (Take 3, Remake 2)”
“Buckets of Rain (Rehearsal)”
“Meet Me in the Morning (Take 1, Remake)
“Meet Me in the Morning (Take 2, Remake)
“Buckets of Rain (Take 5, Remake 2)”

Disco 5

A & R Studios, Nova York – 19 de setembro de 1974

“Tangled Up in Blue (Rehearsal and Take 1, Remake 2)”
“Tangled Up in Blue (Take 2, Remake 2)”
“Tangled Up in Blue (Take 3, Remake 2)”
“Simple Twist of Fate (Take 2, Remake)”
“Simple Twist of Fate (Take 3, Remake)”
“Up to Me (Rehearsal and Take 1, Remake 3)”
“Up to Me (Take 2, Remake 3)”
“Idiot Wind (Rehearsal and Takes 1-3, Remake)”
“Idiot Wind (Take 4, Remake)”
“Idiot Wind (Take 4, Remake)”
“You’re a Big Girl Now (Take 1, Remake 2)”
“Meet Me in the Morning (Take 1, Remake 2)”
“Meet Me in the Morning (Takes 2-3, Remake 2)”

Disco 6

A & R Studios, Nova York – 19 de setembro de 1974

“You’re a Big Girl Now (Takes 3-6, Remake 2)”
“Tangled Up in Blue (Rehearsal and Takes 1-2, Remake 3)”
“Tangled Up in Blue (Take 3, Remake 3)”

Sound 80 Studio, Minneapolis – 27 de dezembro de 1974

“Idiot Wind”
“You’re a Big Girl Now”

Sound 80 Studio, Minneapolis – 30 de dezembro de 1974

“Tangled Up in Blue”
“Lily, Rosemary and the Jack of Hearts”
“If You See Her, Say Hello”

foradacasinha2018

Mais uma primavera, mais um Fora da Casinha. A tradição aos poucos se estabelece quando o velho compadre Mancha – o dono da Casa do Mancha, reduto infalível da música independente em São Paulo – fecha a escalação de seu festival em mais um novo lugar, desta vez na Casa Híbrida, pertinho do metrô Sumaré (depois de passar pelo Centro Cultural Rio Verde, pela Unibes Cultural e pelo Largo da Batata). E, mais uma vez, ele anuncia as atrações da edição do ano em primeira mão aqui no Trabalho Sujo: dia 6 de outubro, véspera da eleição, ele reúne em três palcos diferentes novíssimos nomes, como Goldenloki, Yma, Dingo Bells, Molho Negro, Juliano Gauche, Terno Rei, Garotas Suecas, Betina, Bruno Bruni, Laura Lavieri, OZU, Strobo, além do paraninfo Mauricio Pereira. A discotecagem desta vez não fica apenas comigo e com o Danilo Cabral (que, tradicionalmente, abrimos o festival) e ainda conta com as presenças de Joyce Guillarducci (Cansei do Mainstream), Rafael Chioccarello (Hits Perdidos) e Alex Corrêa (Caverna).

“Mesmo relativamente novo, o festival me faz perceber melhor onde nosso trabalho deságua”, me explica Mancha por email. “Artistas que tocaram no primeiro ano como Boogarins, O Terno, Carne Doce são nomes que hoje se fortaleceram no mainstream, alicerçados por uma estrutura independente/alternativa de mercado da qual faço parte. Ou seja, nosso caminho tem uma coerência mercadológica, está crescendo e com isso ajudando a solidificar um nicho de economia criativa extremamente importante. E o melhor de tudo, sem perder suas características iniciais ou precisar fazer concessões incompatíveis. Uma renovada da fé no poder de transformação da arte, imprescindível pro momento que vivemos.”

Os ingressos já estão à venda e o primeiro lote custa 50 reais. A arte do poster é da Sefora Rios.

Ozu na manha

Foto: Mariana Harder (divulgação)

Foto: Mariana Harder (divulgação)

Se a volta dos anos 90 já aconteceu ou ainda vai acontecer é uma discussão em aberto, uma vez que a última década do século passado não apenas abrigou diversos nichos estéticos como começou a misturá-los – e as tentativas de ressuscitar a vibe daquele período em inúmeros acontecimentos artísticos (discos, filmes, festas, livros, programas de TV, quadrinhos e até na própria internet, revisitada como um fim e não um meio) não criaram volume a ponto de mexer com o inconsciente coletivo de forma considerável como aconteceu com os anos 70 durante os anos 90 ou os anos 80 na primeira década do século. O grupo paulistano Ozu é um destes inúmeros novos acontecimentos culturais que bebem diretamente daquele período – e não está muito interessado propriamente em soar retrô.

Lançando seu primeiro álbum na próxima quarta no Sesc Pinheiros (mais informações aqui), Inner sucede dois outros trabalhos que pavimentaram sua jornada de forma bem precisa. Tanto The DownBeat Sessions Vol. 1, lançado no ano passado, quanto The Lo-Fi Sessions, no início do ano, apontavam para o trip hop e soul eletrônico inglês do fim do século passado, embora o líder da banda, o tecladista Francisco Cabral, aponte para a corrente oriental do gênero. “Acho que DJ Krush, DJ Kensei, DJ Yas e Kemuri Productions são as influências mais marcantes”, ele explica por email, reforçando outros nomes influenciados por esta cena, “existe um pessoal por aí que vem seguindo essa onda noventista também que gostamos muito como Nymano, Eevee, Unseen Village…”

O grupo é um sexteto mas a origem de suas canções começa nos samples. “São a primeira idéia pra uma música nova”, continua Cabral. “Geralmente, se já não for o caso do sample a bateria e o baixo vem em seguida. O processo básico é construir bases ou beats para adicionar melodias e linhas de voz no final. Isso tudo feito, a banda toca a composição para os ajustes finais”. E faz o contraponto com a banda ao vivo: “O show foge um pouco das repetições do hip hop e abre mais espaço para variações e improvisos criando uma atmosfera um pouco mais pro jazz. Apenas alguns timbres bem pontuais são sampleados, o resto fica bem orgânico mesmo.”