Jornalismo

Apesar de muitos nem saberem da existência da banda ou ter ouvido falar em seu nome, Mark Volman, norte-americano fundador dos Turtles que morreu nessa sexta-feira, nos anos 60, é autor de uma das músicas mais emblemáticas do período – e que manteve-se viva para além da década, sem nostalgia -, a deliciosa “Happy Together”, lançada em 1967. Embora o grupo tivesse emplacada outros hits (como sua versão para “It Ain’t Me Babe” de Bob Dylan como primeiro single, “Let Me Be”, “You Baby” e “She’d Rather Be With Me”), nenhuma música teve tanta proeminência quanto a citada anteriormente, que tirou “Penny Lane” dos Beatles do topo das paradas de sucesso dos EUA após seu lançamento. Mas o sucesso da banda foi atingido por questões contratuais com a gravadora White Whale, que registrou não só apenas o nome da banda como os dos próprios integrantes, que preferiram terminar com a banda e mudar de nomes a seguir com um contrato que negavam. Os fundadores dos Turtles – Mark e Howard Kaylan – adotaram respectivamente os pseudônimos de Flo & Eddie, que tornou-se seu nome artístico, como dupla. Eles foram adotados por Frank Zappa no início dos anos 70, que trouxe-os para sua banda, enquanto seguiram colaborando com outros artistas (participando de singles tão distintos quanto “Get it On (Bang a Gong)” do T.Rex em 1971 e “Hungry Heart’, que Bruce Springsteen gravou em 1982). Felizmente os dois recuperaram as fitas masters de seu antigo grupo da gravadora que os prendeu quando esta faliu no meio dos anos 70. Volman entrou para a universidade nos anos 90, estudando música e depois artes e roteiros, eventualmente deixando a vida acadêmica de lado para tocar Kaylan em shows esporádicos comemorativos dos Turtles. Morreu após uma breve doença, dois anos depois de ter sido diagnosticado com demência.

Começamos o mês já enfiando o pé na porta pra não deixar ninguém parado – por isso toma Desaniversário logo no primeiro sábado do mês, dia 6 de setembro, pra já expurgar toda aquela energia ruim na pista de dança que eu, Claudinho, Clarice e Camila fazemos no nosso querido Bubu, que fica na marquise do estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/nº). A festa começa cedo (19h) e termina cedo (meia-noite) pra todo mundo aproveitar bem o domingo, curtindo aquela tranquilidade de quem passou a noite anterior se acabando de dançar. Vem dançar com a gente!

Confesso que fiquei balançado ao ver a escalação do aniversário de 20 anos do Festival Convida, em Brasília. Afinal de contas, olha esse elenco que reúne Edu Lobo com Bixiga 70, Juçara Marçal com Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, Mombojó com Pelados, Mari Jasca com Varanda, Móveis Coloniais de Acaju com Gaivota e várias outras bandas pequenas locais. Infelizmente, os shows não acontecem todos ao mesmo tempo em um mesmo espaço conjunto e sim durante diferentes datas de setembro na casa de shows Infinu, parada obrigatória para quem quiser fazer shows de médio porte na capital federal. Mas já é possível notar uma mudança de postura em relação à noção de festivais que nos assolou no período pós-pandêmico, que reúnem dezenas de artistas sem o menor critério curatorial, apenas para mostrar números e quantidade para justificar investimentos e patrocínios. Apesar de trazer artistas de diferentes estaturas e gêneros musicais, o festival brasiliense deixa evidente suas armas ao apostar em uma escalação pouco óbvia e comercial, privilegiando mais nomes inventivos e ousados do que propriamente populares. É de se comemorar – e notar que estamos em meio a uma mudança em curso…

Morreu nesta sexta-feira um dos principais nomes da história do hardcore. Embora não seja um dos fundadores do Flipper, uma das principais bandas da variação do punk rock que floresceu na costa oeste nos Estados Unidos, Bruce Richard Calderwood – que adotou o sobrenome fantasia depois de entrar na banda – gravou o clássico Album – Generic Flipper em 1982, abrindo uma nova vertente para o gênero ao divergir da pressa e velocidade para valorizar o peso e a distorção, característica intimamente ligada à entrada de Loose na banda, que além de vocalista também assumia o papel de segundo baixista na banda (que já contava com o Will Shatter, que também cantava, tocando o instrumento), aumentando ainda mais o volume e a pressão do som do grupo, que já vinha ruidosa graças à guitarra absurdamente barulhenta de Ted Falconi, que, ao lado do baterista Steve DePace, segue no grupo até hoje. Loose tornou-se o timbre vocal característico da banda e manteve-se na função até 2015, quando foi substituído primeiro por David Yow (ex-Jesus Lizard), que por sua vez saiu em 2022 para a entrada de Mike Watt (célebre baixista da cena punk americana, fundador do Minutemen, do Firehose e integrante temporão dos Stooges de Iggy Pop). A influência do grupo foi para além da cena hardcore especificamente por seu som lento e pesado, primordial na consolidação do som de Seattle, tanto que o ex-baixista do Nirvana, Krist Novoselic, tocou com o grupo entre 2006 e 2009, e o próprio Kurt Cobain não cansava de passear com uma camiseta da banda feita por ele mesmo (presente no clipe de “Come as You Are” e no encarte do disco In Utero, de 1993). Bruce morreu de ataque cardíaco e foi confirmada na página do Facebook da banda.

Gilberto Gil retomou sua turnê de despedida neste fim de semana, quando tocou em Porto Alegre e, como de praxe, convidou um artista local para dividir uma canção – e desta vez a escolhida foi Adriana Calcanhotto, com quem dividiu os vocais de “Punk da Periferia”. “Cálice” com Chico Buarque, “Estrela” com Djavan (ou será que ele vai preferir o dueto que fez coma Sandy em São Paulo?), “A Paz” com Marisa Monte, “Superhomem – A Canção” com Caetano Veloso, “Extra II (O Rock do Segurança)” com Arnaldo Antunes, “Andar com Fé” com Lulu Santos, “Funk-se Quem Puder”/”Aquele Abraço” com Anitta, “Vamos Fugir”, com Samuel Rosa, “A Gente Precisa Ver o Luar” com Nando Reis, “Realce” com Liniker, “Extra”, com Alexandre Carlo do Natiruts, “A Dança” com MC Hariel, “Não chore mais (No Woman, No Cry)” com Marjorie Estiano, “Refazenda” com a neta Flor Gil, “Drão, com a filha Preta Gil. Ele ainda passa por São Paulo (duas vezes), Rio (outras duas), Santiago no Chile, Fortaleza (duas vezes), Recife (três vezes), Salvador e Belém e ainda não gravou versões com participações em músicas como “Palco”, “Banda Um”, “Tempo Rei”, “Aqui e Agora”, ‘Eu Só Quero um Xodó”, “Eu Vim da Bahia”, “Procissão”, “Domingo no Parque”, “Back in Bahia”, “Refavela”, “Extra”, “A Novidade”, “Se Eu Quiser Falar com Deus”, “Esotérico”, “Expresso 2222”, “Emoriô”, “Toda Menina Baiana” e “Esperando na Janela”. Façam suas apostas! As minhas: “Toda Menina” com Daniela Mercury em Salvador, “Xodó” (ou “Janela”) com João Gomes no Recife e “Emoriô” com a Fafá em Belém.

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Um dos principais documentaristas brasileiros nos deixou nesta sexta-feira, quando o carioca Silvio Tendler cedeu a uma infecção generalizada após ficar um tempo internado em um hospital em sua cidade-natal. Conhecido como “o cineasta dos vencidos”, ele começou sua carreira ainda nos anos 60 e após o recrudescimento da ditadura militar brasileira naquela década, mudou-se para o Chile, de onde saiu após o golpe militar que derrubou o presidente daquele país, Salvador Allende. Este foi alvo de um de seus primeiros grandes filmes, quando, agora morando em Paris, participou da produção coletiva do filme La Spirale, de 1975, que também contava com participações de outros diretores, como Chris Marker e Jean Rouch. Voltou ao Brasil em 1976, quando começou a produzir seus filmes mais clássicos, que ao mesmo tempo que contava a história de grandes nomes da política brasileira abatidos pela ditadura, também preparava o terreno para, nos anos 80, o país recomeçar de novo após aquele período nefasto. Documentários como Os Anos JK – Uma Trajetória Política (1980) e Jango (1984) fizeram o país reencontrar o passado que os militares tentaram apagar e em grande escala, atingindo públicos que reuniam centenas de milhares de espectadores. Sua obsessão pelo país o fez visitar grandes nomes de nossa história, em longas, médias e curtas metragens: O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981), Josué de Castro – Cidadão do Mundo (1994), Castro Alves – Retrato Falado do Poeta (1999), Milton Santos – Pensador do Brasil (2001), Marighella – Retrato Falado do Guerrilheiro (2001), JK – O Menino que Sonhou um País (2002), Oswaldo Cruz – O Médico do Brasil (2003), Glauber o Filme, Labirinto do Brasil (2003Paulo Carneiro – Espelho da Memória (2003), Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá (2006) e Tancredo, a Travessia (2011). Também dirigiu séries como Anos Rebeldes (1992) na Globo, Era das Utopias (2009) e Há muitas noites na noite – Poema Sujo Ferreira Gullar (2015). Tetraplégico desde 2011, ele passou por um longo período de recuperação e voltou a filmar, com dificuldades, num processo que foi registrado no filme A Arte do Renascimento (2015), de Noilton Nunes.

Choque de som

Em sua passagem por São Paulo nesta sexta-feira, o duo ítalo-brasileiro Hate Moss atordoou o público que foi assisti-lo com sua fusão agressiva e envolvente de dance music eletrônica com rock industrial. Formado pelo baterista italiano nascido no Brasil Ian Carvalho, que conheceu sua parceira de banda Tina, que toca sintetizadores e eletrônicos, quando os dois trabalhavam com produção cultural, a dupla forjou a sonoridade que hoje exploram ao mesmo tempo em que se desprenderam de raízes territoriais, vivendo uma vida nômade que os leva a shows pela Europa, América do Sul e Oriente Médio. Esta série de shows que trouxeram para o Brasil antecipa o novo álbum que será lançado no ano que vem e tem como base o EP Mercimek Days, uma live que fizeram em Istambul, na Turquia, que foi lançada como disco no meio de 2025, quando também estão experimentando novas canções, como o funk brasileiro que fizeram com letra em português e tocaram no bis de sua apresentação.

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E por falar no Tiny Desk, vocês viram que a Pink Pantheress (dona de um dos melhores discos de 2025) fez uma senhora apresentação no programa? Ela reuniu uma senhora banda para traduzir suas bases eletrônicas em instrumentos analógicos em versões maravilhosas para seus hits curtos e irresistíveis – e temperou suas músicas com suas já conhecidas e deliciosas gracinhas, como quando ela puxa uma gaita pra acompanhar o final da primeira música, “Attracted to You”, ou quando pede um aplauso para a banda entre as ótimas “Illegal” e “Girl Like Me”.

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O Radiohead não é a única banda com cabeça no nome a dar sinais de vida em 2025. Depois que o grupo de Thom Yorke marcou uma pequena turnê por cinco cidades europeias, quem ressurgiu foi o Portishead que, fora a participação em um show beneficente em 2022, não toca mais ao vivo desde 2015. E o grupo voltou a se reunir por um bom motivo: para não ficar de fora do festival que Brian Eno idealizou contra o genocídio que Israel esta submetendo a população palestina em uma das pautas mais importantes desta década e que cada vez mais ganha apoio de artistas de todo o mundo. O festival Together for Palestine acontecerá no dia 17 de setembro em Londres, na Inglaterra, quando serão reunidos diferentes artistas contemporâneos (que vão do vocalista Blur Damon Albarn, a Jamie Xx, Bastille, Hot Chip, James Blake e King Brule) no estádio de Wembley. E mesmo que não pudessem participar do festival por conflitos de agenda, a vocalista Beth Gibbons, o guitarrista Geoff Barrow e o produtor Adrian Utley voltaram a se reunir para gravar um vídeo que será exibido no dia do festival e Barrow postou fotos do ensaio com um quarteto de cordas em sua conta no Instagram, avisando que “como não poderemos estar lá e queríamos desesperadamente estarmos envolvidos”. Assim, a solução foi participar remotamente, como outros artistas mais novos (como Rina Sawayama, PinkPantheress e o ator Riz Ahmed). Por enquanto é só uma música (uma nova versão da eterna “Roads”), mas vai que eles lembram de como era bom e voltem a fazer shows por aí (e por aqui) – e como Barrow saiu de sua outra banda (o ótimo Beak>) e a turnê da carreira solo de Beth Gibbons estar chegando ao final, não duvide se eles voltem à estrada. Aí só vai faltar os Talking Heads…

Ao contrário de vários protagonistas do britpop que seguem vagando pelos palcos do mundo cantando músicas de 30 anos atrás, o Pulp voltou à ativa recentemente com um bom disco (o autoexplicativo More), embora siga voltando aos seus clássicos em suas apresentações ao vivo – e esteja aos poucos revisitando o próprio passado para aproveitar a empolgação dos velhos fãs. É o caso dessa excelente caixa que comemora o 30º aniversário do disco mais importante daquela cena, o imbatível Different Class, que ganhou tratamento de luxo em uma versão em vinil que traz um encarte de 28 páginas sobre o disco, um envelope com fotos e artes inspiradas no álbum de 1995, além da capa vazada original, que sugeria que o ouvinte pudesse trocar a imagem de capa a partir de outras cenas que o grupo incluiria no encarte (algo que não saiu do papel na época, mas que finalmente é colocado em prática). Além da íntegra do disco original, a nova edição também traz a íntegra da apresentação que o grupo fez no festival de Glastonbury daquele ano, quando tiveram que substituir os Stones Roses em cima da hora e transformaram seu show em um ponto de virada em sua carreira, chegando ao mesmo patamar que Suede, Blur e Oasis a partir de um disco soberbo e um show histórico. A nova edição será lançada no dia 24 de outubro e já está em pré-venda – e eu fico cogitando que mágico seria assistir ao grupo tocando todo o Different Class na íntegra no palco numa turnê de um futuro próximo. Sonhar não custa nada…

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