Jornalismo

Minha coluna na edição do Link desta semana foi sobre o excesso de formas de nos comunicarmos.

Existem mil maneiras de falar com alguém. Quero só uma
Todo mundo mesmo vai ter celular em dez anos

Alguém liga para você e pergunta se você viu o e-mail que mandaram. Ou um amigo escreve via SMS para saber se você está online. Ou alguém manda uma mensagem pelo Facebook para avisar que procurou você no MSN e não encontrou. Uma mensagem chega via Gtalk perguntando se “você está aí?”.

Houve um tempo em que havia poucas formas de entrar em contato com algum conhecido. Além da possibilidade de encontrá-lo pessoalmente, você poderia mandar uma carta ou tentar contactá-lo por telefone – que estava em um único lugar. Dá até para pensar que, no futuro, nossos filhos ficarão espantados com esse passado – hoje quase remoto – em que, para encontrar alguém era preciso ligar para o lugar em que ele poderia estar, em vez de ligar diretamente para a pessoa.

Mas surgiu a internet e ela trouxe outros canais: primeiro o e-mail (que você ganhava ao assinar um provedor de acesso à rede), depois o webmail (que mostrava que você poderia ter mais de um e-mail), os chats e, pouco depois, os programas de comunicação instantânea, que funcionavam como bate-papo, mas que permitiam identificar quem estava do outro lado. Mais tarde veio a web 2.0 primeiro com os blogs, depois com os sites de publicação de vídeo e fotos e, finalmente, (inúmeras) redes sociais. Cada um destes novos canais criou uma nova forma de entrar em contato.

Não bastasse tudo isso, veio o celular. E, com ele, tivemos de decorar mais um número, além do telefone de casa e do trabalho (para depois, com o tempo e a agenda de contatos no celular, esquecer quase todos eles). E além de falar ao telefone, também mandamos mensagens de texto. Logo depois, o aparelho se conectou à internet e não bastassem as ligações e SMS, todos os outros canais que antes só habitavam a tela do computador vieram para o telefone. Então checamos mensagens no Facebook, DMs no Twitter, e-mail e todos os outros tipos de contatos via web possíveis no celular. Isso sem contar um infindável universo de aplicativos que ajudam a estar em contato com quem quisermos – e até com quem não queremos.

Essa vida hiperconectada é rotina para um número cada vez maior de pessoas. E tende a piorar – ou a melhorar, dependendo do ponto de vista – com o tempo. Isso porque a tal inclusão digital, que parecia que iria acontecer quando todos tivéssemos um computador em casa, está acontecendo muito mais rápido do que imaginávamos, graças à popularização do celular e a convergência do aparelho com a internet. E por mais que já existam mais celulares do que habitantes no planeta, esse número tende a aumentar ainda mais.

“Fazendo as contas, telefones que custam US$ 400 vão custar US$ 20 daqui a 12 anos, e se o Google fizer tudo certo, haverá um Android em cada bolso”, disse Eric Schmidt, eminência parda da empresa no Mobile World Congress, maior evento de tecnologia móvel do mundo que aconteceu na semana passada, em Barcelona, na Espanha. Desconte-se a megalomania típica do Google (de que todo mundo terá um celular Android em pouco mais de uma década) e sua profecia não é nada descabida. E se lembrarmos que todas as grandes empresas de telefonia celular trabalham com objetivos semelhantes, não é exagero achar que todos os habitantes do planeta terão um smartphone em dez anos.

Para vender seu peixe, Schmidt frisou que, uma vez que todo mundo estiver conectado, o mundo será mais justo, os pobres serão menos pobres, todo mundo terá mais consciência política e as castas econômicas se aproximarão. Há um tanto de fantasia – e marketing – nesse discurso. E vai saber se daqui a alguns poucos anos alguém inventa algo que possa tornar o celular obsoleto…

O segredo para isso acontecer talvez esteja na possibilidade de integrar todos nossos contatos. Mensagens de redes sociais, e-mails, telefones… Tudo poderia convergir para uma só caixa de entrada. Que poderia ser acessada a qualquer minuto, de qualquer aparelho. Se alguém juntar esses pontos – num aparelho ou serviço – pode estar começando a redesenhar o futuro. De novo.

Aproveitei o mote do Pinterest na capa do Link para falar da novidade que todos esperam na minha coluna.

Qual será a grande rede social de 2012?
Será o Pinterest? Creio que não…

Começou com o Orkut, aí veio o MySpace, depois o Twitter, Facebook, Tumblr, Google Plus e, em poucos anos, nos acostumamos à ideia de que periodicamente seremos apresentados a mais uma rede social que teremos de conhecer e habitar. A consequência natural desta lógica deixou de se materializar na forma de palpites ou achismos de analistas de mídia e consultores digitais para virar uma grande questão online, discutida por todos: “Qual é a próxima?”. Ou, mais especificamente, qual vai ser a grande rede social de 2012?

Daí o interesse no Pinterest, assunto da capa do Link desta edição, que, devido a seu veloz crescimento na virada do ano, vem liderando a bolsa de apostas como a principal resposta para a pergunta acima. Mas é bem pouco provável que as pessoas passem a usar o Pinterest em vez do Facebook, ameaçando o reinado digital de Mark Zuckerberg. Mesmo porque o Pinterest não é propriamente uma rede social.

É uma rede social de nicho – a maior delas hoje, em fevereiro de 2012, mas não a única. Compare com o Canv.as, que o criador do 4chan, Christopher “Moot” Poole, lançou no ano passado. Os sites são bem parecidos, inclusive estruturalmente – com o agravante do Canv.as ainda contar com um software online embutido que permite que as pessoas remixem as imagens ali postadas. O Chill.com também segue a mesma lógica, mas é voltado apenas para vídeos. Como os três, há inúmeras outras, que dão a impressão de ser redes sociais porque pressupõem a criação de um perfil online e a interação entre os usuários.

A ascensão do Pinterest tem mais a ver com outro assunto recorrente e que é paralelo ao crescimento das redes sociais: a “morte dos blogs”. Ponho entre aspas porque é um tema que volta à pauta sempre que uma nova plataforma permite a publicação de uma espécie de diário, seja em texto, vídeo ou fotos. Foi assim quando, por exemplo, o Facebook permitiu que as pessoas usassem suas “Notes” como área para blogar.

O próprio Twitter ainda é constantemente referido como “microblog”, mesmo que já tenhamos entendido que ele não funciona como um blog – e que ninguém abandonou seu próprio blog para dedicar-se apenas ao Twitter.
Outros termos ajudaram a criar essa expectativa, como o “life streaming” – de sites como Posterous e FriendFeed –, o “reblog” – popularizado pelo RT do Twitter e pelo Tumblr – e o “social bookmarking” – de sites como Digg, Reddit, Delicious e StumbleUpon.

Todos estes serviços têm, em comum, o fato de facilitar ainda mais a vida de quem quer postar algo online. Como aconteceu com o próprio conceito de blog, que, quando surgiu, vendia a possibilidade que qualquer um poderia publicar na web sem saber nada de programação ou de linguagem HTML.

Daí o Pinterest e outros integrantes desta tendência de rede social de nicho serem apenas mais um passo rumo à autopublicação para completos leigos digitais. E a notícia de que seu crescimento espetacular vem do fato de que seus primeiros usuários não pertencerem ao perfil tradicional dos early adopters (donas de casa do Meio-Oeste americano impulsionaram a ascensão do site) só comprova isso.

Não acho que o Pinterest será a grande rede social de 2012, pois creio que o site que cumprirá esta expectativa não será desenvolvido para desktop. Acredito que a próxima rede social realmente importante – aquela em que todos precisamos conhecer e habitar – será feita para funcionar a partir do celular.

E já há vários lutando por esse posto. Entre eles o californiano Path.com, fundada pelo criador do Napster Shawn Fenning e por um dos fundadores do Facebook, Dave Morin, mas que já enfrenta problemas graças a críticas sobre o uso que o serviço faz dos dados de seus usuários.

A próxima grande rede social deve funcionar mais ou menos como o Instagram do brasileiro Mike Krieger, senão for o próprio. Atualmente ele ainda é restrito a usuários de iPhone, mas há rumores sobre o lançamento de um aplicativo para Android em breve.

Vamos aguardar.

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Minha coluna no Link de segunda foi sobre a falta de educação das pessoas ao falar no celular.

Nossa falta de educação ao usar o celular
Estamos cercados por pessoas falando sozinhas

Uma amiga minha me contou que dois amigos dela chegaram com uma novidade do exterior. Um vinha da Califórnia; o outro, da Europa. E os dois lhe explicaram uma espécie de brincadeira que aos poucos estava tornando-se popular longe do Brasil. Ela apelidou de “roleta russa da conta”, que funciona assim: ao encontrar-se com amigos em um bar ou restaurante, todos fecham um trato que começa ao deixar o telefone celular exposto à mesa. Todos numa mesma pilha, num canto específico, eles não precisam nem estar desligados. Mas é melhor desligar. Porque aquele que atender o telefone no meio do encontro assume a conta da noite. É um teste para os nervos, ainda mais quando o celular é deixado ligado. Ele pode tocar. O problema não é esse. É resistir à chamada. Atendeu, pagou.

Nem faz muito tempo que o celular entrou em nossas vidas – um pouco menos que o Google, um pouco mais que o Facebook –, mas ele se tornou um acessório tão onipresente, que as pessoas perderam até a noção da própria presença quando começam a falar no telefone.

A tal “roleta russa” é uma brincadeira, mas revela que o uso do celular em ambientes sociais já está sendo visto como um problema até mesmo para quem não consegue deixar o aparelho de lado. Há um quê de vício, mas o hábito está mais próximo da ansiedade do que propriamente de uma adição.

Um dos motivos que me fez parar de frequentar boteco – um deles, não o único – é aquela mesa lotada com várias pessoas falando com outras que não estão ali. Você já deve ter visto tal cena: quatro pessoas ao redor de uma mesa, as quatro no celular, em conversas que poderiam muito bem ficar para depois daquele encontro.

Mas a frequência em bares e restaurantes é só um dos muitos aspectos da nossa má educação no uso do telefone móvel. Há inúmeros outros exemplos. Como andar na rua sem olhar para frente, checando SMS ou acessando a internet. Ou conversar com alguém olhando sempre para baixo, para ver se alguém está ligando ou mandando mensagem. Ou falar ao telefone no carro, usando apenas uma das mãos para dirigir. Ou usar o celular no cinema! Isso sem contar o pior de todos os pecados celulares: ouvir música sem fones de ouvido, discotecando sua trilha sonora para quem estiver por perto – e nunca, NUNCA, alguém que escuta música assim ouve algo que presta.

Quando o telefone ainda era fixo, o hábito de usá-lo era quase um sacramento. Havia um canto da casa dedicado ao aparelho – havia até móveis feitos para apoiar o telefone e ficar sentado ao mesmo tempo. Se uma ligação fosse interurbana ou fosse demorar mais tempo, era melhor fazer à noite, pois as taxas eram mais baixas. Ligar para alguém era uma atividade que requeria preparo e tempo. Era bem pouco comum ligar para alguém só para dizer que estava saindo de casa ou apenas para perguntar um ingrediente de uma receita, como fazemos hoje (isso sem contar que era preciso discar o número, em vez de simplesmente pressionar botões ou achar o nome da pessoa numa lista de contatos).

Veio o celular e estes hábitos mudaram completamente, com a exceção do fato de que ainda transformamos a ligação em um momento individual. E é aí que começa nossa falta de educação ao telefone. Basta reconhecer quem está ligando para ser teletransportado para uma esfera íntima que é habitada por apenas duas vozes.
E aí não importa se você está na rua, no ônibus, na sala de aula, no bar… As pessoas começam a conversar sem pensar nas outras que estão ao redor, conhecidas ou não. Assim, acompanhamos conversas alheias sem querer e, em poucos minutos, estamos cercados por pessoas falando sozinhas, sem parar.

A tal “roleta russa da conta” é o início de reação a tal hábito. Não deverá ser o único. Não duvido que, em pouco tempo, aparecerão restaurantes finos que pedem que os clientes deixem o celular à porta como restaurantes japoneses pedem para que se deixe os sapatos ao entrar. O problema é menos falta de educação e mais falta de noção. Vamos torcer para aprendermos a superar isso.

Publicamos mais um texto do Morozov no Link – e desta vez ele fala sobre como o Facebook está matando a idéia de se perder na internet. Um trecho:

Na segunda metade do século 19, Paris passou por profundas mudanças. As reformas na arquitetura e no planejamento urbano promovidas pelo barão Haussmann no governo de Napoleão III foram particularmente importantes: a demolição de estreitas ruas medievais, o estabelecimento de praças amplas (construídas em parte para melhorar a higiene e em parte para impedir barricadas revolucionárias), a proliferação da iluminação de rua a gás e as crescentes vantagens de passar o tempo em ambientes fechados transformaram radicalmente a cidade.

A tecnologia e as mudanças sociais também tiveram seus efeitos. O tráfego de carros na rua fez de passeios contemplativos uma atividade perigosa. Galerias foram substituídas por lojas de departamentos. A racionalização da vida urbana conduziu os flâneurs ao subterrâneo, obrigando-os a se refugiar num tipo de flanar interno, cujo apogeu é o exílio autoimposto de Marcel Proust em seu quarto (situado, voilà, no bulevar Haussmann).

Algo parecido aconteceu na internet. Transcendendo sua brincalhona identidade original, a rede não é mais para passear – virou lugar de cumprir tarefas. Ninguém mais navega. A popularidade dos aplicativos – que conduzem àquilo que queremos sem que seja necessário abrir o browser, faz do flanar online algo cada vez menos provável.

O fato de uma parte tão preponderante da atividade contemporânea na rede envolver compras não ajuda em nada. Passear pelo Groupon não é tão divertido quanto caminhar por uma galeria, eletrônica ou não.

O ritmo da internet mudou. Dez anos atrás, um conceito como o tempo real, em que cada tweet e atualização de status é automaticamente indexada, atualizada e respondida, era impensável. Hoje, este é o termo do momento no Vale do Silício. Não se trata de algo surpreendente: as pessoas gostam de velocidade e eficiência.

Mas as páginas de outrora, que abriam lentamente ao som de estranhos ruídos do modem, tinham um inusitado lado poético. Ocasionalmente, a lentidão chegava a nos alertar para o fato de que estávamos sentados diante de um computador. Bem, esta tartaruga não existe mais.

Enquanto isso, o Google, ao tentar de organizar a informação do mundo, vem tornando desnecessária a visita a sites individuais assim como, gerações atrás, o catálogo da Sears tornou desnecessária a ida a lojas físicas. A atual ambição do Google é responder nossas perguntas – sobre o clima, as taxas de câmbio, o jogo de ontem – ele mesmo, sem levar a nenhum outro site. Digite a pergunta, e a resposta aparece no topo da lista de resultados.

(O impacto de atalhos deste tipo nas buscas não interessa aqui; quem imagina a busca por informações em termos tão puramente instrumentais, enxergando a internet como pouco mais do que um gigante FAQ, dificilmente criará espaços que convidem ao flanar online.)

Mas, se há um barão Haussmann na internet hoje, ele é o Facebook. Tudo aquilo que torna possível o flanar online – solidão e individualidade, anonimato e opacidade, mistério e ambivalência, curiosidade e o desejo de correr riscos – está sob o ataque desta empresa. E não estamos falando de uma empresa qualquer: com 845 milhões de usuários ativos espalhados pelo mundo, dá para dizer que aonde quer que o Facebook vá, a internet irá atrás.

É fácil culpar o modelo de negócios do Facebook (a perda do anonimato permite que ele lucre mais com os anunciantes), mas o problema é mais embaixo. O Facebook parece acreditar que os peculiares elementos que tornam possível o flanar devem ser eliminados. “Queremos que tudo seja social”, disse Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, em entrevista ao programa de TV Charlie Rose alguns meses atrás. Na prática, isso foi explicado pelo chefe dela, Mark Zuckerberg, no mesmo programa. “Preferimos ir ao cinema sozinhos ou com amigos?”, perguntou, respondendo imediatamente: “Com amigos”.

As implicações são claras: o Facebook quer construir uma internet na qual ver filmes, ouvir música, ler livros e até mesmo navegar sejam atividades desempenhadas não só abertamente como social e colaborativamente. Por meio de parcerias com empresas como Spotify e Netflix, ele cria poderosos incentivos que fariam os usuários adotarem ansiosos a tirania do “social”, a tal ponto que desempenhar qualquer uma dessas atividades sozinho seria impossível.

Ora, se Zuckerberg de fato acredita no que disse sobre cinema, há uma longa lista de filmes que eu gostaria de sugerir aos amigos dele. Por que ele não leva a turma para ver Satantango, sete horas de filme de arte branco e preto do húngaro Bela Tarr? A resposta: se fizéssemos uma pesquisa de opinião entre os amigos dele, ou um determinado grupo numeroso de pessoas, Satantango seria quase sempre derrotado por um título que pode não ser o filme preferido por todos, mas que também não vai incomodar ninguém. Eis um exemplo da tirania do social.

O texto todo pode ser lido aqui.

Esse tal de ArduinoCampus Party 2012: Debates, queixas e promessasVida Digital: Jonah Peretti, do BuzzFeedAlexandre Matias: Quem disse que todo mundo precisa ter opinião sobre tudo?Camilo Rocha: PlayStation Vita – Portátil e derrapanteTatiana de Mello Dias: O lado delicado do fim do MegauploadA brasileira do Tumblr, Amazon pode ir às ruas, Goiás x Twitter. o Dropbox do Google, iPad 3 e mais

Minha coluna nessa edição do Link foi sobre a ressaca da web 2.0.

Quem disse que todo mundo precisa ter opinião sobre tudo?
Nas redes sociais, opinar é exibicionismo

Wando morreu. E eis que, no dia de sua morte, na quarta-feira, em meio ao luto súbito e homenagens póstumas de toda ordem (desde versões ilustradas para o hit “Fogo e Paixão” até piadas sobre um dos temas favoritos do cantor, as calcinhas), o blog Não-Salvo – um dos maiores blogs de humor do Brasil – postou uma foto de Sidney Magal em sua página do Facebook. Sobre a foto, um texto anunciava “Wando (1945-2012)” e citava um trecho da música “Borbulhas de Amor”, do Fagner.

Não era um erro. Foi de propósito, afinal o motivo era brincar com o fato de que as pessoas acabam confundindo determinadas informações e, no calor da hora, misturam lé com cré.

Os leitores do blog não só entenderam a piada como a passaram para frente, compartilhando a imagem em seus perfis na rede social. Mas como nem todo mundo conhece o site ou foi avisado de que aquela imagem veio de um site de humor, não faltaram comentários que não apenas corrigiam a imagem (“esse não é o Wando!”) como agrediam rispidamente a “ignorância” de quem postou a informação “errada”.

(Cabe um parêntese rápido sobre essa agressividade típica da internet. Uma vez que não há o contato próximo, é muito comum que se aproveitem desta frieza e distância da comunicação online para a exibição de uma fúria ameaçadora. Antes do Facebook, reclamações, acusações e ameaças ficavam escondidas sob o fato de que não era preciso se identificar para fazer comentários em sites ou blogs. Depois do Facebook, em que a identificação é capital, essa raivinha foi transformada em exibicionismo de opinião, com pessoas debatendo interminavelmente – e apaixonadamente – sobre qualquer assunto que vier à pauta. Seja um animal morto, uma declaração de um político, o resultado de um jogo ou um programa de TV – todo mundo tem opinião formada sobre qualquer assunto. Depois dos trending topics do Twitter, agora temos a polêmica do dia, no Facebook).

Mas é tudo uma questão de contexto. Como observa o fundador do site BuzzFeed, Jonah Peretti, (protagonista do Vida Digital desta edição do Link), o Facebook e as redes sociais em geral misturam notícias sérias e fúteis no mesmo ambiente – afinal, tais notícias interessam a qualquer um. Mas uma coisa é reclamar que a foto exposta não é do Wando e sim do Sidney Magal. Outra coisa é sair compartilhando qualquer tipo de informação sem checar de onde ela vem. É um exercício natural à prática do jornalismo que, aos poucos, está sendo repassado para todo o público não-jornalista.

É fácil acabar com a reputação de uma pessoa em alguns posts no Facebook. O que aconteceu com a Luíza, aquela, do Canadá, poderia não ser engraçadinho e curioso – e, sim, trágico, caso o tema fosse diferente de um pitoresco comercial de TV. Misture isso ao fato de que muitos passam para frente notícias sem nem mesmo checar de quando elas são e que há proliferação de sites de humor que fingem ser publicações jornalísticas e temos um trem saindo dos trilhos em nosso inconsciente.

Talvez seja a avalanche de informação, talvez seja algo que eu chamo de “a ressaca da web 2.0” (que permitiu a qualquer um dizer o que pensa online – e agora estamos vendo todo mundo dizer o que pensa só pelo simples fato que é possível dizer o que se pensa o tempo todo). Há a clássica frase de Gilbert Chesterton que, no começo do século 20, disse que “não foi o mundo que piorou, as coberturas jornalísticas é que melhoraram muito”.

Essa sensação de euforia e paixão – que pode ser boa ou ruim – é uma espécie de desdobramento da constatação de Chesterton. Tanta informação faz que a gente queira acompanhar esse ritmo da mesma forma, mas vale o novo ditado “Google before you tweet is the new think before you speak” (“Usar o Google antes de twittar é o novo pense antes de falar”). Sem um mínimo de ponderação, mergulhamos de cabeça no redemoinho de informação que parece nos puxar para baixo. Mas essa força não age sozinho – é preciso que você dê o primeiro passo. Por isso, calma.

Quem é que manda • Evolução nerdFacebook na bolsa de valores, Julian Assange nos Simpsons e um blog só de aplicativosSem popstars, a atração da Campus Party é o públicoImprima qualquer coisaEm São Paulo, às 19h de uma segunda-feira

E a minha coluna na edição do Link de hoje foi sobre a Campus Party:

Sem popstars, a atração da Campus Party é o público
Evento acerta ao mirar o futuro e não o passado

Acompanho a Campus Party desde sua primeira edição, em 2008, quando o evento chegou ao Brasil e era realizado ainda no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera. Fui a todas as edições, sempre cobrindo para o Link, além de participar de debates e entrevistar alguns de seus convidados. Mas duas coisas sempre me deixaram com a pulga atrás da orelha.

Uma delas diz respeito à velocidade de conexão do evento, que, desde a primeira edição, era vendida como um dos grandes trunfos do encontro, permitindo downloads numa velocidade muito além da que tínhamos em casa, há cinco anos – espantosos 5 gigabytes de banda larga! Quem acompanha o mundo digital há um mínimo de tempo sabe que a tendência é que tal velocidade cresça a cada ano. Por isso me perguntava qual seria a grande atração da Campus Party depois que conexões ultrarrápidas virassem algo comum para a maioria das pessoas. Como já acontece hoje.

O segundo ponto era o fato de o evento se preocupar em trazer medalhões para atrair a atenção de um público ainda em construção. Assim, foram chamados nomes que às vezes nem eram tão cruciais para a história do mundo digital – como, especificamente, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore –, mas que garantiam audiência e mídia. Ou nomes importantíssimos, como o criador da world wide web, Tim Berners-Lee, que, na hora de falar, não fez jus à sua importância histórica.

Claro que houve exceções – e boas –, como a vinda do cofundador da Apple Steve Wozniak no ano passado ou a presença do hacker Kevin Mitnick na edição do ano anterior. Mas ia chegar uma hora em que a lista de figurões se aproximaria do fim, pois o mundo digital só agora alcança a maturidade.

Sem contar o fato de a Campus Party sempre pregar a colaboração e a participação como duas de suas principais bandeiras – que perdem força a partir do momento em que as grandes atrações do evento se resumiam ao público assistir a palestras, em que a maior interação com o palestrante seria depois da apresentação, em encontros como a (enorme) fila de autógrafos para o livro de Woz, no ano passado.

Eis que a Campus Party deste ano apresenta sua programação sem nenhum medalhão. Há nomes importantes e de peso, mas todos precisam ser apresentados detalhadamente para quem não é do ramo. Não há nenhum palestrante que mobilize atenções para além da cobertura de tecnologia e um dos principais debates reunirá nomes quase anônimos, mas que representam grupos que se estabeleceram coletivamente, como na mesa formada por integrantes de levantes políticos do ano passado (a Primavera Árabe, os Indignados da Praça do Sol na Espanha e o Occupy Wall Street) que se encontrarão para discutir este tipo de mobilização na tarde da próxima sexta-feira.

Sem nenhum popstar, a principal atração da feira volta a ser o público. E, para este público, o coordenador-geral do evento, Mário Teza, repete com insistência uma palavra-chave: inovação. Dito como uma tag, o termo “inovação” pode confundir, pois é comumente associado à novidade, à mudança. Mas não é tão simples assim.

Em se tratando de tecnologia e cultura digital, inovação é a gasolina do motor. A lógica eletrônica é oposta à industrial, que a antecedeu: importa menos manter as coisas como estão e mais antever as mudanças do futuro. E elas não vão parar. Erra quem cogita que as transformações digitais são passageiras, que, em algum momento, essas mudanças irão cessar e o ritmo da vida irá voltar a ser como era antes.

Esqueça: a mudança é a regra.

Por isso a Campus Party 2012 acerta ao apostar mais no futuro do que no passado da nossa idade eletrônica. Ao trazer nomes de menor calibre, facilitam até mesmo o acesso dos acampados aos palestrantes, que podem conversar com eles sem ter o receio comum do encontro com celebridades. Resta saber se, uma vez no Anhembi, vamos ter menos problemas do que as edições anteriores – mais especificamente nos debates, sem que o áudio de uma mesa redonda se misture ao das vizinhas.