Vamos falar de quadrinhos? Juntei a necessidade de ampliar as pautas do Bom Saber, meu programa semanal de entrevistas, com a vontade de voltar a conversar com um velho amigo e convidei o jovem Ramon Vitral para falar tanto sobre sua trajetória como referência crítica brasileira nas HQs quanto para comentar a excelente fase que ele vem atravessando, tanto do ponto de vista criativo quanto do ponto de vista do mercado editorial – ele que é fruto justamente desta mudança que vem acontecido com o meio nos últimos vinte anos. E, claro, pedi para que ele desse algumas dicas pra quem quiser se inteirar mais sobre as novidades desta arte atualmente.
Mais uma vez reunidos, eu, Vladimir Cunha e Emerson Gasperin seguimos uma nova reunião do Aparelho: Jornalismo-Fumaça, desta vez partindo do compasso de espera pela vacinação para bater de frente em uma mentira contada sobre o brasileiro nos últimos anos – a de que um povo esculhambado e sem vergonha como esse fosse moralista e que abre mão de um estado forte para ficar na mão-boba invisível do mercado. No meio do caminho, falamos sobre pornografia sueca, passar a mão na bunda do guarda, mendigos empreendedores, o disco mais censurado depois da ditadura militar, Genival Lacerda, a grande lição da fábula capitalista, o fim do funk proibidão, como o Paulo Guedes parece com o Mxyzptlk, qual a relação entre jingle bell e o fim do papel, a guinada à direita (?!) de Luciano Huck, onde o comunismo deu certo, a iminência dos saques, a música de duplo sentido como música de protesto e como pagar as contas com o poder da mente.
Seguindo mais uma edição do meu novo programa dedicado às conversas sobre música, desta vez chamei outro compadre de noites de festa: o conterrâneo Luciano Kalatalo, com quem dividi as cabines de discotecagem pelo país como a dupla Gente Bonita. A festa que começamos em 2006 é o começo do papo, que inevitavelmente vai para outra de suas grandes realizações, que é a fundação de um dos fanzines mais importantes dos anos 90, o mitológico Tupanzine, além de suas novas descobertas musicais – ele que segue discotecando na quarentena, nem que apenas para os vizinhos.
O plano original da Yma era trazer o sucessor de seu ótimo disco de estreia Par de Olhos ainda em 2020, mas, como aconteceu com todo mundo, ela teve de mudar completamente de ideia. “Durante o ano, fui registrando tudo o que vinha, como vinha, sem peso, julgamento, pretensão ou expectativa, como mero exercício criativo para manter as ideias em movimento”, lembra a cantora e compositora paulistana. Estou começando o processo de ouvir com cuidado esses registros e a partir disso refletir e elaborar, se singles, disco, ou seja lá, o que virá”. Assim, encerra seu 2020 com o single “White Peacock” que, como o single que lançou no meio do ano, “No Aquário”, já estava no repertório dos shows e chega ao público em primeira mão pelo Trabalho Sujo.
Balada oitentista com leve toque psicodélico e o sax mais rasgado que você vai ouvir em 2020, o novo single, parceria da cantora com o amigo Zé Motta, já tem dois anos: “Fiquei extasiada, lia aquele conjunto de palavras e sentia um quê de misticismo. belo e surreal, ao mesmo tempo que me trazia imagens caóticas, de um concreto sujo numa cidade agitada as pessoas apressadas.. certamente me conectei de cara”, aos poucos ela compôs a melodia e juntos foram adaptando as palavras para a nova canção. “Um bom tempo depois, durante um ensaio com a banda, comecei a tocá-la na guitarra e a turma foi entrando na onda. Não demorou muito pra música entrar no repertório do show. no fim, me peguei apaixonada por ela e resolvi gravar.”
As gravações começaram no ano passado, conduzidas por seu produtor e companheiro Fernando Rischbieter. E o solo rasgado que caracteriza a faixa veio logo depois, quando o saxofonista alemão Humphrey Heim viu um de seus shows e se dispôs a colaborar. “E eu que sou perdidamente louca por saxofones, senti uma boa intuição e topei na hora”, lembra Yma. “No dia de gravar com ele ficamos um tempão refletindo sobre a relação entre o pavão do título e o solo de sax e fomos fundo – de repente ele estava ali, no estúdio, gritando. Era o pavão gritando de dentro dele em forma de solo de sax. Nunca fiquei tão arrepiada numa gravação.”
Ela comenta sobre os singles que lançou esse ano e sua relação com o próximo álbum. “Esses dois singles são experiências isoladas – e apesar de haver entre elas uma certa relação com a fase Par de Olhos, por terem estado presentes nos shows -, acho que já começam a apontar, de leve, para esses novos lugares. então certamente é um período de transição.” O disco, no entanto, ainda é um mistério: “Esse ano foi completamente atípico e assombroso, pra mim e talvez para toda humanidade. Criar, experimentar música e arte, pelo menos da maneira que eu conhecia, não pôde ser uma prioridade. A meta era manter a mente sã e imunidade lá em cima.”
Ela se aprofunda sobre sua relação com o isolamento social deste ano. “No primeiro semestre eu só enlouqueci, tive uma dificuldade imensa de me conectar com a realidade, no sentido mais literal possível. Acordava e todos os dias não estava ali. Estava fora. Fora do corpo e da mente. O medo dominava meus pensamentos. Cresci ouvindo meu pai falar em previsões catastróficas, das mais diversas linhas místicas, então meu imaginário de fim de mundo é aquele bem clichê do cinema sensacionalista, onde tudo acontece ao mesmo tempo; pandemias, o mar engolindo tudo, mercados vazios, alienígenas, crise hídrica, podres poderes, guerra civis.. Pera, agora, escrevendo assim, aos poucos, os filmes não parecem mais tão distantes, né?”, ri desesperada.
“Por acaso, fiquei uns dias sozinha em casa. Ter ficado sozinha foi crucial pra conseguir me reconectar. não apenas sozinha, mas em silêncio. Nua com aqueles pensamentos todos. Comecei primeiro a provocá-los, indagá-los e por fim aceitá-los. Acho que foi um movimento que quebrou com os padrões que eu havia criado. Depois foi tudo voltando pro lugar. Não existe fórmula, mas foi o caminho que encontrei – e assim sigo, tentando enfrentar os medos, sempre sonhando com solos de sax.” “White Peacock” está disponível nas plataformas digitais nesta sexta e terá clipe no ano que vem.
O pernambucano Rodrigo Caçapa passou a debruçar-se na pesquisa sobre a música nordestina do último século, trabalho que acabou tomando a frente de sua obra como músico, cantor e compositor. Finalmente terminando um projeto que resgata a musicalidade naquela região do país a partir de acervos fonográficos e registros audiovisuais dos anos 20, 30 e 40, aproveito o gancho para conversar sobre o longevo preconceito em relação à música e a cultura nordestina e como esta ajudou o mercado de discos sediado no Rio de Janeiro e em São Paulo a dar passos consideráveis nesta direção – e o que era uma entrevista para o meu programa sobre música brasileiro Tudo Tanto se tornou uma pequena aula sobre a divisão do país em dois grandes polos culturais – e como um deles sempre se aproveita do outro.
Com letra de Ava Rocha, Ana Franga Elétrico lança mais um single e se entrega ao hedonismo disco music Brasil na irresistível “Mulher Homem Bicho”.
Rapaz… Que sonzeira.
Uma nova fase de ouro do cinema de horror fez surgir uma percepção que só recentemente a produção destes filmes sempre usa o sobrenatural, o medo e a tensão como forma de fazer referências sócio-políticas à realidade que habitamos – e a isso deram o rótulo de “pós-horror”. Mas eu e André Graciotti discordamos deste rótulo e nesta edição do Cine Ensaio falamos sobre como o horror sempre fez isso desde o início do cinema e tentamos decifrar o que realmente há de novo nesta nova safra de filmes, puxando, como gancho, o ótimo O Que Ficou Para Trás, que estreou no Netflix no final do ano.
Na nova edição do meu programa dedicado a entender as transformações do jornalismo e da música no século 21, convido a querida amiga Pérola Mathias (que, como digo logo no começo do papo, não tem nenhum parentesco) para conversar sobre seu trabalho com música, que começou na academia mas aos poucos se espalhou para outros veículos, fazendo-a parir o blog Poro Aberto, que nestes últimos meses está em estado de suspensão. Mas isso não quer dizer que ela esteja parada – e é justamente sobre o que ela tem feito, além de rever sua trajetória profissional e universitária, o tema da conversa em mais uma edição do Artejornalismo.
A jovem banda paulistana Crime Caqui planejava lançar seu primeiro disco de estreia em 2020, mas foi inevitavelmente abalroada pelos imprevistos desse ano, que forçou as quatro instrumentistas a tocar seus trabalhos em outro ritmo. “Obviamente, tínhamos alguns planos e ideias pra essa música que acabaram mudando drasticamente quando estourou a pandemia”, explica a vocalista e baixista Yolanda Oliveira. A guitarrista Larissa Lobo completa: “Por conta do distanciamento físico, esse ano não conseguimos iniciar a gravação do nosso primeiro disco, mas tivemos esse tempo para definir melhor o projeto.” Nesse meio-tempo, lançaram algumas músicas, alguns clipes e agora encerram seu 2020 com a gravação de sua música mais épica, a intensa “Naufragar”, que ganha um improvável clipe caseiro e artesanal, que estreia em primeira mão no Trabalho Sujo.
“Sentimos a necessidade de registrar o nosso estado de espírito através de gravações feitas por nós mesmas de cenas do nosso cotidiano no decorrer dos dias”, prossegue Yolanda, “decidimos que o clipe seguiria nessa linha, achamos que poderia surgir uma conexão interessante já que a canção não tem nada a ver com esse assunto. As imagens foram gravadas no decorrer desse ano – desde junho até uns dias atrás, quando fizemos as últimas captações pra compor a montagem – enquanto isso a música ia sendo finalizada. Se tornou uma espécie de diário sensorial que relata a nossa percepção do ano de 2020. Também, assim como o ano está se encerrando, esse single é o último da leva e encerra um ciclo para nós.”
A guitarrista May Manão continua. “Idealizamos o clipe já pensando na situação atual de pandemia pois era e ainda é nossa realidade durante a pós-produção da música. Filmamos a nós mesmas trazendo uma interpretação individual da música e relacionando com nossas vivências no confinamento e a nova percepção dos espaços das nossas casas.”
“Esse ano aconteceu num ritmo diferente né, nossos planos e encontros foram interrompidos e o que era pra ter sido começado, foi adiado”, conclui Larissa. “Mas foi importante também porque conseguimos fazer e criar outras coisas e além de amadurecer algumas ideias. Em outubro a gente se reuniu brevemente e gravamos um material novo, com músicas inéditas, que deve ser apresentado no início do ano. Vai ser bem chique! Também tivemos esse tempo para definir melhor o projeto e é praticamente certo que faremos algo no esquema de financiamento coletivo. Então aguardem a nossa chamada!”
É impressionante a escalada pop que Billie Eilish vem fazendo, a ponto do primeiro trailer do documentário que estreia em fevereiro no ano que vem na Apple TV+, Billie Eilish: The World’s A Little Blurry, parece ficção de tão redondinho. E não perca o finzinho do trailer…