O sueco José González acaba de anunciar mais uma passagem pelo nosso continente, com datas no México, Colômbia, Uruguai, Chile, Argentina e Brasil, quando passa por São Paulo (no Cine Joia) no dia 20 de setembro e pelo Rio de Janeiro (no Circo Voador) no dia 21. Os ingressos começam a ser vendidos nesta quinta-feira – tem os links certinhos lá no site dele.
Vocês querem festa? Então toma! Nessa quinta-feira inauguro mais um puxadinho da minha zona de influência como parte das comemorações dos cinco anos de vida do sensacional Picles, que acabou de ser reformado e apresenta sua nova cara ao público nesta semana de aniversário. Inferninho Trabalho Sujo é uma festa quinzenal em que faço todo mundo dançar logo depois de uma das atrações da noite, o show de uma banda, essa espécie em extinção. E começo com um grupo exemplar desta nova safra, os queridos Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo que acompanho desde antes do primeiro single. Às vésperas de lançar seu segundo álbum, o grupo faz um dos últimos shows de seu disco de estreia e sintoniza a frequência dessa minha nova onda, de fazer o lugar queimar de tanta música. E quem chamei pra ferver a pista é a comadre Francesca Ribeiro, a Fran, que repete a divisão de MP3 que fizemos naquele baile de carnaval no Cortina. O Picles fica na Cardeal, 1838, e quem chegar até às 21h não paga pra entrar (quem chegar depois, paga R$ 25). Bora?
Encerrando a minitemporada Notas e Sílabas nesta terça-feira no Centro da Terra, o trio Atønito recebeu Luiza Lian para uma celebração ecumênica de música e poesia. Como explicou o saxofonista Cuca Ferreira no meio da apresentação, a relação de Luiza com o trio vem desde antes da pandemia, quando ela participou do segundo disco do grupo, Aqui, mas nunca pode cantar a faixa que dividiu com os três num palco – até essa semana. Além de passear pelo próprio repertório e por músicas do Azul Moderno de Luiza (como “Sou Yabá”. “Pomba Gira do Luar” e a faixa-título do disco de 2018), o grupo tocou pela primeira vez a suíte “Sentido”, num improviso em que o sax de Cuca, o baixo de Ro Fonseca, a bateria de Priscila Brigante e a voz de Luiza num amálgama sonoro intenso, uma febre de jazz de culminou a apresentação.
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(Foto: Marina Lima/Divulgação)
Mais um disco que foi atropelado pela pandemia começa a surgir no horizonte. O quarto disco dos Garotas Suecas, que estava sendo planejado para existir no fatídico 2020, finalmente dá as caras com o primeiro single, que será lançado nesta quarta-feira, mas que dá pra ser ouvido em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. “Não Tá Tudo Bem” dá a tônica de 1 2 3 4, que será lançado em julho, e traça o período de decadência brasileira que assistimos há quase dez anos. “Escrevi essa música no auge da pandemia e num dos meus piores momentos”, lembra o baterista e vocalista Nico Paollielo. “A pandemia acabou, mas as marcas que ela deixou ainda estão bem visíveis. Acho que a música traz uma melancolia que nós, Garotas Suecas, e muitas pessoas estão sentindo nesse momento, de que o pior já pode ter passado, mas até quando vamos ficar desse jeito?”. O diagnóstico é o oposto literal do primeiro single da carreira da banda, “Tudo Bem“, que teve seu clipe lançado quando seu primeiro disco, Escaldante Banda, completou dez anos, naquele mesmo 2020, e atravessa todo o clima do próximo disco da banda paulistana.
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Na segunda noite da temporada Mil Fitas que Sue e Desirée Amarantes estão fazendo às segundas-feiras no Centro da Terra, a violinista e produtora Desi tomou conta do palco ao recriar no Centro da Terra o clima de sua garagem estúdio, onde toca com o casal vizinho Carabobina – Raphael Vaz nos synths e vocais e Alejandra Luciani nos synths, efeitos e guitarra-, convidando a violoncelista Fer Koppe para uma hora de imersão em camadas de dream pop com sensações camerísticas. E no espírito de experimentação da temporada, Desi não só tem matado saudade dos palcos com suas próprias músicas, de onde estava distante há tempos, quanto arriscou-se a cantar, puxando um transe a partir de um metamantra: “Parece o Thom Yorke, mas é só um semitom”, cantou repetidas vezes ao piano antes de entrar na parte final da apresentação deste início de semana. A contribuição de Sue desta vez não foi musical e a produtora projetou imagens sobre os quatro músicos no palco, amarrando ainda mais o clima psicodélico e onírico da apresentação.
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No meu programa de entrevistas do meu canal no YouTube puxei um papo com a Nathalia Lavigne, crítica e curadora de arte, para falar sobre como o mundo das artes plásticas e visuais tem atravessado esse período pandêmico e falamos desde como processos da arte digital e da visão decolonial da história da arte foi acelerado em detrimento desta fase, além de conversar sobre o papel do curador neste novo cenário. Ela conta também como atravessou este período, mudando para a Alemanha durante a pandemia para encontrar museus e galerias fechadas e como a experiência pessoal afetou sua visão da área.
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Mesmo com ótimos shows (pra mim: Haim, Mars Volta e Lana Del Rey) e uma diminuição de público que tornou o segundo dia apenas tolerável, o festival Mita terminou sua edição 2023 no débito, criando uma sensação de descaso com o público mesmo que trouxesse boas apresentações em boas condições. Essa impressão desfez-se no Mita Day, evento realizado neste domingo (uma semana após a versão maior do festival), no Auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Reverenciando a obra do maestro Arthur Verocai partindo de seu clássico disco de 1972 e contando com a presença de convidados ilustres, o festival estendeu o tapete vermelho tanto na parte artística quanto no tratamento ao público, numa noite pop de gala raramente vista em festivais por aqui. À frente de um conjunto híbrido de big band com orquestra, o compositor e arranjador carioca pode apresentar seu trabalho mais uma vez ao vivo em condições ideais de temperatura e pressão. Talvez a distribuição da banda, dos vocalistas e dos convidados no palco pudesse ser pensada de outra forma, uma vez que o auditório estava aberto em sua versão completa, com as duas plateias à frente e às costas dos músicos (como uma versão gigante do teatro do Sesc Pompéia) e isso comprometia a visão do palco.
Mas foi bonito assistir Verocai regendo aquela pequena orquestra com a leveza informal de quem pertence à música popular, estalando os dedos para marcar os compassos, sem batuta nem fraque, cantarolando baixinho o começo de cada música antes de contar o tempo de entrada (“um, dois, três e já!”) e conversando à vontade com o público. E se entre os convidados da noite haviam nomes de peso como Céu, Mano Brown e Ivan Lins, foi bonito ver que alguns dos melhores momentos da noite tiveram à frente velhos colaboradores do maestro, como o soulman Carlos Dafé, Clarisse Grova e Paula Santoro. O DJ Nuts subiu junto com Brown e não entendi se ele estava tocando algo, mas foi bom vê-lo reconhecido em público pelo próprio maestro (mais uma vez) sobre o papel do seletor em sua redescoberta, afinal foi Nuts quem apresentou para o mundo o disco clássico de Verocai, que era desconhecido mesmo no Brasil até outro dia – e se estávamos reunidos naquele belo evento para celebrar um aventureiro da nossa cultura, era culpa deste historiador e discotecário sensacional. Uma bela noite.
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Só vi agora essa matéria que a Renata fez pro Metrópolis me pedindo pra traçar a conexão entre alguns livros e discos clássicos, mostrando como a literatura é fonte de inspiração pra música pop.
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Quando a pandemia começou, ainda nos primeiros meses de 2020 em que ninguém sabia nada e a paranoia estava ligada no último, um dos primeiros assombros artísticos foi a vinda do single “Murder Most Foul“, que, por mais de quinze minutos, Bob Dylan fazia um réquiem para o século 20 apontando o assassinato de John Kennedy como ponto focal tanto para o início da decadência dos EUA e o surgimento da cena cultural em que ele mesmo apareceu, como se a morte do presidente tivesse arruinado um sonho que só conseguiu sobreviver graças à cultura pop. Com uma música épica, Dylan temia pela própria vida, ele que estava às vésperas de completar 80 anos e se via dentro do grupo de risco pandêmico – e nos contava isso, fazendo-nos temer pela morte de seus contemporâneos. E à medida em que a pandemia foi arrefecendo e voltamos ao convívio presencial com todos os famigerados protocolos de segurança, Dylan anunciou sua primeira live, batizada de Shadow Kingdom. Mas a live não era ao vivo e sim uma versão teatralizada do que seria um show, com a banda tocando com máscaras enquanto ouvíamos instrumentos que não pareciam estar no palco. Misturando uma paródia de live com a tentativa de recriar um inferninho blueseiro (um dos temas do disco que lançou durante a pandemia, o ótimo Rough and Rowdy Ways) Dylan enfileira só clássicos do início de sua carreira – então tome “It’s All Over Now Baby Blue”, “Queen Jane Approximately”, “Just Like Tom Thumb’s Blues”, “Forever Young”, “Tombstone Blues”, “Pledging My Time” e tantas outras, além da ótima inédita “Sierra’s Theme”. O filme deve aparecer em algum desses streaming por esses dias (assista ao trailer abaixo) e a trilha sonora já é um disco que está nas plataformas digitais – Dylan está soando muito bem e o clima lyncheano deste cabaré de mentira ajuda a aumentar sua presença no palco. O velho, inclusive, está em turnê neste exato momento – imagina se ele vem pro Brasil? Continue
Nesta quarta-feira acontece a última exibição de um filme no Centro da Terra antes da realização da edição deste ano do festival de documentários In Edit (cês viram que saiu a programação completa? Depois comento aqui), com quem firmamos esta parceria no início do ano. E para fechar esta fase, o filme escolhido foi Manguebit, de Jura Capela, que conta a história de um dos movimentos mais importantes da música brasileira nos últimos 50 anos, que não apenas lançou a geração de artistas como Chico Science & Nação Zumbi, Otto, Mundo Livre S/A, Mestre Ambrósio e Karina Buhr, como influenciou cenas locais de todo o país a valorizar a sua própria cidade. Com entrevistas com todo mundo que esteve envolvido com o movimento e cenas de arquivo maravilhosas, o documentário é uma introdução perfeita àquela transformação cultural e o melhor documento sobre aquele período já feito. O filme começa a ser exibido a partir das 20h, os ingressos podem ser comprados neste link e o trailer pode ser visto abaixo: Continue