Jornalismo

No mesmo dia em que o festival Primavera de São Paulo anunciou sua primeira atração para a edição deste ano (Cure, já sabíamos), as edições hermanas do evento divulgaram suas respectivas programações completas. São três festivais além do de São Paulo – 25 e 26 de novembro em Buenos Aires, 7 de dezembro em Assunção e 9 e 10 deste mesmo mês em Bogotá. Em comum, todos terão show do Cure (como aqui em São Paulo), mas nomes como Blur, Beck, Pet Shop Boys, Bad Religion, Slowdive, Grimes, Hives, Black Midi, El Mató a Un Policía Motorizado, Meridian Brothers, Marina Sena, Soccer Mommy, Twilight Sad, Róisín Murtphy e Carly Rae Jepsen já dão um gostinho do que pode vir pra edição brasileira do festival. E não custa lembrar que a mesma empresa que faz o Primavera no Brasil também faz o Popload e artistas como Blur, Beck e Pulp (que não está no elenco destas edições que acabei de citar, mas toca no Chile nos dias 24 e 25 de novembro, na edição do Primavera Fauna, que também leva o Blur pra Santiago) poderiam tranquilamente tocar no festival do Lucio Ribeiro. E será que Domi & JD Beck e a Weyes Blood voltam para o Brasil mesmo já tendo tocado por aqui esse ano C6? Tomara que sim, perdi o show dos dois primeiros, mas me acabei no show da Weyes… Tomara que ela volte.

Como esperávamos, a banda do senhor Robert Smith estará entre nós no começo de dezembro, ao ser confirmada como primeira atração da edição paulistana de 2023 do festival Primavera Sound. Confesso que não vou achar ruim se o grupo fizer DOIS shows como parece insinuar o flyer, mas sigo com a expectativa para o show de quase três horas, mesmo num festival.

Vintage 80s

Você iria num festival que acontece em um único dia e reúne New Order, Tears for Fears, B-52’s, Echo & the Bunnymen, Soft Cell, Human League, Devo, Violent Femmes, Orchestral Manoeuvres in the Dark, Psychedelic Furs e X? Houve um tempo em que os anos 80 eram associados apenas à cafonice e suas principais referências visuais e sonoras eram ridicularizadas em contextos modernos com a única intenção cômica, desprezando toda a revolução cultural daquele período único da história apenas como mera breguice. Mas as transformações artísticas dos 80 (dos videogames ao cyberpunk, passando pela new wave, o pós-punk e o hip hop) formam a base da cultura pop deste século, ainda que o mercado da música trate as bandas que são marcos deste período como curiosidades pitorescas, mais do que os novos clássicos que são. Mas aos poucos isso está sendo revisto (como podemos ver na turnê de retorno dos Titãs, entre vários outros exemplos cada vez menos isolados) e a escalação do festival norte-americano Darker Waves, que acontece na Califórnia em um único dia, é um bom termômetro desta reavaliação estética desta década ao reunir atrações que, em festivais passados, eram tratados apenas como nomes que ainda eram comerciais o suficiente para preencher lacunas específicas. Além dos nomes já citados, o festival, que acontece no dia 18 de novembro deste ano, também traz bandas mais recentes que conversam com a estética do período, como a banda bielorrussa Molchat Doma (do meme da Wandinha Adams fase preto e branco dançando um dance gótico), She Wants Revenge, Cardigans e a volta dos †††, a banda do vocalista do Deftones Chino Moreno, entre outros nomes menos conhecidos. Os ingressos começam a ser vendidos a partir do dia 23 no site do festival. Fico imaginando uma versão brasileira deste evento (que é bem provável que já esteja sendo bolada)… Quem viria?

Sorriso sorrateiro

Enquanto o Radiohead segue hibernando (pra sempre?), The Smile, a banda que Thom Yorke e Jonny Greenwood montaram com o baterista Tom Skinner, vem se tornando o principal projeto do grupo, maior inclusive que as carreiras solos dos dois integrantes da grande banda inglesa da virada do século. E depois do ótimo disco de estreia, A Light For Attracting Attention, lançado no ano passado, o trio dá o primeiro sinal de vida com a soberba “Bending Hectic”, que o grupo já havia mostrado em 2022 em sua apresentação no festival de jazz de Montreux, mas não foi incluída no disco ao vivo que lançaram no final daquele ano. A nova canção começa lenta e tranquila, distorcendo devagar a sensação de balada que parece carregar até que, após a entrada vertiginosa das cordas da London Contemporary Orchestra ergue a música para uma estratosfera de ruído, guitarras e ecos que a faz soar tão boa quanto as m´suicas mais ousadas do Radiohead. Se o ritmo continuar assim, não sei se demora muito pro The Smile tornar-se uma força realmente importante no pop atual, mais do que só um romance de estação.

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Tika vai pra cima

Em sua apresentação no Centro da Terra nesta terça, a cantora de Rio Claro Tika chamou instrumentistas conterrâneas para acompanhá-la em Marca de Nascença, versão ao vivo do que será seu próximo disco. Produzido por Jonas Sá e Rovilson (ambos na plateia), as canções do disco ainda sem nome mostra uma Tika mais firme e à vontade que em seu disco de estreia, que trará duas versões que ela já vinha fazendo nos shows e que entraram no novo álbum, “Na Boca do Sol”, o hit do maestro Arthur Verocai, e “Natureza”, linda parceria de Leci Brandão com Rosinha de Valença.

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A cantora e compositora paulista Tika passou o período pandêmico burilando as canções que se tornarão seu segundo álbum e começa a mostrar os dentes deste seu novo repertório. Para isso, montou uma banda só com outras mulheres para apresentar uma primeira versão nesta terça-feira, no Centro da Terra. Ao lado de Lilian Cueto (teclados), Beatriz Lima (baixo), Caroline Calê (bateria) e Skylar VJ (luz e projeções), ela apresenta o espetáculo Marca de Nascença que, aos poucos, apresenta esta nova fase de sua carreira. A apresentação começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados neste link.

Todo fã brasileiro do Sonic Youth sabe (ou pelo menos deveria saber) que a banda encerrou sua carreira no palco de um festival em nosso país, no dia 14 de novembro de 2011 com uma versão de onze minutos para o hino “Teen Age Riot” (eu tava lá e filmei), mas sabe como é americano, né, gosta de querer contar sua própria versão da história e agora o grupo está transformando o pirata conhecido como The Last Show em um produto oficial. Depois de ressuscitar alguns shows clássicos em sua conta no Bandcamp durante a pandemia, o grupo nova-iorquino acaba de anunciar que lançará como um disco duplo o show que fez no dia 12 de agosto daquele ano à beira-mar do parque Domino, em Williamsburg, em sua cidade-natal. Depois deste, o grupo ainda faria cinco (!) shows na América do Sul, todos como um quinteto, com o ex-baixista do Pavement, Mark Ibold, na formação e Kim Gordon tocando guitarra (TRÊS GUITARRA!) e penduraria as chuteiras poucos dias após o show no festival que aconteceu em Paulínia, interior de São Paulo, há mais de dez anos. A vantagem deste show que será lançado como disco oficial no dia 18 de agosto (que já está em pré-venda) é que por não ser um show em festival, o grupo pode fazer um longo setlist, que incluía algumas músicas que não tocavam há muito tempo, como “Brave Men Run (In My Family)”, que não era tocada desde 1985 (ouça abaixo, onde também mostro a capa e listo todas as músicas), incluindo a única versão que o grupo fez para “Psychic Hearts”, faixa do primeiro disco solo de Thurston Moore.

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Mais shows? Mais shows! Esse eu já vi e passo (longe), mas há quem curta: Morrissey passa pelo Brasil em setembro em duas datas, como o próprio ex-vocalista dos Smiths confirmou. Embora ainda não haja divulgação sobre os locais das apresentações, elas acontecem nos dias 27 em São Paulo (aparentemente no antigo Espaço das Américas) e dia 30 em Brasília (teoricamente no Opera Hall). Além das datas no Brasil, o babaca inglês passa pela Cidade do México (dia 10), Lima (14), Bogotá (17), Santiago (21) e Buenos Aires (dia 23).

Ordem e caos

Especial esta terceira apresentação da temporada Mil Fitas que Sue e Desirée Marantes estão fazendo no Centro da Terra, pois foi quando elas puderam materializar uma das mais intensas versões da Mudas de Marte Improvise Orquestra, projeto de Sue que, como o nome entrega, abraça a regência de músicos tocando livremente. A técnica de condução do improviso livre é uma bandeira artística levantada pelo maestro e músico Guilherme Peluci, que criou a Ad Hoc Orquestra, que esteve na formação montada pelas duas e regeu uma das três partes da noite, além de explicar o conceito para o público. Além de Peluci, que foi para o clarone quando deixou a batuta de lado, o time reunido por Sue e Desi contava com a voz e a percussão de Paola Ribeiro, o saxofone de Sarine, os beats de Ricardo Pereira, o violino Gylez, a percussão de Melifona, a guitarra de Luiz Galvão, o trompete de Rômulo Alexis, a bateria de Rafael Cab e o contrabaixo acústico de Vanessa Ferreira (além do violino de Desirée e da guitarra de Sue, anfitriãs da noite). Além de Peluci, Alexis e Sue também puderam reger outros dois atos, cada um deles conduzindo a massa sonora para um lugar que, apesar de nascido no improviso livre, está muito mais próximo ao que nosso inconsciente classifica por música, mesmo que num processo individual nascido coletivamente e conduzido por uma única pessoa. Esse equilíbrio entre ordem e caos transforma o que poderia tornar-se apenas em uma maçaroca sonora, numa onda fluida de melodias, ritmos e harmonias espontâneas, num espetáculo mágico e envolvente. Na lateral do palco, Kiko Dinucci também esteve presente mas não fez música, desenhando os músicos enquanto a apresentação se desenvolvia e tendo suas ilustrações projetadas no fundo da apresentação. “Na próxima eu toco!”, ele desabafou no final. Uma noite única.

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Maior satisfação poder conversar com o mestre Maurício Pereira sobre o que ele é craque: a composição de canções. O papo acontece no próximo sábado como parte do lançamento de seu ótimo Minha Cabeça Trovoa – As Letras Que Eu Fiz e Suas Histórias, que está saindo pela editora Mireveja e reúne toda a obra lírica de Maurício até aqui, com o próprio autor comentando as letras de cada uma de suas canções, incluindo quatro inéditas. Além da conversa, a tarde também terá autógrafos para quem comprar o livro na hora. O papo começa às 14h neste sábado, dia 24 de junho, na Livraria Martins Fontes ali na Vila Buarque (Rua Dr. Vila Nova, 309). pertinho do Sesc Consolação. E te prepara que sábado vai ter mais coisa pra fazer… (Alguém falou em festa? Sim, eu falei.)