Com imenso prazer que recebemos a mineira Luiza Brina para a primeira temporada do Centro da Terra em 2024. Integrante do grupo Graveola, Brina comemora dez anos de carreira fonográfica este ano e prepara-se para lançar seu próximo álbum, batizado de Prece, exercitando-o em diferentes formatos às segundas-feiras de março. Na primeira delas, dia 4, ela apresenta as canções cruas, apenas com sua voz e violão, misturando suas próprias orações com as de compositores que a inspiraram neste projeto. Depois, dia 11, ela vem acompanhada de Charlie Tixier, produtor do próximo álbum, que liga os instrumentos eletrônicos para acompanhá-la no palco. Dia 18 ela vem acompanhada do cantor e compositor Castello Branco e com o multiinstrumentista e produtor Batataboy, que costura as vozes e violões dos dois primeiros. Luiza encerra sua temporada no dia 25, quando reúne, na mesma noite, a paulistana Iara Rennó e a baiana Jadsa para saudarem suas fés com seus instrumentos. As apresentações começam sempre, pontualmente, às 20h, e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.
Um dos principais jornalistas do Brasil contemporâneo morreu neste domingo de manhã. Claudio Julio Tognolli trabalhou nas principais redações do Brasil, foi autor de livros importantes como O Século do Crime, A Sociedade dos Chavões e A Falácia da Genética, além de ter sido fundador da da Associação Brasileira da Jornalismo Investigativo (Abraji) e de ser professor na Escola de Comunicação e Artes da USP. Infelizmente, nos últimos anos de vida enveredou pelo antipetismo de forma ferrenha a ponto de comprometer sua biografia ao pavimentar o caminho que levou o país ao bolsonarismo, subindo em carro de som a favor do impeachment de Dilma, declarando-se fã de Sergio Moro, escrevendo a biografia de Lobão e participando dos quadros da Jovem Pan em sua fase mais de extrema-direita. Por pouco não foi integrante do RPM um pouco antes da explosão do grupo nos anos 80 e seguia tocando guitarra.
Cada apresentação de seu Mateus Aleluia é um convite à reflexão – e não foi diferente neste domingo, quando apresentou-se pela segunda vez no fim de semana na Casa Natura Musical. Com sua fala mansa e pausada e seu timbre de voz grave e profundo, ele conduziu a apresentação com seu violão ao lado do percussionista Day Brown, o contrabaixista Alexandre Vieira e o flautista Rodrigo Sestrem, cada um deles temperando com seu instrumento a elegia do mestre baiano. Aleluia costurava uma filosofia ecumènica (de saudações a entidades afrobrasileiras até à celebração judaica “Hava Nagilla”) com suas canções atemporais, da ancestral “Deixa a Gira Girar”, imortalizada por seus Tincoãs, com a qual abriu o show, à “Fogueira Doce”, faixa-título de um de seus discos mais recentes. Por toda a apresentação, ele temperava esse percurso com uma pregação existencial que por vezes incitava o público à dança ou à celebração e por outras emudecia todos os presentes ao fazer verter lágrimas em uma missa humanista. “Toda a cultura vem de um culto”, comentou ao frisar o quanto estávamos em pleno trabalho espiritual travestido como show de música. Ver seu Mateus ao vivo é sempre uma experiência transcendental e uma bênção plena. Aleluia!
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Foi excelente o show que o King Krule fez em São Paulo neste sábado. O jeito displicente e quase tímido que Archy Marshall se aproxima do microfone disfarça um maestro de melodia e ruído que usa sua guitarra como batuta, conduzindo sua banda entre o transe e a catarse, para delírio do público que lotou o improvável Terra SP. O grupo, composto de baixo, bateria, guitarra, teclado e sax, preenchia silêncios com camadas de microfonias e golpes de barulho, permitindo que as canções do inglês ganhassem uma profundidade ainda mais complexa que nos discos. E nisso a cumplicidade com o público, que conhecia todas as músicas e cantou quase todas as letras junto, era essencial. Show de rock sem os vícios do gênero e abrindo para inesperadas massas amorfas de eletricidade sonora que misturava improviso jazz, explosão noise, melancolia indie, letras balbuciadas como rap e melodias acridoces, acalentadas por uma pequena multidão – e como tinha gente conhecida entre aquelas milhares de pessoas. Talvez o único ponto negativo do show tenha sido o local, que ao menos não comprometeu o som da apresentação. Mas o Terra SP, além de ficar em Ohio (Ohio que o parta, tenho que manter vivo o humor infame que meus pais me passaram – a casa fica a 20 quilômetros do centro de São Paulo), comprometia a visão da audiência mesmo tendo espaço de sobra. O lugar é uma espécie de Áudio quadrado misturado com um Espaço das Américas de menor lotação e, com dois mezaninos, teoricamente teria ótimas opções para se assistir ao show. Mas duas pilastras no meio da casa criava bolsões vazios nos três andares atrás destas, que impediam o público de ver o palco e obrigando a acotovelar-se ao lado de espaços vazios para conseguir ver toda a banda. Mas, como comentei, isso felizmente não comprometeu a apresentação e marcou mais um golaço na trajetória da Balaclava Records, que ainda aproveitou para tirar sua onda ao anunciar, discretamente, que irá trazer o Tortoise tocando seu disco TNT no Brasil esse ano.
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Enquanto isso, espalhado pelo show do King Krule em São Paulo… já sabemos quem trará o show que já foi anunciado em Santiago. Resta saber a data, o local e o preço…
Imagina você ter dinheiro pra Rihanna tocar na festa do seu casamento. Pois não é preciso imaginar: o bilionário indiano Mukesh Ambani celebrou o casamento do seu filho caçula Anant num evento que durou três dias com direito a 1200 convidados e show privê dela que, tirando o show que fez na final do campeonato de futebol americano no ano passado, há oito anos não faz uma apresentação que dure mais que uma ou duas canções. Os boatos dizem que ela embolsou entre 6 e 9 milhões de dólares para fazer esse show – e olha o setlist que ela preparou para essa noite abaixo: Continue
Ainda impactado pelo que presenciei nessa sexta no Sesc Vila Mariana, arrisco dizer que a celebração ao vivo do aniversário de dez anos do disco de estreia de Juçara Marçal tenha sido a melhor apresentação que assisti dessa mulher – e olha que a vi no palco algumas dezenas de vezes. Repetindo a exata formação (“banda original”, brincou nossa musa) de uma década atrás no mesmo lugar que viu o show de lançamento de Encarnado, ela entregou-se ao álbum na íntegra, repetindo exatamente a mesma ordem das faixas do registro original e deixando-o fluir como o clássico instantâneo que sempre foi. “Esses dez anos os tornaram todos mais gatos ainda”, brincou ao apresentar seus compadres Kiko Dinucci, Thomas Rohrer e Rodrigo Campos sublinhando como a experiência dos quatro deixava o show ainda mais denso e coeso, como se só a beleza os tivesse melhorado – sem contar a própria Juçara, toda de vermelho em referência à capa do disco, que estava deslumbrante. O crescendo emocional do disco avançava a cada nova canção e, como na ordem do álbum original, culminou com a intensa “Ciranda do Aborto” cuja parede noise final desapareceu para revelar a delicadez de “Canção para Ninar Oxum” (em que até agora lamento quem bateu palma bem na hora em que o acalanto cairia em segundos do puro silêncio). Entre as faixas de fora do disco, vieram uma versão inacreditável de “Xote de Navegação” de Chico Buarque, em que Juçara foi acompanhada apenas por Rohrer tocando um fouet (!) com o arco de sua rabeca; a clássica “Comprimido” de Paulinho da Viola (em que ela transformou “um samba do Chico” em “um samba do Kiko”) e “Odumbiodé”, do EP que acompanha seu disco mais recente, o igualmente soberbo Delta Estácio Blues, o que me fez cogitar uma versão do DEB tocada com aquela formação (algo que já havia passado pela minha cabeça no início do show, pois a primeira canção, “Velho Amarelo”, faz parte do repertório do show do disco de 2021). Dois detalhes técnicos e artísticos agigantaram ainda mais essa noite: o som perfeito pilotado pelo Alex Pina (deixando o mínimo sussurro e o mais explosivo ruído igualmente cristalinos) e a luz (como sempre) maravilhosa de Olívia Munhoz (trabalhando com poucas cores, equilibrando luz e escuridão na mesma medida e jogando luzes na cara do público, difundindo até as silhuetas). “A gente tem muitas presenças importantes aqui hoje”, disse Juçara nos poucos momentos em que conversou, bem à vontade, com o público, “mas devo confessar que a mais importante pra mim é uma senhorinha de 90 anos que tá ali”, apontando para sua mãe. Ela ainda lembrou que o show de lançamento do disco original aconteceu no dia 15 de abril de dez anos atrás, aniversário de casamento de seus pais. Uma apresentação irrepreensível e a hipérbole não é em vão: estamos acompanhando a melhor fase da melhor cantora do Brasil atualmente. Não é pouca coisa. E sabe o que mais? Outros melhores virão.
#jucaramarcal #encarnado #sescvilamariana trabalhosujo2024shows 27
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E lá vamos nós celebrar o Alberta #3 mais uma vez pela cidade. Desta vez o mítico clube dos anos 10 reaparece encarnado no Redoma, que era o antigo Estúdio Mundo Pensante, que fica na rua Treze de Maio, 825, no coração do Bixiga (em frente à Praça Dom Orione). Começo a noite a partir das 23h e depois de mim ainda tocam o André Marcondes, o Furmigha e a Neiva Silva, uma das responsáveis pela sobrevivência do velho nome. Vamos lá?
Não podia ser diferente: quando marcamos o Inferninho Trabalho Sujo nessa quinta-feira 29 de fevereiro sabia que teria que buscar atrações ímpares para que a noite fizesse jus ao dia bissexto. E quem começou a destruição foi o Odradek, cuja dinâmica musical explora ângulos tortos e andamentos improváveis ao mesmo tempo em que fazem isso com muito barulho – e a simbiose entre Caio Gaeta, Fabiano Benetton e Tomas Gil faz todo mundo ficar grudado no que eles fazem no palco. Impressionante e barulhento pacas, como de praxe. Quem fechou o palco foi o papa do math rock Patife Band, liderado pelo icônico Paulo Barnabé, ele por si só uma instituição da música brasileira. Como seu irmão Arrigo, Paulo também trabalha entre a música erudita e a música popular, só que essa segunda vertente, ao contrário do irmão, trafega mais pelo rock, seja pós-punk, noise ou progressivo, tornando a colisão entre as duas linguagens ainda mais complexa. Liderando uma versão quinteto do grupo, com Elvis Toledo na bateria, Gustavo Boni no baixo, Paulo Braga no piano e Arthur Sardinha na guitarra, ele começou a apresentação nos vocais, depois pegou a guitarra para cantar o hino punk “Vida de Operário”, dos Excomungados, foi para a bateria quando tocou peças tortas que ameaçou dizer que não estavam ensaiadas (imagina se estivesse!), além de, claro, as faixas imortais de seu disco-símbolo, Corredor Polonês. O atordoo foi generalizado e depois sobrou pra mim e pra Fran fazer as almas da madrugada derreterem-se na pista. Que noite!
#inferninhotrabalhosujo #noitestrabalhosujo #odradek #patifeband #picles #trabalhosujo2024shows 25 e 26
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Se estivesse vivo, Lou Reed, que perdemos há pouco mais de uma década, completaria 82 anos neste sábado e a gravadora norte-americana Light in the Attic (uma das melhores do ramo, atualmente) acaba de anunciar um tributo ao bardo de Nova York. The Power of the Heart: A Tribute to Lou Reed, que será lançado dia 19 de abril, reúne fãs de todas as idades do fundador do Velvet Underground, gente como Joan Jett, Rufus Wainwright, Lucinda Williams, Angel Olsen, Rickie Lee Jones, Afghan Whigs, Rosanne Cash, entre outros. E a faixa escolhida para começar este tributo foi um dos pilares de sua discografia, “I’m Waiting for the Man”, do primeiro disco do Velvet, cantada por ninguém menos que Keith Richards, numa versão fulminante para o clássico sobre comprar drogas, veja abaixo, junto com a capa do disco e a ordem das músicas. Continue