Jornalismo

Vamos a mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo no Redoma e mais uma vez trago novíssimos artistas para o palco do Bixiga. A primeira delas é a banda Devolta ao Léu, formada por Bru Cecci (voz e teclado), Rafa Sarmento (bateria), Eduardo Rodrigues (guitarra) e Leo Bergamini (abaixo), que já tocou na festa e volta aos palcos do Inferninho misturando referências que vão do rock experimental à música brasileira, misturando referências que vão de Itamar Assumpção a Erasmo Carlos. A outra artista é uma estreia pra valer: embora a guitarrista Isabella Sartorato já tenha subido em alguns palcos, essa é a primeira vez em que sobe num para mostrar suas próprias canções, que misturam rock, música experimental, música pop e jazz fusion acompanhada de uma banda formada por Francisco Nogueira (baixo), Jampa (bateria) e Lucas Paulo (teclas). Antes, entre e depois das bandas eu ponho o som da noite. Os ingressos já estão à venda neste link.

Confesso ter ido ao show do Primal Scream nessa terça-feira na Áudio sem muita convicção. Fui mais para saudar o senhor Bobby Gillespie e seu conjunto como uma forma de agradecer por ter feito a trilha sonora de vários momentos foda da minha vida – de paixões arrebatadoras a chapações pesadas, pistas frenéticas, acabação rock’n’roll e estradas intermináveis, a gama de estilos musicais e vibes díspares em que o grupo atua sempre abre espaço para todo tipo de curtição da vida, quase sempre de forma intensa. Autores de discos que carregam eras da história da música em canções quase sempre sobre desafios, revelações e jornadas, já vi shows ensurdecedores ou completamente lisérgicos da banda, mas sua última vinda ao Brasil, em 2018, com integrantes a menos e uma certa má vontade no palco, me fez crer que o grupo havia se tornado uma caricatura de si mesmo que só sobrevivia graças aos sucessos do passado. Não poderia estar mais errado. Logo ao ver a banda completa no palco – com vocalistas de apoio, saxofonista e tudo que tinha direito -, percebi que o show recente foi mais um mau momento da banda do que o início da decadência. Com a casa de shows incrivelmente cheia para uma terça-feira, Gillespie e companhia não tiveram dificuldades em conquistar o público, seja saudando a psicodelia, o rock clássico, o country, a música eletrônica, o rock industrial ou a folk music, mesmo com mais de um terço do show tirado do disco mais recente da banda, Come Ahead, que é apenas OK. Mas mesmo com músicas sem tanta personalidade dos clássicos na primeira parte do show, o grupo conseguiu eletrizar o público, esquentando o clima a cada nova música. Bobby estava visivelmente extático, eletrizando o público na marra, enquanto bradava contra a política estrangeira dos Estados Unidos e do Reino Unido, provocava de sacanagem dizendo que a platéia de Buenos Aires estava mais animada ou dedicando uma canção ao presidente Lula. Mas a partir de “Loaded”, com quase dez minutos, o show foi ficando mais tenso e esfuziante, com “Swastika Eyes” descendo feito uma pedrada, “Movin’ On Up” incendiando a pista de dança e “Country Girl” fazendo todo mundo cantar junto. Veio o bis com a lenta “Damage”, a gospel “Come Together” e a autoexplicativa “Rocks” e parecia que o show havia encerrado com chave de ouro. Mas Bobby mesmo puxou a volta da banda para um novo bis, quando escancararam uma versão destruidora de “No Fun” dos Stooges, mostrando que, como vários de seus contemporâneos dos anos 90, eles já são uma banda de rock clássico. E muito obrigado Bobby Gillespie, você ainda é o cara.

#primalscream #audiosp #trabalhosujo2025shows 258

Chapada adentro

É a segunda vez que Felipe Vaqueiro cutuca sua Saga Diamantina no palco do Centro da Terra. Na primeira vez, em abril do ano passado, essa história, contada ao violão, sobre a vida no garimpo na Chapada Diamantina que também é o projeto de conclusão de curso do compositor baiano no formato audiovisual, foi uma das partes de sua apresentação, que ainda contou com a semente de sua dupla com Sophia Chablau (que deu no ótimo disco Handycam, que os dois lançaram esse ano) e várias outras canções próprias. Dessa vez ele resolveu transformar essa parte no todo, contando com projeções que contavam a história que estava expondo, e, novamente, a participação do percussionista de sua banda Tangolo Mangos – Bruno “Neca” Fechine – como único parceiro instrumentista no palco. Entre canções épicas de natureza sertaneja e histórias contadas que seguia passando em frente como música, ele mostrou que esse trabalho já tem corpo para tornar-se algo autoral em breve, possivelmente um álbum-visual de sua banda. Mas além dessas, ele ainda arriscou canções de outras cepas, como a versão que fez para o hit viral “Young Girl A”, do japonês Siinamota, uma música instrumental de Vítor Araújo que ele colocou letra e “Campo Minado”, do disco com Sophia, que também estava presente, mas dessa vez apenas na plateia. E ele já mandou a letra que quer fazer um show só tocando outros compositores. Vamos falar sobre isso aí…

#felipevaqueironocentrodaterra #felipevaqueiro #centrodaterra #centrodaterra2025 #trabalhosujo2025shows 257

Enorme satisfação de receber nesta terça-feira, no Centro da Terra, mais uma apresentação solo do baiano Felipe Vaqueiro, que desta vez mostra seus Ensaios Diamantinos acompanhado apenas de seu violão. O espetáculo é um mergulho no universo do garimpo da Chapada Diamantina a partir do ponto de vista do ex-garimpeiro Leôncio Pereira, e é o piloto da Saga Diamantina, álbum visual que Vaqueiro irá apresentar com seu grupo Tangolo Mangos, com as conversas com Leôncio funcionando como fio da meada de canções criadas por Felipe. A apresentação também contará com imagens que serão projetadas por Gabriela Cobas. O espetáculo começa pontualmente sempre às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.

#felipevaqueironocentrodaterra #felipevaqueiro #centrodaterra #centrodaterra2025

Já tem programa para este sábado? Pois pode incluir nossa deliciosa festa no Bubu, quando eu, Camila, Claudinho e Clarice transformamos o restaurante que fica na marquise do estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/nº) na nossa querida pistinha, com direito a hits de todas as épocas pra fazer todo mundo dançar sorrindo! E lembre-se que é uma festa de adulto, que tem hora pra começar (cedo, às 19h) e pra acabar (também cedo, meia-noite), pra que todos possam curtir o domingo numa boa. Vem dançar com a gente!

A gente achando que tem muito show em 2025 e do nada vem o C6 e despeja suas atrações pro ano que vem sem aviso. Então toma que em 2026 teremos Magdalena Bay, Wolf Alice, Oklou, Xx, Lykke Li, Robert Plant, Cameron Winter, BaianaSystem com Makaveli & Kadilida, Horsegirl, Paralamas com Benjamin Clementine, Julius Rodriguez, Nação Zumbi, Baxter Dury, Anouar Brahem Quartet, Knower, Mabe Fratti, Brandee Younger, Jude Paulla, a big band de Hermeto Pascoal, DJ Nyack com Pathy Dejesus e Eduardo Brechó, Matt Berninger, Aline Rocha, Beirut, Branford Marsalis, Dijon, Amaarae, Marten Lou e Samuel de Saboia. Inacreditável! Magdalena Bay, Oklou e Wolf Alice são três shows que mais quero ver atualmente, fora que o Wolf Alice é dono do melhor disco de 2026 e minha principal obsessão do ano, sendo que nunca falei deles por aqui. O festival acontece mais uma vez no Parque Ibirapuera, entre os dias 21 a 24 de maio do an que vem, a pré-venda exclusiva pros clientes do banco começa nos dias 12 e 13 de novembro e abre pro público geral no dia 14, sexta agora nesse link. Vai ser pesado!

Tá certo que ao fazer um show fora de festival, o Yo La Tengo garantiria um brilho especial para sua apresentação, mas o critério de desempate nem pode ser a duração, já que o show que fizeram nesta segunda-feira no Cine Joia teve quase a mesma duração (pouco mais de uma hora e meia) de seu show no festival na Balaclava, no dia anterior. Mas se no domingo rasgaram a microfonia em números gigantescos – e canções doces e singelas no percurso -, no show acústico preferiram não optar por um setlist pré-definido e foram atendendo aos pedidos do público (e escolhendo músicas entre si) à medida em que o show ia acontecendo, como fazem todo ano ao participar do programa beneficente da rádio nova-iorquina WFMU, quando tocam músicas que às vezes só conhecem de nome. E nem mesmo ao optar por versões delicadas de músicas conhecidas não foi o suficiente para domar o brio elétrico do guitarrista Ira Kaplan, que por vários momentos arrancou ruídos brancos do amplificador de seu violão, acompanhado do baixo presente de James McNew e da bateria reduzida a um surdo, pratos e caixa, que Georgia Hubley tocava de pé, ao centro do palco. E entre músicas menos cotadas (como a estreia ao vivo de “The Way Some People Die”, do primeiro disco da banda, “Satellite”, “Pass the Hatchet, I Think I’m Goodkind” e “Season of the Shark”), ainda se dispuseram a fazer várias versões, começando com uma versão instrumental para “Blitzkrieg Bop” dos Ramones e passando por músicas menos conhecidas do Love (“A Message to Pretty”), do The Scene is Now (“Yellow Sarong”), dos Angry Samoans (“Right Side of My Mind”) e Gary Lewis & The Playboys (“Count on Me”). Mas ao exibir suas próprias joias de indie de maior quilate, o grupo não teve modéstia e passeou por “From a Motel 6”, “Nowhere Near”, uma versão de chorar para “Tom Courtenay”, “Last Days of Disco”, “Damage”, “Black Flowers” e a dobradinha “Moby Octopad” e “Our Way to Fall”, que encerrou a primeira parte do show. No bis, os três voltaram brincando de fazer bossa nova (com a lindinha “Center of Gravity”), além do cover do Gary Lewis e a perfeita “My Little Corner of the World”. Foi perfeito.

#yolatengo #balaclavafestival2025 #cinejoia #trabalhosujo2025shows 256

TV Clara Bicho

A sensação indie Clara Bicho vai encerrando um bom 2025 já pensando nos planos pra 2026, mas antes lança mais uma música nova, que vem acompanhada de seu primeiro clipe, que antecipa em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. “Confesso que no início fiquei meio perdida porque nunca tinha gravado nada desse tipo, mas a Mariana Barbosa e a equipe da produtora Slimbi foram muito prestativos e me ajudaram a me entender na gravação”, diz a it girl mineira, que surge no clipe fazendo o papel de si mesma dando uma entrevista ao programa que batiza a nova música, “Telejornal Animal”. Assim ela reforça a ideia no título de seu primeiro EP, Cores na TV, da televisão como uma mídia retrô, ultrapassada e, por isso mesmo, digna de ser revisitada. Foi um jeito que ela encontrou de ampliar também seu universo imaginário, essa psicodelia light via Hanna-Barbera que vem estampada em suas ilustrações: “Parece que, nesse clipe, eu tinha entrado na minha cabeça, com meus personagens, cores e cenários vivos”, explica.

Assista abaixo: Continue

Além de falar sobre os shows do Stereolab e do Yo La Tengo também fiz um balanço sobre esta edição do Balaclava Festival em mais uma colaboração para o Toca UOL, quando aproveitei para reforçar que a produtora por trás do evento vive seus melhores dias e está no epicentro do indie brasileiro, seguindo uma tradição que remonta tanto aos primeiros shows de rock alternativo em grandes festivais como Hollywood Rock e Free Jazz quanto às primeiras vindas de artistas internacionais independentes para o Brasil por culpa da Motor Music, ainda nos anos 90. Continue

O Yo La Tengo também fez bonito festival da Balaclava neste domingo, sempre imprevisível, mas sempre com deixando aquelas brechas pro Ira Kaplan desossar a guitarra, como essa versão de quinze minutos de “I Heard You Looking”, que ainda teve o Tim Gane do Stereolab nos teclados. Também escrevi sobre esse show pro Toca UOL. Continue