Zé Rolê explica o que um remix que fez de “Taj Mahal”, do Jorge Ben, tem a ver com a atual ministra da cultura, Ana de Hollanda:
Justamente no dia em que eu terminei o remix, estavam falando sobre uma possível queda da Ana de Hollanda, que pôs o pé no freio da reforma da lei de Direitos Autorais no Brasil, que já havia sido discutida no ministério do Gil e do Juca, a possibilidade de liberar mais facilmente esses samples – até chamei o remix de “Illegal mix” por isso, deixei lá em Creative Commons exatamente porque não tenho direito sobre o sample. Estou pensando em transformar esses “Illegal mixes” numa série, sempre com esse tipo de releitura. Acho que a Ana cai sim, espero que caia. Ela começou com uma metodologia jurássica em plena reforma, parece que vive numa outra realidade. Os novos artistas não podem se relacionar com a música do mesmo jeito que antigamente, se trabalharmos com essa cabeça, estaremos fazendo algo do século passado, e não inovando.
Psilosamples – “Taj Mahal Ilegal Remix“ (MP3)
Na Soma, que tá de site novo.
E falando no Ben (“E a Copa?”), que tal esse trecho do recém-aberto acervo do Roda Viva em que, em 1995, Chico Science pergunta ao mestre sobre seu disco mais mítico:
Chico Science: Jorge, sobre essa questão das influências, já começaram perguntando, eu queria perguntar a respeito de um disco. Um que eu acho bem bacana, para mim, é o do Ben Jor que me influencia mais, há outros também, o Tábua de Esmeralda. E eu queria saber o processo de criação desse disco e se você acredita nos deuses astronautas e na agricultura celeste?
Jorge Ben Jor: Acredito, acredito muito. Eu queria dizer que esse foi, para mim, um dos meus melhores trabalhos. Eu posso dizer para você, posso enumerar meus trabalhos, eu posso dizer rapidinho: Samba esquema novo; África Brasil, que já foi o último, mas antes da África Brasil, tem esses dois, o Tábua de esmeraldas, Solta o pavão e o África Brasil. Sendo que o Tábua de esmeraldas, esse meu trabalho na Polygram é o meu melhor trabalho, porque foi um trabalho… Na Polygram sempre tive problemas com trabalho; das pessoas meterem o dedo. Falarem: isso aí não vai vender, é um trabalho muito hermético, então eu falei, vou pedir ordem. Na época, era o André Midani que era o chefe geral, eu fui falar com ele e disse: esse é o meu trabalho, eu queria fazer esse trabalho, esse trabalho é o que eu quero fazer. Mostrei para ele e é um trabalho que eu falei: há muito tempo eu queria fazer. Eu sei que estou falando de uma filosofia que é muito difícil, estou falando dos alquimistas, estou falando da tábua de esmeraldas, estou falando da agricultura celeste, estou falando de filósofos como Paracelso, alquimista, astrólogo e médico sueco, era um herborista considerado pioneiro na farmacêutica ocidental], que tem uma música em homenagem a ele, que é O homem da gravata florida e eu estou falando de coisas que pouca gente sabe. Esse é o trabalho que eu queria fazer e é um trabalho que não vai ser…
Será que alguém descola um vídeo com isso? No site só tem um trecho (de onde eu tirei a imagem que ilustra o post, com o Jorge olhando pro Tárik de Souza, pro Cunha Jr. e pro Chico)…
Poizé, nada a ver… Vamos ao antídoto.
Mayer Hawthorne – “Work to Do”
BNegão & os Seletores de Frequencia – “Hermes Trismegisto”
Foster the People – “Pumped Up Kicks (Gilgamesh Remix)”
Uffie – “Wordy Rappignhood”
Errors – “Supertribe”
Peter & the Magician – “Twist”
Holy Ghost – “Wait & See (CFCF Remix)”
Is Tropical – “The Greeks (Moonlight Matters Remix)”
Battles + Yamantaka Eye – “Sundome”
Beastie Boys – “Nonstop Disco Powerpack”
Tom Vek – “A Chore”
Hurtmold – “Smootz da Police”
Me & the Plant – “Underdog”
Bonifrate – “A Farsa do Futuro Enquanto Agora”
Mopho – “O Infinito”
Patrimônio imaterial, J.J. Abrams, Ella & Louis, Lulu Santos, Gil Scott-Heron, Ennio Morricone, Miles Davis, marchas e bandas e Laerte, tudo ao som do novo do Dangermouse e de um velho do Jorge Ben.
Vinteonze #009 by Anosvinte on Mixcloud
Ronaldo Evangelista & Alexandre Matias – “Vinteonze #0009“ (MP3)
Pelo menos é a vontade de Jorge, como disse em entrevista à Kamille:
O aguardadíssimo show estava previsto para julho, mas esbarrou em diversos empecilhos que o adiaram, como a atribulada agenda do artista, a busca por patrocínio e a necessidade de reunir novamente a banda que gravou o disco. “Ainda estou contactando os músicos. Já falei com o Dadi (Carvalho, baixista que era da banda de Ben Jor na época e saiu para formar A Cor do Som). Paulinho Tapajós, produtor, está vendo isso. Mas o show sai ainda este ano”, garante. Sobre o local, ele sonha: “Theatro Municipal ou Sala Cecília Meireles seria demais”.
Nesse meio tempo, Jorge ainda viu aprovarem no Ministério da Cultura um projeto em seu nome para captação e realização do show, com custo improvável de R$ 8.613. “Imagina, com esse valor não dá nem para começar”, analisa ele. “Não sei como aceitaram um projeto em meu nome sem autorização minha, mas meus advogados estão vendo isso”.
Outra ótima notícia é que ele vai tocar as músicas no violão, com os arranjos originais. “Não toco mais violão porque não combina muito com certas músicas, preciso de um som mais alto”, minimiza ele, sobre o fato de ter trocado o instrumento com que se celebrizou, com uma incrível levada criada por ele — o tal “samba esquema novo”. “Tenho escutado o ‘Tábua’ todos os dias. Tem música ali que eu nem lembrava mais como era”, confessa, ao eleger o álbum seu preferido, ao lado de, justamente, ‘Samba Esquema Novo’ (1963), que o lançou.
Com energia impressionante aos 69 anos, ele, que faz dois shows por semana (“antes eram mais de 200 shows por ano, este ano pedi para diminuir, porque às vezes tinha que viajar para cidades muito distantes uma da outra”), vai rodar o Brasil com o repertório do ‘Tábua’.
Ou tu não tá sabendo desse papo?
Zezé Motta – “Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas”
O papo do Queremos me lembrou um email que o Mateus me mandou compilando várias versões que ele encontrou por aí para músicas do Tábua de Esmeraldas do Jorge Ben (pra quem não sabe, pode ser que o Jorge Ben faça um show tocando seu clássico disco voltando ao violão que não encosta desde os anos 70 – uma campanha iniciada pelo Queremos no Facebook). Ele não achou nem “Magnolia” nem “Hermes Trismegisto” – e tolerou umas bombas, como a versão da Fernanda Abreu -, mas, c’est une travail sale, sabemos… Só tive que postar:
Ana Cañas – “O Homem da Gravata Florida”
Seu Jorge + Almaz – “Errare Humanum Est”
Mariana Aydar + Duani – “Menina Mulher da Pele Preta”
Fernanda Abreu – “Eu Vou Torcer”
Los Sebosos Postizos – “Minha Teimosia, Uma Arma pra te Conquistar”
Maquinado – “Zumbi”
O Rappa + Lenine – “Cinco Minutos”
Valeu, Mateus!
Porque eu tô. Pacas.
Honey Pies – “Get It Right”
Oh Land – “We Turn It Up”
Javiera Mena – “Ahondar En Ti”
Cat Power – “Free”
Juliana R. – “Desde Que Cheguei”
Hercules & the Love Affair – “Shelter”
Quantic & His Combo Barbaro – “Un Canto a Mi Terra (Cut Chemist Remix)”
Guizado – “O Marisco”
George Harrison – “Behind That Locked Door”
Kid Cudi – “Marijuana”
Jorge Ben – “Rosa, Menina Rosa”
Lô Borges – “Não Foi Nada”
MNDR – “Cut Me Out”
Escort – “Cocaine Blues”
Stone Darling – “Can You Get to That?”
Bárbara Eugênia – “Hauru”
Cut Copy – “Need You Now”
Mais um programa direto da semana que fiquei fora do ar.
Blur – “Boys & Girls (Demo)”
Bob Dylan – “Bob Dylan’s 115th Dream”
Tame Impala – “Desire Be Desire Go”
Elastica – “Connection”
Andy Clockwise – “Love and War”
Karina Buhr – “Eu Menti Pra Você”
Kinks – “Waterloo Sunset”
Devo – “Girl U Want”
T-Rex – “Get It On”
Pavement – “Box Elder”
Memory Cassette – “Asleep at a Party”
Pink Floyd – “A Pillow of Winds”
Air – “La Femme D’Argent”
Jorge Ben – “O Homem da Gravata Florida”
Marcos Valle – “Cricket Sing for Anamaria”
Cyz – “Gafieira de Mané João”
Pelo próprio Jorge Ben. No papo que rolou entre os dois Brunos (o sócio Natal, que inventou a campanha, e o Maia, que filmou a entrevista) e o ícone, o Grão Mestre Alquimista confirma que já está ensaiando o disco música por música e que o disco vai ser revisitado ao violão – o que quebra um tabu iniciado justamente após o lançamento do Tábua, em 1974 (o disco seguinte, África Brasil, já foi só com a guitarra). Vale ver o vídeo, pois além do momento “David After Dentist” do URBeman, ainda há um bom papo sobre a história do Tábua, do hermetismo duplo do disco e o que o Tábua tem a ver com os emos (wtf).