Bahia na tomada

Jadsa e João Milet Meirelles começaram a revelar a próxima fase do duo Taxidermia nessa sexta-feira, no auditório do Museu da Imagem e do Som, mas ainda com os dois pés em sua primeira fase, ainda trazendo o clima de apocalipse industrial – que parece começará a dissipar-se a partir do disco de estreia, Vera Cruz Island, anunciado essa semana. Com imagens feitas por Gabriel Rolim, luz da Cris Souto e som da Alejandra Luciani, a dupla baiana encarou-se de frente para mostrar uma música de rua que soa tanto periférica quanto central, cutucando feridas e atordoando expectativas com bordoadas eletrônicas, samples acelerados, beats implacáveis, sussurros, versos e berros inquisidores, colocando uma sensação baiana na tomada e eletrificando sentimentos e sensações na marra. Além de tocar “Clarão Azul”, o primeiro single do novo álbum, que é uma uma boa amostra do que vem por aí.

Assista a um trecho aqui.

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Um outro Taxidermia vindo aí


Foto: Gabriel Rolim (divulgação)

O Taxidermia está prestes a sair caminhando. Duo formado pelos baianos Jadsa e João Milet Meirelles, o grupo eletrônico já existia antes da pandemia mas só conseguiu dar seus primeiros passos fonográficos durante aquele período tenso de isolamento social. De lá pra cá, lançaram dois EPs e começaram a se apresentar ao vivo, mostrando que a apresentação ia muito além do formato Live PA que a distribuição de funções – vocalista e instrumentista toca com produtor de música eletrônica – parecia propor, explorando ambiências e sensações para além do repertório mais voltado pra pista de dança. Às vésperas de lançar seu primeiro álbum, Vera Cruz Island, ainda sem data de lançamento, eles começam a mostrar a nova fase nessa sexta-feira, quando lançam o primeiro single do disco, batizado de “Clarão Azul”, que eles mostram em primeira mão aqui no Trabalho Sujo, e fazem uma apresentação no projeto Stereo MIS, do Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, a partir das 21h. Mais solar e tranquilo que as apresentações ao vivo do Taxidermia até então, o single ainda traz dois convidados: a vocalista sergipana Tori e o multiinstrumentista e produtor Pedro Bienemann. “‘Clarão Azul’ prepara o público para o universo do álbum”, explica João, que também é integrante do grupo BaianaSystem. “Trata sobre a ilha de Vera Cruz e nossa relação cheia de afetos por esse espaço. Estabelece o ambiente imagético que queremos trazer para nosso trabalho.” Jadsa completa: “A gente já vinha correndo atrás de soar um tanto mais orgânico, o que já parece fora da curva pelo fato de tocarmos música eletrônica e na maioria das vezes o timbre acompanhar o conceito, mas esse single tem muito uma necessidade natural de ser crua e o que mais nos inspirou foi o disco Flying Away, de 1997, da banda Smoke City”. E assim a dupla sai da primeira infância caminhando com passos firmes.

Ouça abaixo:  

Luiza Brina: Aprendendo a rezar

Com imenso prazer que recebemos a mineira Luiza Brina para a primeira temporada do Centro da Terra em 2024. Integrante do grupo Graveola, Brina comemora dez anos de carreira fonográfica este ano e prepara-se para lançar seu próximo álbum, batizado de Prece, exercitando-o em diferentes formatos às segundas-feiras de março. Na primeira delas, dia 4, ela apresenta as canções cruas, apenas com sua voz e violão, misturando suas próprias orações com as de compositores que a inspiraram neste projeto. Depois, dia 11, ela vem acompanhada de Charlie Tixier, produtor do próximo álbum, que liga os instrumentos eletrônicos para acompanhá-la no palco. Dia 18 ela vem acompanhada do cantor e compositor Castello Branco e com o multiinstrumentista e produtor Batataboy, que costura as vozes e violões dos dois primeiros. Luiza encerra sua temporada no dia 25, quando reúne, na mesma noite, a paulistana Iara Rennó e a baiana Jadsa para saudarem suas fés com seus instrumentos. As apresentações começam sempre, pontualmente, às 20h, e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

Mulheres na produção musical

Em mais uma matéria que fiz para a revista da UBC, conversei com Jadsa, Josyara e Anelis Assumpção sobre uma mudança no mercado de música e no processo criativo da música brasileira deste início de século que é a ascensão de mulheres ao cargo de produtora musical, território dominado pelas três a partir de diferentes experiências pessoais. Leia abaixo:  

“O céu retirado como livro que se enrola”

Ave Waly! Celebramos a obra deste monstro da poesia brasileira de forma intensa nesta quarta-feira, quando apresentamos o espetáculo de som e poesia Waly Salomão: Dito e Lido, em que Joca Reiners Terron, Julia de Carvalho Hansen e Natasha Felix despejaram a verborragia sensível e forte do poeta baiano sobre camadas elétricas de textura e melodia cogitadas pelo encontro das guitarras e pedais de Jadsa e Guilherme Held. Cada poeta teve seu bloco, pontuado pelas canções que eternizaram as letras de Waly apresentadas de forma desconstruída: Julia costurou quatro poemas (entre estes uma inspirada e ritmada versão de “Mãe dos Filhos Peixes”) com os versos de “Mal Secreto” para depois, ao lado de Natasha, perambular pelos versos e notas de “Vapor Barato”, logo depois da cascata de prosa poética despejada por Joca, ao ler um trecho de “Self Portrait”. Natasha emendou “Babilaque” e “Balada de um Vagabundo” para arrematar tudo com “Negra Melodia”, deixando, nas três, sua musicalidade nascer entre as palavras. Uma noite inesquecível.

Assista aqui:  

Ah Waly!

Jadsa, Guilherme Held, Natasha Félix, Julia de Carvalho Hansen e Joca Reiners Terron: que felicidade reunir um time tão foda para celebrar um dos grandes nomes da cultura brasileira do século passado. Waly Salomão será celebrado nesta quarta-feira no espetáculo Waly Salomão: Dito e Lido, que acontece no Auditório do Sesc Pinheiros a partir das 20h. Nele reverenciamos a alma de suas canções (ele é mais conhecido do grande público como letrista de clássicos da nossa música como “Vapor Barato” e “Mal Secreto”, entre outros), mas caímos de boca em seus poemas, que a partir das vozes destes três poetas tão distintos – e apaixonados por Waly – ganham vida e corpo com suas interpretações ao lado das guitarras dos dois instrumentistas. A apresentação ainda conta com visuais da Carol Costa e o som fica por conta do Bernardo Pacheco. É o segundo espetáculo que dirijo ao lado da comadre Juliana Vettore, com quem criei a série Dito e Lido que, em 2022, homenageou Leonard Cohen. Os ingressos, no entanto, já estão esgotados!

Waly Salomão: Dito e Lido

Satisfação imensa celebrar, na próxima quarta-feira, dia 4 de novembro, a obra deste mestre da cultura brasileira que completaria 80 anos neste 2023. Waly Salomão é mais reconhecido pelas parcerias musicais que fez com nomes como Maria Bethânia, Jards Macalé e Gal Costa, mas no espetáculo Waly Salomão: Dito e Lido mergulhamos em sua poesia com nomes de peso: Jadsa e Guilherme Held entrecruzam suas guitarras para criar o território sonoro em que os poetas Joca Reiners Terron, Natasha Felix e Julia de Carvalho Hansen percorrem os textos deste mestre baiano. É o segundo espetáculo que concebo e dirijo ao lado da Juliana Vettore, da Capivara Cultural e uma das responsáveis pelos encontros Zapoetas, depois de celebrar a vida e obra de Leonard Cohen no ano passado. O espetáculo acontece no auditório do Sesc Pinheiros a partir das 20h e os ingressos já estão à venda neste link. Abaixo, a sinopse que fizemos para esta apresentação:  

CFest: Balanço final

O C6Fest terminou neste domingo estabelecendo um novo padrão de realizar festivais de música em São Paulo. Conseguiu provar que é possível fazer um bom festival com boa estrutura e curadoria equilibrando-se entre o comercial e o pouco previsível trazendo tanto artistas novos e relevantes quanto nomes consagrados – e, principalmente, dissociar a ideia de festival de música estar atrelada a dia de perrengue, como o que fizeram os festivais realizados em São Paulo na última década. Obviamente a questão do preço extorsivo do ingresso é um ponto central nos poucos contras do evento: não bastasse ser caro pra cacete, só era permitido que se frequentasse um dos três palcos em que se realizavam os shows, algo que é uma irrealidade longe da vida de qualquer fã de música que não nasceu em berço de ouro. Eu mesmo já estava conformado em não ir caso não estivesse credenciado. Mas falo disso abaixo.  

Yma + Jadsa: “Antes que tudo caia de vez”


(Foto: Mooluscos/Divulgação)

E de novo Jadsa e Yma soltam mais uma música de seu ainda inédito projeto conjunto Zelena em primeira mão para o Trabalho Sujo. Depois que “Meredith Monk“, lançada no final do mês passado, deu a tônica entre a arte pós-moderna e a new wave, é a vez de “Mete Dance” cutucar a veia dançante desta mistura, numa faixa irresistível. “Compus ‘Mete Dance’ em 2021”, lembra a cantora baiana. “Tinha acabado de lançar Olho de Vidro e tava buscando um mantra pra não parar e me veio ela na cabeça e bem rock. Dai me veio essa necessidade de trocar com Yma por conta do disco Par de Olhos, que ela lançou em 2019, mesmo ano que eu gravei Olho de Vidro. Senti esse propósito de estarmos juntas por conta dos olhos, dos olhares.” Yma empolga-se com a lembrança: “Quando Jadsa apresentou ‘Mete Dance’ pra mim, logo no comecinho das nossas conversas sobre o projeto, estávamos ainda atravessando um período difícil da pandemia. Escutar ‘Não canse, let’s dance antes que tudo caia’ deu uma levantada total no astral. Eu adoro como o arranjo se desenrola, tem vários elementos surpresas e interessantes como o cowbell, as guitarras mágicas do Fernando Catatau, os gritinhos e sussurros”, ri a cantora paulista. “Tem um balanço meio Talking Heads e Titãs que eu sou apaixonada e é a faixa do EP que eu mais gosto de dançar.” “Depois da gravação e produção eu vejo bem a influência de Kate Bush, na parte do final”, conclui Jadsa. “O beat me lembra muito e quem a me apresentou real foram Yma e Nando (Rischbieter, companheiro de Yma e produtor musical do projeto paralelo da dupla) na casa deles, eu fiquei muito viciada. E tem muita influência também de Grace Jones, ali no final dos anos 70. Acredito que essa musicalidade foi justamente essa de não podemos parar, temos que continuar”.

Ouça abaixo:  

Tapando o Big Buraco

Jadsa encerrou seu Big Buraco no Centro da Terra com duas sumidades no palco: primeiro chamou Juçara Marçal, que trouxe sua kalimba, e depois Alessandra Leão, no toque de seu tambor. As surpresas ficaram por conta da vinda do compadre e conterrâneo João Milet Meirelles, metade do projeto Taxidermia que os dois têm juntos, que pilotou efeitos nas vozes e instrumentos do palco desde as primeiras músicas (que Jadsa fez sozinha com sua guitarra), e da surpresa da vinda de Fernando Catatau, que subiu para fazer as últimas músicas da noite. De brinde, Jadsa saiu do palco sem fazer o bis, como é de praxe, e deixou Juçara e Catatau tocando juntos pela terceira vez “Lembranças que Guardei”, que o compositor cearense escreveu para o disco mais recente da cantora paulista. Uma noite milagrosa.

Assista aqui.