Introducing Mr. Catra

, por Alexandre Matias


Mr. Catra – “Vacilão”

E por falar em Trip, nem comentei sobre a ótima e longa entrevista que o Ronaldo e a Kátia fizeram durante um corre de Mr. Catra por São Paulo – em um encontro rápido com o Ronaldo ali no São Cristóvão, ele comentou que seguia a comitiva do sujeito só pela marola, hahaha. Na entrevista, publicada nas já tradicionais Páginas Negras da revista, o MC fala de política, religião, sua criação em escolas da elite carioca, crime organizado, sua treta com Marlboro, além de cochilar durante vários trechos do papo.

E numa conjunção cósmica de coincidências, a revista +Soma também deu a capa de sua última edição ao profeta do funk carioca, um dos personagens mais intensos da atual música brasileira. A matéria da +Soma também tem a grife de um compadre – no caso, o intrépido Matias Maxx, the Original Capitão Presença, que além de ser um dos repórteres mais setorizados em todo o imaginário que envolve Catra, acompanha a carreira do sujeito desde 1998 e sempre arrumou desculpa para puxar longos papos e transformá-los em entrevistas já clássicas (vale fuçar os zines de Matias, tanto o impresso Tarja Preta quanto o falecido blog La Cucaracha – que batiza sua loja em Ipanema -, além de incontáveis revistas para quem ele já vendeu essa pauta). E a matéria também bate em pontos levantados na entrevista da Trip, como sua conversão ao judaísmo em sua visita ao Muro das Lamentações em Israel, sua vida de workaholic, suas várias mulheres e seu papel dentro e fora do funk carioca. A revista é distribuída gratuitamente, mas quem não a encontra em canto nenhum pode baixá-la em PDF no site.


Mr. Catra – “O Fiel”

Catra, o Fiel, já é conhecido em todo o Brasil há pelo menos uma década e sua voz rouca alterna cantos religiosos, putanheiros, canabistas ou violentaços em qualquer palco que o requeira: casas noturnas de todas as classes, programas de TV, festivais ou em participações especiais em disco dos outros. Tem alguns hits no imaginário brasileiro, embora a maioria das pessoas não ligue o nome à pessoa – você já deve ter ouvido pelo menos um de seus três maiores hits, a fumífera “Cadê o Isqueiro?”, a intimada “Vacilão” e o alerta “Simpático”. Ele já teve disco solo lançado pela Warner, já foi tema de documentário na Holanda, teve matéria de oito páginas na Rolling Stone japonesa e disco sendo vendido em Dubai e Amsterdã. Já colaborou com Marcelo D2, Digitaldubs e DJ Dolores, inspirou João Brasil num episódio de pura vergonha alheia e é conhecido de quase todo mundo da cena de hip hop paulista. Sua luta é “contra a hipocrisia”, como ele sempre sublinha, e é justamente por isso que ele não é mais conhecido. Como o Brasil das “grandes pessoas humanas” que freqüentam o Faustão reagiriam às letras pornográficas, violentas e messiânicas de Mr. Catra?

Na verdade, Catra é um desafio à cultura nacional. Popular e populista, ele é um dos poucos MCs de funk carioca que realmente cantam, embora o rugido rouco, os discursos que irrompem no meio das músicas e a gargalhada diabólica não deixem que você perceba isso de cara. Ele é a figura mais próxima de um Tim Maia que temos na música brasileira hoje ao mesmo tempo que é a melhor tradução do gangsta rap para o Rio de Janeiro e um misto de James Brown com Isaac Hayes numa trip histórico-religiosa. Como nem tão cedo um sujeito que responde às mulheres-vegetais (a Samambaia, a Melancia) com uma agressiva Mulher Filé (veja o vídeo abaixo) chega ao topo do showbusiness brasileiro, tamanha a forma que ele subverte todos os clichês de bom-mocismo que se espera de um popstar que não nasceu no meio artístico.


Mr. Catra e Mulher Filé

As duas entrevistas funcionam como uma ótima introdução ao sujeito, mas dá pra se aprofundar melhor visitando outros hits do cara, como “O Retorno é de Jedi” com MC G3, “Vai Começar a Putaria“, “Cadê o Isqueiro?“, “67 Patinete“, “Fiel à Putaria” (nessa versão, com o Latino) e as infames subversões para hits da música brasileira, como “Tédio”, do Biquini Cavadão (que torna-se “Adultério“), “Primeiros Erros” de Kiko Zambianchi (que assume uma faceta singela com o novo título “Se Meu Pau Não Parar de Crescer“), “Itapoã”, de Toquinho (“Mamada de Manhã“, na nova encarnação), entre outras. Não esqueça de por o fone de ouvido se estiver em algum lugar onde alguém pode se assustar com um mísero palavrão, hein…

Não achei “Mercenária”, funkeira setentona pesada, no YouTube, mas se alguém descolar uns MP3 eu subo aqui… Aliás, fica no ar a idéia prum Vida Fodona especial Mr. Catra – quem sabe se eu arrumar mais MP3 do cara, eu agilizo pro mês que vem…

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