Minha coluna do 2 de domingo foi sobre a principal rivalidade entre empresas de internet do mundo hoje.
Google x Facebook
Essa briga está só começando…
A capa da mais recente edição da revista Fortune escancara uma briga que não é novidade para quem acompanha de perto o universo digital. Em uma montagem, a revista colocou os dois CEOs de duas das maiores empresas de tecnologia do mundo em um embate típico dos velhos filmes de artes marciais: de um lado, Mark Zuckerberg, do Facebook; do outro, Larry Page, um dos criadores do Google.
A briga é velha e se acirra desde que a rede de Zuckeberg atingiu a marca de meio bilhão de usuários no meio de 2010. Piorou quando o Google resolveu concentrar suas forças em mais um projeto de rede social, o Google Plus, lançado no meio deste ano. O Plus se tornou – por motivos óbvios, afinal, ele é do Google – a rede social que cresceu mais rápido em toda a história, embora as pessoas ainda estejam fazendo aquela clássica pergunta que sempre acompanha o surgimento desse tipo de site: “e agora, o que é que eu faço?”
O Plus parece ainda estar pela metade porque ele realmente está. Quando foi anunciado, o Google frisou que não era uma rede social e sim uma “camada social” que estava distribuindo em todos seus serviços. Começou criando a sua versão para o botão “Curtir” do Facebook (o “+1”). Forçou o Feice a criar uma divisão entre os amigos (pois havia criado, no Plus, os “Circles”, em que você divide seu grupo de amigos em “família”, “pessoal do trabalho”, etc. e esta semana liberou a construção de páginas de pessoas jurídicas (antes, só pessoas físicas poderiam abrir contas). Houve também o vazamento de que o estariam para lançar o Google Drive, espécie de HD virtual em que você pode deixar tudo que quiser (fotos, filmes, música) online apenas para seu próprio uso.
As mudanças ouriçaram Zuckerberg, que desmereceu o novo projeto do Google como “um mini Facebook” em uma entrevista para a TV no início da semana passada. Mas é certo que é um vai ou racha. Ou o Google acerta de vez e desbanca o Facebook no seu próprio jogo ou cria mais um trambolho digital que pode deixar de ser usado em poucos meses. E isso pode ser, acreditem, seu fim. Será?
E a minha coluna no 2 de domingo foi sobre a última sacada de Jobs e a nova novidade do YouTube.
A televisão do futuro
A última fronteira digital?
O casamento da televisão com a internet já vem acontecendo mesmo que o aparelho ideal para isso ainda não exista. O fato dos trending topics do Twitter quase sempre regularem com programas de maior audiência – seja no Brasil ou no exterior – é um indício disto. Outro indício é a frequência com que tablets e smartphones são usados em frente à TV – se você não reparou, comece a perceber. DVD players e TVs que vêm com entrada USB de fábrica também ajudam a comprovam que essa teoria: basta espetar um pendrive para assistir a conteúdo digital baixado no computador.
Não é que não existam aparelhos que já se proponham a fazer tal fusão. Já há vários modelos de aparelhos de TV no mercado brasileiro que, por exemplo, permitem assistir a vídeos do YouTube – e não só. As chamadas smartTVs pegam a lógica dos aplicativos, consagrada nos smartphones, e a transferem para a telona. Ainda são protótipos da TV do futuro, que não é nem uma televisão nem um computador, mas um híbrido de ambos.
Na recém lançada biografia oficial de Steve Jobs, o escritor Walter Isaacson conta que uma das últimas sacadas do pai da Apple foi perceber que o Siri poderia ser a chave final para a Apple TV deixar de ser uma promessa e a empresa mudar o mercado de televisão como fez com o de telefonia celular.
Siri, para quem não conhece, é um programa de reconhecimento de voz que entende o que foi dito e responde em forma de texto. É uma das principais novidades do novo iPhone, o 4S, lançado há pouco nos EUA (e, possivelmente, em breve no Brasil). Vários celulares já contam com um sistema parecido, mas a maioria limita-se a acionar funções do próprio telefone. Você fala “rediscar” e o telefone liga sozinho para o último número que foi acionado, por exemplo. A diferença do Siri para os outros é que ele não está restrito aos recursos do próprio celular – ele responde questões do dia a dia. Ele entende se você pergunta se vai fazer frio mais tarde e consulta um site para mostrar a temperatura prevista para o período. Pergunte qual é cinema mais perto de você que está passando um filme que você quer ver e ele faz isso.
A sacada de Jobs unindo o Siri e a Apple TV foi perceber que este sistema de reconhecimento de voz pode matar de vez o controle remoto – como o iPad almeja acabar com o teclado e com o mouse. Mas ainda estamos na mera futurologia.
Enquanto isso, o YouTube fechou, esta semana, um acordo com produtores de conteúdo para criar cem canais de conteúdo original, reunindo parceiros como celebridades (Madonna, Jay Z, Rainn Wilson, Tony Hawk), sites (The Onion e Slate) e estúdios de cinema e TV.
E enquanto a Apple (e outras empresas) se esforçam para imaginar o aparelho de televisão do futuro, o YouTube já está colocando em prática como funcionará esta programação.
O futuro do cinema
Spielberg, Jackson e Tintim
Um amigo meu comentou outro dia, com certo alívio, que estava feliz por ler que as primeiras impressões à adaptação para o cinema das aventuras de Tintim estavam sendo boas. O alívio veio porque assim ele poderia dizer que gostou sem culpa de estar assistindo a um mico filmado, pois gostaria de qualquer jeito. Afinal, o personagem criado pelo belga Hergé é um dos principais nomes do quadrinho europeu e sua adaptação definitiva para o cinema vem sendo aguardada com muita expectativa.
Ainda mais pelo fato da adaptação ter sido encampada pela dupla Steven Spielberg e Peter Jackson. O primeiro dispensa apresentações. O segundo também, mas vale frisar que o trabalho que desenvolveu em seus filmes – principalmente em O Senhor dos Anéis e em King Kong – e no épico 3D de James Cameron, Avatar, funcionou como preparação para o grande desafio que é o novo filme, também gerado na fábrica de ilusões de Jackson na Nova Zelândia, os estúdios Weta, o melhor estúdio de efeitos especiais do mundo hoje.
As Aventuras de Tintim já estreou na Europa, só chega aos EUA no final do ano e no Brasil no meio de janeiro de 2012 e não é o principal passo dos dois diretores em suas carreiras, mas pode determinar o futuro do cinema. Pois utiliza atores apenas na captura de movimento e vozes, mas sem usar suas imagens – estas, todas geradas por computador. Isso já havia sido feito em Avatar, mas os personagens de Tintim são cartuns, e não humanos hiperrealistas.
Assim, os dois podem estar dando o passo definitivo para fundir cinema e animação e concretizar um sonho perseguido há décadas por George Lucas, que queria fazer Guerra nas Estrelas sem precisar filmar ninguém (não conseguiu), e por em prática uma inveja que o velho Hitchcock tinha de Walt Disney – ao resmungar sobre o quanto este último era feliz por poder simplesmente “apagar” um ator quando não gostava dele.
Minha coluna no 2 de domingo foi sobre a “autencidade” (wtf) de Lana Del Rey.
Mentira ou fantasia
O misterioso caso de Lana Del Rey
“It’s you, it’s you… It’s all for you…”. A voz lânguida de Lana Del Rey escorrega-se pelo refrão de “Video Games” como uma diva entediada deslizaria-se numa chaise longue. A música, seu primeiro single, apareceu há dois meses, num vídeo filmado pela webcam e editado por ela mesma, misturando cenas próprias com imagens de arquivo. Em pouco tempo, surgiam novas músicas, todas em vídeo – “Blue Jeans” e “Kinda Outta Luck” –, todas seguindo a mesma estética: Lana fazendo biquinho para mostrar seus beiços grossos, deixando o cabelo cair sobre o rosto para enfatizar o clima retrô, como se fosse uma Jessica Rabbit de carne e osso, sempre com imagens que remetem a uma nostalgia dos anos 50, tão em voga nesses tempos de Mad Men.
Foi o suficiente para que começassem a falar dela, primeiro em blogs de MP3 e depois nos sites, jornais e revistas. E, sem ao menos ter nem um single lançado, ela já era candidata a título de diva de 2012.
E, em seguida, veio a reação. Não era possível que o hype todo viesse sozinho e começaram a fuçar no passado de Lana – e descobriram que esse nome era um pseudônimo e que não era sua primeira incursão ao mercado fonográfico. Chamava-se Lizzy Grant e circulava pelos corredores da indústria – além de ter lábios bem menos cheios. E logo as especulações sobre seu passado se tornaram um certeiro “arrá!” quando, antes mesmo de ter seu single lançado, a cantora anunciou que havia assinado com a gravadora norte-americana Interscope.
E aí chegamos ao ponto central da coluna de hoje: Lana é um artista menor ou pior simplesmente por ter sido “fabricada” por uma gravadora para “enganar” o público que se orienta por música via internet? Reforço as aspas nos verbos pois essa “fabricação” não é necessariamente artificial (Britney Spears é fabricada? E Lily Allen? E Amy Winehouse, também era?) nem essa “enganação” é trapaceira.
Nos tempos de reality show em que vivemos graças à internet – que permite acompanhar passo a passo a vida de qualquer celebridade –, os limites entre realidade e ficção ficaram tão borrados que nos tornamos céticos em relação a qualquer novidade ou notícia que apareça. Há quem diga que esse é o motivo do sucesso dos próprios reality shows, uma vez que novelas, filmes e seriados já foram assimilados a ponto de os distanciarmos da realidade – e não nos envolvermos emocionalmente com eles.
O mesmo acontece na música. E o desafio que Lana Del Rey (seja a artista, seja “o projeto Lana Del Rey”) nos propõe independe do fato de ela ser uma artista de verdade ou um produto fabricado em estúdio. Como escreveu Amy Klein, da banda Titus Andronicus, em seu blog. “Não importa se ela tem algo de real para nos vender porque Lana Del Rey nos fez pensar sobre a relação entre vender uma fantasia e vender mentira. Ela é a mentira que nós mentimos para nós mesmos – e é isso o que os Estados Unidos sempre foram e sempre serão, essa mulher maravilhosa que pode fazer nossos sonhos virarem realidade. Então não importa se ela te ama ou te odeia, porque ela vai pegar todo seu dinheiro e você vai deixá-la ir. Essa é a realidade dela.” Amy está falando dos EUA, mas também sobre o que é música pop.
* A coluna Impressão Digital, do editor do Link Alexandre Matias, é publicada todos os domingos, no Caderno 2
Minha coluna de domingo no Caderno 2 foi sobre esses novos movimentos populares que buscam reinventar a política atual.
É só o começo
Um novo conceito de política
Ativismo digital não é mais novidade. Usar a internet para conectar pessoas, divulgar causas e reunir multidões é algo que teve início ainda nos anos 90, quando o Subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação Nacional, usava a internet para espalhar o drama dos índios no sul do México. Ou quando uma multidão se reuniu em Seattle, em novembro de 1999, para protestar contra encontros de cúpula da Organização Mundial do Trabalho. Mas a internet e as mídias digitais só começaram a se popularizar de verdade no início da década passada, por isso esse tipo de organização política ainda estava restrito a militantes mais engajados.
Mas a internet deixou de ser uma rede de geeks. Celulares se tornaram o principal meio de comunicação do planeta. Além de fotografar e filmar, ainda se conectam à web para divulgar o que foi registrado onde for.
Foi assim que vimos uma série de novos movimentos utilizarem redes sociais e comunicação móvel para furar bloqueios governamentais e sair às ruas. Essa nova organização política – popular, digital e sem lideranças – cresceu principalmente em 2011, quando vimos esse tipo de movimento ganhar as ruas dos países árabes, ir à Europa (primeiro na Espanha, depois em Londres) e finalmente chegar aos Estados Unidos, onde um grupo de ativistas resolveu seguir o exemplo de árabes e europeus e acampar, sem prazo para ir embora, no centro financeiro de Manhattan.
As críticas que fazem ao movimento Occupy Wall Street são as mesmas que fizeram sobre as manifestações no Egito, na Tunísia, na Síria, na Espanha e na Europa. De que são apenas jovens desempregados, que não têm causa definida, nem reivindicação clara ou outra solução para o problema que apontam. Mas a indignação já deixou de ser localizada em determinada cidade e ontem, dia 15 de outubro (ou 15O, como escolheram codificar), vários manifestantes em dezenas de cidades do planeta saíram às ruas para protestar contra corporações e governos.
O que está acontecendo, na verdade, é o despertar de uma consciência global. Quando os meios impressos surgiram, foi o alcance de sua distribuição que determinou as fronteiras dos países para, num segundo momento, consolidá-los como nações, um conceito que não tem nem 500 anos de existência. Foi a partir disso que a política moderna, a de representação, surgiu. Mas à medida que o século 20 foi despertando a consciência de que todos somos parte de um mesmo planeta (graças à iminência de uma guerra nuclear e pela ecologia), aos poucos vem caindo a ficha de que a política de séculos passados se esgotou. E o que estamos vendo, nessas manifestações populares, é o clamor por um novo tipo de política. É só o começo.
Esqueci de postar aqui a coluna que escrevi pro 2 no domingo da semana anterior, após o lançamento do Kindle Fire, antes do lançamento do novo iPhone e da morte do Steve Jobs. Não que tenha mudado algo do texto original…
Sucesso repentino
Aparelhos novos vêm e vão
Na semana passada, a Amazon provou, na prática, que seu e-reader, o Kindle, não era concorrente do iPad, da Apple. Como ela fez isso? Lançou um concorrente: seu próprio tablet.
Pois é: além de ter um dispositivo específico para leitura, a maior loja online do mundo agora lançou seu primeiro tablet, que diz ter sido feito para acessar a internet e consumir conteúdo multimídia. O apetrecho chama-se Kindle Fire.
Quem acompanha os lançamentos de tecnologia sabe que este não é nem o primeiro nem o último aparelho a se dispor a peitar o tablet lançado por Steve Jobs no ano passado. A Amazon parece ter entrado bem na disputa por ter dois fatores a seu favor: o preço (o Kindle Fire custa US$ 199 para quem já fizer a pré-venda, menos da metade do preço do modelo mais simples do iPad 2, que sai por US$ 500) e o fato de, assim como a Apple, seu fabricante já possuir um ecossistema de negócios pronto e funcionando muito bem.
A mesma Apple prepara-se para, na próxima terça-feira, lançar a quinta versão de seu iPhone, pouco mais de um ano após o lançamento da versão anterior. E o iPad 3 já havia sido anunciado, mas foi colocado em modo de espera depois que Jobs deixou o cargo de CEO da empresa.
Instantâneo. Isso tende a ser cada vez mais comum. Uma reportagem do New York Times desta semana ouvia diferentes analistas para chegar à conclusão de que se um produto não desse certo logo que era lançado, seu futuro era mais do que incerto. Podia talvez nem existir. Vide a quantidade de tablets que foram lançados após o iPad e que deram com burros n’água.
Cada vez mais as empresas de tecnologia precisam fazer barulho em torno de seus aparelhos para garantir sua sobrevivência no mercado. Dois dos principais aparelhos lançados no ano passado (o iPad e o Kinect, da Microsoft) só estão aí até hoje porque venderam muito bem em suas primeiras semanas.
A onipresença tecnológica obriga todos a correr atrás do sucesso repentino, o que pode tornar a indústria de aparelhos tão afobada quanto a de filmes e de discos hoje em dia. Quantos discos ou filmes sobrevivem após um mau fim de semana de lançamento? E, pior, a partir desta lógica, que espécie de filmes e discos são lançados com alarde hoje em dia?
Será que um dia veremos lançamentos mirabolantes e grandiosos serem anunciados num dia para, na semana seguinte, cair em desuso? Ou será que já estamos vivendo nessa época?
E a minha coluna de ontem no Caderno 2 foi sobre como Jobs mudou o futuro da Pixar ao não se intrometer no que eles poderiam fazer.
A influência de Steve Jobs
E o que a Pixar tem a ver com isso
Quem ainda aguenta ouvir falar em Steve Jobs? Não vou repetir a ladainha que lemos e ouvimos após o anúncio de sua morte, na última quarta-feira, mesmo porque já havia falado de sua importância neste mesmo espaço no final de agosto, quando ele deixou o cargo de CEO da empresa que fundou em 1976. Sim, ele foi um visionário, talvez tenha sido o último grande líder norte-americano, um hippie capitalista, o primeiro hipster, o empresário que conseguiu transformar uma indústria num estilo de vida e mudar o curso de toda uma geração. Mas tudo isso você já deve estar cansado de ler.
Queria falar de outro aspecto, menor, da biografia de Jobs. Menor, mas tão importante quanto os aparelhos criados sobre sua marca. Que é a história de como ele transformou um estúdio de softwares no futuro do cinema. Ou melhor, de como ele viu o futuro da Pixar antes mesmo da própria Pixar.
Jobs não fundou a Pixar – a empresa já existia sete anos antes de ter sido comprada pelo pai da Apple. Jobs quis a empresa pois sempre se preocupou com a interface e o design de seus produtos. Ele comprou a empresa, que era parte da Lucasfilm de George Lucas, para criar gráficos mais realistas e charmosos para seus softwares. E era isso que era a Pixar antes da entrada de Jobs – um estúdio de animação 3D para softwares.
Até que, certa vez, o criador da empresa, John Lasseter, disse que queria fazer um filme inteirinho em computação gráfica. Era uma ideia que, no início dos anos 90, não animaria ninguém. Os registros de animação computadorizada até então nos remetiam a bonecos sem curva, como os do clipe de Money for Nothing, do Dire Straits, ou à estética 8-bit do filme Tron. Qualquer tentativa de fazer filmes sem atores apontava para desenhos (des)animados rústicos e conceitualmente duros, sem alma.
Foi quando Steve Jobs deu sua melhor contribuição ao estúdio: não se meteu. Meticuloso e cricri com as criações da própria empresa, Jobs sempre carregou consigo a pecha de chefe tirânico, difícil de agradar, pedindo para que as mesmas coisas fossem refeitas até atingir seu altíssimo nível de exigência. Mas, percebendo o potencial da ideia de Lasseter e vendo que suas intervenções poderiam atrapalhar o processo de criação da Pixar – que, mesmo após a ideia de lançar um longa-metragem, não via o próprio futuro no cinema –, fez o que os bons chefes fazem quando reconhecem o valor de seus funcionários e confiam em seu taco: deixou-os trabalhar. Fez apenas uma simples e crucial exigência, como lembrou o próprio Lasseter na página do Facebook da empresa.
“Jobs foi um visionário extraordinário, um amigo muito querido e um farol guia para a família Pixar. Ele viu o potencial da Pixar antes mesmo que o resto de nós – e muito além do que nós poderíamos imaginar. Steve apostou em nós e no nosso sonho maluco de fazer filmes animados por computador: a única coisa que ele dizia era repetir ‘seja ótimo’. Ele é o motivo da Pixar ter se tornado o que se tornou e seu amor pela vida nos tornou pessoas melhores. Ele para sempre fará parte do nosso DNA. Nosso amor vai para sua esposa Laurene e para seus filhos neste momento incrivelmente difícil.”
Até mesmo quando não se envolvia, Steve Jobs era genial. Delegava poder e assim ampliava sua influência e alcance. Gosta da Pixar? Agradeça a Jobs.
E minha coluna no 2 de domingo foi sobre o discreto (e possivelmente enorme) movimento que o Facebook fez para apresentar o Spotify para os EUA e provavelmente para o resto do mundo.
Lá vem o Spotify
O Facebook vai tocar música
Na última quinta-feira, o Facebook anunciou mudanças em sua interface e estrutura, apresentadas durante seu evento anual, o F8, que aconteceu em São Francisco, nos EUA. Entre as novidades, Mark Zuckerberg, criador e CEO da rede social, anunciou que estavam fechando parcerias que permitiriam que qualquer usuário navegasse em outros sites através do Facebook. Entre os parceiros, veículos de comunicação como Wall Street Journal, Guardian e Mashable, e aplicativos multimídia, como Netflix, Hulu e Soundcloud. Mas um deles, no cantinho, pode desequilibrar bem o jogo para o lado do Feice: o Spotify.
O serviço de música online foi criado pelo sueco David Ek (que foi ao evento apresentar a novidade) e tem se tornado uma das principais formas de se ouvir música online. É um sistema de assinatura em que se paga uma taxa mensal que dá direito a ouvir quantas músicas quiser, onde quiser, na hora que quiser, quantas vezes quiser. Sem pirataria e com as bênçãos das gravadoras. O problema é que o Spotify não tinha conseguido entrar nos EUA. Até agora. Ao virar parceiro do Facebook, o serviço pode desafiar a loja iTunes da Apple ao tornar todos os usuários da rede social em potenciais ouvintes. E pode transformar o Facebook em mais um player no já conturbado mercado de música digital. Quem diria.
Darth Vader diz “nãããããoooo!”
O problema da obra aberta
Está sendo lançado no Brasil e no resto do mundo mais uma edição da série Guerra nas Estrelas – desta vez, no formato Blu-ray. E para não fugir a regra, lá vem George Lucas de novo fazer mais reparos em sua obra mais popular. Desde que surgiu a possibilidade de relançar o filme em diferentes formatos (primeiro no VHS, depois no DVD e assim por diante), o criador da saga de Darth Vader sempre acrescenta cenas, efeitos e personagens que não existiam nos filmes originais – quase sempre enfurecendo seus próprios fãs.
Na atual edição, Darth Vader fala um “nããããooooo!” antes de atacar o Imperador, que estava matando seu filho, Luke Skywalker (mostrando que o lord do mal também tem coração). Os ursinhos Ewoks agora piscam os olhos e Obi-Wan Kenobi faz um som bizarro para assustar alguns alienígenas (na versão original, ele apenas gritava). Não foram as piores mudanças feitas na saga, mas seguem o padrão de ruindade das anteriores.
Fica a dúvida: o autor pode mexer numa obra depois de finalizada? Qual deve ser considerada a versão “correta”? Quem determina isso, o autor, a crítica, o público? Mais dilemas criativos para a nossa rotina digital, que torna a obra aberta uma regra, não uma exceção.
Hercules & Love Affair em Sâo Paulo
Confirmado para tocar na última noite do Rock in Rio 2011 (que começa na próxima sexta-feira, 23), o grupo nova-iorquino Hercules & Love Affair confirmou mais uma apresentação no Brasil, tocando em São Paulo no dia 1º de outubro, na casa noturna Hot Hot. Liderado pelo produtor Andy Butler, que também discotecará na mesma noite, o grupo é um dos milhares de exemplos da transformação que a disco music impôs à música pop. Se antes dos anos 70 optar por uma carreira musical significava ter algum domínio técnico, a disco music permitiu que não-músicos entrassem em cena e mudassem por completo a paisagem artística do século atual. O grupo entrou para o radar pop mundial com o hit “Blind” e lançou, no início do ano, seu segundo disco, Blue Songs, mas em sua passagem pelo País vem sem o vocalista Anthony. Os ingressos começam a ser vendidos na segunda, às 12h, através do site Ingresso Rápido.
Escrevi sobre o disco novo do Rapture na minha coluna de domingo no 2.
O futuro do álbum
Rapture e um formato ‘obsoleto’
Antes de aposentar o CD – ainda à venda, firme mas não tão forte, nas principais casas do ramo –, o formato digital tornou o álbum obsoleto. Mesmo que ele ainda seja produzido em larga escala e que grande parte dos artistas em atividade ainda o tenham como meta, o formato pertence ao século passado. Trancar-se num estúdio com determinado produtor e gravar uma coleção de canções que orbitem numa certa ambiência (seja estética, temática ou sonora) e sejam envelopadas num mesmo pacote, com material gráfico comum ao tema escolhido – isso ficou no passado.
No século 21, a música se movimenta por canções – e por motivos puramente técnicos, mais uma vez. Quando o formato digital se impôs, a velocidade de transmissão de dados online não estava tão avançada quanto hoje em dia. Por isso era mais fácil baixar apenas uma música do que um disco inteiro. Isso criou um problema para a antiga indústria do disco, que se bastava de um punhado de músicas boas para garantir a venda de um disco que tinha umas tantas outras faixas sem tanta importância. Investiam na canção para vender um pacote de músicas que não eram, no todo, boas o suficiente para serem compradas isoladamente. E assim, com a internet, os ouvintes c0meçarama a, primeiro, baixar apenas as músicas que queriam para, depois, comprar faixas avulsas digitalmente, destruindo o formato álbum, criado entre os anos 50 e 60.
(Interessante notar que o formato canção também surgiu de uma limitação técnica: quando a iniciante indústria fonográfica percebeu que a música erudita não seria mais popular, optou por formatar a canção popular – que crescia sem dimensão de duração – e, para isso, a compactou no máximo de tempo que os vinis da época permitiam – três ou quatro minutos.)
Isso não quer dizer que nunca mais iremos ouvir um conjunto de canções com uma mesma temática numa ordem preestabelecida. O melhor exemplo recente é o novo disco do grupo nova-iorquino Rapture, In the Grace of Your Love. Mesmo que suas músicas possam ser ouvidas em separado ou de forma aleatória, há uma coesão que ainda mantém o sentido de ouvir tudo na ordem proposta pelos autores. O crescendo autoral que começa em Sail Away e termina com It Takes Time to Be a Man me faz pensar que o formato álbum deixou de ter uma abordagem comercial para ser puramente estético – como a sinfonia, a ópera ou o concerto.