Bom Saber #003: Ian Black

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Tá aí o terceiro Bom Saber, programa semanal de entrevistas que estou atualizando no meu novo canal do YouTube (Assina lá!). E o convidado de agora é meu amigo Ian Black, que conheço desde antes dos blogs serem blogs e das redes sociais existirem, acompanhando a evolução da vida digital no Brasil atentamente, cada um a partir de seu ponto de vista – eu junto ao jornalismo, ele à publicidade -, mas sempre interessados nas questões mais amplas da transição da velha para a nova comunicação. O chamei para conversar a partir do texto que ele publicou há pouco (A esquerda precisa amadurecer digitalmente, agora) e aproveito o gancho para falar sobre o que é essa tal maturidade digital, assunto que começo a partir da entrevista que Felipe Neto deu ao Roda Viva no início da semana passada.

Os primeiros entrevistados do Bom Saber foram a Roberta Martinelli e o Bruno Torturra (assista às suas entrevistas nos respectivos links). E não custa lembrar que quem colabora com o meu trabalho recebe a entrevista ainda no sábado (pergunte-me como no trabalhosujoporemail@gmail.com), mas toda terça, ele é aberto para todos.

A marca do Pantera

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Os rappers Emicida e Tassia Reis, o publicitário Ian Black, o sociólogo Tulio Custodio e a advogada Mayara Souza, do grupo Negras Empoderadas, falam sobre a importância do novo filme da Marvel do ponto de vista da representatividade negra, em uma reportagem que fiz para a revista Trip:

Todos concordam que o filme faz parte de uma tendência maior, que torcem para continuar em voga. “Vai ser incrível poder contar nossas histórias sem os nossos estereótipos, esse peso que o racismo nos coloca para que as pessoas tenham um lugar”, continua Tássia. “Mas falando só de filmes de super-herói, já é muito interessante porque são anos de ausência de representatividade, que pra muita gente pode parecer besteira, porém, só quem cresceu tendo que se enxergar em outros personagens sabe como é. Essa infância que pode ir no cinema e ver essa história, já fica com um pingo de esperança para seguir.”

“Para quem sempre viu seus pares em papéis secundários e toda a sorte de ausência de protagonismo — “black dude dies first”, já dizia o trope —, Pantera Negra aparece como um contêiner de compensações, com um herói e tudo o que o cerca com o mesmo peso só visto em heróis brancos como Thor, Homem-Aranha, Homem de Ferro e Capitão América”, comemora Ian.

Tulio arremata que o filme não é o início de uma fase e, sim, o fim de outra. “O filme — e a importância que vem adquirindo na sua divulgação —, é consequência de um movimento anterior ter fortalecido tanto por outras produções, como a série Luke Cage, debates públicos e o riquíssimo material criado por ‘independentes’, como Issa Rae, na série Insecure, e Donald Glover, na série Atlanta.”

Leia a íntegra aqui.

Corra e olhe o céu

Demais essa Sky Series do fotógrafo Eric Cahan.

Dica do Ian Black – e no site dele tem muito mais.

Marina Santa Helena + Predador x Alien 2

Quantos nichos… Marina hoje é da MTV, mas, na real, é cria da internet. Namorada do Ian (ao fundo na foto), um dos pais do Epic Shit, ao lado do Louback, que tirou e me enviou a foto. Fora que ela não está vestindo a camiseta. Ou será que a camiseta é parte de um viral do lançamento do filme no Brasil? A foto é posada? Foi feita para virar uma t-girl de propósito? A modelo sabe que a foto foi divulgada? E o namorado da modelo? Dúvidas, dúvidas…

E assim me despeço deste jogo, por enquanto. O Trabalho Sujo entra de férias a partir desta sexta e só retomo os trabalhos em outubro. Fica a critério dos outros jogadores me esperar ou continuar o jogo sem minhas cartas, levando em contas as férias. Prefiro a segunda opção, para o jogo não depender de mim.

Quatro na merda


Fotos: Pedro Jansen, com celofane no flash, na noite de criação do Epic Shit

Cansados de resenhar discos, livros e filmes, Pedro Jansen, Renmero, Gabriel Louback e Ian Black resolveram resenhar suas próprias vidas, levando o conceito de coletivo (que repudiam) para o nível umbilical e a linguagem blog para o âmbito do portal, no site Epic Shit – que não é uma revista e nem um blog muito menos manifesto de um novo movimento cultural. Conversei com os caras na semana passada para entender que diabo eles querem com essa merda épica.

Como começou isso? Quem começou?
Renmnero:
Começou em uma sexta dessas qualquer. Estávamos na casa do Ian falando sobre como seria massa trabalhar na BBC e esse tipo de coisa quando ele propôs que a gente começasse a registrar nossas vidas de uma forma diferente. Utilizando fotos e textos nossos. Uma tentativa de resgistrar a awesomeness inerente ao dia a dia – e que a maioria das pessoas ignora ou não sabe reconhecer. Eu já estava afim de fazer algo desse tipo há tempos e embarquei logo de cara.
Ian: A idéia do site vinha se formando há bastante tempo, através de conversas sobre as mais diversas coisas: games, UFC, torrent, quadrinhos, séries, filmes, animes, trabalho, internets, drogas, textos, vídeos, putarias, viagens e música. Certo dia comentei com o Jansen da vontade de fazer alguma coisa, ele ligou o Louback, eu liguei o Renmero, e marcamos de falar qualquer coisa em casa. Nesse dia estávamos viajando sobre o que seria o grande plano da BBC: documentar todo o mundo em HD – eles são dos poucos que disponibilizam coisas em 1080p no YouTube -, e nesse papo surgiu a idéia de documentar, do nosso jeito, o que sentimos sobre o momento em que vivemos, esta grande época. Daí surgiu a idéia disso acontecer em forma de um site. Definimos algumas coisas que gostaríamos de escrever, tinhamos um layout sobrando que serviu muito bem aos nossos propósitos – principalmente para a decisão de usarmos apenas fotos nossas para ilustrar os textos. Montamos uma lista de discussão, que acredito ter sido uma boa, pois através delas ficávamos falando do site, mas também servia para compartilharmos várias informações e opiniões. E o site foi saindo… e saiu.
Louback: O Ian e o Renmero são meio viciados na BBC e no trampo dos caras, conceitualmente. Eles têm catalogado o que acontece com a sociedade, deixando um registro de uma época, uma geração e um momento histórico no curso da humanidade – e tudo em HD, ainda por cima, os desgraçados. Para mim, começou quando os dois chamaram eu e Jansen para produzirmos conteúdo sobre nossa época, sobre o que vivemos, sentimos e experimentamos. se sabemos escrever, então escreveríamos. se sabemos fotografar – ainda que amadoramente -, então fotografaríamos. eu já vinha pensando muito sobre isso e não teve jeito de não cair de cabeça. abraçamos o caos na hora 🙂
Jansen: O que o Renmo e o Lou mandaram define muito bem o que a gente foi pensando nessa primeira “reunião”, em que a nossa intenção era conversar com gente parecida conosco, esse povo que tem mais de vinte e poucos anos, curte música, curte games, curte mulher, curte cinema, curte literatura, curte contracultura, curte umas “coisas diferentes”- UFC, skate depois de velho, deus, tatuagem do Megaman. Fora que, como já te vi falando muito, Matias: “que época pra se viver, hein?” são muitas as coisas que acontecem ao redor da gente e que não só chamam a atenção como marcam pra sempre essa experiência que a gente tá tendo por aqui = sampa, sp, brasil, mundo, vida?. Pra mim, começou mesmo depois da minha volta de uma viagem à terrinha. chegando lá, topei minha infância, minha adolescência, amigos da vida inteira, os caras que jogavam Magic a tarde de sábado inteira e cuja maior transgressão era beber demais aqui e acolá e fumar uns cigarros, caras que são meus irmãos e pra quem eu queria contar como é o mundo que eu vejo – não pela diferença geográfica, mas pela diferença de experiências e nunca julgando um melhor que o outro, mas contando experiências. Aí minha ideia virou: vou contar as coisas da minha vida. tanto da vez em que trombei dois amigos de bicicleta atravessando a cidade pra ir catar uma fita de N64 do outro lado da cidade, acompanhá-los e voltar pra casa deles, na outra PONTA da cidade, até o bico que recebi de uma guria, falando sobre a banda que descobri e pelo jogo que me fascinou. Acho que uma palavra que puxa o Epic Shit é “registro”. E nosso público alvo é o Arnaldo Branco.

Então não é a reunião da produção digital de vocês, mas só um recorte. É uma revista? Vocês seguem com seus blogs originais?
Jansen:
Não sei se chamaríamos de revista, porque pressupõe edições, temas… Eu sigo com meu blog original porque muito do que eu escrevo la – receitas, declarações de amor pra minha mulher… – não “cabe” no Epic Shit. Porque no meu blog original, e “pessoal”, falo sem esperar que ninguém me ouça. No Epic Shit escrevo não esperando que alguém me ouça, mas definitivamente querendo falar com alguém.
Louback: Acaba sendo um recorte mais macro, no meu caso. No meu blog, por exemplo, acabo escrevendo mais contos e crônicas. Sentia falta de publicar uma reportagem, ou histórias de pessoas. E também não sei se chamaria de revista, já que é um registro – boa opção de palavra, jansen – geral. Não tem uma temática, pautas, ou assuntos definidos. Pode ter uma crônica, um artigo, uma série de reportagens, ensaio fotográfico, um ato de uma peça ou 6 dicas para viver com sua mulher. Como disse o Jansen, nosso público alvo é o Arnaldo Branco 🙂
Renmero: Não sei se é uma revista. Na realidade nem pensamos muito em definições desse tipo. Apenas concordamos que se queríamos fazer algo, tinha que ser bem feito e direto do coração, com mandou certa vez Bill Hicks. O suporte tinha que agregar fotos, vídeos e textos com harmonia. Encerrei meu blog faz um mês e estava planejando ficar sem escrever nada por um tempo, mas aí apareceu essa idéia e senti que era das coisas que eu tinha que fazer. Tinha até comentado com o Ian que sem querer voltamos a ser “blogueiros” por acidente, não era nossa intenção voltar a blogar ou coisa assim.
Ian: Ontem o Renmero comentou: “voltamos a ser blogueiros” ao que comentei “ex-blogueiros em atividade”. Meu blog está há meses sem atualização, e preferi criar em cima de um conceito que eu venho pensando desde a época do Interney Blogs, mas que só agora coloquei em prática: projetos de conteúdo com começo, meio e fim, como são os discos, as séries, os filmes… os nomes dos projetos já escancaram isso: 365 Evenings, 123 Cassettes… gosto dessa sensação de ter projetos, e não uma única coisa, institucional… Creio que o Epic Shit vai por esse caminho, mas sem um prazo de validade.

A gente nunca para pra pensar em tecnologia quando se fala em registro de comportamento e cultura (talvez até esteja falando-se pela primeira vez agora), mas não dá pra dissociar o fim do século 19 e começo do século 20 dos livros e a segunda metade do século 20 dos discos e o século 20 inteiro dos jornais, revistas e do cinema. Eu fico pirando nisso: faz sentido escrever um livro, gravar um disco ou publicar uma revista – e só – hoje em dia?
Renmero:
Não sei se é uma questão de fazer sentido. Para mim é mais de execução. Acredito que um disco sensacional consegue ser muito mais do que um simples disco, consegue atravessar barreiras entre mídias. Essa travessia constante faz parte do que somos agora, nossos escritores são consultores de tendências, analistas de conteúdo e arquitetos de informação. Viramos fãs deles por causa disso. Claro que houve o ponto inicial da obra, mas rapidamente entendemos muito mais sobre eles – até porque logo buscamos isso e ficamos desapontados se não encontramos. Aprendemos em minutos muito mais sobre nosso autores favoritos do que nossos pais conseguiriam juntar em uma vida. Muitos artistas foram crucificados pos defendiam que não importa o suporte, o que importa é sua expressão. Hoje nós já sacamos isso e aceitamos de bom grado qualquer coisa que ele produzir. De uma forma bizarra estamos mais humanos.
Jansen: Essa é uma coisa curiosa de responder porque tem umas semanas, eu “falava” disso com o Lou: vamos ver o jornalismo morrer como conhecemos hoje? vamos topar com um futuro – e aí tirando toda a ironia das projeções da ficção científica hoje serem mais “piada” que efetivamente resultado – em que as revistas serão lidas num esquema iPad e não comprando na banca? Meu receio era que, assim como em áreas voltadas pra tecnologia, surgisse uma geração de guris que manjassem muito mais dessa comunicação, senão unicamente digital, principalmente digital e que o consumo se direcionasse muito a isso e quem soubesse só escrever, sem pensar em aplicativos, interatividade e outras viagens estaria fudido e mal pago. Lou retrocou sabiamente dizendo que pessoas que sabem escrever – guardando a modéstia um tiquinho só pra não perder o argumento – sempre serão necessárias. podemos não ser os profissionais que comandarão a (r)evolução desse futuro em que o jornalismo é feito de um jeito diferente que o da “nossa época”, mas certamente estaremos enchendo o saco e derrubando umas árvores pra publicar umas coisas. É como ouvir a gravação do Knitting Factory do Jeff Buckley falando em “internet providers”. 92. Internet providers. 2010. Um disco, um livro, uma revista. Faz sentido? Sim, não, sei lá. Tô com essa coisa matutando tem um tempo, esse lance do “sei lá”, nossa geração é dona de falar issso. “E aí, está preocupado?” “sei lá”. “Como vão as coisas, tudo bem em casa?” “sei lá, tá estranho”. Uma indefinição que permeia muitos dos caminhos que a gente percorre todos os dias. E aí, nesse sentido, acho que faz sentido sim. porque a gente constrói o sentido que quer. E pra o Epic Shit, o sentido é o de registro, de deixar uma “marca”. ainda que seja um site.
Ian: Também me pego pirando nessas, mas acho que pouca gente sacou isso. Quando os blogs surgiram, e até antes disso, se pegarmos os caras do Cardosonline, era a tecnologia te permitindo desenvolver os meios, não só de produção como de veiculação… Os meios clássicos do século passado ainda servem como validação, como a oficialização de muita coisa, mas há quem prescinda disso. Eu sinto falta de uma maior exploração da convergência desses meios, tipo neguinho que é músico desenvolver um trabalho, e ao invés dele lançá-lo como disco, fazer todo um site que possa se resolver melhor que qualquer encarte – num mundo em que encarte é praticamente inexistente. Sempre vi banda no final do século passado e no começo deste reclamando de espaço, mas agora que há espaço vejo pouca gente aproveitando-o adequadamente.
Renmero: Engraçado que meio que o trabalho de nós quatro na essência é ajudar pessoas a aproveitar esses espaços, não? tipo o que vamos fazer com os caras da Hierofante Púrpura, em que gravaremos um show instrumental deles na Praça do Por do Sol ainda esse mês e colocaremos no Epic Shit, que pareceu uma coisa tão óbvia tanto para a banda quanto para nós e que não tinha sido feito.

E como fugir da manjada idéia de coletivo? Ou é um coletivo?
Renmero:
Gah, odeio essa palavra. Mas é simples fugir desse estigma: é só não tentar muito, no sentido de trying too hard. Coletivos geralmente são caracterizados por discursos, manifestos e coisas do tipo. Não temos nada disso e nem pretendemos ter. Tanto que tu vês um jogando pro outro a responsabilidade de ter parido o site. Não é nossa intenção sermos reconhecidos como artistas nem levantar bandeira alguma. Estamos apenas fazendo algo que nos pareceu bom de fazer.
Jansen: Exatamente.
Ian: Endosso.
Louback: O insight de “não importa onde esteja o conteúdo, sempre será necessário quem o produza” é o Clovis Rossi. Ouvi uma entrevista dele, sobre os caminhos do jornalismo e perguntaram se ele temia que esse modelo terminasse. “Medo tem que ter as famílias Frias, Mesquita e Marinho. eles são os proprietários, eles precisam ter medo pelo modelo de negócio. Eu só escrevo. Se quiserem um texto meu em um site, eu vou escrever. se quiserem para um jornal, idem.” E também tenho viajado muito nisso, Matias. O mais bonito da sua pergunta não é a resposta, mas a própria pergunta. O mais legal é que se fizer sentido lançar só aquilo, massa. É possível. Se não fizer sentido uma banda apenas lançar um disco e fazer show e utilizar as ferramentas para uma experiência coletiva – admirável mundo novo? -, então massa, porque é possível! A graça que vejo é nisso: é possível. A produção e publicação de conteúdo, seja ele qual for, é possível a qualquer um, de qualquer jeito. E complementando Jansen, tenho conversado com alguns próximos e é um sentimento que tenho visto ser comum. De parecer que a maioria da galera está em um grande “sei lá” com relação à vida, com relação a tudo. Não sei se entra em Semiótica, Psicologia ou sei lá (HA!), mas é interessante ver como tanta gente percebe isso.

Isso eh necessariamente baseado em internet ou tem algum desdobramento offline? Exemplo: o que é mais importante pra vocês, produzir o show da banda ou registrá-lo? Ou é tudo a mesma coisa?
Renmero:
Tudo a mesma coisa. Parto do princípio de que algumas coisas devem ser feitas. Esse show é algo que eu faria mesmo que fosse somente pra uma pessoa assistir. Vivemos fazendo coisas assim, que só interessam a nós e nos sastifazem. Compartilhar com outras pessoas sempre é bom, mas não é obrigatório, até porque certas coisas nem tem como. Considero o Epic Shit algo mais offline do que online. Nossas reuniões não raro duram um dia inteiro e fazemos altas merdas durante. Depois concordamos o que cada um irá fazer e publicamos. Digamos que o site é só a ponta do iceberg. O resto são nossas vidas.
Louback: Produzir o show, assisti-lo ou gravar/escrever sobre ele é tudo importante. A experiência tem sido o mais importante. É tão importante passar a tarde falando sobre as coisas que nos emocionam quanto chegar lá e escrever ou registrar. O registro acaba sendo mais de compartilhar mesmo. Se isso for para o offline – revista, rádio, show, balada, banda, música, o que for -, verei como um movimento natural.
Ian: A tagline do projeto, “abrace o caos”, tem bastante a ver com isso. Tudo o que estiver acontecendo é o principal.

E o quanto isso nao tem de “evasao de privacidade”?
Jansen:
Não saquei.

Falar demais sobre a propria vida, como se isso interessasse a alguem 😛
Jansen:
É como o Renmero falou bem: já convivemos com isso há uma cara e acho que o que mais protege a gente dessa coisa de se expor – sem nem pensar no interesse de alguém por isso – é que sempre miramos pra fora, nos tomamos como exemplos porque somos caras, que têm vidas, que têm minas, que têm trampos e daí… Um exemplo: no dia da reunião que pariu o Epic Shit, comentei com os guris que andava preferindo o bourbon ao scotch. Emendei que essa predileção passava longe de ser um reflexo do consumo constante de um e de outro e daí a predileção, mas que hoje, se páro pra comprar uma garrafa de uísque, levo um JD ou JB e não um Label qualquer. Não é pela coisa, não virou carne de vaca, é algo que ainda choro quando vejo o preço no super, Mas é algo que é uma experiência minha, ligado a certas histórias e apegos e isso com aquilo vira evasão de privacidade e relato de preferências. deve interessar a alguém. hehe
Louback: Do cacete, né? Murro no estômago, que a todo instante somos confrontados… Seja twiter, facebook ou nossos blogs. Tive certo receio disso também, mas a ideia – o esforço, na verdade -, é um registro do que nos permeia. No fim, claro que o assunto somos nós, nosso mundo. Tanto que uma das pirações minhas é: o que é importante escrever? Produzir um show – e registrá-lo – do Hierofante na Praça do Por do Sol, é importante para uma classe média, consumidora de Cultura, blablabla. Existe algo que seja relevante a todos? Um assunto inerente ao Homem?
Renmero: Jamais esquecer a história da arte: “look. look at me.”
Ian: Na reunião que decidimos pelo site, chegamos ao momento de perguntar qual seria o nosso público alvo: alguém mandou um “o Arnaldo Branco” – que acabou ficando no FAQ -, mas também concluímos que o melhor era não decidir por um público, e sim escrever o que desse na telha e esperar pra ver que tipo de gente vai se juntando ao redor. faz parte da experiência, do abraçar o caos…

“Abrace o caos” eh eufemismo pra “let it be”, hein.
Ian:
Faz bastante sentido. Pensei em “It’s the End of the World…” do R.E.M., mas Beatles tá mais apropriado.
Louback: Mas ó, vejo o Let it Be mais uma coisa de “deixe estar”, de passar incólume às vicissitudes dessa vida. Acho que é um caminho bacana também, de tentar contornar o furacão e trilhar um caminho mais “pacífico”. Ainda assim não conformado, mas não entrando no caos. O “abrace o caos” imagino o maluco tentando atravessar o furacão, pelo meio… de “encarar o infinito”.
Renmero: Na realidade eu acho que encaro essa expressão de uma forma diferente dos outros caras. No meu raciocínio, abraçar o caos é nada mais do que fazer o que tem que ser feito. Arcar com consequências e meter a cara. Nada aqui é pra fazer sentido mesmo, abraçar a incoerência de tudo é uma forma de se manter são. Abraçar o caos é nunca virar fã de Travis e dizer “why does it always rain on me” e tal.

O fim de Lost por Ian Black

Lost acabou com um desfecho de dar orgulho à Zibia Gasparetto, mas atendeu às minhas expectativas ao mostrar que ainda era capaz de surpreender. Mas eu não quero entrar nas discussões divertidas e cansativas sobre as diversas interpretações da mitologia. Quero fazer uma breve previsão.

O que sobrou de Lost além do seu legado como fenômeno cultural – retrato de uma geração que tem o desafio de lidar com uma quantidade praticamente inesgotável de informação – são as tais perguntas sem respostas, que ainda podem render um bom caldo através dos GAMES: diversão e informação para o povo, dinheiro e empregos para criadores, roteiristas e desenvolvedores. E parabéns a todos os envolvidos.

Já viram Just Cause 2? Para quem não sabe é um game que tem como ambiente jogável uma micronação asiática. Sim, um PAÍS, com praias, florestas, montanhas geladas, vilas, centro urbano, aeroportos, bases militares, e até uma ilha misteriosa à noroeste que esconde uma ESCOTILHA – Uma homenagem a Lost, mas também um toque do que é possível.

Se no começo da década passada fomos apresentados às possibilidades de interação num mundo concebido por uma obra audiovisual (Enter The Matrix – Matrix Online) o que não seria possível fazer hoje, com a tecnologia disponível, um público mais maduro e uma mitologia com tantas narrativas a serem exploradas?

Lost já ensaiou coisas nesse sentido, como alguns ARGs e o game Lost: Via Domus, mas nada digno de uma comoção extra-nerd que marcou toda a sua existência. Minha aposta é que Lost siga esse caminho. A quantidade de teorias, montagens, bobagens, músicas, vídeos e podasts deixam e deixarão claro essa necessidade / oportunidade.

* Ian Black escreveu este texto pra cá.

Lost por Ian Black

O maior mérito de Lost foi potencializar transformações culturais possíveis através das internets. A maior delas é a NECESSIDADE de acompanhar a série em tempo-real, que fez com que as pessoas dessem um foda-se para a qualidade e se atirassem ao streaming em tempo real, mas PRINCIPALMENTE pela questão dos downloads, que fez nascer uma indústria informal responsável por colocar o episódio disponível com ótima qualidade, e até com LEGENDAS muitas vezes melhor que as que vemos na TV por assinatura. Aliás, os responsáveis OFICIAIS pelas séries no Brasil tiveram um gostinho de INDÚSTRIA DA MÚSICA, onde uma realidade se mostra tão escandalosamente irreversível.

Lost é o maior fenômeno envolvendo ficção nerd (ciência e / ou magia) depois de Star Wars, com a vantagem de ter a internet e a própria saga de George Lucas o imaginário popular ao seu favor. Ou você acha que existiria Sawyer sem Han Solo? Essa overdose de referências externas muito bem resolvida talvez seja o seu grande trunfo. E o mais foda é que essas referências não ficam só ali entre o cagalhão gente boa do Locke e o goiaba do Jack:

Um dos baratos do Jorge Lucas é conferir as criações derivadas da sua obra, e certamente para o Abrams (o novo Spielberg / Lucas), Lindelof e Cuse deve ser assim também, das bobagens geniais que pipocam a cada MINUTO no 4Chan até a banda Previously On Lost. O que de Star Wars ficou restrito a convenções e fanzines por quase 20 anos, Lost conseguiu ter desde o seu início e para todo mundo, em tempo real.

Por outro lado, outro excesso, o de mistérios (que NÃO terão respostas), pode ter sido uma escolha tão ruim quanto a dos Ewoks no episódio VI. Ainda acredito que Lost tenha pulado o tubarão lindamente quando o Ben girou a ilha. Imagino, e entendo, a empolgação dos responsáveis pela série diante da repercussão inédita em fóruns e blogs, e o quanto isso não influenciou nos caminhos que a série trilhou (caminho esse que, é bom lembrar, foi encurtado depois de um ultimato dos executivos da ABC para que a série tivesse só mais uns 45 episódios). De todo modo, e principalmente para quem tem menos de 40 anos, é indescritível a experiência de ser testemunha destes tempos de revolução cultural tão bem representados por Lost. E o mais foda é saber que é apenas o começo.

* Ian Black também mandou seu texto depois da minha convocação inicial.

Crescendo com Guerra nas Estrelas (1977-1985)

Olha que legal:





Esse set grupo do Flickr reúne um monte de outras fotos com a influência direta que a primeira trilogia de Guerra nas Estrelas exerceu sob a geração nascida nos anos 70. Quem me passou foi o Ian.