Horizontes abertos pelo violão

, por Alexandre Matias

Um exercício terapêutico para lidar com as tensões e paranoias da pandemia acabou transformando a fotógrafa Paula Cavalcante em musicista profissional – sem que ela planejasse isso. A baiana de Feira de Santana, que já havia tocado guitarra em bandas de rock, debruçou-se sobre o violão como se mergulhasse em si mesma e pariu, no final de 2021, o EP Entre Ruínas e Devaneios, um conjunto de paisagens sonoras, que ela lançou em primeira mão no Trabalho Sujo, usando o nome de Corpo Expandido. Quase um ano depois, ela retorna com seu primeiro álbum – mesmo que o conjunto de canções tenha apenas 20 minutos – e mais uma vez mostra o disco antes de seu lançamento por aqui (ouça abaixo). Em A Cor do Fim, que estará nas plataformas digitais nesta sexta-feira, ela segue o clima introspectivo e contemplativo do primeiro trabalho, mas pela primeira vez conta com outros músicos na formação, além de ter pensado no disco de forma a transpô-lo para o palco – e sua estreia acontece em São Paulo na semana que vem, dentro da programação do Centro da Terra (os ingressos já estão à venda neste link).

“No primeiro trabalho, eu não tinha expectativas concretas, porque eu não sabia o que ia acontecer quando fosse lançar o disco”, ela me explica numa troca de áudios pelo Whatsapp. “Já nesse segundo, já tinha alguns planos e comecei a levar mais a sério o projeto. Trabalhei com outros músicos e exercitei mais minha capacidade de arranjar músicas, de trabalhar com outros instrumentistas e tentar entender como os instrumentos funcionam, não apenas separadamente, mas também em conjunto.” Além de Paula, o disco ainda conta com as participações de Eduardo Luedy (craviola) e Peu Matiz (bateria e percussão). “Os discos são bem diferentes, no disco de agora o violão é afinado em uma mesma afinação, a partir da quarta faixa, eu mudo a afinação de apenas uma corda, diferente do EP, em que eu usei duas afinações completamente diferentes”, conclui.

Entre as influências, ela cita referências musicais como Kiko Dinucci, Quinteto Armorial, Alice Coltrane, Gabor Szabó e Ravi Shankar bem como visuais, como o clássico gravurista japonês Katsushika Hokusai e seu conterrâneo (e nosso contemporâneo) fotógrafo Hiroshi Sugimoto. Ela cria expectativa sobre o show da próxima terça: “Vai ser uma virada de chave, porque é a primeira vez que eu toco com esse projeto e é a primeira vez que eu toco num palco sozinha. Vai ser interessante observar como as pessoas reagem ao vivo às composições.”

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