Herdeiros de um recorte do rock dos anos 80
Mais improvável que um show dos Simple Minds em São Paulo em 2025 – que, apesar de uma divulgação mínima, lotou o Espaço Unimed – foi ver que a banda escocesa ainda faz bonito nos palcos. E por mais que apenas dois de seus integrantes fazem parte da formação original (o vocalista Jim Kerr e o guitarrista Charlie Burchill), a banda, quase toda formada por pessoas que entraram em 2017 (à exceção do baixista Ged Grimes, no grupo há quinze anos), segura bonito e faz valer a apresentação. Mas é claro que isso diz muito respeito à presença de seus dois fundadores, que além de estarem em ótima forma, carregam a essência da banda e sua dinâmica é própria de outras bandas contemporâneas de sua geração no Reino Unido. O Simple Minds faz parte de uma geração de grupos formada a partir da implosão do pós-punk e que, depois de anos de experimentação, descobriu a simplicidade da melodia e o poder da comunicação em massa como formas de atingir um público muito maior do que seus conterrâneos. E por mais que o público presente em sua maioria reconhecesse apenas seus dois hits (a saber, “Don’t You (Forget About Me)” e “Alive and Kicking”), foi levado pelo entrosamento do grupo liderado por seus dois fundadores, cuja trajetória musical é semelhante à percorrida por artistas como U2, Echo & The Bunnymen, Lloyd Cole and the Commotions, Orange Juice, ABC, Tears for Fears, Human League e Level 42, que começaram a carreira tateando seu futuro em discos que expandiam os limites do rock e da canção para voltar ao formato com melodias mais simples e grudentas que tornaram-se hits pelo planeta nos anos 80. É um recorte específico do rock dos anos 80 que os Simple Minds respondem como herdeiros perfeitos. No repertório, o grupo ignorou seus discos mais experimentais da virada dos 70 para os 80 para ir direto à fase mais pop (dos discos New Gold Dream e Sparkle in the Rain) e ao seu disco mais bem sucedido, Once Upon a Time (de 1985), dando brechas para algumas músicas dos anos 90 e outras poucas deste século. E como a banda sabia que seus dois hits eram o momento de catarse, deixou cada um deles, em versões extendidas, sempre convidando o público para cantar suas melodias irresistíveis das respectivas segundas partes, para as partes finais de sua apresentação, “Don’t You” um pouco antes da banda deixar o palco e “Alive and Kicking” uma antes do show acabar, que só aconteceu depois que eles voltaram com “Sanctify Yourself” de seu disco clássico de 85. A voz intacta e a presença de palco de Jim, além dos solos cheios de efeitos de Burchill ajudaram a deixar o clima da noite na medida para um público saudosista, com mais de 50 anos de idade. Foi massa.
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