Gambitos com sangue nos olhos

, por Alexandre Matias

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Meu compadre Fabio Bianchini lança “Notícias Tuas”, um esporro elétrico triste e raivoso cantado em português por sua banda bissexta Gambitos para sublinhar a tenebrosa importância do momento histórico que vivemos às vésperas desta dura eleição. Ele diz que está entrando “aos 49 do segundo tempo de uma partida que a gente tá perdendo e em que tá apanhando, mas a bola ainda não parou de rolar. Talvez seja atrasado. Na verdade, a vontade de escrever sobre o momento histórico já vinha de algum tempo; pelo menos desde o golpe de 2016 e seus desdobramentos. Mas sempre ficava algo entre uma explicação do que todos víamos e uma imagética ao mesmo tempo cafona e que não falava de verdade do que se queria falar. O fortalecimento do bolsonarismo, principalmente para quem mora em Santa Catarina, criou um viés diferente, e bem mais pessoal, que, portanto, faz mais sentido explorar. É a frustração de ver pessoas amadas endossando ideias truculentas de combate às mais básicas noções de liberdade pessoal, dignidade, respeito mútuo, civilização e humanidade. É inevitável sentir decepção, descaso, até desamor mesmo e, a partir daí, algum ressentimento ao perceber são negligenciados os avisos de que isso coloca ameaças sérias à nossa liberdade, nossa integridade física e até nossa existência.”

Palavras duras que precisam ser ouvidas. Abaixo, a letra da música, para ficar bem claro o recado:

Quero muito que estejam vivos, com saúde e lucidez pra lembrar
qual foi a atitude quando ele disse que o correto é me exterminar

Quando disseram que gay tem que tomar um couro
Que deviam ter matado mais
Quando rasgaram a placa da Marielle
Quando disseram pra acabar os ativismos

Quero que tu esteja lá
sabendo bem de que lado ficou
Mas se não eu vou lembrar o teu lugar nesse horror

Quando sabiam que espalhavam mentira, pouco ligando se é verdade ou não
Não se importando com as consequências
Pra poder pensar que até tem razão

Quando mediram quilombola em arroba
Diz que não estupra porque não merece
Quando negaram qualquer terra pros índios
Quando mataram Mestre Moa

Quero que tu esteja lá
sabendo bem de que lado ficou
Mas se não eu vou lembrar o teu lugar nesse horror

E muita gente vai sumir e morrer
Antes de ser a minha vez
Mas quando eu não estiver mais aqui
Quem vai lembrar vai ser vocês

O medo nos sufoca
O choro nos afoga
Não tenho mais o que perder

Meu pai nem pediu desculpas por me botar nessa catapulta
que nos lançou na escuridão

Eu tenho tanto pra dizer
Eu tenho medo de viver
Não tenho medo de morrer por nós

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