Daqui um mês é carnaval e esse ano a gente já tem uma ideia do nível de acabação que vai ser. Mas resolvi dar início aos trabalhos mominos de maneira recatada, ecoando o carnaval do centro de Florianópolis, capital do estado mais reacionário do país mas que resiste na marra à tragédia pesada que se abate em nossos tempos. Eis que surge o herói indie Fabio Bianchini, o eterno superbug, com seu projeto pessoal Gambitos mais uma vez celebrando esses quatro (cinco? seis?) dias de farra na singela e ingênua marchinha “Hercílio Luz”, que será lançada só no fim do mês mas que ele antecipa em primeira mão no Trabalho Sujo. Ouça abaixo:
Foto: Mariana Garcia
O indie-mor Fabio Bianchini, guitarrista do clássico Superbug, recepciona esse não-Carnaval com a marchinha twee “Carnaval de Novo”, que ele lança com seu nome solo Gambitos em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. “‘Carnaval de Novo’, na real, é uma música de carnaval que não sabe o que vai ser do carnaval, né?”, ele me explica por email. “A gente tá botando ela na rua, é sexta de manhã e ninguém sabe ainda o que vai ser do sábado aqui em Florianópolis, imagino que em mais um monte de lugar também esteja assim.” Ouça abaixo.
O Gambitos de Fabio Bianchini lembra a data do vexame da seleção brasileira de 2014 ao lançar o clipe de um single que traduz o espírito dos dias de hoje, “Uma Palavra em 7a1emão”, nesta quarta-feira, 8 de julho. “Não tem como dar tudo certo; tudo errado também não vai dar; tentar um média decente é a história de qualquer lugar”, ele sussurra sobre uma base indie-pop com guitarra praiana, lembrando que desde então “todo dia é um 7 a 1”.
O clipe ainda tem uma versão instrumental, pra você cantar com os amigos.
“Uma Palavra em 7a1emão” faz parte do EP Ilha de Pathos pt. 2 que ele lançou no final de abril pelo Midsummer Madness.
Meu compadre Fabio Bianchini lança “Notícias Tuas”, um esporro elétrico triste e raivoso cantado em português por sua banda bissexta Gambitos para sublinhar a tenebrosa importância do momento histórico que vivemos às vésperas desta dura eleição. Ele diz que está entrando “aos 49 do segundo tempo de uma partida que a gente tá perdendo e em que tá apanhando, mas a bola ainda não parou de rolar. Talvez seja atrasado. Na verdade, a vontade de escrever sobre o momento histórico já vinha de algum tempo; pelo menos desde o golpe de 2016 e seus desdobramentos. Mas sempre ficava algo entre uma explicação do que todos víamos e uma imagética ao mesmo tempo cafona e que não falava de verdade do que se queria falar. O fortalecimento do bolsonarismo, principalmente para quem mora em Santa Catarina, criou um viés diferente, e bem mais pessoal, que, portanto, faz mais sentido explorar. É a frustração de ver pessoas amadas endossando ideias truculentas de combate às mais básicas noções de liberdade pessoal, dignidade, respeito mútuo, civilização e humanidade. É inevitável sentir decepção, descaso, até desamor mesmo e, a partir daí, algum ressentimento ao perceber são negligenciados os avisos de que isso coloca ameaças sérias à nossa liberdade, nossa integridade física e até nossa existência.”
Palavras duras que precisam ser ouvidas. Abaixo, a letra da música, para ficar bem claro o recado:
Quero muito que estejam vivos, com saúde e lucidez pra lembrar
qual foi a atitude quando ele disse que o correto é me exterminarQuando disseram que gay tem que tomar um couro
Que deviam ter matado mais
Quando rasgaram a placa da Marielle
Quando disseram pra acabar os ativismosQuero que tu esteja lá
sabendo bem de que lado ficou
Mas se não eu vou lembrar o teu lugar nesse horrorQuando sabiam que espalhavam mentira, pouco ligando se é verdade ou não
Não se importando com as consequências
Pra poder pensar que até tem razãoQuando mediram quilombola em arroba
Diz que não estupra porque não merece
Quando negaram qualquer terra pros índios
Quando mataram Mestre MoaQuero que tu esteja lá
sabendo bem de que lado ficou
Mas se não eu vou lembrar o teu lugar nesse horrorE muita gente vai sumir e morrer
Antes de ser a minha vez
Mas quando eu não estiver mais aqui
Quem vai lembrar vai ser vocêsO medo nos sufoca
O choro nos afoga
Não tenho mais o que perderMeu pai nem pediu desculpas por me botar nessa catapulta
que nos lançou na escuridãoEu tenho tanto pra dizer
Eu tenho medo de viver
Não tenho medo de morrer por nós
O jornalista e herói indie Fabio Bianchini estava entretido com uma possível volta de sua mítica banda Superbug, mas resolveu voltar a lançar hinos através de seu alter ego Gambitos. “‘Pop Songs Your Tinder Match Is Too Stupid to Know About’ é a primeira música do terceiro EP dos Gambitos, Politics of Post Modernism Pool Party of One. Quer dizer, talvez vire um álbum, mas provavelmente não, deve ser EP mesmo. Os dois primeiros saíram, simultaneamente, em 2008, e antes disso teve uma faixa isolada, Mik and Honey”, ele me explica por email, antes de dizer que tudo pode ser encontrado em sua conta no Soundcloud. E é com essa faixa nova que ele recebe 2018:
“Como dá para notar, Gambitos é um negócio intermitente, se materializa bem de vez em quando”, explica, resumindo que a banda é basicamente ele e quem estiver a seu lado. “Nas atuais gravações, até o momento os Gambitos são também André Seben, ex-Superbug e talvez o mais clássico dos guitarristas de Florianópolis, Paula Ende, ex-vocalista das Borboletas Acrobáticas e o Menino Isoladinho e mais outras, Márcio Bicado, ex-Motel Overdose, ex-Verano, mais um monte de coisa, toca nuns lances da Camerata também, Cicero Bordignon, ex-Maltines, Casablanca, e Jean Gengagnel, Moebiius, ex-Mottorama. E dessa vez vai rolar também formação pra uns shows ao vivo, mas ainda não dá pra falar.”
…e a Lilian compilou um cassete com músicas brasileiras deste século para a Wild Animal Kingdom, um selo de fitas de Olympia, no estado de Washington, nos EUA. Olha o elenco:
Casino – “Samba Dada”
Verano – “La Fenetre”
Holger – “Brand New T-Shirt”
Superbug – “Summerly Yours”
Nancy – “Inbox Drama”
Supercordas – “e o Sol Brillhou Sobre o Verde”
Lulina – “Subtexto”
Bearhug – “A Storm, A Night Out”
Homiepie – “Snow Underwater”
Os Gambitos – “Dancefloor”
A capa é do Silvano, que também é o Bearhug.