Fronteiras ainda mais distantes

, por Alexandre Matias

NF-2015-

O velho compadre Chico Dub, mais um ex-OEsquema desgarrado no mundo, consolida firmemente o Novas Frequências como um dos principais festivais de música do Brasil – e não apenas de “música avançada”, como sugere seu tênue e subjetivo rótulo. O evento chega à quinta edição nadando contra a corrente – fazer um festival que música não-pop em pleno Rio de Janeiro – e misturando-se cada vez mais à mutante paisagem carioca, que vive uma década riquíssima como toda a música brasileira. E é apenas reflexo do trabalho do próprio Chico, que cada vez mais se firma como uma das sumidades brasileiras neste segmento. Conversei com ele sobre o evento, cuja quinta edição começa esta semana.

Mais uma edição do Novas Frequências: qual a expectativa para essa edição?
Bem alta! Conseguimos driblar a crise e criar uma programação com mais desdobramentos que a do ano passado. Inclusive, o número de artistas aumentou. Passou de 33 para 42. Em relação ao line-up, nomes como Mika Vainio, The Bug, Tyondai Braxton, Dawn of Midi, Phill Niblock e King Midas Sound são presença constante nos melhores festivais de música avançada do mundo.
Ao mesmo tempo, temos praticamente outro festival rolando dentro do Novas este ano. De 1 a 8 de dezembro, ou seja, durante toda a duração do Novas Frequências, vamos ocupar o galpão/atelier do Tunga com uma exposição de fotografias a cargo do Fabio Ghivelder que foram comissionadas para a criação da nossa identidade visual de 2015. Em paralelo, o Tunga estreia uma instalação sonora participativa chamada Delivered in Voices em que ao todo vai receber 14 artistas para uma série de intervenções.

Sei que isso é como pedir para um pai escolher um dos filhos, mas qual ou quais as atrações que você está mais feliz em trazer para essa edição?
É difícil escolher mesmo! Não vou falar dos nomes mais óbvios para poder destacar alguém como Phill Niblock, um artista ícone, incrivelmente importante, mas que pouca gente conhece aqui no Brasil. Lenda da vanguarda nova-iorquina, contemporâneo de toda aquela turma – Young, Glass, Reich, Riley -, amigo do povo do Fluxus, dos happenings… Ele compõe drones microtonais a partir do processamento de instrumentos acústicos. São blocos pesados de som que se movimentam em câmera – muito – lenta e que desafiam a noção de espaço-tempo. É cineasta também e faz filmes experimentais belíssimos como o Brazil 84, que inclusive iremos passar no festival.

Em termos de formato o que mudou no festival? Você se preocupa em inovar inclusive nisso?
Mantivemos a “massa base”, mas incrementamos o forrmato com diversos temperos e especiarias. Quero dizer que, como no ano passado, permanece o formato descentralizado – são ao todo 7 espaços da cidade, cada um recebendo um tipo diferente de programação. Em paralelo, também mantivemos a pegada de mostrar a música e o som no maior número de desdobramentos possíveis. O palco hoje não basta para a gente, sabe? Queremos, sim, o palco – vários!-, mas também o cinema, a galeria, a pista de dança, salas para discussões e oficinas, infra para conseguir realizar residências artísticas e desta forma realizar experiências inéditas e por aí vai. Quanto mais desdobramentos, maior a ampliação das escutas. As novidades portanto dizem respeito a novos espaços dentro do festival e também a novos desdobramentos: hacklab/cinema/exposição/instalação sonora. Pensar no formato é tão importante quanto pensar no line-up! Super importante inovar, inclusive. Experimental na curadoria; experimental no formato. Tem que ser assim. Só pode ser assim.

Nos últimos anos a cena de vanguarda do Rio de Janeiro está cada vez mais forte e produtiva. Como você observa esta cena como conterrâneo e idealizador do NF?
Na verdade, não é que eu observe a cena. Eu atuo nela. Eu vivo dela. Todo o meu trabalho está voltado para a vanguarda, o experimentalismo e as novas tendências. Então se a cena cresce, eu cresço, o Novas Frequências cresce…. Porque tudo faz parte do mesmo ecossistema, entende? As características podem até ser diferentes entre, por exemplo, NF, Quintavant e Wobble, mas tenho certeza que os objetivos são os mesmos. Precisamos aprender a trabalhar em rede.
De qualquer forma, só vamos crescer MESMO, no dia que conseguirmos mais espaço na mídia. Jornais impressos revistas mensais são fundamentais, claro. Mas precisamos criar nossos próprios veículos: mais estações de rádios, mais publicações, mais, mais, mais…

E no resto do Brasil, como anda a produção de música avançada no resto do país?
Muito bem, obrigado! Um reflexo disso está inclusive na programação do Novas Frequências, onde a cada ano cresce a participação de artistas brasileiros. Aliás, nunca tivemos tantos como em 2015: é a primeira vez que o número de brasileiros é superior ao de estrangeiros. Eu criei a série de coletâneas online e gratuitas Hy Brazil em 2013 para dar uma mapeada nessa cena. Já foram lançados 9 volumes – 126 faixas de 126 produtores diferentes – e quando uma publicação do porte da britânica The Wire me pede para compilar um “Especial Brasil” para uma de suas edições mensais – a de novembro de 2015 -, é sinal de que também há interesse internacional naquilo que estamos fazendo.

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