Françoise Hardy (1944-2024)

, por Alexandre Matias

Com um post no Instagram em que dizia “mamãe se foi”, Thomas Dutronc anunciou ao mundo a morte de sua mãe, a grande dama da canção francesa Françoise Hardy, que há 20 anos era vítima de um câncer no sistema linfático, embora a causa de sua morte não tenha sido revelada. Nascida na Paris ocupada pelos nazistas durante um bombardeio, Françoise teve uma infância miserável e só aos 16 anos de idade teve contato com a música, quando aprendeu a tocar violão. Dois anos depois gravaria o primeiro disco, Tous les Garçons et Les Filles, cuja faixa-título foi um dos maiores sucessos da indústria fonográfica de seu país. Com uma música composta por ela mesma – algo raro naquele mercado naquela época – a jovem cantora conectou a juventude francesa com a música pop que começava a dominar o planeta, ao iniciar um movimento que seria conhecido como yé-yé, parente distante do iê-iê-iê da Jovem Guarda brasileira. Jovem musa durante os anos 60, foi cortejada pelos Rolling Stones, por Bob Dylan (que dedicou-lhe um poema na contracapa de seu segundo disco) e David Bowie, era uma das modelos preferidas de Yves Saint Laurent e atuou em filmes de Jean-Luc Godard, Roger Vadim, John Frankenheimer e Claude Lelouch, mas à medida em que tornava-se mais popular, tornava-se mais introspectiva, tanto pessoalmente quanto em termos musicais. Passou a gravar canções de Serge Gainsbourg e Leonard Cohen e ganhou uma aura madura que consagrou sua importância na história da música pop, tornando-se uma espécie de encarnação da canção francesa mais do que qualquer outro intérprete contemporâneo. E não custa reforçar a importância da música brasileira para sua música: depois de ter gravado “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, como “A quoi ça sert”, ela dividiu seu melhor disco, o soberbo, sexy e delicado La Question, de 1971, com a violonista Tuca – foi seu único disco em que ela envolveu-se com a produção musical, uma vez que Tuca compôs quase todas as músicas, que foram arranjadas a partir de sugestões de Hardy, ao contrário de seus outros discos, em que ela apenas gravava a voz após toda a parte musical ter sido feita (além de ter uma versão para uma música de Taiguara (!) – e “A transa” virou “Rêve” em francês). Em seus últimos anos parou de cantar devido ao câncer que enfrentava e tornou-se uma das principais vozes na França a advogar a favor da eutanásia, uma causa que ajudou a tirar do tabu para tornar-se uma pauta política. Sua voz e suas canções ajudam a manter seu nome vivo entre nós. Merci, madam.

Tags: ,