Duas bandas em dois momentos diferentes

Noite quente nessa sexta-feira no Picles, mesmo com a temperatura exterior caindo, quando reuni duas bandas que adoro e que já haviam passado pelo Inferninho Trabalho Sujo em momentos diferentes: Monstro Bom e Fernê. A primeira havia tocado no início deste ano (em uma ótima noite ao lado da Schlop), quando mal tinham músicas gravadas na internet. Seis meses depois, o quarteto liderado por Gabrielli Motta volta ao palquinho da Cardeal Arcoverde lançando seu primeiro EP, batizado de Verde-Limão. E é tão bom ver como uma banda envolui em pouco tempo ao dedicar-se ao que deve fazer: gravar músicas e fazer shows. A dinâmica entre as guitarras de Gabi e do guitarrista principal, Felipe Aranha, está cada vez mais afiada, ambos seguros pela cozinha precisa formada pelo baixo de Igor Beares e a bateria de Ian Ferreira. Com público em formação, Gabi não teve dificuldade em fazer as pessoas cantarem suas músicas que são ao mesmo tempo ácidas e cotidianas, equilibrando-se entre melodia e eletricidade, cantadas quase sempre com um sorriso no rosto.

Depois da Monstro Bom, a Fernê subiu no palco do Inferninho Trabalho Sujo em outro momento de sua carreira. Apesar de jovem, a banda já é veterana e habituou-se a fazer raros shows (o mais recente foi há quase um ano, quando os chamei para dividir a noite com o Madrugada), mas dessa vez o quinteto paulistano trouxe novidades, tirando músicas paradas de gavetas do passado (a do farol é excelente!). além da vocalista Manu Julian finalmente estar tocando teclado na banda – um sonho desde que ela tinha 16 anos de idade, como confessou no palco. Mas a essência do grupo segue intacta, a troca de olhares e notas entre os guitarristas Max Huszar e Chico Bernardes e o baixista Tom Caffé caminham entre o Radiohead e o Sonic Youth enquanto a batera esparsa e firme de Theo Cecdato segura tudo para Manu exorcisar em cantos, gritos, sussurros e gargalhadas, abrindo espaço para duas versões: “Hunter”, da Björk, que o grupo já tocava ao vivo e uma versão para “Better than Before”, do Jonathan Richman feita pelo Theo (que tocou violino!) e por sua companheira Maria Carvalhosa, batizando-a de “Mais que Melhor”. Queremos mais! E depois foi só terminar a noite discotecando com a Bamboloki, passando por Television, Gang of Four e Doors e encerrando tudo com a afetiva “Right” do David Bowie, pra deixar a noite daquele jeito…

Assista abaixo:  

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Monstro Bom e Fernê

Na próxima sexta-feira, reúno duas bandas reincidentes no Inferninho Trabalho Sujo, desta vez no Picles, para aquecer o coração indie de qualquer um. Começamos a noite com o quarteto Monstro Bom lançando seu EP Verde-Limão pela primeira vez ao vivo, seguido de mais um dos shows anuais da Fernê, a banda indie favorita de seu artista indie favorito. A noite ainda conta com a Lina Andreosi discotecando entre os shows e comigo e a minha sidekick do mundo invertido Bamboloki incendiando a pista com aquelas músicas tortas que só a gente consegue fazer o povo dançar! O Picles fica no número 1838 da Cardeal Arcoverde e abre a partir das oito da noite… Vamos?

A expansão do Inferninho Trabalho Sujo

A novidade do segundo ano do Inferninho Trabalho Sujo é que a festa vai para além do Picles. Dedicada a apresentar novas bandas às que já existem, criei a festa há um ano transformando as sextas-feiras do Picles numa incubadora de talentos que mistura tanto artistas iniciantes quanto outros já estabelecidos para aproveitar o calor da cena musical brasileira pós pandemia. Em seu primeiro ano, a festa já já contou com artistas novíssimos como Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, Pelados, Varanda, Os Fadas, Monch Monch, Madre, Tangolo Mangos, Desi e Dino, Janine, Mundo Vídeo, Boca de Leoa, Odradek, Fernê, Madrugada, Cianoceronte, Schlop, Monstro Bom, Manu Julian, Celacanto, André Medeiros Lanches, Ondas de Calor, Skipp is Dead, Lauiz, Fernanda Ouro, Grisa e Tiny Bear e nomes já consagrados da cena independente brasileira como Ava Rocha, Yma, Grand Bazaar, Test, Patife Band, Di Melo, Rafael Castro, Tagore, Lulina, Garotas Suecas, Filarmônica da Pasárgada, Xepa Sounds de Thiago França, Luna França, Laurie Briard, entre outros. E a partir deste mês começo a explorar novas casas de shows, novos formatos e horários para espalhar a palavra do Inferninho por aí. A primeira delas acontece neste sábado, dia 17, no Porta, quando recebemos a banda Celacanto. No dia 23, uma sexta, seguimos no Picles trazendo o tradicional show anual da Fernê ao lado da banda Monstro Bom, que está lançando seu disco de estreia. Na sexta seguinte, dia 30, vamos pro Cineclube Cortina, quando teremos o lançamento do segundo disco da banda catarinense Exclusive os Cabides, Coisas Estranhas, com abertura da banda paulistana Os Fonsecas (ingressos à venda por aqui). E na outra quinta-feira, dia 5 de setembro, fazemos uma versão ainda maior na Casa Rockambole, trazendo os trabalhos das cantoras Luiza Villa, Marina Nemésio, Tori e Júlia Guedes, a banda Tangolo Mangos e o grande Sessa (ingressos à venda neste link). Em todas as apresentações estarei sempre bem acompanhado na discotecagem com as queridas Francesca Ribeiro, Lina Andreosi, Pérola Mathias e Bamboloki, que me ajudam a deixar essa nova fase ainda mais quente. Vamos?

Vida Fodona #819: Considerando essa fase de expansão do Inferninho Trabalho Sujo

Vamos ouvir umas bandas brasileiras novas?

Ouça abaixo:  

Bruxaria noise

Mais um Inferninho Trabalho Sujo que deixou o Picles intenso, dessa vez com jorros de energia elétrica capturados por duas bandas que mal têm registros fonográficos e puxadas por vocalistas endiabradas. A noite começou com a força do Fernê, grupo que conta com dois Pelados (o baterista Theo Cecato e a vocalista Manu Julian) e um Chico Bernardes em sua formação, cada um deles mostrando facetas musicais bem diferentes das que são mais conhecidas. A banda é completa com a guitarra noise de Max Huszar e o baixo de Tom Caffé, passeou por músicas próprias e versões personalíssimas para “Terra” (Caetano Veloso) e “Hunter” (Björk) e é impressionante como Manu torna-se outra vocalista com essa formação, completamente entregue ao palco e deixando sua voz voar solta. Logo depois foi a vez do quinteto Madrugada solapar o público com sua parede de krautrock improvisado, com os irmãos Dardenne (Yann na bateria e Otto no baixo), puxando bases hipnóticas e pesadas desta vez acompanhadas de um novo integrante, o percussionista Thalin, que também toca na Dupla 02, nos Fonsecas e no Eiras e Beiras, e deu um tempero especial ao molho dos irmãos. À frente, dois dos donos do Porta (o guitarrista Raphael Carapia e a tecladista e vocalista Paula Rebellato) soltam os cachorros do barulho em cima do público, Paula especialmente catártica, conduzindo a pequena massa com seus gritos dilacerantes, efeitos sonoros entre o terror e o pesadelo e o carisma enfeitiçado de sempre. Depois desse choque de som, eu e Fran seguimos à noite quase sem fôlego, mas lá pelas duas da manhã a pista estava pegando fogo! E a próxima edição é na sexta que vem, hein!

Assista aqui:  

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Fernê e Madrugada

Sentindo falta do Inferninho Trabalho Sujo, né? Pois não dá pra terminar esse intenso setembro sem aquecer corações e mentes mais uma vez lá no Picles, reunindo outras duas bandas que, quem conhece sabe: a primeira delas é o Fernê, que reúne Chico Bernardes, Manu Julian e Theo Cecato em uma avalanche de noise e doçura, enquanto a segunda, Madrugada, reúne os irmãos Dardenne, capos do Seloki, à Paula Rebelatto do Porta, em um transe kraut da pesada. E como de praxe, depois dessas duas surras de som alto é a vez de queimar a pista até se acabar de felicidade comigo e a Fran misturando R&B, pop brasileiro, música eletrônica, indie rock, K-pop e o que mais der na nossa telha! Lembrando que quem chegar antes das 21h não paga para entrar e que o Picles fica no número 1838 da Cardeal Arcoverde, no coração de Pinheiros. Vamos que vai ser épico!

Vida Fodona #781: Essa é que é a graça da vida

Vem que não tem erro.

Ouça aqui.  

Vida Fodona #669: Culpe o frio

vf669

Um pouco mais introspectivo…

Stephen Malkmus – “Love the Door”
Def – “Paraquedas (Boddah)”
Clash – “One More Time”
Tatá Aeroplano – “Deixa Voar”
Kamasi Washington – “Truth”
Bruno Schiavo – “Lambada”
Tommy James & The Shondells – “Crimson & Clover”
Fernê – “Consolação”
Deerhunter – “Heatherwood”
Nomade Orquestra + Juçara Marçal – “Poeta Penso”
Clairo + Danielle Haim – “Bags”
Boogarins – “João 3 Filhos”
Unknown Mortal Orchestra – “Secret Xtians”
Laura Lavieri – “Desastre Solar”/”Radical”
Ariana Grande – “Thank U, Next”

Um gole de Fernê

Foto: Julia Maurano

Foto: Julia Maurano

O nome da banda originalmente era Folk Project e reunia amigos de diferentes escolas da Zona Oeste de São Paulo que se reuniram, como o nome entrega, para tocar folk. “Mas o projeto foi tomando outras formas na medida em que nossas personalidades ultrapassaram as referências, assim, o som foi ficando menos acústico, mais intenso e catártico”, me explica a vocalista do Fernê, Manuela Julian, em entrevista por email. Aos poucos as guitarras foram entrando nas composições, rugindo microfonias que deixavam a vocalista mais à vontade para soltar-se e liberar a banda para entrar num estágio entre o indie e o noise, mas sem nunca deixar a melodia e a melancolia sair do primeiro plano. O quinteto agora prepara-se para lançar o primeiro EP e antecipa o primeiro single, “Consolação”, em primeira mão para o Trabalho Sujo.

Além de Manu, que também canta na banda Pelados, o Fernê ainda conta com outros nomes em ascensão da cena paulistana em sua formação, como o cantor e compositor Chico Bernardes, irmão do Tim d’O Terno, que deixa o violão de lado para assumir a guitarra e vocais, e o baterista Theo Cecato, que toca com a Sophia Chablau e Laura Lavieri. Completam a formação o baixista Tom Caffe e o guitarrista Max Huszar, sendo que este último entrou após a gravação do EP, que aconteceu no ano passado. “Gravamos o EP no Estúdio Canoa, com o querido Thales Castanheira como produtor e técnico”, lembra a vocalista, “foram tardes muito gostosas onde gravamos todo o som ao vivo, direto na fita cassete. Muita música, papo e baião de dois.”

Entre as referências musicais, citam desde bandas contemporâneas como Fleet Foxes, Beach House e Grizzly Bear quanto clássicos como Nick Drake, Tortoise, Neil Young e claro, Clube da Esquina e Mutantes. “Caetano Veloso e Björk são exemplos de artistas que unanimemente ocupam um lugar especial para todos nós, chegamos a fazer covers deles por isso”, explica Manu, mencionando “Terra” e “Hunter” como versões escolhidas.

O disco, que leva apenas o nome da banda, será lançado no início de setembro, pelo selo Seloki, e devido à quarentena, o grupo obviamente não fará shows. “Já que estamos entocados e separados, infelizmente não temos previsão para um show: estamos esperando um momento mais apropriado pra nosso reencontro”, continua a vocalista, que promete que uma audição em primeira mão do EP através da conta da banda no Instagram (@ferne.insta).

“Olha, passar pelo processo de lançamento sem poder tocar ao vivo é uma tristeza, porém, estamos aproveitando esse momento para elaborar nossa linguagem visual e ideias para o projeto de maneira profunda, o que achamos que querendo ou não é um processo importante”, continua a vocalista, reforçando que eram essencialmente uma banda de shows, “estamos morrendo de saudade do palco…”.