Fernanda Azevedo (1976-2024)

, por Alexandre Matias

Arrasado com a notícia da passagem da Fer. Fernanda não era só a madre superiora da produção independente brasileira, ensinando gerações e gerações sobre a necessidade de manter-se em atividade, fazendo acontecer não importe o que custasse – era também uma das melhores pessoas do mundo. Conheci naquele fim de século quando a internet era um faroeste para os desbravadores da cena indie brasileira e ela apresentava-se como terceira integrante do choque de realidade que foi a Motor Music. A produtora mineira, idealizada pelo realizador Marcos Boffa e pelo zineiro Jefferson Kaspar, encontrou na Fernanda o motor de seu título – e ela, produtora à moda antiga, que ia aprendendo enquanto fazia, espalhava a palavra daquela nova realidade musical aos quatro ventos do Brasil. “Fernanda da Motor” foi responsável por consolidar a cena indie de Belo Horizonte na virada do século ao mesmo tempo em que participou das primeiras turnês de artistas independentes para o Brasil numa época em que ninguém acreditava nisso – e começamos a nos encontrar nos shows do Superchunk, Man or Astroman?, Stereolab, Yo La Tengo, Tortoise e tantos outros que a produtora mineira trouxe ao Brasil pela primeira vez. Depois que a Motor acabou ela não parou de produzir, fossem eventos, shows ou festas que ela idealizava ou que a chamavam para trabalhar – e gerações seguintes, tanto em Minas quanto no resto do país, reconheciam sua importância e a tinha como referência. Mineiramente, como de hábito, ela nunca puxou a sardinha pra própria brasa, preferindo o estilo baixo perfil que deixava pra lá quando nos encontrávamos pessoalmente – sempre disposta a ir até o final, aprontando todas, juntando todo mundo e se esbaldando, mesmo quando estava trabalhando. Perdi a conta de quantas vezes ela me chamou pra BH seja pra discotecar, cobrir eventos ou participar de debates e toda vez que caía na capital mineira sempre dava um jeito de encontrá-la – ver a Fer era mais importante do que visitar o mercado central. A mera lembrança de seu indefectível largo sorriso sempre me causou suspiros e, agora, lágrimas – e fica pra nossa história etérea a lendária entrevista que faria com ela quando fosse escrever o livro da Motor, que ela tentou emplacar em alguns editais. Dávamos largas risadas ao imaginar quantos dias duraria essa entrevista e o que poderia ser publicado de tudo que ela contasse, lembranças que, agora, ficam conosco, como o legado de manter tudo funcionando não importa o que acontecesse. Falei com ela na segunda agora, combinando de vermos o Pavement juntos. Que mundo injusto. Saudades, mulher, você já faz falta…

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