Pipo Pegoraro está mudando de ares. Depois de seu terceiro disco solo, Mergulhar Mergulhei, o guitarrista saiu do grupo Aláfia e começou a enveredar mais a sério pela música instrumental: “Acredito que minha música sempre dialogou com a música instrumental, pois sempre procurei conceber os arranjos das bases – falando de canção – de um modo a contemplar as ligas sonoras que podem agregar desdobramentos para sopros, cordas, sessões ritmas, polifonias, etc.”, ele me explica, antecipando o segundo álbum, sem voz, que já tem data de lançamento marcada para o primeiro dia do ano que vem. Antropocósmico foi produzido por ele mesmo ao lado de uma banda composta por Beto Montag no vibrafone, Daniel Pinheiro na bateria, Ricardo Braga nas percussões e Vitor Fão no trombone, além do próprio Pipo na guitarra. “Minha vida mudou bastante desde o meu último álbum e acho que isso faz parte de como penso, faço e escuto música hoje”, explica, citando, como referências musicais os próprios discos que produziu, como os de Xênia França, Filipe Catto e do próprio Aláfia, “eles me ‘acordam’ para vários fluxos musicais e me orientam para a minha própria sonoridade. Sou muito mais ligado em sintetizadores e agregados do que antigamente”, conta – embora sejam perceptíveis influências de jazz funk, hip hop instrumental, trip hop e até chillwave. Ele antecipa o single “Montanha”, penúltima faixa do novo disco, que será lançada nesta sexta-feira nas plataformas digitas, em primeira mão para o Trabalho Sujo.
O jovem Baco Exu do Blues está prestes a encerrar sua trilogia de entidades depois de gravar um disco em duas semanas na Toca do Bandido. Inspirado no deus do vinho que batiza seu primeiro prenome, o disco ainda sem nome conta com participações de Duda Beat, BK, Kiko Dinucci, Ney Matogrosso e Hamilton de Holanda, além de ter uma faixa de dez minutos chamada “Exu is King” em que ele ameaça “matar o seu Messias”, em seu disco mais político. Conversei com ele num papo para a revista Trip – confere aí.
“Se o prosseguimento se dar de fato, colaborar com composições seria uma consequência natural”, me contou Gilberto Gil em entrevista que foi publicada nesta sexta-feira noo UOL sobre o show que o mestre fez com o grupo BaianaSystem neste domingo, que chama de “forma evidente de resistência”. “A grande surpresa do encontro, pra mim, pelo menos, quando eu vi o jeito que os meninos faziam as reprogramações das minhas músicas pro estilo deles, dava uma sensação mais de reencontro do que de primeiro encontro, um reencontro com novos discípulos” – leia a íntegra desta conversa lá no UOL.
O guitarrista sergipano Allen Alencar, que já tocou com Criolo, Curumin, Fafá de Belém, Russo Passapusso, Karina Buhr, Guizado, Junio Barreto e Andreia Dias começa a mostrar seu primeiro disco solo, Esse Não é um Bom Verão pra Nós (capa acima), que será lançado na semana que vem em primeira mão no Trabalho Sujo, ao mostrar o clipe de “Kabul”, música que conta comas participações de Richard Ribeiro, Julia Valiengo e Zé Ruivo, este último coprodutor do disco.
https://www.youtube.com/watch?v=hF9WcBXzbcw
“Kabul é umas das músicas que gosto muito desse disco. Foi uma das primeiras que fiz nessa leva de canções que deram forma a ele. Acho que ela de algum modo capta o espírito fundacional do disco, sintetiza algo que eu queria transmitir nesse trabalho. Fui compondo com a Bruna (Barros), enquanto brincávamos com um mapa enorme do continente asiático que temos em casa, fomos construindo sensações de como seria estar em cada uma dessas cidades da música. Ela tem uma atmosfera onírica, como se fosse uma viagem em sonho por cidades reais imaginárias. A Julia Valiengo cantou lindamente comigo e selou essa atmosfera de viagem onírica”, ele me conta.
Fotógrafa, artista plástica e tatuadora, a gaúcha Paola Alfamor dá início à sua carreira musical com a benção de ninguém menos que seu Mateus Aleluia, o mestre tincoã. “A primeira vez que o encontrei foi em 2016, eu morava no Rio e ele fez um show em Niterói”, lembra a cantora. “Consegui encontrar ele no final do show, dar uma abraço, falar da admiração que sinto por ele e dei um livro que eu faço, que chamo de livro-portal, um livro sem palavras, só com imagens. Três anos depois, ele fez um show no Sesc Pompeia e quando vi que ele vinha, eu falei com o filho dele e pedi pra fazer fotos do show. Reencontrei com e ele lembrou de mim e falou que meu livrinho tava no altar dele. Morri. Fiquei sem palavras. Foi a partir dali que deu nossa grande conexão.”
Mas a conexão não ficou por aí. “Desde aquele dia, a gente tá sempre em contato. Aí nesse ano ele veio pra São Paulo e estava gravando no estúdio do Zé Nigro, na Cantareira, quando ele me perguntou se eu cantava”, ela lembra e explica que travou e só conseguiu cantar para ele em outra ocasião, em Salvador. Incentivada pelo parceiro Saulo Duarte, ela mostrou seu punhado de canções e conseguiu até que o próprio Mateus cantasse no primeiro single, “Paô”, composto ao lado de Saulo, que ela lança em primeira mão no Trabalho Sujo.
A música ainda conta com a participação do mestre percussionista Gabi Guedes, que hoje toca na Orquestra Rumpilezz de Letieres Leite, e foi escolhida como primeiro single do disco chamado Onça, que sai só em março do ano que vem, pelo próprio Mateus. “Até hoje não consigo acreditar direito que sou amiga do seu Matheus Aleluia”, ela ri, sem acreditar.
“Alumiô” reúne Bixiga 70 e Luiza Lian, duas forças complementares da música paulistana nesta década, em um mesmo single e um mesmo show no início do mês que vem – antecipei este encontro em mais uma matéria para a revista Trip.
Equilíbrio de Forças
Luiza Lian e Bixiga 70 lançam trabalho juntos no início de dezembro, com direito a single e show
A admiração mútua já existia, mas uma colaboração entre a big band Bixiga 70 e a cantora e compositora Luiza Lian parecia improvável. Até que a convivência pelos bastidores da música fizeram que eles se encontrassem pessoalmente e decidissem experimentar algo juntos – o resultado é a canção “Alumiô”, primeira parceria entre os dois artistas que será lançada como single no início de dezembro, acompanhado de um show conjunto no Cine Joia, em São Paulo, no dia 8 do próximo mês.
“Alumiô” flagra o cruzamento de dois dos principais nomes da cena musical paulistana desta década, que pareciam trilhar caminhos paralelos e distintos. De um lado, uma orquestra instrumental que impulsiona uma festa interminável ao colidir música brasileira, ritmos sulamericanos e caribenhos, funk, reggae e afrobeat; do outro, a estranha delicadeza de uma cantora desconstruída digitalmente, que funde o cancioneiro da umbanda à música eletrônica em espetáculos intensos, cheios de dramaticidade e misticismo. Ambos, no entanto, encontram-se em momentos semelhantes de suas carreiras, ao começarem a pensar nos próximos discos – e é exatamente aí que surge esta colaboração.
Apesar de os dois lados já se conhecerem tanto artística quanto pessoalmente, a conexão foi sugerida por um dos músicos do Bixiga 70, o saxofonista Oscar “Cuca” Ferreira, que também toca nos grupos instrumentais Atønito e Música de Selvagem – este último autor de um disco que contou com vocalistas convidados, todos do mesmo selo, o Risco: Tim Bernardes (d’O Terno), Pedro Pastoriz (vocalista do Mustache e os Apaches), Sessa e a própria Luiza. “Eu fiquei muito fã, muito impressionado com ela. Luiza é uma coisa fora da curva, aquele jeitinho pequeno e delicado que entra em erupção artística absoluta no palco”, lembra Cuca, maravilhado desde o primeiro encontro. “Comecei a ir nos shows, a pirar no que ela faz com o Charles [Tixier, produtor de Luiza].”
“Quem me falou primeiro dela foi o Maurício Pereira, quando estávamos fazendo um trampo juntos. Ele falou da galera d’O Terno, do selo Risco e dela. A partir daí ,a gente começou a ficar de orelha em pé pro que ela tava produzindo”, lembra o baixista Marcelo Dworecki. “Aí ela gravou o disco Oyá: Tempo e a gente caiu pra trás com as composições.”
“Nós, do Bixiga, por outro lado, estamos num momento em de buscar novos caminhos criativos e eu pensei nessa parceria. Quando levei pra banda, todo mundo ou já curtia muito o trabalho dela, ou, os que não conheciam, começaram a ouvir e piraram”, segue Cuca. Dworecki impressiona-se com a velocidade do projeto, que começou a se materializar em agosto, quando os dois artistas tocaram no festival goiano Bananada. “O Cuca começou a trabalhar com a galera do Risco e sugeriu uma parceria. E tudo se desenrolou rapidinho. Ele falou com ela numa semana, na outra ela já colou no ensaio e a gente trocou ideia, na outra já tava gravando, depois o Charles fez outra versão em cima da que a gente gravou.”
Luiza lembra como rolou a aproximação: “O Cuca veio me contar que os meninos do Bixiga tavam pirando muito no Azul Moderno e queriam experimentar coisas novas, fazendo algo comigo. E eu falei que, mais legal do que eu fazer uma participação numa música deles simplesmente, seria criar algo que integrasse as duas linguagens. Aí veio a ideia do compacto e resolvemos lançar assim, em duas versões.” O single também terá duas capas, uma assinada pelo ilustrador MZK, que faz todas as capas do Bixiga 70, e outra feita por Maria Cau Levy, designer autora dos projetos gráficos dos discos Oyá: Tempo e Azul Moderno.
“Alumiô” flagra exatamente a transição artística dos dois e a curva que ambos aos poucos traçam para seus próximos trabalhos – o Bixiga baixa a bola enquanto Luiza explora uma sonoridade mais solar e orgânica, fazendo ambos habitarem o mesmo ambiente musical sem parecer que estão invadindo o território um do outro. O imaginário fluido e o sincretismo religioso da letra de Luiza reforçam essa naturalidade. É uma aproximação nas duas versões – tanto na intensidade discreta da versão do Bixiga, quanto na delicadeza cirúrgica da versão de Luiza.
“A gente ficou feliz demais, porque ela traz um outro elemento”, comenta o baixista. “O show dela é super sutil, suave, etéreo, mas ao mesmo tempo forte e intenso, as letras bem porrada, e levam a galera ao delírio. A gente pirou nesse contraponto com o nosso trabalho. Nosso show é todo pra fora, gritando, no bom sentido. Complementou muito, foi uma junção muito legal. Não sei se virão outras coisas, mas estamos felizes da vida, porque ela já era nossa idolinha, era uma referência que a gente já tinha e comentava.”
Do lado dela, também são só elogios. “Trabalhar com o Bixiga é um sonho, quando eu comecei, eles já estavam enchendo as casas, eles têm uma história muito forte para a cena paulistana como todo”, lembra Luiza. “Fiquei muito feliz em fazer isso com eles, e num momento em que estou experimentando coisas pro meu próximo disco também. Foi um processo bem massa, que achei que ia ser tão difícil com uma banda tão grande, mas eles foram muito generosos.”
E da mesma forma que a participação não é um mero feat, o show do início de dezembro deverá ser mais orgânico. “A gente não quer fazer só uma intersecção com a música no final, a gente quer que pelo menos um terço do show seja com todo mundo junto. Queremos levantar mais músicas dela e fazer ela colar em algumas das nossas, pra não ser uma coisa miguelada de fazer uma música só. Se der certo, a gente deve tocar umas quatro, cinco, seis vezes com ela, com o Bixiga entrando aos poucos: primeiro só os sopros, depois só a percussão e, quando vê, tá todo mundo no palco. Mas não batemos esse martelo ainda.” Os dois assumem a intenção de repetir o encontro no Rio de Janeiro no início de 2020, mas, infelizmente, ainda não há nada confirmado.
O baterista do grupo Do Amor Marcelo Callado lança o clipe de “Meu Sol”, o terceiro de seu disco solo mais recente, Caduco, em primeira mão no Trabalho Sujo. “Inicialmente, a letra era um poema para a mulher que amo, e tinha feito a harmonia e melodia para a introdução e para parte cantada, mas achava que faltava algo”, lembra o compositor carioca. “Mostrando pro Ricardo numa troca de emails, ele logo fez o final instrumental da canção, que dá todo um tom emocionante, grandioso e solar ao lance.”
Isso foi o ponto de partida pra ideia central do clipe, dirigido por Claudio Tammela, que deu a ideia de filmá-lo no Parque Shangai, na Penha, um dos últimos parques de diversão do Rio de Janeiro. “Fizemos a filmagem em uma tarde chuvosa de domingo, onde todo o brilho, ficava por conta da máscara de sol, feita pelo artista Vidi Descaves, e vestida pela querida amiga Priscilla Walter”, lembra Marcelo.
“Esse disco é um retrato atual da minha vida, consequentemente a situação do Brasil permeia algumas canções, de forma um pouco mais sutil que o primeiro single, mas tem uma indignação, um desconforto pessoal e coletivo”, me explica o cantor e compositor paulistano Pélico, que lança o clipe de sua “Descaradamente”, dirigido por Bruno Galan e que conta com a participação de Negro Léo nos vocais, em primeira mão no Trabalho Sujo. A primeira canção poderia dar uma ideia de um trabalho mais politizado, ainda mais na situação que passamos hoje no país, mas o disco Quem Me Viu, Quem Me Vê, que será lançado nas plataformas digitais no dia 18 de outubro (e que Pélico antecipa a ordem das faixas, abaixo), aborda outros temas, além do explicitado no primeiro single. A escolha da canção é direta: “Ela representa o que de mais urgente eu preciso dizer”, continua, “estamos num momento muito delicado e perigoso da nossa história. É preciso falar, antes que a gente se arrependa de ter ficado calado.”
“Descaradamente” marca o início de uma nova fase na carreira de Pélico. “Depois de 10 anos trabalhando com o mesmo produtor musical, Jesus Sanchez, resolvi trabalhar com novos produtores, além de boa parte da banda ter mudado também”, conta ele explicando que convocou Régis Damascendo e Dudinha para ajudá-lo a parir o disco. “O Clayton Martin gravou todas as baterias, o André Lima gravou pianos e sintetizadores e o Dudinha gravou alguns baixos. Todos eles nunca tinham gravado comigo. Também tem as participações especiais do Negro Leo e do Teago Oliveira, do Maglore.”
A principal mudança, no entanto, não acontece apenas entre as pessoas com quem Pélico agora trabalha, mas principalmente em relação a método. “Pela primeira vez eu compus boa parte do repertório do disco durante o processo de gravação, escrevia de manhã e à noite levava pro estúdio pro Regis e Dudinha ouvirem e na sequencia levantar a base. Isso deu uma cara pro disco, uma crueza e uma urgência que os outros meus três discos anteriores não tem.”
“Acerto de contas”
“Quem me viu, quem me vê”
“Nosso Amor”
“Não Procurava Ninguém”
“Machucado”
“Descaradamente”
“Nunca Mais”
“Louco por Você”
“Pra te Dizer”
“Amanheci”
“Quem gravou o disco foi eu e Benke, não há participações: eu gravei vozes, baixo e teclado, ele gravou guitarras e beats. A gente tinha liberdade pra gravar e parar a hora que quisesse. Então dormindo, comendo, curtindo junto, isso nos deu uma sensação muito grande de bem estar. Influenciou diretamente no mood do resultado final”, me explica o pernambucano Paes, que lança seu EP Wallace nesta sexta-feira, mas que o antecipa já em primeira mão para o Trabalho Sujo. Feito em parceria com o guitarrista dos Boogarins Benke Ferraz, que produziu e tocou no disco, o EP desconstrói a sonoridade que o cantor e compositor apresentou em seu disco de estreia, Mundo Moderno.
A colaboração com Benke surgiu quando Paes estava começando a cogitar um disco em parceria com o ex-Mombojó Marcelo Campello, que assina algumas das composições do EP. “Ana Garcia, quando tava fazendo a assessoria do Mundo Moderno, meu disco anterior, falava muito que a gente precisava se conhecer e trocar ideia, porque tinha interesses parecidos relacionados a áudio, música, fita cassete etc.”, explica o pernambucano, mencionando a participação ativa da fundadora do festival Coquetel Molotov como ponte crucial do encontro com o guitarrista. “Já havia encontrado ele algumas vezes em Recife mas nunca trocado uma ideia de fato. Mas no Coquetel Molotov do ano passado, a gente se encontrou e eu dei uma Cassete do Mundo Moderno e meses depois, em outra festa ele me deu uma do Boogarins, A Casa das Janelas Verdes, junto com uma revista que saiu pela Void. Eu adorei a fita e ficamos trocando ideia por internet.”
“Ele me pareceu ser a pessoa mais indicada no momento pra tentar tirar outro som, me ajudar a sair da zona de conforto em relação à sonoridade, instrumentação e vibe das músicas. As coisas aconteceram de uma forma bem natural”, continua. “Quando o convidei pra produzir, no outro dia já tava almoçando com eles e pensando como fazer a coisa toda. Levei as cifras, baixo e amp pra lá e já começamos a tirar as harmonias dessas três canções. Depois de dois encontros onde já se criou as bases no Ableton Live e harmonias fomos pro estúdio por dois dias e gravamos. Lá compusemos juntos outras duas faixas ‘8 bit Blues’ e ‘Espelhos’. Ele se envolveu no processo desde o início, desde os arranjos até a finalização do trabalho. Além de produzir ele tocou as guitarras, beats e mixou as nossas parcerias. O nome do álbum surgiu de uma brincadeira nossa com o título de ‘4 Paredes’: Four walls, for Wallace, por Wallace até enfim chegar no Wallace, que reflete muito o clima familiar que a gente construiu na pré, durante as gravações e na pós. Foi-se criando uma amizade bem massa e uma facilidade de decidir as coisas juntos talvez pela forma parecida de pensar música e de filosofia de vida.”
“A diferença é em relação à sonoridade, porque a instrumentação é bem diferente”, me explica. “Não tem bateria, apenas beats eletrônicos. O Mundo Moderno é mais diversificado de timbres e a formação em cada faixa. Tem músicas eletrônicas, outras com violão e piano, outra com banda. O Wallace é rock alternativo, eletrônico, pop e mais lisérgico. É experimental e mais maluco. Em uma faixa gravamos uma jam de baixo e guita encima do beat do Casiotone, depois ele processou no Live e deixou ela com cara de videogame, por isso dei o nome de ‘8 Bit Blues’. Outra surgiu de um áudio de WhatsApp que Benke ouviu, processou e picotou, criando um beat, synth e baixo. Eu criei a melodia e letra e já gravei rapidamente em cima.”
Se o disco é tão diferente do anterior, o mesmo não pode se dizer em relação ao tema. “As questões que abordamos nas letras é uma continuidade do que tá presente no álbum anterior: reflexões sobre a contemporaneidade, das formas de relações que a gente tem nos tempos atuais, tecnologias, formas de comunicação e como isso influencia diretamente no jeito que a gente se socializa, como se relaciona com o outro através da internet e de toda facilidade que isso traz. Tem seu lado positivo de mil possibilidades mas também cria problemas desse nosso tempo que é a sensação de isolamento, muitas vezes estamos conectados com tanta gente mas nos sentimos muito solitários. É uma coisa muito comum isso que acomete quase todos que convivo, uns menos outros mais. Vejo muita gente tendo sofrendo com depressão, ansiedade, pânico e quase sempre relacionando esses pontos levantados como cruciais pra entender o que ta acontecendo no nosso mundo. E eu acho importante falar disso abertamente, nos ajudar, ouvir e tentar encontrar um equilíbrio sabe? Porque temos que estar juntos, se ajudar. É uma coisa muito comum pra nós que vivemos nesse modelo capitalista, de trabalho, cobrança pessoal, da sociedade, do sistema, essa correria louca do dia a dia onde as horas não são suficientes pra a demanda que criamos e aos mesmo tempo passa tudo tão rápido, A vida tá passando por a gente como um vagão de metrô. E nós estamos todos no mesmo carro.”
Agora o desafio é transpor essa sonoridade para o show: “Como virou eletrônico, tanto as novas como as do anterior que serão rearranjadas pra esse formato, a banda é bem reduzida, para um formato duo, em que canto, toco baixo e synth em alguma faixas e com o amigo João Bento, que toca guitarra, backing vocal e maschine, que é basicamente um equipamento com vários pads, onde podemos samplear todos os sons do álbum, não só rítmicos mas também hamônicos e melódicos e tocar ao vivo isso. Mas também temos a formação trio, com Benke completando o time tocando guitarra enquanto João fica nas bases eletrônicas, e eventualmente baixo e sintetizador. Nessa eu tenho mais liberdade pra só cantar em algumas músicas e ficar mais livre em relação a performance.”
A artista e ativista Elisa Gargiulo fala sobre o disco Ventre Laico Mente Livre que será lançado em um show na Associação Cecília nesta sexta-feira (mais informações aqui). A coletânea reúne canções inéditas das artistas Mulamba, Juliana Strassacapa (em seu primeiro trabalho solo fora do grupo Francisco El Hombre), Luana Hansen, Brisa Flow, além do Dominatrix, histórico grupo de Elisa, e escolhe o aborto como questão central no feminismo atual, fazendo o tema ser cantado com sensibilidade e seriedade, como deve ser. “A música desenterra conversas que são enterradas nos silêncios cotidianos”, ela me explica na entrevista abaixo, “a política precisa de corpos que se mexem.”