Entre a sinfonia e a sonoplastia

, por Alexandre Matias

Sábado teve a primeira das duas apresentações que o duo O Grivo realizou no Sesc Vila Mariana, fazendo trilha sonora para filmes com um século de idade. O projeto experimental fundado pelos músicos e luthiers mineiros Nelson Soares e Marcos Moreira mistura instrumentos eruditos, populares e criados por eles mesmos para superpor camadas sonoras que se complementam de forma ímpar, transformando suas apresentações em instalações sonoras que conversam também com as artes visuais – como teatro e dança. O fim de semana da dupla em São Paulo foi dedicado à sétima arte e se a apresentação do domingo ficou por conta da trilha sonora do clássico do expressionismo alemão O Gabinete do Dr. Caligari, de 1920, a apresentação que vi no dia anterior teve múltiplas facetas, uma vez que os dois músicos optaram por musicar curtas surrealistas daquela década um século atrás, que incluíam obras de Marcel Duchamp (Anemic Cinema, 1926), Man Ray (Emak Bakia, 1926), René Clair (Entr’acte, de 1924), Hans Richter (Rhythmus 21 e Rhythmus 23, ambos de 1921) e Walter Ruttmann (Opus III, de 1924), além de um curta temporão desta geração feito por Orson Welles (The Hearts of Age) em 1934. O clima onírico surrealista das peças pairava sobre músicas tocadas por instrumentos pouco ortodoxos como gongos e outros instrumentos de percussão de orquestra, cordas e teclas superpostas a loops de computador, entre a sinfonia e a sonoplastia e ao casamento reto e direto – mas nem por isso menos vago – quando os dois assumiam guitarra e bateria. Para viajar sem sair do lugar.

Assista a um trecho aqui.

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