Inácio deixa de falar um pouco de cinema para comentar como foi o domingo das eleições na televisão. Cito na íntegra, com a edição original em que cada frase é um parágrafo:
Eleição para prefeito.
Nós, jornalistas, adoramos dizer que os candidatos não discutem programa, não falam de coisas sérias, etc.
O domingo de eleição era, portanto, um grande dia para entender um pouco essas coisas.
Liguei na Cultura atrás do TV Folha, mas só tinha a Cultura mesmo.
A cobertura era, aparentemente, uspiana: só professor.
Isso não ajudava em nada.
As questões eram: por que fulano ganhou? por que beltrano perdeu?
E, claro, chovem hipóteses, que é tudo que pode acontecer nessas circunstâncias.
Nem lá, nada do que existe ou existiu de profundo, por exemplo, na discussão sobre os bilhetes, ou sobre a organização da saúde na cidade conforme a visão de A ou de B.
Passemos à Globo News.
Horas e horas de programa.
E ali a pobre LoPrete tratando de tourear o melhor possível aquele comentarista de gravata, o Merval, aquele que entrou na Academia.
Ele é uma espécie de Galvão Bueno do comentário político, quer dizer, oscila entre a obviedade e a besteira.
Com nítida preferência pela besteira.
A horas tantas só faltou dizer que ganharem São Pauloera tão complicado para o PT, o Lula, a Dilma e não sei mais quem que o melhor teria sido perder…
E a LoPrete só toureando…
Mas ela não toureia o tal do Camarotti. O cara é o rei da futrica. Ele faz questão de mostrar que sabe, que conhece os bastidores, que fala com A e com B.
Se não falasse seria a mesma coisa, porque não entende patavina do que escuta.
Só a futrica.
Com isso, o programa passou horas falando de 2014. O que acontece com o Aécio, com o cara do PSB, com a mulher que patrocinou o Fruet…
E daí? Como o Fruet vê o mundo? O que tem a dizer a Curitiba? E Haddad?
Não podia ser alguns minutos, alguns apenas, sobre a maneira como concebe a cidade?
Isso parece não existir, não fazer sentido.
Parece que desinformar é uma espécie de missão.
Com isso, não estranha que ninguém se escandalize quando um desses vândalos dos programas de suposto humor pretendem, por exemplo, dar cigarros a José Genoino para ele fumar no tempo em que ficará na cadeia…
Não há nem o que dizer de uma coisa dessas: esses caras não é que não tenham noção do que seja ética. Não têm noção nem de etiqueta.
Ah, sim, e se fazem passar por jornalistas. E acham, com isso, que podem tudo.
Nossos problemas educacionais já foram parar nos programas de suposto humor.
A pergunta é: como foi se formar uma geração de gente tão mimada?
Ou antes: tão ignorantemente mimada.
Fazia tanto tempo que eu não ouvia a palavra “futrica”… A foto é do Insta do Potuma.
A reclamação é legitima, mas o melhor é o leão.
• Canal Livre • Homem-Objeto (Camilo Rocha): Além da televisão • Redes sociais só para os íntimos • Google Now: Ajudante intrometido • No arranque (Filipe Serrano): Proteger empresa com ameaça vai contra princípio da internet • Andrew Keen e a rede desorientada • Eleição no mural • Impressão digital (Alexandre Matias): As eleições podem acelerar a desimportância do Facebook •
Já tinha tocado nesse assunto e voltei a insistir em como as eleições podem acelerar o cansaço em relação ao Facebook, no Brasil, na minha coluna desta edição do Link…
As eleições podem acelerar a desimportância do Facebook
Um ou dois temas monopolizam o feed
Alguns amigos e conhecidos meus abandonaram o Facebook. Cada um por um motivo diferente ou específico.
Não chega a ser uma onda como a de orkuticídios que começou quando a primeira rede social de sucesso no Brasil se popularizou demais (antecipando o termo “orkutização” que já abordei em colunas passadas). Mas são insatisfações diferentes que fazem muita gente deletar a própria conta ou abandoná-la.
Há quem não confie no fato de um único site centralizar tantas informações sobre tanta gente. Há quem se sinta incomodado com o incessante clima de oba-oba do site – curtições, fotos sorridentes, paisagens, viagens, festas. Há quem discorde das políticas de privacidade da rede social. Ou quem não goste do aplicativo do Feice para o celular. Ou quem cansou do humor nonsense ou das discussões intermináveis. Ou dos perfis falsos. Ou quem não quer manter toda sua vida em um único ambiente, permitindo que parentes, colegas de trabalho e amigos de infância se encontrem num mesmo lugar. Ou de gente que se aproveita do conforto da rede social para destilar ódio, inveja ou preconceitos de toda a ordem. Há quem também não goste de ser tratado como produto ou do excesso de publicidade na rede (que, na minha opinião, é o que vai acabar com o Facebook – não matando, mas o tornando desimportante).
Uma coisa é praticamente consenso inclusive entre os que resolvem continuar no Facebook: existe uma monótona rotina relacionada a um ou dois temas que acabam dominando o feed em uma rede de quase um bilhão de pessoas. Na semana passada, o Facebook anunciou que está às vésperas de atingir essa quantidade de usuários (foram 955 milhões em junho, segundo o instituto de pesquisa norte-americano Nielsen).
Você sabe. Basta entrar na rede social para ver um link que foi postado por dois ou três amigos. Dependendo do teor da notícia, é fácil prever que durante o resto do dia (e da semana), esse link será compartilhado por mais um tanto de outros usuários da rede. Tanto faz se é um vídeo, uma notícia, uma foto ou um tweet redirecionado.
O desdobramento desta primeira etapa são discussões intermináveis em que dois ou três usuários da rede – e amigos seus que, na maioria dos casos, só vão se cruzar porque são seus amigos – monopolizam o debate, deixando a discussão em segundo plano e partindo para ataques pessoais grotescos. Lá pelo trigésimo comentário o tema original da discussão já era. Assistimos a um ataque verborrágico de gente disposta a mudar o ponto de vista alheio a partir de uma discussão pela internet.
E nesta terça-feira começa o horário eleitoral em todo o Brasil e, com ele, efetivamente, as eleições de 2012. Isso significa que não bastasse ter de aturar todo o tipo de gente implorando por seus votos em cartazes, jingles, carros de som, faixas e pichações, ainda vamos ter o desprazer de ver amigos e conhecidos nossos – uns mais prezados que outros – transformando-se em cabos eleitorais amalucados, debatendo questões secundárias ou risíveis para justificar suas preferências políticas.
Idealmente, o Facebook seria uma arena perfeita para um debate político civilizado. Mas, se nem mesmo na televisão os principais candidatos conseguem manter a compostura, o que podemos esperar de eleitores que perdem as estribeiras para tentar aparecer ou convencer o outro de que seu ponto de vista é o melhor?
Por isso, vejo quatro opções desenrolando-se nos próximos meses. Na primeira, continua-se no Facebook e recebe-se uma enxurrada de santinhos digitais, todos eles lutando pela sua atenção, aos berros. Noutra, continua-se usando a rede, mas aprendendo a utilizar os recursos apresentados pela repórter Anna Carolina Papp na matéria nesta edição do Link – usando as ferramentas que a própria rede social oferece para conter a avalanche de opiniões alheias. Numa terceira, simplesmente deixa-se de usar o Facebook enquanto a eleição não termina. E na quarta, finalmente, abandona-se a rede social de vez.
Algo me diz que a última opção vai ser cada vez mais popular…