Eis Paula Satisteban

, por Alexandre Matias

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Conheci a Paula Santisteban na primeira turma de um dos cursos que ministrava no saudoso Espaço Cult, na Vila Madalena. O Ecossistema da Música era uma série de conversas com diferentes pessoas do meio em que eu fazia a mediação dos bate-papos tentando entender o que estava mudando neste mercado. Tinha a intenção de terminar as aulas com alguns exemplos para mostrar que não existia mais uma forma de ser bem sucedido neste meio e sim várias formas, cabendo ao artista descobrir aquela que melhor dialoga com seus anseios e com o público. Mas quando soube da história do Música em Família, que Paula tocava com o marido Eduardo Bologna, levando música para escolas de todo o país, vendendo discos e reunindo fãs que chegavam na casa das dezenas de milhares, não tive dúvida – pedi para que ela contasse sua história como o exemplo que eu queria dar na conclusão do curso.

Graças ao Música em Família que Paula conseguiu fazer seu primeiro disco solo exatamente do jeito que queria – e para isso chamou meu amigo Carlos Eduardo Miranda para produzi-lo. Ela já o conhecia de outros momentos, mas foi na aula que ele deu sobre produção musical que ela entendeu que ele que deveria ser o produtor de seu disco. Miranda falava que o disco era um “encontro de almas” e reforçava a importância do contato e do calor humano na produção de uma obra de arte. Por várias vezes ele me falou do trabalho que estava conduzindo com Paula, dizendo que “na hora certa”, ele iria me mostrar. E o descrevia com adjetivos minuciosos e precisos que raramente associava aos discos que produzia: maduro, sério, sofisticado, fino, emocionante.

Na última vez em que conversamos, ele me falou que o disco estava finalmente pronto e que chamaria Paula e Edu para uma conversa comigo. Queria que eu o ajudasse a pensar em como lançar não apenas o novo álbum, mas a carreira solo de Paula. Horas depois, soube da notícia de sua morte. Dias depois, a própria Paula me escreve, me chamando para conversar.

Queria dar continuidade ao trabalho que Miranda havia começado – e, como havia falado comigo, também disse que gostaria de me ver atuando ao seu lado para lançar o disco. Numa conversa no meio do semestre passado, ela me mostrou as faixas ainda sem a masterização final de seu disco de estreia. O disco era tudo aquilo que Miranda havia aguçado minha curiosidade. Um disco de baladas, adulto e sensível, pop e popular. Conduzido pelo Edu, seu diretor musical, o álbum entrelaça cordas, metais e madeiras à musicalidade crua e quente de uma banda composta por baixo, guitarra, teclados e bateria, criando um ambiente mágico para a voz de Paula desabrochar, cantando suas próprias composições. O disco parece que encarna a palavra “clássico” mas sem os clichês relacionados ao termo – inspira classe, postura, refinamento, elegância, ao mesmo tempo sem distanciá-la da vida real, do cotidiano. Ao ouvir três músicas sabia que estava diante de algo completamente diferente na música brasileira atual.

Originalmente faria uma consultoria, dando dicas sobre como ela poderia acertar melhor o disco, mas naquela mesma tarde eu soube que não era um trabalho distante. Que inevitavelmente iria me envolver de forma mais intensa naquele trabalho e o quanto aquilo também era uma incumbência e um legado que o próprio Miranda havia me passado. Depois de algumas reuniões, chegamos à conclusão que o trabalho que eu faria a seu lado não era o de uma simples consultoria e sim a direção artística de sua carreira. E quis o destino que este trabalho chegasse ao público exatamente uma semana depois de eu ter assinado o meu primeiro trabalho de direção artística, com o espetáculo Professor Duprat.

De lá pra cá, vivemos uma montanha russa de emoções que é característica deste disco. Desde que começamos a trabalhar juntos, ela fechou o lançamento do disco no Auditório Ibirapuera (no próximo dia 30), assinou contrato com a gravadora Warner, conseguiu que Bob Wolfenson fizesse as fotos da capa de seu disco, o masterizou no Sterling Sound e enquanto teclo estas palavras, ela está finalizando a capa de sua estreia, que tem apenas seu nome e que sairá em duas semanas. Muitas outras novidades estão por vir. Por enquanto, temos apenas uma das principais joias desta obra, o primeiro single do disco, “As Janelas da Cidade”, lançado nesta sexta-feira. É exatamente aquilo que Miranda me contava. Valeu compadre! E obrigado Paula – tem sido uma linda viagem.

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