Do que são feitos os clássicos

, por Alexandre Matias

É muita tiração de onda. O MPB4, que completa 60 anos de atividade neste 2024, é um dos conjuntos musicais mais longevos do mundo, ao lado de raros nomes os Demônios da Garoa, os Rolling Stones e o The Who, e nestas seis décadas pode acompanhar de perto a evolução da música brasileira, muitas vezes como coadjuvantes, outras como protagonistas. E o espetáculo com mais de duas horas que apresentaram neste sábado no Sesc Pinheiros é tanto uma aula de história da MPB como uma viagem emocionada por canções que seus quatro integrantes ajudaram a colocar em nosso panteão musical. E bastou a breve apresentação que os quatro fizeram antes do show propriamente dito para mostrar a importância do grupo, quando subiram ao palco os fundadores Miltinho (81 anos, tocando violão e cantando como poucos) e Aquiles (76 anos) e os ex-Céu da Boca Dalmo Medeiros (73 anos, há vinte anos no grupo, após a saída de Ruy Faria) e Paulo Malaguti Pauleira (o caçula com 65 anos, há dez anos no grupo no lugar da voz e do piano de Magro, que morreu em 2012) para contar brevemente sua história enquanto cantarolavam “Mascarada” de Zé Kéti. Dali em diante descortinaram um show maravilhoso, com músicas de Milton Nascimento (“Notícias Do Brasil (Os Pássaros Trazem)” e “Travessia”), Tom Jobim (“Falando de Amor”), Sidney Miller (“Pois É, Pra Quê?”), Dori Caymmi (“Porto” e “O Cantador”), João Bosco (“A Nível De…”), Ivan Lins (“Velas Içadas”), Aldir Blanc (“Amigo É Pra Essas Coisas”), Paulo César Pinheiro (“Milagres” e “Cicatrizes”), Kleiton e Kleidir (“Paz e Amor” e “Vira Virou”), Guinga (“Catavento e Girassol”) e obviamente Chico Buarque. Deste visitaram hinos da resistência musical brasileira com arranjos vocais originais, como “Angélica”, “Cálice”, “Gota D’Água”, “Apesar de Você” e “Que Tal um Samba?”. Sempre brincando entre si, contando causos e comemorando a vitória do Botafogo, os quatro foram acompanhados dos próprios herdeiros, com uma banda formada por Pedro Lins (filho de Aquiles) na guitarra, João Faria (filho de Ruy Faria) no baixo e Marquinhos Feijão (filho de Miltinho) na bateria. Ainda chamaram a cantora mineira Priscilla Frade para participar do show (que cantou duas músicas próprias e voltou no número final), visitaram “O Pato” da Arca de Noé de Vinícius e Toquinho (com direito a Miltinho imitando o Pato Donald cantando “Ninguém Me Ama”, eternizada por Nora Ney) e a eterna “A Lua”, antes de encerrar o show com a épica “Roda Viva”, passando por “O Bêbado e o Equilibrista” e encerrando o show com dois clássicos de Chico: a maravilhosa “Fantasia” (“Canta, canta uma esperança, canta, canta uma alegria, canta mais, revirando a noite, revelando o dia. noite e dia, noite e dia”) e o hino “Quem Te Viu, Quem Te Vê”, numa noite em que mostraram do que são feitos os clássicos – no caso, o próprio grupo.

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