Quando o Dinosaur Jr deixou o palco do Tokio Marine Hall neste domingo deixando quase todos surdos num dos shows mais altos que ouvi em tempos, também coroava um ano de ouro para a Balaclava. O selo, que vi começando quase como um projeto paralelo de dois integrantes da banda indie Single Parents, conseguiu feitos consideráveis neste 2024 que chega ao fim: desde lotar um lugar enorme e desconhecido no raio que o parta para assistir a uma banda literalmente desconhecida de quem não frequenta a cena indie (num show histórico do King Krule no Terra SP) a fazer a principal banda do selo, o Terno Rei, atingir alturas que uma banda indie brasileira raramente atingiu a trazer os Smashing Pumpkins para um Espaço das Américas lotado, atingindo um patamar inédito de público em sua história. O já tradicional festival que aconteceu neste domingo foi só a cereja do ano que termina, para o selo.
E a Balaclava não tá pra brincadeira. Não bastasse ter trazido o King Krule e o Tortoise para o Brasil este ano e ter anunciado a vinda do grupo inglês Bar Italia e dos americanos Smashing Pumpkins agora no segundo semestre, o selo paulistano acaba de anunciar a edição 2024 de seu Balaclava Fest, que reúne Dinosaur Jr., Badbadnotgood, os ótimos Water from Your Eyes pela primeira vez no Brasil, Ana Frango Elétrico, a inglesa Nabihah Iqbal, o grupo paulistano Raça e a dupla mineira Paira, estas últimas do elenco da gravadora. É uma das melhores escalações das 14 edições do festival e acontece mais uma vez no Tokio Marine Hall no dia 10 de novembro – e os ingressos já estão à venda.
E esse momento? No dia 13 passado, o Dinosaur Jr passou com sua turnê que comemora os 30 anos do disco Where You Been pela cidade de Portland e um de seus cidadãos mais ilustres, nosso querido Stephen Malkmus, que traz seu Pavement para o Brasil no próximo mês de abril, que subiu ao palco do grupo para dividir a faixa “Kraked”, do melhor disco do grupo, You’re Living All Over Me, de 1987. Malkmus não deixou barato e encarnou sua versão para o guitar hero da banda, J Mascis, que só entrelaçou seu solo de guitarra com o reverente feito pelo líder do Pavement, que ainda cantou a música como se fosse um integrante oficial do Dinosaur Jr. Logo em seguida, o grupo chamou Peter Holmström. do Dandy Warhols, para dividir os vocais de “Just Like Heaven”, cover clássico do Cure que o Dino faz desde os anos 80. Assista abaixo:
Não é a primeira vez que o Kevin Shields encontra-se com J Mascis no palco – suas respectivas bandas excursionaram juntas no auge de suas carreiras e o Shields já apresentou-se algumas vezes com a banda de Mascis –, mas a aparição do líder do My Bloody Valentine no terceiro dia da residência que o Dinosaur Jr. está fazendo na casa noturna Garage em Londres tem um quê de histórico. Mesmo porque ao subir no palco com seus velhos amigos, Shields não apenas tocou uma música de sua banda (“Thorn”) e outra da banda norte-americana (“Tarpit”), como se uniram para tocar uma versão de uma banda que talvez seja o vórtice original que enviesou as duas bandas do barulho rumo à doçura, o Cure. E escolheram justo aquela “Just Like Heaven” imortalizada pelo Dino Jr. nos anos 80, uma canção tão barulhenta quanto pop, marcando a primeira vez que os dois guitar heroes tocam juntos essa música, sente só aí embaixo:
O já clássico festival de documentários sobre música In Edit Brasil já começou há uma semana e participo desta edição apresentando Freak Scene, dirigido por Philipp Reichenheim, que conta a história de uma das principais bandas da cena independente norte-americano, o Dinosaur Jr., liderado pelo maior guitar hero dos anos 80, J Mascis. O filme tem entrevistas com J e os outros dois integrantes da banda, o querido Lou Barlow, que depois fundou o Sebadoh, e o carismático Murph, além de papos com grandes nomes da época sobre a importância e história da banda, como Kim Gordon, Thurston Moore, Bob Mould e Henry Rollins. Faço uma introdução de 15 minutos e depois da exibição do filme, que começa às 16h, na Cinemateca, bato um papo sobre o documentário. Mais informações aqui.
Primeiro dia do Primavera Sound em Barcelona foi fabuloso. Vi a Faye Webster, as Linda Lindas, a MC Carol e a Kacey Musgraves tocando “Dreams” do Fleetwood Mac com a letra passando no telão para o público cantar junto. Não vi a Kim Gordon no Auditório (mor fila), mas teve Dinosaur Jr (que mandou sua versão de “Just Like Heaven”), a Sharonzinha, Yo La Tengo quebrando tudo (Fabio Bianchini surgiu no meio de “Tom Courtenay”) e o Tame Impala no céu (Kevin puxou até “Last Nite”, essa mesma). E, claro, o motivo de eu ter vindo parar aqui: a volta do Pavement, que fez 1h40 do melhor show que já vi deles na vida (já tinha visto 5). A banda tocou cinco músicas de cada disco, Stephen Malkmus é o guitar hero dessa geração e lavou a alma de indies velhos e novos. Nota 10 pra avalanche de shows (já o funcionamento do bar e a má administração daquela quantidade de gente não conseguiu nem nota pra passar de ano). Claro que filmei um monte, seguem os vídeos abaixo:
Momento “minhas férias”.
Poolside – “Harvest Moon”
Tame Impala – “Feels Like We Only Go Backwards”
Do Make Say Think – “Do”
Dinosaur Jr. – “Freak Scene”
Bob Mould – “Star Machine”
Postal Service – “Clark Gable”
Deerhunter – “Monomania”
Christopher Owens – “Riviera Rock”
Breeders – “I Just Wanna Get Along”
Tinariwen – “Imidiwan Matanam”
Jesus & Mary Chain – “Reverence”
Wedding Present – “Kennedy”
Blur – “This is a Low”
The Knife – “Raging Lung”
Wu-Tang Clan – “C.R.E.A.M.”
Thee Oh Sees – “Carrion Crawler”
Nick Cave & the Bad Seeds – “The Mercy Seat”
Phosphorescent – “Song for Zula”
My Bloody Valentine – “New You”
Los Lobos – “Chuco’s Cumbia”
Neil Young & Crazy Horse – “Like a Hurricane”
Acredite se quiser, mas esse clássico da adolescência de pelo menos uma geração só existia em VHS – e, claro, na internet. Não mais:
For the first time, 1991: The Year Punk Broke will finally make its debut on DVD on September 6, 2011. All footage has been fully restored with audio re-synced and remastered in uncompressed PCM stereo under the supervision of Sonic Youth.
Se você não sabe do que eu tou falando, se liga:
Curtiu? Dá pra ver o filme inteiro aqui:
Grata surpresa acordar e descobrir que foi o Coquetel Molotov quem confirmou a especulação sobre a vinda do Dinosaur Jr. para o Brasil. O festival indie pernambucano também está fechando o Miike Snow e tem na manga o Otto, o Emicida, a Banda de Joseph Tourton, alguns artistas suecos (Taxi Taxi!, Taken By Trees e Anna Von Hausswolff), mas pra mim uma das grandes atrações é a francesinha Soko – já falei dela antes aqui. E se o Dinosaur Jr. vem pra São Paulo, tomara que arrumem um jeito de ela vir também (e de preferência antes do dia 19, hehehe).