Missa modular

Mais uma vez Paulo Beto ergueu um altar a uma de suas predileções musicais como nas outras noites de sua temporada no Centro da Terra, mas desta vez o ar sacro era palpável – não apenas pela postura dos músicos no palco (todos sérios, de preto, encarando seus instrumentos e vendo como soavam junto aos outros), mas pela natureza sonora da noite, quando o mineiro proporcionou uma ode ao seu instrumento-base, o sintetizador. Ao lado de Tatiana Meyer e Dino Vicente, PB subiu ao palco com um arsenal de synths de todas as épocas – inclusive um gigantesco construído pelo luthier eletrônico Arthur Joly, que deveria comparecer àquela noite, mas não pode participar, mandando seu instrumento exagerado como testemunha. A missa modular proposta por essa Church of Synth começou com um solo de Paulo Beto, seguido de três atos – com propostas bem distintas – com o trio PB, Tatiana e Dino e chegou ao fim apenas com o dono da noite e sua companheira no palco, ambos fazendo homenagem a um recorte específico do instrumento, a dance music dos anos 90, encarnada no ídolo dos dois Mark Bell, do grupo inglês LFO, que o senhor Anvil FX confessou ser a maior perda que já sentiu na história da música (quando este nos deixou em 2014). Mais uma noite espontânea proporcionada pelo mestre.

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Virada psicodélica

faust

Tudo bem que vai ter Caetano Veloso, um arraiá pra Inezita Barroso (isso vai ser épico), um palco de Jovem Guarda, Fabio Júnior, não sei o que do Alex Atala, mas… como assim vai ter Faust na Virada Cultural e ninguém comentou nada?

O Faust é uma das bandas mais importantes do rock alemão dos anos 70 e há quem os considere o principal nome da cena que comumente conhecemos por krautrock (rótulo tirado de uma canção do grupo, diga-se). Particularmente acho o Can e o Kraftwerk mais importantes, mas há um ponto a ser levado em consideração, pois a banda batizada com o nome do personagem de Goethe realmente extrapolava os limites da música muito mais que os outros dois grupos. Enquanto o Can misturava James Brown, Velvet Underground e free jazz no mesmo improviso e o Kraftwerk reduzia tudo a seu clássico minimalismo eletrônico pré-digital, o Faust explorava as fronteiras do ruído branco, das colagens sonoras, das superposições. Se rotulavam “art-erroristas”.

A formação clássica da banda de Hamburgo contava com Hans Joachim Irmler, Arnulf Meifert, Jean-Hervé Péron, Uwe Nettelbeck, Rudolf Sosna, Werner “Zappi” Diermaier e Gunther Wüsthoff e parte deles, além de músicos de formações posteriores, circulam pelo mundo como Faust, a formação que vem a São Paulo é composta pelo guitarrista Jean-Hervé Péron e pelo baterista Werner “Zappi” Diermaier.

Mas o mais legal é o contexto da apresentação do grupo, que tocará num palco da Estação da Luz dedicado ao experimentalismo e à psicodelia musical. Os trabalhos começam às 18h do sábado, com os curitibanos do Ruído/mm (favoritos por aqui, você sabe), às 20h entra a parceria dos Hurtmold com o Paulo Santos do Uákti, Anvil FX e Modular Dreams chamam Edgar Scandurra e Dino Vicente para uma jam session às 22h e às 2 da madruga o Faust entra em ação, seguido pelos turcos do Insalar às 4h. A manhã de domingo começa com o fulminante Tigre Dente de Sabre às 8h, segue com os goianos suaves do Boogarins às 10h, o grupo paulistano Mawaca às 14h e o incendiário Metá Metá encerrando tudo às 16h.

Pesado. É isso aí, tem que ser assim, palmas pra iniciativa.