Escrevi no meu blog no UOL sobre o que o seriado do Netflix do Demolidor pode nos dizer sobre a nova etapa da editora que virou estúdio de cinema
A Marvel começa 2016 mostrando o primeiro teaser da segunda temporada do Demolidor, com ênfase religiosa – veja lá no meu blog no UOL.
O Netflix mostrou o teaser da próxima safra de episódios do Demolidor na Comic Con de Nova York e o vídeo mostra o rumo da série da Marvel com o Netflix a partir dos novos personagens Justiceiro e Elektra, ambos mostrados de relance – postei o vídeo lá no meu blog no UOL.
Jason Statham é um dos meus atores de ação favoritos de todos os tempos – e o boato que talvez ele viva o Mercenário na próxima temporada do Demolidor melhora em 200% a nova safra de episódios, que já prometia… Falei disso lá no meu blog no UOL.
Falei sobre a renovação das séries Três é Demais e Demolidor no Netflix, que se tornou mais valioso do que a ABC e a Viacom neste início de 2015, em meu blog no UOL http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/04/22/netflix-ja-vale-mais-do-que-as-maiores-emissoras-de-tv-aberta-e-fechada-dos-eua/
Duas especulações que haviam sido cogitadas aqui neste blog foram confirmadas esta semana: além da confirmação da nova temporada do seriado Três é Demais, também foi anunciada a segunda temporada da série Demolidor. Os endossos têm a mesma fonte: o serviço de vídeo sob demanda Netflix, que irá produzir e exibir as duas novas temporadas, e chegam ao mesmo tempo em que a marca exibe seus músculos financeiros.
As ações do serviço dispararam no recém-fechado quadrimestre e a marca conseguiu crescer 14,7% nos últimos meses, segundo um relatório divulgado pelo site Deadline. Assim, o preço de mercado do Netflix sobe para US$ 32,9 bilhões, tornando o serviço mais valioso que o canal aberto mais caro dos Estados Unidos (a CBS, que avaliada em US$ 30,6 bilhões) e que a principal produtora de TV por assinatura do país (a Viacom, dona da MTV e do Nickelodeon, avaliada em US$ 28,8 bilhões).
O valor de mercado atingido pelo Netflix, óbvio, não diz respeito apenas às suas produções, que incluem hits como House of Cards e Orange is the New Black e as continuações de seriados que foram cancelados na TV a cabo, como The Killing e Arrested Development. O serviço cresce por oferecer um formato de consumo de conteúdo mais próprio da era digital do que o que é oferecido pelas TVs aberta e por assinatura.
As pessoas lentamente percebem que não precisam estar na frente da televisão num horário pré-estabelecido para assistir ao que querem. O formato sob demanda – que o espectador diz quando quer assistir o quê – ainda tem uma série de problemas para serem resolvidos (quem nunca perdeu vários minutos procurando o que assistir?), mas é irreversível. A TV tradicional só vai ter o monopólio da atenção em eventos ao vivo, sejam esportes ou notícias. E por enquanto.
A esperteza do Netflix, no entanto, está no fato de surfar essa boa onda financeira produzindo conteúdo. Podiam investir no serviço em si, em melhorias na interface, na navegação, em curadorias de filmes e em qualidade de transmissão. Preferem fidelizar seu público aproveitando os dados de audiência que conseguem levantar com mais precisão do que qualquer canal (afinal o espectador só assiste o que quer) e produzem seriados de acordo com o gosto que detectam a partir dos números de suas próprias exibições.
É um comportamento bem diferente de serviços similares em outras mídias. Ainda não ouvimos falar do Spotify bancando discos de artistas, por exemplo, embora a própria Amazon já tenha detectado essa tendência e começado ela mesma a produzir seus próprios seriados. E a colher frutos disso, como foi o caso da série Transparent, que ganhou dois Globos de Ouro (melhor série de comédia e melhor ator de série de comédia) no início deste ano.
E isso é só o começo de uma mudança ainda mais drástica que seguiremos acompanhando nos próximos anos…
E aí, já assistiu à série do Demolidor no Netflix? Senão viu ainda, tá perdendo: reuni 18 referências que estão escondidas na série que ajudam a entender este novo estágio de séries da Marvel, além de dar dicas sobre o futuro do universo da editora no cinema lá no meu blog do UOL – evitando ao máximo os spoilers: http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/04/15/referencias-escondidas-na-serie-do-demolidor-revelam-o-futuro-da-marvel/
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E aí, conseguiu matar todos os treze episódios da primeira temporada da série Demolidor da Marvel no Netflix? Se não terminou, eu imagino a fissura: a série é o melhor produto da Marvel fora dos quadrinhos e estabelece um novo patamar de qualidade para o estúdio. A estratégia de soltar todos os 13 episódios de uma temporada numa sexta-feira surtiu efeito e os fãs não desgrudaram da série após assistir o primeiro episódio. A cada novo capítulo, a série criada pelo produtor Drew Godard (que escreveu episódios de Lost e Buffy, além de dirigir o ótimo O Segredo da Cabana, de 2012) aprofunda suas garras não apenas na história do garoto que fica cego (vivido por Charlie Cox) e passa a lutar contra o crime, mas numa narrativa sombria, densa e crua, algo que nunca havíamos visto nos filmes ou séries que a Marvel até agora.
É uma decisão ousada – e acertou em cheio, além de especificamente feliz por começar justo pelo Demolidor. Foi o personagem quem começou a reinvenção não apenas da Marvel mas do mercado de quadrinhos dos anos 80. Frank Miller foi o primeiro dos novos autores de quadrinhos a abrir um novo rumo para os super-heróis ao assumir as histórias da identidade secreta de Matt Murdock. Suas histórias com o personagem no início dos anos 80 apostaram justamente num lado desagradável da luta contra o crime.
Miller começou a falar em corrupção policial, do envolvimento de políticos com o crime organizado, sobre como luminares das colunas sociais estavam diretamente envolvidos com atividades ilegais e hábitos sórdidos. Junto com estes bastidores que incomodam muita gente, Frank Miller também humanizava as brigas e duelos para além dos quadrinhos transversais e das onomatopeias engraçadas. O universo do Demolidor era de dor e violência, tanto física quanto emocional. Complete esse cenário com a obsessão do escritor pelo oriente, por artes marciais, ninjas, clãs de guerreiros mercenários do Japão medieval, samurais solitários de rígida disciplina.
Ainda há a questão da proporção. O Demolidor mora em Nova York mas não está a postos para salvar o mundo, como os Vingadores. Seu domínio é sua vizinhança, a região da Cozinha do Diabo, no coração de Manhattan. Por isso, observamos toda a ação de dentro, não por cima, como quando acontece em qualquer filme dos Vingadores. Nas histórias de Thor, Capitão América e Homem de Ferro vemos explosões e prédios desabando, mas nunca vemos civis morrendo, contagem de corpos de inocentes ou a devastação da cidade. O Demolidor assume um ponto de vista mais mundano. Mesmo seus superpoderes não são grande coisa se comparados à “armadura de ferro ou martelo de deus”, referidos na própria série.
Foi a combinação destes fatores que fez das histórias do Demolidor um sucesso e que cacifaram Frank Miller a reconstruir um dos grandes ícones da rival da Marvel, quando reinventou o Batman com o maior épico de Bruce Wayne até hoje, a série Cavaleiro das Trevas, publicada originalmente em 1986. O Demolidor de Frank Miller serviu como ponto de partida para a fase de ouro dos quadrinhos dos anos 80, quando Alan Moore conduziu o Monstro do Pântano em narrativas inimagináveis, escreveu clássicos com o Super-Homem e o Batman e forjou o outro épico daquela década, Watchmen. Uma nova geração de autores e desenhistas – norte-americanos e ingleses – tomou de assalto as duas principais editoras de quadrinhos a partir do amadurecimento dos super-heróis iniciado pelo Demolidor de Miller. Não é exagero dizer que o personagem foi a fagulha que impulsionou o mercado a crescer para além das revistas mensais, consolidando um público adulto que iria consumir as novas graphic novels e, posteriormente, os filmes, numa onda iniciada a partir do Batman de Tim Burton, de 1989.
Então a adaptação do Demolidor nesta nova fase da Marvel vem coroar justamente o personagem que tornou essa mesma nova fase possível. Ao mesmo tempo em que apaga completamente o filme ridículo com Ben Affleck de 2003, um dos piores exemplos da primeira safra de filmes de super-herói deste século.
Mas vou dar um tempo para você digerir o novo seriado e enquanto isso separo aqui uma série de detalhes e dicas que a produção deste Demolidor espalhou por seus treze episódios. Enquanto você se delicia com cenas como a luta à “Old Boy” no final do segundo capítulo, o maravilhoso Rei – ainda Wilson Fisk – de Vincent D’Onofrio (seu maior papel, sem dúvida) e as cenas com ossos quebrados, assassinatos brutais e requintes de crueldade nem deve perceber pequenas sutiliezas narrativas ou cenográficas que apontam não só os rumos para uma próxima temporada da série, como para os outros seriados da Marvel e os filmes do estúdio que estrearão nos cinemas nos próximos anos.
Separei 18 referências que aparecem por todos os episódios, por isso daqui pra frente continue lendo apenas se não quiser saber do que acontece no seriado. Tentei restringir spoilers mais pesados, mas outros são inevitáveis. Fora que há tantas outras pistas que ainda podem estar escondidas…
1) O Homem Sem Medo
Por toda a primeira temporada, Matt Murdock se apresenta vestido de preto, usando a mesma fantasia inicial imaginada no arco “O Homem Sem Medo”, em que Frank Miller voltou ao personagem em 1993 para contar o início de sua saga.
2) Tudo saiu dos quadrinhos
Todo episódio termina com agradecimentos a nomes que consolidaram o personagem, como Frank Miller, Brian Michael Bendis, Archie Goodwin e Gene Colan. Personagens periféricos dos quadrinhos vez por outra surgem na série, como o padre Lanton, o policial íntegro Brett Mahoney, o bandido Tusk Barrett, todos personagens de histórias anteriores com o Demolidor. Até os lugares, como a academia de ginástica Fogwell’s e o bar Josie’s também foram tirados do papel.
3) Van Lunt
Quando Murdock e Nelson inaguram seu escritório de advocacia, pregam um papel com seus nomes escritos sobre o nome do antigo serviço do local e é possível ler Van Lunt Real Estate Co. O personagem Van Lunt também é citado na série como sendo um especulador imobiliário, mas seu sobrenome é o mesmo de Cornelius Van Lunt, o Taurus do grupo criminoso Zodíaco. São as únicas referências ao personagem, mas podem ser só o começo da aparição do novo vilão.
4) Coruja
O personagem Leland Owlsley (vivido pelo veterano Bob Gunton, que você deve se lembrar da série 24 Horas) tem o mesmo nome do vilão Coruja, mas o último capítulo desta primeira temporada deve ter sido apenas o início do surgimento deste novo personagem… como vingança.
5) “O incidente”
Os fatos que aconteceram no primeiro Vingadores ecoam diretamente no mundo do Demolidor. A “batalha de Nova York” é manchete em um New York Bulletin colocado ao fundo da sala do jornalista Ben Urich (um clássico coadjuvante dos quadrinhos da Marvel, desta vez vivido por Vondie Curtis-Hall) e o fato é referido como “o incidente”, que permitiu, inclusive, a ascensão do vilão Wilson Fisk a partir da destruição causada na cidade.
6) Elektra
A grande paixão de Matt Murdock, Elektra inevitavelmente aparecerá na série, mas por enquanto ela só foi referida como uma grega gata com quem Matt e seu amigo Foggy Nelson conheceram na faculdade.
7) Gladiador
O vilão ainda não existe, mas sua identidade anterior – Melvin Potter – aparece no seriado, ainda como funcionário de Wilson Fisk. Em sua oficina já conseguimos ver alguns elementos que se tornarão parte de seu uniforme, além das pernas mecânicas de outro vilão, Metalóide.
8) Enfermeira Noturna
A personagem de Rosario Dawson, Claire Temple, é a heroína Enfermeira Noturna, que deverá aparecer em outros seriados da Marvel com a Netflix fazendo as vezes de um Nick Fury civil e interconectando os personagens dos quatro seriados que virão (além do Demolidor teremos AKA Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro) para a conclusão no quinto seriado, reunindo os quatro heróis em Os Defensores.
9) Carl “Crusher” Creel
Um dos adversários do pai de Matt Murdock em seus tempos de ringue foi Carl “Crusher” Creel, que já havia aparecido no universo Marvel na série Agents of S.H.I.E.L.D., já com seu nome de guerra, er, Homem-Absorvente (é sério).
10) Stick
O mestre cego de Matt Murdock, que o apresenta às artes marciais e por pouco não o convoca para desenvolver melhor seus superpoderes, também dá as caras no seriado. E deve retornar em temporadas futuras.
11) Mercenário
O infame Bullseye responsável por arruinar o primeiro filme do Demolidor não aparece na série… ou aparece? A mira de um certo sniper no sexto episódio é muito precisa – além de parecer que ele carrega um maço de cartas em seu bolso.
12) Atlas
O logo Atlas que aparece em uma cena atrás de Matt Murdock é uma referência ao logo da Atlas Comics, que depois tornou-se Timely Comics e, finalmente, assumiu o nome de Marvel Comics em definitivo.
13) Serpente de Aço
Entre os grupos criminosos que atuam na Cozinha do Diabo, um deles é liderado por uma certa senhora chinesa chamada Madame Gao, que trabalha com a produção e distribuição de heroína na vizinhança. A droga vendida por Gao acompanha a marca da “serpente de aço”, o primeiro aceno da série a outra mitologia que deverá ser explorada em outra série da parceria Netflix / Marvel, a série Punho de Ferro, que ainda não tem data de produção ou exibição.
14) Madame Gao
A própria Gao, vivida por Wai Ching Ho, deve ter um papel mais importante em Punho de Ferro. Em dado momento da série, ao ser perguntada se ela vem da China, a personagem ri e diz que vem de um lugar bem mais distante. O que pode ser uma alusão a Ku’n-Zi, uma das Cidades Lendárias do Céu, lugar sagrado nos Himalaias que só pode ser visitado a cada dez anos e de onde o Punho de Ferro retira suas forças. Gao pode ser a bruxa Mother Crane, governante do lugar, na próxima série.
15) Misticismo oriental
Punho de Ferro, por sua vez, deve ser uma das franquias da Marvel mais difíceis de serem apresentadas ao grande público, por misturar misticismo, alienígenas e artes marciais. Mas as sementes para começar a explicar este universo já foram lançadas no Demolidor, quando assistimos a uma cena em que Stick presta satisfação a um personagem misterioso – que supomos ser Stone, um dos integrantes do clã Chase, rival do clã Hand, onipresente nas histórias do Demolidor, Elektra e Wolverine. Outra referência a este misticismo é o misterioso conteúdo de um container referido apenas como “Céu negro”, que pode ter alguma conexão também com Agents of S.H.I.E.L.D. ou com outro futuro filme da Marvel, os Inumanos (que também deve conectar-se com Agents).
16) “Nessun Dorma”, de Giaccomo Puccini
A clássica ária é tocada em um dos momentos cruciais do final da temporada e reforça a importância que a trilha sonora tem no decorrer da série (repare em quantas músicas conhecidas são usadas nos 13 episódios). Sua letra, em italiano, canta “Meu mistério segue fechado comigo/ Meu nome ninguém saberá!”
17) Antes da Guerra Civil
Uma das próximas histórias a ser levadas para as telas (no terceiro filme do Capitão América, programado para o ano que vem) é a saga Guerra Civil, em que super-heróis são considerados foras da lei se não se apresentarem num cadastro do governo. Uma placa próxima a Matt Murdock em uma cena na delegacia mostra que essa ação já começou – ela avisa que “você não tem que revelar sua identidade secreta para ajudar a resolver crimes violentos”. Resta saber se o vigilante mascarado da Cozinha do Inferno tem a ver com isso.
18) Stan Lee
Outra enorme mudança em relação a todas as produções da Marvel atuais é a ausência do pai de todos Stan Lee do elenco – mas ele não foi esquecido. Em vez de aparições infames ou surpresas hitchcockianas, a foto de Lee aparece brevemente enquadrada ao fundo da delegacia em uma das cenas mais tensas de toda a temporada, em seu último episódio.
Uma série espetacular, muito além do que já foi feito com super-heróis na televisão, e que estabelece um novo patamar de excelência para a Marvel. Embora as próximas séries da parceria Marvel e Netflix ainda não tenham começado a ser produzidas (AKA Jessica Jones deverá ser a única a estrear este ano), aposto que antes do fim desse semestre anunciam a renovação do Demolidor para pelo menos uma segunda temporada.
E você, já assistiu à série inteira?
Escrevi sobre a relação do Demolidor, a nova série da Marvel para a TV e a primeira pro Netflix, e o próximo filme dos Vingadores lá no meu blog do UOL:
http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/04/10/o-que-a-serie-do-demolidor-pode-antecipar-sobre-o-novo-vingadores/.
Comentei outro dia sobre como a Marvel vem esmerilhando ao narrar sagas extensas que perpassam vários filmes ao mesmo tempo em que apresenta histórias paralelas na TV que conversam com os longas que estreiam no cinema. Nesta sexta-feira eles dão mais um passo rumo em seu ousado experimento transmídia ao tentar sincronizar a atenção de todo o planeta em períodos determinados de tempo. É quando estreiam a primeira temporada da série Demolidor, ressuscitando o personagem – que já foi vivido por Ben Affleck num risível filme de 2003 – para o universo cinematográfico da Casa das Ideias.
A grande diferença é que, ao contrário das séries anteriores da Marvel (Agents of S.H.I.E.L.D. e Agente Carter), o novo seriado não foi feito em parceria com a emissora ABC, um canal de televisão tradicional, e sim com o serviço de assinatura Netflix. A novidade não diz respeito apenas à forma de distribuição do seriado, que não chega mais transmitido por antenas ou por cabos de TV paga e sim pelas conexões da internet. A mudança diz respeito ao fim das janelas de lançamento global entre conteúdos produzidos para a televisão.
Explico: por não ser uma operação que envolve todo o planeta e sim apenas os Estados Unidos, as coproduções com o canal ABC não podem ser exibidas simultaneamente ao mesmo tempo em diferentes países. Há uma grade de retransmissão para valorizar as estreias no país de origem. Por isso é mais difícil sincronizar a história da série com a longa história contada em diferentes filmes que estreiam quase que ao mesmo tempo em todos os países do mundo. Como a série também é da ABC, ela negocia seus direitos com outras emissoras locais e estas vão definir, cada uma com seu critério, data e ordem de exibição nos diferentes países.
Então se determinada ação num episódio de Agents of S.H.I.E.L.D. que fosse exibido uma semana antes da estreia do segundo filme do Capitão América nos cinemas tivesse continuação no filme, esta relação de ação e consequência só poderia ser percebido em tempo real pelo público americano ou pelo resto do mundo através da pirataria. Se dependêssemos da grade de programação de lançamento entre cinemas e emissoras de TV em todo o mundo, a costura narrativa entre diferentes histórias seria toda em vão – a não ser para espectadores do futuro que queiram acompanhar todas as produções de uma vez, em ordem.
Ao apostar em jogar toda a temporada de seu novo seriado no Netflix, a Marvel também instiga os fãs mais ávidos a consumirem uma nova série em uma periodicidade quase diária – ou mais curta, nas já tradicionais maratonas de seriado. É que o próximo Vingadores estreia em duas semanas em todo o planeta e uma das imagens de divulgação do novo seriado já deixou claro que, embora o universo do Demolidor se restrinja a uma vizinhança de Nova York (o bairro Hell’s Kitchen), ele também habita a mesma Nova York que o Homem de Ferro, Thor, Hulk e companhia – é só reparar a Torre dos Vingadores no horizonte à direita lá de cima deste post.
Vingadores 2 – A Era de Ultron estreia no mundo todo em duas etapas: no dia 23 de abril (no Brasil, Argentina, Europa ocidental, Rússia, Israel, Índia, África do Sul, Indonésia, Taiwan, Hong Kong, Singapura, Austrália e Nova Zelândia, entre outros) e no dia 1° de maio (nos EUA, Chile, Equador, Espanha, Europa oriental, Iraque, México, Peru, Portugal Tailândia, Canadá e Vietnã, entre outros). O filme vem sendo guardado a sete chaves e já é cotado como possível campeão de bilheteria histórico no fim de semana de sua estreia, deixando os 200 milhões de dólares do primeiro Vingadores comendo poeira. A especulação sobre o sucesso do filme é tamanha que há quem fale que ele pode se tornar o primeiro filme a faturar 2 bilhões de dólares, uma marca inacreditável.
Se o filme é bom? Os três trailers já lançados mostraram que há o mesmo tanto de ação quanto de construção de personagens – e um desocupado conseguiu colocar os três trailers em ordem, tentando imaginar uma certa cronologia (que faz sentido) para o filme a partir apenas de imagens de divulgação.
Alguns críticos norte-americanos já assistiram ao filme mas, sob embargo, não podem entrar em detalhes. Mas já comentaram em linhas gerais o que podemos esperar do novo filme.
Avengers: Age of Oh Yeahhhhh It's Good!
— Christopher Rosen (@chrisjrosen) April 10, 2015
Vingadores: A Era do Oh Yeahhhhh Como É Bom!”
#AvengersAgeOfUltron is darker, weirder and more emotional than the original. It's also the thrill ride to beat this summer.
— Drew Taylor (@DrewTailored) April 10, 2015
#VingadoresEraDeUltron é mais sombrio, mais esquisito e mais emotivo que o original. É também a viagem mais incrível deste verão.
Whedon stuffs Avengers Age of Ultron with an impossible amount of great geekiness. Sometimes it feels like too much, but he pulls it off!
— Kevin P. Sullivan (@KPSull) April 10, 2015
“Whedon enche Vingadores A Era de Ultron com uma quantidade impossível de ótimo nerdismo. Às vezes parece demais, mas ele se garante!”
Important to note AVENGERS AGE OF ULTRON is a completely different movie than the first one. And that's why it works.
— Steven Weintraub (@colliderfrosty) April 10, 2015
“Uma nota importante sobre VINGADORES A ERA DE ULTRON é que é um filme completamente diferente do primeiro. E é por isso que funciona.”
Just saw AVENGERS: AGE OF ULTRON. Soooooooo many characters and soooooo much going on, I can't believe it's coherent, let alone so fun.
— Mike Ryan (@mikeryan) April 10, 2015
“Acabei de ver VINGADORES: A ERA DE ULTRON. São taaaantos personagens e taaaanta coisa acontecendo que eu não consigo acreditar que consiga manter a coerência, além da diversão.”
Avengers 2 is both an amazing sequel and a fantastic setup for the rest of the MCU. So nerdy in the best possible way.
— Mike Sampson (@mjsamps) April 10, 2015
“Vingadores 2 é tanto uma continuação incrível quanto uma armação fantástica para o resto do universo Marvel no cinema. Tão nerd da melhor maneira possível.”
AGE OF ULTRON is a blast and there's a ton of cool Marvel surprises!
— Silas Lesnick (@silaslesnick) April 10, 2015
“ERA DE ULTRON é um barato e tem uma tonelada de surpresas Marvel!”
Avengers 2 is way more fun and great than the trailers let on.
— Meredith Woerner (@MdellW) April 10, 2015
“Vingadores 2 é ainda mais divertido do que os trailers faziam parecer”
Mais complexo, mais nerd, mais sombrio, mais divertido… Será que a série do Demolidor pode dar alguma pista do que esperar do próximo filme? Só há um jeito de saber.
Aproveitei o lançamento do trailer do Demolidor pra falar, lá no meu blog do UOL, como a Marvel tem acertado direitinho ao aplicar a narrativa transmídia ao seu plano de dominação do entretenimento do futuro: http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/03/14/o-experimento-transmidia-da-marvel/
A Marvel finalmente mostrou a cara do novo Demolidor, que agora é um seriado, que estreia através do Netflix no dia 10 de abril. O trailer que conta a história de Matt Murdock, advogado cego que atua como vigilante à noite, interpretado por Charlie Cox, parece indicar que as adaptações dos personagens da chamada Casa das Ideias seguem cada vez mais criteriosas e próximas das expectativas dos velhos e novos fãs em relação a personagens que já habitam o nosso inconsciente coletivo há mais de meio século. Mas não é só isso que a Marvel vem fazendo em sua escalada no mundo do cinema que agora começa a dominar a TV. O estúdio está colocando em prática – com maestria e numa escala bilionária – uma lógica de contar histórias que foi comemorada em diferentes momentos da cultura pop recente, sempre apontada como sendo o futuro do entretenimento e da produção cultural. Grande parte do sucesso da Marvel vem da aplicação prática e consciente do conceito de comunicação transmídia.
Essa lógica hoje em dia é simples de entender devido à própria natureza da fragmentação de nosso cotidiano e consiste em contar uma história em diferentes plataformas. O conceito de narrativa transmídia ganhou essa denominação há pouco mais de uma década ao ser popularizado pelo comunicólogo norte-americano Henry Jenkins em seu livro Cultura da Convergência (Ed. Aleph), mas já vinha sendo aplicado há décadas em diferentes ocasiões e situações, cada uma com sua distinção particular. É importante não confundir com o simples conceito de marketing, que leva um personagem ou ícone para diferentes produtos. A narrativa transmídia pressupõe que a história seja contada em diferentes mídias – em que o maior desafio é desmembrar a história em vários outros roteiros menores sem que seja obrigatório desfrutar tudo para que se compreenda a história.
Os exemplos mais bem sucedidos disso talvez sejam a saga Guerra nas Estrelas, de George Lucas; a trilogia Matrix, dos irmãos Wachowski, e a série Lost, de J.J. Abrams. A história do clã Skywalker começou em 1977 como um filme que gerou continuações, mas desdobrou-se em livros, games, quadrinhos e merchandising sempre com um cuidado enciclopédico em preservar a própria mitologia. Matrix, de 1999, resolveu apostar neste formato até pela natureza de sua história, que se passa entre dois um universos – um cru e real, outro digital e fictício, e além dos três filmes que compunham a história original também teve desdobramentos em livros, quadrinhos, desenhos animados e games, sempre trazendo mais informações para a história principal de Neo, contada nos filmes. A série de J.J. Abrams, de 2004, aproveitou-se da popularização da internet do início do século e da invenção de novas plataformas digitais, como o YouTube, as redes sociais e os blogs para contar a história do que aconteceu com o voo 815 da Oceanic.
Nos três casos, havia uma história principal (contada nos filmes e na série) que era amparada por historietas paralelas e desimportantes para a trama principal. Afinal um dos pressupostos da narrativa transmídia é não obrigar o público a consumir tudo, permitir que a história possa ser acompanhada apenas na principal plataforma.
A Marvel dá um passo além nessa jornada e consciente. Sua transição para as telas de cinema teve que sacrificar os direitos autorais de pelo menos três grandes franquias da editora de quadrinhos (Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e X-Men) em parcerias com estúdios de Hollywood que funcionaram como estágio para a Marvel dar seu principal salto como empresa e transformar-se ela mesma num estúdio. E desde o primeiro Homem de Ferro (2008), a empresa sabia que não estava simplesmente contando histórias de seus personagens em separados em filmes diferentes e sim contando uma longa história em diferentes filmes.
Não eram mais apenas continuações de filmes de super-herói. Cada filme contava a história de um super-herói até que, no finzinho, graças a um detalhe que virou marca registrada dos filmes da Marvel, Samuel L. Jackson aparecia como o Nick Fury imaginado por Mark Millar na série de quadrinhos The Ultimates (Os Supremos, no Brasil), a versão século 21 para os Vingadores, o grupo de super-heróis que reúne Thor, Hulk, Capitão América, Homem de Ferro, entre outros. Logo no primeiro Homem de Ferro, Fury fala de uma certa “iniciativa Vingadores”, que muito bem poderia ser um codinome para a estratégia bolada pelo estúdio.
Veio o primeiro Homem de Ferro e depois o segundo em 2010, o primeiro filme do Thor e o primeiro filme do Capitão América, ambos em 2011. Cada um contando a história de um dos heróis, mas sempre com a participação final de Nick Fury ou de um de seus agentes, Coulson (Clark Gregg), que fazia a amarração entre os filmes até o final apoteótico que reuniu os quatro super-heróis no mesmo filme, o bilionário Vingadores, de 2012, que tornou-se o terceiro filme que mais ganhou dinheiro na história do cinema, ultrapassando Harry Potters, Guerra nas Estrelas, Transformers, Batmans, Piratas do Caribe e ficando atrás apenas de Avatar e Titanic.
Os Vingadores era só o fim da primeira fase, como se diz nos videogames. Ou da primeira temporada, como no mundo das séries. Ou do primeiro arco, como se chama nos quadrinhos, uma grande história contada em diferentes revistas. O conjunto de cinco filmes que inaugurou o estúdio Marvel era uma longa obra contada em diferentes produções, que funcionam de modo independente. Finda a primeira fase, o estúdio deu início à segunda, que começou com o segundo filme do Thor (O Mundo Sombrio), em 2013, o segundo filme do Capitão América (O Soldado Invernal) e pelos Guardiões das Galáxias, ambos do ano passado e conclui com o segundo filme dos Vingadores (A Era de Ultron) e a estreia do Homem Formiga (estrelado por Paul Rudd), em maio e julho deste ano, respectivamente. A terceira fase é a mais ambiciosa será inaugurada ano que vem com um terceiro filme do Capitão América (Guerra Civil) e o primeiro filme do Doutor Estranho (com Benedict Cumberbatch), segue em 2017 com o segundo Guardiões das Galáxias e o terceiro Thor (Ragnarok); continua em 2018 a primeira parte do terceiro filme dos Vingadores (Guerra Infinita), a estreia do Pantera Negra (o primeiro protagonista negro de um filme da Marvel) e do filme da Capitã (!) Marvel (a primeira mulher protagonista de um filme da Marvel) e conclui em 2019 com o filme dos Inumanos e a segunda parte de Guerra Infinita. Ufa!
Mas isso tudo é só cinema. As histórias em quadrinhos deram origem aos filmes, mas foram adaptações de roteiros existentes, não havia diálogo entre HQs e filmes. O experimento transmídia da Marvel começou mesmo ao final da primeira fase nos cinemas, quando foi anunciado a série Agents of S.H.I.E.L.D., que começou em 2013 e contava a história da agência secreta de inteligência liderada por Nick Fury. Coadjuvante na história principal dos filmes no cinema, o agente Coulson foi catapultado ao papel de protagonista e na primeira temporada da série produzida em parceria com a emissora ABC, ela fazia coro simultâneo com os filmes da segunda fase – personagens de Thor apareceram na série quando o segundo filme de Thor chegou aos cinemas e referências semelhantes aconteceram em relação ao segundo filme do Capitão América e, na segunda temporada, com Guardiões da Galáxia. E certamente farão isso no próximo Vingadores e no Homem Formiga.
A segunda série da Marvel, Agente Carter, se passa após a Segunda Guerra Mundial e parece estar desconectada da linha principal das histórias, mas sua protagonista (a primeira mulher a encabeçar o elenco de uma produção do estúdio, Hayley Atwell) foi namorada do Capitão América (que ficou congelado e foi reanimado nos dias de hoje, essa é a mitologia básica do personagem) e ela é amiga de Howard Stark (o personagem inspirado em Howard Hughes que é o pai de Tony Stark, o Homem de Ferro) e de seu mordomo Edwin Jarvis (cujo nome batiza a inteligência artificial que toma conta da vida de Tony). Além disso, ela trabalha na S.S.R., uma agência de espionagem que pode se tornar a S.H.I.E.L.D. num futuro próximo.
Demolidor é uma das novidades da Marvel na TV para este ano – e muda também uma das formas de contar a história ao associar-se com o Netflix e não com um canal de TV tradicional. Seguindo o formato das séries do serviço de assinatura de filmes online, todos os episódios da primeira temporada do seriado estrearão no mesmo dia, 10 de abril. Ainda este ano veremos a segunda série da Marvel com a Netflix, A.K.A. Jessica Jones, e mais outras três estarão sendo produzidas, Punho de Ferro, Cage e Defensores, esta última reunindo os quatro primeiros personagens numa só série.
Ou seja, eles estão fazendo exatamente o que fizeram nos cinemas com a TV: apresentando personagens em obras isoladas (desta vez, séries, não filmes) para reuni-los numa mesma série depois e, certamente, interligá-los com outros filmes e séries que virão.
Há uma diferença estética e de proporção nestes seriados da Marvel com a Netflix em relação às obras do cinema: são heróis mais humanos que sobre-humanos, que lutam habilmente mas não têm propriamente superpoderes. Também são heróis de determinadas vizinhanças. Os Defensores não conseguiriam lidar com uma invasão alienígena como os Vingadores fizeram em seu primeiro filme. Por isso vai ser interessante cogitá-los como coadjuvantes de filmes cujos super-heróis protagonistas não são tão conhecidos do grande público (o que não é um problema para a Marvel, que emplacou os Guardiões da Galáxia até com facilidade), como Inumanos, Pantera Negra ou a Capitã Marvel.
Olhando de fora, parece que são vários filmes e séries de super-herói, mas o que a Marvel quer fazer com o audiovisual é o que fez, há muito tempo, nos quadrinhos: interligar personagens e histórias para gerar interesse do público para novos produtos, criando uma mitologia própria que consagrou a reputação da editora. E com isso ela pode mexer seriamente com as distinções entre TV e cinema. A associação com o Netflix deixa isso muito claro: ela sabe que o futuro é digital e online.
E apesar de parecer um jogo de grandes cifras, o experimento da Marvel pode servir como inspiração para outros universos transmídia que não necessariamente passem por Hollywood, produções milionárias ou astros ricaços. Não custa lembrar que parte dos formatos que nos referimos quando falamos de cultura (filmes, programas de rádio e de TV, discos e canções, fotografias) são invenções do século 20 originadas e delimitadas por novas invenções. A internet interliga diferentes mídias e o digital acelera a transmissão de conhecimento – é inevitável que assistamos à criação de novos formatos que contemplem a fragmentação multiplataforma de nossos dias.
O experimento transmídia da Marvel é só o começo.
Isso me lembra que eu tenho que falar do filme do Thor (não listado na compilação acima)… que é bom, de um jeito bem bizarro. Se você tá cogitando assistir, vai em um cinema que tenha um sonzaço, de tremer a poltrona.
Demais, hein… Tava no Flickr dele, onde ele também postou, recentemente, a capa da Strange Tales, né?