A força do Netflix

, por Alexandre Matias

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Falei sobre a renovação das séries Três é Demais e Demolidor no Netflix, que se tornou mais valioso do que a ABC e a Viacom neste início de 2015, em meu blog no UOL http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/04/22/netflix-ja-vale-mais-do-que-as-maiores-emissoras-de-tv-aberta-e-fechada-dos-eua/

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Duas especulações que haviam sido cogitadas aqui neste blog foram confirmadas esta semana: além da confirmação da nova temporada do seriado Três é Demais, também foi anunciada a segunda temporada da série Demolidor. Os endossos têm a mesma fonte: o serviço de vídeo sob demanda Netflix, que irá produzir e exibir as duas novas temporadas, e chegam ao mesmo tempo em que a marca exibe seus músculos financeiros.

As ações do serviço dispararam no recém-fechado quadrimestre e a marca conseguiu crescer 14,7% nos últimos meses, segundo um relatório divulgado pelo site Deadline. Assim, o preço de mercado do Netflix sobe para US$ 32,9 bilhões, tornando o serviço mais valioso que o canal aberto mais caro dos Estados Unidos (a CBS, que avaliada em US$ 30,6 bilhões) e que a principal produtora de TV por assinatura do país (a Viacom, dona da MTV e do Nickelodeon, avaliada em US$ 28,8 bilhões).

O valor de mercado atingido pelo Netflix, óbvio, não diz respeito apenas às suas produções, que incluem hits como House of Cards e Orange is the New Black e as continuações de seriados que foram cancelados na TV a cabo, como The Killing e Arrested Development. O serviço cresce por oferecer um formato de consumo de conteúdo mais próprio da era digital do que o que é oferecido pelas TVs aberta e por assinatura.

As pessoas lentamente percebem que não precisam estar na frente da televisão num horário pré-estabelecido para assistir ao que querem. O formato sob demanda – que o espectador diz quando quer assistir o quê – ainda tem uma série de problemas para serem resolvidos (quem nunca perdeu vários minutos procurando o que assistir?), mas é irreversível. A TV tradicional só vai ter o monopólio da atenção em eventos ao vivo, sejam esportes ou notícias. E por enquanto.

A esperteza do Netflix, no entanto, está no fato de surfar essa boa onda financeira produzindo conteúdo. Podiam investir no serviço em si, em melhorias na interface, na navegação, em curadorias de filmes e em qualidade de transmissão. Preferem fidelizar seu público aproveitando os dados de audiência que conseguem levantar com mais precisão do que qualquer canal (afinal o espectador só assiste o que quer) e produzem seriados de acordo com o gosto que detectam a partir dos números de suas próprias exibições.

É um comportamento bem diferente de serviços similares em outras mídias. Ainda não ouvimos falar do Spotify bancando discos de artistas, por exemplo, embora a própria Amazon já tenha detectado essa tendência e começado ela mesma a produzir seus próprios seriados. E a colher frutos disso, como foi o caso da série Transparent, que ganhou dois Globos de Ouro (melhor série de comédia e melhor ator de série de comédia) no início deste ano.

E isso é só o começo de uma mudança ainda mais drástica que seguiremos acompanhando nos próximos anos…

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