Damo Suzuki (1950-2024)

, por Alexandre Matias

Morreu um dos grandes. Só a história da entrada de Damo Suzuki no Can já valeria seu lugar na história. Nascido no Japão nos anos 50, mudou-se para a Europa no meio dos anos 60, quando ficou vagando a esmo por diferentes lugares, fazendo todo tipo de trabalho – e de arte. Até que encontrou os integrantes do Can na rua, quando o quarteto, prestes a começar mais um show, souberam da saída do antigo vocalista. Encontraram aquele japonês andando e cantarolando na rua, começaram a conversar com ele e, do nada, ele topou fazer improvisar os vocais nos shows daqueles caras. Foi o começo de uma curta e definitiva a carreira: os quatro discos em que Damo foi o vocalista do Can (na ordem – Soundtracks, Tago Mago, Ege Bamyası e Future Days) não só colocaram o grupo alemão no topo de um novo movimento musical como estabeleceu sua reputação para o resto da vida – a ponto de Mark E. Smith, do Fall (justo quem!), ter escrito uma música chamada “I Am Damo Suzuki”. Desde sua saído do Can, em 1973, ele vaga pelo planeta se juntando com músicos improvisadores não importando de onde eles vêm: música eletrônica, rock, jazz, noise, funk, ambient. Em cada lugar que passava montava um grupo para tocar junto e alguns deles sobreviviam e continuavam existindo, outros duravam apenas a noite do show. Foi o que aconteceu em São Paulo, no dia 14 de maio de 2005, quando reuniu cobras da cena experimental de São Paulo para um show inacreditável no Sesc Pompeia – um dos melhores que já vi na vida, sem dúvida, e muito pela forma como ele regia os músicos – ao lado de Miguel Barella, Paulo Beto, Ian Dolabella, Renato Ferreira, Carlos Issa, Gustavo Jobim, Maurício Takara e Sergio Ugeda. Há dez anos foi diagnosticado com um câncer, quando lhe deram 10% de chances de sobreviver – e mesmo assim ele seguia reunindo músicos de naturezas distintas e fazendo shows únicos. Um mestre, uma luz.

Carlos Issa, Mauricio Takara e Gustavo Jobim

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