Curadoria

E hoje é o último Prata da Casa com a minha curadoria. No ano que vem, teremos a Mostra Prata da Casa 2012, com os melhores da minha gestão de clima. A atração final é o grupo Os Sertões e pra quem ainda não sabe: os ingressos começam a ser distribuídos às 20h e show começa uma hora depois, na choperia do Sesc Pompéia. Abaixo, o texto que escrevi pro projeto. Foi altos :~~~~~~

Clayton Barros, um dos fundadores do Cordel do Fogo Encantado, era quem fazia a ponte entre os hinos religiososo-existenciais de Lirinha e a percussão explosiva do grupo, usando seu violão de forma percussiva e rítmica para dar tons musicais à catarse musical vinda do interior do Pernambuco. Em sua nova banda, Os Sertões, Clayton explora as virtudes mais tradicionais do instrumento – melodia e harmonia surgem em primeiro plano na medida em que o grupo encarna um sentimento menestrel, andarinho e contador de histórias típico do Nordeste brasileiro, que encontra parentescos com a obra de Luiz Gonzaga, Ariano Suassuna, Quinteto Violado e – por que não? – Raul Seixas. O peso do rock é percebido desde a capa de seu primeiro disco, A Idade dos Metais, que homenageia o clássico Sgt. Pepper’s dos Beatles e apresenta-se como uma espécie de continuação da obra do Cordel, ainda na fronteira da cultura escrita e da oral, mas menos elemental, mais ampla mas sem perder o tom épico e pesado – e conta com versões do grupo para Les Baxter e Zé Ramalho.

Afrojazz instrumental mineiro é a opção de hoje no Prata da Casa do Sesc Pompéia. Vamos lá? O show começa às 21h e os ingressos – gratuitos – começam a ser distribuídos uma hora antes. Abaixo, o texto que escrevi para o projeto – cuja edição de 2012, com a minha curadoria, termina neste mês.

A música brasileira vive uma nova época de ouro da música instrumental. Na mesma medida em que rádio e televisão perderam o espaço para a internet como principais veículos a mapear novos artistas, uma certa desobrigação em relação a letras e ao papel central de um vocalista em uma banda abriu espaço para bandas de todo o Brasil experimentarem novos formatos – indo desde o afrobeat ao jazz mais cabeçudo, passando por rock experimental e outros formatos em que a canção e a melodia ficavam em segundo plano. Neste cenário, Belo Horizonte vem se fortalecendo como um grande celeiro de novas bandas – e o Iconili, com seus onze integrantes que fundem música africana, tropicalismo e jazz em doses cavalares, usando instrumentos como sopros, metalofone e muita percussão, é só a ponta do iceberg de uma cena que conta com nomes igualmente fortes como Constantina e Dibigode. Seu primeiro disco, Serrassônica, foi lançado em 2006 e só agora o grupo começa a preparar um sucessor – e o novo EP deve ser lançado até o fim do ano.

Este é o último mês da minha curadoria no Prata da Casa – e pra começar vamos de jazz, com o saxofonista Raphael Ferreira. Os shows no Prata acontecem sempre às 21h e os ingressos – gratuitos – começam a ser distribuídos uma hora antes. Quem vai? Abaixo o texto que escrevi para o projeto.

A classificação musical, por mais que sirva para guiar ouvintes pelos territórios sonoros que serão desbravados antes da audição, muitas vezes restringe os limites de atuação do artista. Para este, no entanto, rótulos e gêneros musicais são meras etiquetas que tentam grudar ao som e que podem ou não ter sua funcionalidade didática, mas não o restringe das novas possibilidades. É um terreno habitado pela música instrumental brasileira, que cada vez mais extrapola as fronteiras de gênero para além das influências do choro, da bossa nova ou da MPB, rumo à sonoridade universal do jazz, que engloba todos os ritmos e harmonias. É o caso do trabalho do saxofonista Raphael Ferreira, com formação em música na Unicamp e na USP, que, ao lado de Sidiel Vieira (baixo acústico), Fábio Leal (guitarra), Sérgio Machado (bateria) e Felipe Silveira (piano), alça longas incursões instrumentais que partem do jazz contemporâneo para mirar em novos horizontes – da música popular à música erudita dos séculos 19 e 20 – , bebendo inclusive nas águas brasileiras, ao ungir sua musicalidade livre nos ritmos do afoxé, do samba e do baião. Em seu primeiro disco, Ultramar, ele mostra porque a música instrumental brasileira sequer precisaria ter estes dois últimos adjetivos.

E a atração do Prata da Casa de hoje é o pernambucano Tibério Azul. O Prata começa às 21h no Sesc Pompéia e os ingressos, gratuitos, começam a ser distribuídos uma hora antes. Abaixo, o texto que escrevi sobre o artista.

Apesar de ser um dos novos nomes da cena pernambucana da nova década, Tiberio Azul não é propriamente um novato. Com passagens por grupos como Mula Manca & a Fabulosa Figura (onde lançou os discos O Circo da Solidão e Amor e Pastel) e Seu Chico (em que dividiu o palco com o jovem virtuoso Vítor Araújo, tocando versões para músicas de Chico Buarque), ele finalmente lançou-se em carreira solo este ano. Bandarra, seu primeiro disco – em download gratuito em seu próprio site -, foi lançado pelo selo Joinha Records, do vocalista China e do tecladista do Mombojó Chiquinho, e inevitavelmente traz referências da música pernambucana pós-mangue beat, mas também bebe na fonte dos cariocas dos Los Hermanos, fazendo a ponte entre o rock independente e a velha música brasileira. De voz doce e composições que funcionam como crônicas, Tibério não é apenas um nome recifense para se ficar de olho e já está entre as principais novidades ainda não ouvidas pelo resto do Brasil.

E hoje a atração do Prata da Casa é o projeto Me & the Plant. Já sabe como é o esquema né: a partir das 20h os ingressos começam a ser distribuídos e o show começa pontualmente uma hora depois. Abaixo, o texto que escrevi para o projeto. Quem vai?

Fruto da mente do carioca residente em São Paulo Vítor Palantano, o Me & the Plant desbrava as fronteiras de um pop maduro usando o violão como principal arma, mas não única. Vale frisar pois é inevitável associar a sonoridade de sua banda ao folk ou ao indie rock mais introspectivo, mas ela vai além, com referências que vão do rock progressivo à música eletrônica, o jazz e a MPB – embora todas as músicas sejam compostas em inglês. Mas é melhor rotulá-lo próximo da psicodelia, uma vez que a banda é um projeto individual com uma única ouvinte – a planta que também batiza a banda – e que começou a existir a partir de uma epifania de isolamento no Patagônia argentina, quando Vítor compôs quase todo repertório dos shows em poucos dias. Seu primeiro disco, The Romantic Journeys of Pollen, foi gravado no Rio por Kassin e conta com uma banda formada por Vítor, no violão e vocais, o próprio Kassin, o hermano Rodrigo Barba na bateria, Gabriel Bubu da banda Do Amor no baixo e Marcos Lobato do grupo O Rappa nos teclados e guitarra slide.

A dupla de indie folk paulistana Onagra Claudique é a atração de hoje no Prata da Casa do Sesc Pompéia. O esquema é aquele de sempre: chega uma hora antes do show (que começa às 21h) e retira seu ingresso de graça na bilheteria. Abaixo, o texto que escrevi para o projeto sobre a banda:

Duas novas tradições correm em paralelo na músicaclaramente acústica brasileira e pouquíssimas vezes se cruzam. De um lado, há uma MPB influenciada pelos violões e clima pastoril de uma música mineira que começa no Clube da Esquina e que, vez por outra, flerta com certo indie rock mais introspectivo e tímido. Do mesmo jeito, há uma safra de bandas indies brasileiras que, como parte de um movimento global, redescobre os prazeres da música acústica através da música folk norte-americana ou britânica. Entre as poucas intersecções, os paulistanos do Onagra Claudique destacam-se por explorar por completo este horizonte de acordes maiores e texturas claras, com pouco sotaque urbano. Formado por Roger Valença e Diego Scalada, o grupo lançou seu primeiro EP – A Hora e a Vez de Onagra Claudique – este ano, após gravá-lo em São Paulo, sob a produção de Mauro Motoki, do Ludov, e masterizá-lo no Sterling Sound, em Nova York. O resultado soa tão Fleet Foxes quanto Lô Borges, tão Bon Iver quanto Rosie & Me, mesmo que cantando sempre em português.