Centro da Terra: Maio de 2024

Chegou maio e essas são as atrações da curadoria de música do Centro da Terra no próximo mês. A temporada de segundas-feiras fica nas mãos do trumpetista Rômulo Alexis, que apresenta suas Cosmofonias, todo início de semana explorando fronteiras estéticas, performáticas e sonoras com dezenas de músicos convidados. A primeira delas, dia 6, chama-se Fenda e reúne seu duo Rádio Diáspora às performances de Ester Lopes e Belle Delmondes. Depois, no dia 13, ele reúne um encontro entre o trombone de To Bernado, as cordas e flauta de Gui Braz, a kalimba, voz e flauta de Salloma, o violino e voz de Izandra Machado, o clarinete e voz de Laura Santo, as percussões de Manoel Trindade e Lerito Rocha, o baixo acústico, voz e flauta de Lua Bernardo, a guitarra de Du Kiddy, a bateria de Henrique e o sax de Stefani Souza, além de sua própria participação numa noite batizada de Niogra Experimenta Arkestra. No dia 20, ele convida integrantes da produtora Leviatã para a curadoria de uma noite que contará com as participações de Edbras Brasil, Inès Terra, Thayná Oliveira, Sarine e Douglas Leal. A temporada encerra-se no dia 27, quando a Rádio Diáspora mais uma vez recebe convidados, desta vez o Ensemble Cachaça, formado por Allan Abbadia (trombone), Clara Bastos (baixo acústico), Paola Ribeiro (voz e berimbau) e Steafani Souza (sax). Pesado! A programação das terças começa com a volta de Kamau ao palco do Centro da Terra com a antologia T.E.R. (Tempo em Registro), quando virá acompanhado do cantor DCazz e do DJ Erick Jay, no dia 7. Dia 14 é a estreia do trabalho autoral da cantora e compositora sulmatogrosensse Nina Camillo, que vem acompanhada de Noa Stroeter (baixo), Vitor Arantes (piano) e Gabriel Bruce (bateria) e terá participação especial de Sophia Ardessore. No dia 21, os atores Sofia Botelho e Ernani Sanchez mostram seu lado no musical no espetáculo Eu, Marina, que celebra a obra de Marina Lima. E o mês se encerra no dia 28, quando o duo (i)miscível – Guilherme Marques (bateria/percussão) e Amilcar Rodrigues (trompete) – mostram Música para um Futuro Presente, que contará com um convidado especial que só será anunciado na semana do espetáculo. As apresentações começam sempre às 20h e os ingressos já estão à venda na bilheteria e pelo site do teatro.

#centrodaterra

Som: canto ou fala?

Bonito ver o nascimento de um projeto no palco, ainda mais em se tratando de duas artistas que conheço desde o início de suas carreiras e marcando a confluência entre duas escolas aparentemente distantes. Quando Anna Vis e Jeanne Callegari vieram me falar que haviam se conectado durante semanas de retiro artístico que se submeteram ao lado de outros artistas no mês de março, tinham na cabeça que o Centro da Terra seria um bom início de parceria ao vivo; E quando o lado poético e experimental de Anna, musicista e senhora da canção, pôs-se à frente do lado musical da poeta e performer Jeanne (imersas na luz etérea de Letícia Trovijo), a faísca inicial começou a acender pontos em comum, deixando-as livres para explorar este recém-nascido projeto Fogo Fogo. A apresentação foi justamente uma lenta fogueira de sons distorcendo-se entre cantos e palavras ao mesmo tempo em que usavam elementos discretos externos que ancoravam o texto, que horas era melodia, noutras poesia e em vários momentos algo híbrido dessas duas escolas. Queimai.

Assista abaixo:  

Anna Vis + Jeanne Callegari: Fogo Fogo

Encerramos a temporada de abril no Centro da Terra com o espetáculo Fogo Fogo, concebido pela cantora, compositora, produtora e instrumentista Anna Vis e pela poeta e performer Jeanne Callegari, que traz sua já conhecida Máquina de Pesadelo para dar início no palco a uma parceria que começou em uma residência artística no mês passado e mistura ritmo, ruído e palavra em um forno criativo. A primeira apresentação da dupla acontece nesta terça-feira a partir das 20h e os ingressos estão à venda neste link.

#annavisejeannecallegarinocentrodaterra #annavis #jeannecallegari #centrodaterra2024

Na beirinha

Chegou ao fim nesta segunda-feira a jornada que Thiago França, Rômulo Froes e Rodrigo Campos se propuseram ao encarar a temporada 3 na Ribanceira que tomou conta das segundas de abril no Centro da Terra – e a quarta noite foi de pura celebração, com os três lembrando diferentes momentos de suas carreiras ao mesmo tempo em que recebiam dois cúmplices de encruza, ninguém menos que Juçara Marçal e Marcelo Cabral. A apresentação começou com Thiago segurando a respiração do público com seu mantra de fôlego circular no saxofone, abrindo caminho primeiro para Rômulo (com sua “Pra Comer”), depois para Rodrigo (que entrou com sua “Meu Samba Quer Se Dissolver”) e os três tocaram a marchinha “Adeus Saudade”, feita para um dos primeiros desfiles da Charanga do França. Depois entrou Cabral, tocando baixo elétrico, para acompanhá-los primeiro numa versão pagode para “Muro”, de Rômulo, e depois com a faixa-título do primeiro disco do baixista, Motor, esta já com a presença da segunda convidada, Juçara. Juntos os cinco, passaram por “Três Amigos” (do Metá Metá), “Ladeira” (do trio Sambas do Absurdo), “Queimando a Língua” (do primeiro disco da Juçara), “Presente de Casamento” e “Espera” (de Rômulo), “Califórnia Azul” e “Velho Amarelo” (de Rodrigo). A ausência da noite foi Kiko Dinucci, que não pode comparecer por questões pessoais e foi lembrado quando tocaram a bela “São Paulo de Noite”, do Thiago – ou “Dinucci”, como brincaram. Também foi sentida a ausência de qualquer canção do grupo Passo Torto, que tinha 3/4 de sua formação no palco. Entre as músicas o tom era de conversa de bar, com Thiago brincando que Juçara tinha o colocado no time dos saxofonistas compositores ao lado de Milton Guedes e Jorge Israel enquanto Rômulo fazia a genealogia de cada uma das canções. Ele ainda brincou que estava chegando na beira da ribanceira, “olhando o precipício e ele olhando de volta” pouco antes de um deslize de memória (quem viu viu) que veio antes do encerramento da noite e da temporada, quando emendaram “Fim de Cidade” e “Mulher do Fim do Mundo”. Uma noite especial – e Juçara ainda soltou um spoiler do que vem por aí…

Assista abaixo:  

O encontro de Anna Vis com Jeanne Callegari

Uma mudança súbita de percurso nos obrigou a adiar a apresentação que a cantora cearense Soledad faria no Centro da Terra no último dia deste mês e em seu lugar receberemos o encontro dessa dupla de artistas que acompanho desde o começo. Embora tenham trajetórias diferentes – uma é musicista, compositora e cantora, a outra é poeta e performer -, Anna Vis e Jeanne Callegari se conectaram a partir de uma residência artística que participaram no mês passado e vieram me procurar para apresentar uma proposta que queriam desenvolver juntas bem quando a Soledad me avisou que não poderia fazer seu espetáculo. Assim, aproveitei o calor da hora para aquecer esse match e as duas apresentam na próxima terça-feira Fogofogo, espetáculo que mistura poesia, ruído, texto, beats, samples e palavras. Os ingressos já estão à venda neste link. Em breve anuncio a nova data da Sol.

Pedro venceu o Abismo

Noite linda com Pedro Pastoriz encerrando o ciclo de seu Pingue-Pongue com o Abismo no espetáculo Replay, que teve vários momentos foda, desde a participação de Tomas Oliveira tocando taças, à ótima combinação entre os produtores do disco (Charles Tixier e Arthur Decloedt, ambos na eletrônica) e o baixista que atualmente acompanha Pedro (Otávio Cintra), que renderam versões excelentes tanto para os momentos mais delicados do disco (“Alzira”, “Chicletes Replay” e “Janela”), os mais pop (como “Dolores” e “Fricção”), as vinhetas e os mais intensos (como “Boogaloo” e “Faroeste Dançante”). Pedro ainda aproveitou para mostrar uma música inédita (“A Lua”) tocada apenas ao violão, além de “Assovio”, que tocou nesse formato. E mesmo temperando o show com seu humor entre o nonsense e a aparente falta de noção (que ele domina como poucos, principalmente ao conversar com o público), o momento mágico aconteceu quando chamou sua companheira Talita Hoffman – gravidaça – para dividir o palco tocando baixo enquanto ele seguia no violão, cantando duas músicas alheias que refletem o momento do casal, “Now Is Better Than Before”, de Jonathan Richman, e “Man in Me”, do Bob Dylan, que Talita disse ser uma piada muito boa para deixar passar, afinal, ela carrega um homem dentro dela. Foi a coroa para uma noite de astral altíssimo.

Assista abaixo:  

Pedro Pastoriz: Replay

Imenso prazer de receber o Pedro Pastoriz nessa terça-feira para encerrar a fase Pingue Pongue com o Abismo, nome de seu terceiro disco, lançado em 2020, que foi iniciada nesse mesmo palco há quase cinco anos, quando ele apresentou o primeiro rascunho ao vivo deste trabalho no espetáculo Este Show é um Teste. Agora ele volta ao teatro do Sumaré para encerrar esse ciclo com a apresentação Replay, que reúne seu atual círculo musical, com os dois produtores que o conduziram por esse processo – Charles Tixier e Arthur Decloedt -, os músicos que estão tocando com ele atualmente (o baixista Otávio Cintra e a tecladista Bibiana Graeff), o tocador de taças Tomas Oliveira (que também esteve no disco) e sua companheira, Talita Hoffmann, que toca baixo em algumas músicas, além da luz de Olívia Munhoz. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados neste link.

Pérolas (ainda) desconhecidas

A terceira noite da temporada que Rodrigo Campos, Rômulo Fróes e Thiago França estão fazendo no Centro da Terra era um salto no escuro – e provou-se a melhor da temporada até aqui. Apresentando um repertório composto apenas por músicas inéditas, a noite contou com um elemento de experimentação que fez o trio baixar a guarda e assumir o aspecto laboratorial desta temporada chamada de 3 na Ribanceira. Pois lá estavam os três, soltando pérolas arquivadas no passado e músicas que tiraram da gaveta do período pandêmico sem pudor de recomeçar faixas, discutir letras, arranjos e melodias (“se o Ed Motta falou…” foi um comentário recorrente) e soltar farpas apenas para espezinhar uns aos outros, como quando Thiago lamentou que sua “Bodeado” havia ficado de fora do Barulho Feio de Rômulo ou quando este reclamou que uma música sua não entrou no Elefante que gravou com Rodrigo ano passado porque tinha “muita letra”. A pegação no pé mútua ajudava a dissipar o clima sério e por vezes soturno (pois algumas faixas haviam sido compostas durante a pandemia) de parte daquele repertório, que ainda trouxe uma composição de Ròmulo e Ná Ozzetti que havia sido tocada apenas uma vez exatamente naquele palco, em março do ano passado e a mesma “Cadê Meu Dinheiro?” que Campos lançou na primeira noite da temporada. A noite terminou com um aperitivo da próxima segunda, quando receberão Marcelo Cabral e Juçara Marçal para revisitar clássicos próprios, e Rômulo puxou sua “Espera”, que também havia sido tocada na primeira segunda-feira desta safra de shows.

Assista abaixo:  

É sobre

Ao propor um jogo musical, literário e cênico cujas regras não estavam definidas, Juliana Perdigão conduziu com seu clarinete e palavras um grupo formado pelos teclados de Chicão, pelo contrabaixo acústico de Ivan “Boi” Gomes e os eletrônicos do produtor Barulhista a um universo em que som e palavra fundiam-se numa mesma coisa. O espetáculo-experimento Fraga?, que aconteceu nesta terça-feiro no Centro da Terra, abriu com Perdigão lendo o início do poema-livro Odisséia Vácuo de Renato Negrão, cheio de pausas e lacunas, como se fosse música, para depois passear por seu próprio texto Dúvidas (base de seu disco de 2020) e depois por versões deste mesmo texto feitas pela autora através do Chatgpt. E enquanto ela lia os textos, os instrumentos musicais trabalhavam como se estivessem construindo uma base que ficava entre o ambient e o jazz de improviso ao mesmo tempo em que soavam como se estivessem falando – fossem sozinhos ou conversando entre si -, criando uma atmosfera de sonho surrealista que seduzia, hipnotizava e ninava o público para algum lugar entre o consciente e o inconsciente, algo que era reforçado pelas projeções sutis e sombrias de Filipe Franco. Foi mágico.

Assista abaixo:  

Juliana Perdigão: Fraga?

Enorme prazer em receber a querida Juliana Perdigão no palco do Centro da Terra. Mineira atualmente radicada na Alemanha, aproveitamos sua passagem pelo país para que ela nos propusesse uma apresentação e ela veio com um jogo – ou melhor, um jogo de perguntas sem respostas. Acompanhada por Ivan “Boi” Gomes no baixo acústico, Barulhista nos eletrônicos, Chicão no teclado e Filipe Franco nas projeções e luz, ela apresenta Fraga? nesta terça-feira e continua um trabalho com voz falada e clarinete que iniciou no disco Dúvidas, lançado no ano da pandemia. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados neste link.

#julianaperdigaonocentrodaterra #julianaperdigao #centrodaterra2024