O evento concebido para diagnosticar o atual rock brasileiro, o Centro do Rock começa nessa terça no Centro Cultural São Paulo, com um show de graça da Test Big Band (mais informações aqui) e segue até o final do mês com filmes, audição comentada, shows e debates sobre o tema. A programação completa você encontra no site do CCSP. Abaixo, o texto que escrevi para o catálogo da atividade, falando das transformações no gênero e o que está acontecendo no país.
Novo rock brasileiro
O renovado Centro do Rock reúne novos artistas de diferentes vertentes estéticas e culturais que encaixam dentro do elástico parâmetro do gênero
O impacto do rock desde sua criação vem da transgressão, da subversão, do desafio ao status quo e da intensidade emocional de misturar realidades e expectativas. A ambiguidade sexual, a revolta política, a mistura de raças e nacionalidades e o culto à personalidade transformavam o que poderia ser apenas um novo gênero musical – com raízes idênticas em realidades distintas (o blues e o country, as duas metades que até hoje simbolizam os Estados Unidos) – em uma febre global. Baixo, guitarra e bateria equilibrando frases elétricas e refrões em forma de hino fizeram esta novidade norte-americana se espalhar pelo planeta à medida em que a adolescência ganhava voz pela primeira vez na história.
Mas ao tornar-se clássico, o gênero passou a cultuar símbolos e uma mitologia que aos poucos engessou suas principais qualidades apenas para firmar seus holofotes apenas no ego dos artistas. Logo o astro do rock era mais importante que sua mensagem e aos poucos as premissas que tornaram o gênero musical em transformação comportamental foi envelhecendo com seus primeiros protagonistas, que perderam o viço da juventude e tudo – de bom e de ruim – que o rock tinha relacionado àquela faixa etária. Aos poucos a música eletrônica, o hip hop e uma nova vanguarda foram suprindo aquela necessidade de extravasão que antes era proporcionada pelo gênero. O rock foi se transformando em algo reacionário, reativo e eminentemente conservador – autocelebratório e machista, indulgente e preconceituoso, intolerante e caricato. Até o indie rock – versão alternativa para esse rock dito clássico – repete tais erros.
Este retrato, no entanto, é impreciso. Talvez pelo excesso de atenção em alguns dos grandes vendedores de discos do passado, o gênero passe por esse envelhecimento grotesco, mas ele não mostra as transformações que eventualmente estão sendo propostas por artistas mais novos. Temos novas gerações desconstruindo o formato estabelecido entre os anos 60, 70 e 80 e reinventando um rock que muitas vezes transcende gêneros e outras desafiam as expectativas.
Não é diferente no Brasil. Presente em dois dos principais momentos de popularidade da música no país – nos anos 60 da Jovem Guarda de Roberto Carlos e do Tropicalismo de Gil e Caetano e nos anos 80 da safra estabelecida a partir do primeiro Rock in Rio -, o rock é a porta de entrada para a maioria dos músicos do país no mercado e no cenário artístico. Nomes que depois se estabeleceram na chamada MPB e até na axé music e no sertanejo deram seus primeiros passos na carreira fazendo versões de clássicos em bandas de salão, botecos sem glamour ou em casas de show minúsculas que insistem em sua existência pela pura perseverança.
Ao mesmo tempo, as novas tecnologias permitiram que a comunicação entre grupos diferentes de artistas pudesse criar uma cena musical que não necessariamente pertença a um bairro, uma cidade, um estado ou uma região do país, fazendo artistas de diferentes faixas etárias e locais de origem pudessem se reconhecer umas nas outras à medida em que passeavam por festivais e excursões pelo país. Este reconhecimento estético vem criando uma nova geração de rock que, por culpa de outro efeito das novas tecnologias (a pulverização da informação em micronichos), já pode ser considerada uma nova safra de rock com características próprias. Como cada um destes artistas vem trilhando seu caminho particular, não há uma sensação de movimento ou de transformação coletiva que era característica do gênero em outras épocas.
Mas é uma ilusão. Essa transformação está acontecendo, novos rumos estão sendo trilhados e aos poucos o rock vem recuperando suas características de contestação, de subversão e de protesto. É essa a força-motriz da transformação do antigo Sintonia do Rock, que o Centro Cultural São Paulo realiza desde os anos 90, em Centro do Rock. Um novo espaço para reinventarmos esta nova cena coletivamente, reunindo artistas de diferentes tendências e vertentes estéticas (do indie ao metal, do glam ao experimental, do hardcore ao noise) que se encaixem nesta casa da mãe Joana chamada rock’n’roll. Afinal, o Hard Rock Café é só um shopping center
O festival uruguaio Contrapedal baixa neste fim de semana em São Paulo e toma conta do CCSP no sábado e no domingo, reunindo atrações musicais, mostra audiovisual, exposições e outras atividades que integram criadores de toda a América Latina. E tanto a feira de criadores quanto a gastronômica leva a assinatura do Jardim Secreto. Mais informações sobre o festival, que é de graça, no site do evento ou na página do Facebook deles.
Depois do mês de apresentação da série Concertos de Discos, em que cada disco clássico de 1967 foi analisado por um especialista, a partir de julho, o programa continua com um professor por mês. E como o tema do mês é rock – por causa do Centro do Rock -, convidei o Ricardo Alexandre para dissecar a história do rock brasileiro a partir de oito discos, que não são os melhores nem os mais importantes, mas que sintetizam a história do gênero a partir de diferentes épocas. Outra mudança é que iremos testar os concertos semanalmente todo sábado, a partir das 15h30, dentro da Discoteca Oneyda Alvarenga e gratuitos, como sempre. A primeira aula, neste dia 8, é sobre a trilha sonora da novela Estúpido Cupido e o disco Jovem Guarda de Roberto Carlos. A segunda, sábado 15, é sobre o disco-manifesto Tropicália ou Panis et Circensis e o Krig-Ha Bandolo de Raul Seixas. A terceira aula, no sábado 22, é sobre Seu Espião do grupo Kid Abelha e os Abóboras Selvagens e Selvagem?, do grupo Paralamas do Sucesso. E a última, no dia 29, é sobre o disco de estreia dos Raimundos e o terceiro disco dos Los Hermanos, Ventura. Vai ser demais.
A partir do dia 11 de julho, o Centro Cultural São Paulo abre-se para o melhor do rock moderno brasileiro, reunindo nomes como Rakta, Garage Fuzz, Boogarins, Test Big Band, Meu Reino Não é Desse Mundo, Thiago Pethit, Luís E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante + Ventre, MQN, Maglore, Vermes do Limbo + Bernardo Pacheco, Thiago Nassif, Jonnata Doll e os Garotos Solventes, Labirinto e The Baggios, além de debates, filmes e uma edição do Concertos de Discos dedicada à história do rock brasileiro. Mais informações no site do CCSP.
Gabriela Deputski lança seu ótimo Cosmos, o primeiro disco da banda que lidera, nesta quinta-feira, de graça, no Centro Cultural São Paulo (mais informações aqui). O detalhe é que nesta apresentação a formação inclui a Larissa Conforto, do Ventre, na bateria… Vai ser demais!
Convidei a Espetacular Charanga do Thiago França para animar o Baile Novo, que bolei em parceria com a curadoria de dança do CCSP – um baile de salão aberto em plena Adoniran Barbosa, todo mês, e de graça! Mais informações aqui.
Em mais uma parceria fechada pelo Centro Cultural São Paulo, entregamos o porão e a Sala Adoniran Barbosa nesta quinta-feira para um dos palcos mais incríveis do Red Bull Music Academy Festival, que toma conta da cidade esta semana por vários lugares. As atrações no CCSP hoje vão de Arto Lindsay ao Chinese Cookie Poets, Tantão, Objeto Amarelo, entre outros – mas o centro da noite é a colaboração entre as Rakta e as Mercenárias. Ainda tem ingressos pra quem quiser embarcar nessa – mais informações aqui.
A partir deste mês retomamos no Centro Cultural São Paulo a série Concertos de Discos, idealizada pela diretora original da discoteca pública que hoje batiza a instituição, a pesquisadora Oneyda Alvarenga, em que pesquisadores e especialistas dissecam discos clássicos em audições comentadas. Como estamos nas comemorações dos 50 anos do ano de 1967 (dentro do projeto Invenção 67), iniciamos os trabalhos com oito aulas sobre oito discos essenciais lançados naquele ano – das estréias do Pink Floyd, Doors, Velvet Underground e Jimi Hendrix, a discos cruciais nas carreiras de Tom Jobim, Roberto Carlos, Aretha Franklin e dos Beatles. O time de especialistas reunidos é da pesada e as audições acontecem na própria Discoteca Oneyda Alvarenga, no CCSP, durante as terças e quintas de junho, gratuitamente, a partir das 18h30. Veja a programação completa deste primeiro mês abaixo (mais informações aqui):
Concertos de Discos
de 6 a 29/6 – terças e quintas – 18h30
O Invenção 67 ressuscita os célebres Concertos de Discos, que a primeira diretora da Discoteca do Centro Cultural São Paulo, Oneyda Alvarenga, ministrou entre 1938 e 1958. Os Concertos de Discos voltam focados em música popular e realizados na própria Discoteca Oneyda Alvarenga, convidando o público a uma audição comentada. Programe-se: as audições são limitadas a 30 pessoas. Todos os concertos começam pontualmente às 18h30.60min – livre – Discoteca Oneyda Alvarenga
grátis – sem necessidade de retirada de ingressosSgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
dia 6/6 – terça – 18h30
Pai e filho, Maurício Pereira (Os Mulheres Negras) e Tim Bernardes (O Terno) falam sobre o clássico dos Beatles: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.The Piper at the Gates of Dawn
dia 8/6 – quinta – 18h30
O crítico e músico Alex Antunes (Akira S, Shiva Las Vegas) trata do disco de estreia do Pink Floyd, The Piper at the Gates of Dawn.Wave e Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim
dia 13/6 – terça – 18h30
O músico e historiador Cacá Machado analisa os álbuns Wave, de Tom Jobim, e Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, parceria com Sinatra e Jobim que marcou a inserção da bossa nova no contexto internacional.The Doors
dia 15/6 – quinta – 18h30
O jornalista Jotabê Medeiros mergulha no álbum de estreia da banda The Doors, que juntou de modo dramático jazz, blues, lisergia e poesia.I Never Loved a Man the Way I Love You
dia 20/6 – terça – 18h30
Especialista em hip hop, soul e funk, a jornalista Mayra Maldjian analisa I Never Loved a Man the Way I Love You, turning point na carreira de Aretha Franklin – e do rythmn’n’blues.Are You Experienced?
dia 22/6 – quinta – 18h30
Músico e jornalista, Rodrigo Carneiro (Mickey Junkies) surfa em Are You Experienced?, disco em que estreou a banda Experience, de certo guitarrista canhoto chamado Jimi Hendrix.Em Ritmo de Aventura
dia 27/6 – terça – 18h30
Guitarrista e vocalista da banda Autoramas, Gabriel Thomaz entra Em Ritmo de Aventura para falar do clássico de Roberto Carlos.The Velvet Underground & Nico
dia 29/6 – quinta – 18h30
O jornalista e editor da revista Bravo!, Guilherme Werneck, trata de The Velvet Underground & Nico, o disco que lançou a banda de Lou Reed – e também as bases do punk.
Como parte do evento Invenção 67, Roberta Martinelli e Ricardo Alexandre discutem o mítico festival da Record em 1967 (aquele que revelou Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de consolidar as carreiras de Edu Lobo e Chico Buarque) este sábado, no CCSP. O debate acontece às 17h, logo após a exibição do filme Uma Noite em 67, de Ricardo Calil e Renato Terra (que foram convidados para participar do evento mas não tinham disponibilidade de agenda). Tanto a exibição do filme quanto o debate são gratuitos – e a lotação está sujeita à capacidade da Sala Paulo Emílio. Os ingressos estão disponíveis uma hora antes do evento – mais informações aqui.
O show acontece nesta quinta-feira, de graça, às 21h, e faz parte das atividades do evento Invenção 67 (mais informações aqui). Abaixo, um trechinho descontraído de um dos ensaios: