A edição deste mês da revista Galileu traz na capa uma matéria do repórter Rafael Tonon sobre como o que chamamos de livre-arbítrio talvez possa não existir, hipótese cogitada por três livros que estudam o comportamento biológico do cérebro humano. Há também o dossiê sobre o futuro da indústria do tabaco, uma matéria sobre como o TED conseguiu espalhar-se pelo mundo usando o formato TEDx, outra sobre o sucesso do grupo Porta dos Fundos na internet, a entrevista que fiz com o filósofo Slavoj Žižek em sua passagem pelo Brasil, um infográfico que disseca o trabalho escravo no Brasil e uma matéria sobre porque escovar os dentes faz bem para todo o corpo, não só para a boca. Abaixo, a Carta ao Leitor que escrevi na edição deste mês.
REVISTA EM MÃOS: Žižek folheia a edição do mês passado após entrevista realizada pelo diretor de redação Alexandre Matias
Uma das melhores coisas de se trabalhar numa publicação como a GALILEU é constatar a amplitude dos temas abordados. À medida que vamos pensando em diferentes pautas e matérias — seja na versão impressa ou no site —, nos damos conta de que qualquer tema pode ser abordado por nós, desde que dentro da ótica da ciência e do conhecimento, nossas principais bandeiras. E, justamente por isso, é curioso perceber como, mesmo falando de temas tão amplos e distantes entre si, alguns assuntos acabam se interconectando.
A edição deste mês reuniu uma série destas coincidências. Fui entrevistar o filósofo esloveno Slavoj Žižek, que veio a São Paulo participar de um seminário sobre marxismo, mas queria ouvi-lo falar sobre ciência e tecnologia, e, sem que eu perguntasse nada que pudesse remetê-lo ao tema, em pouco tempo ele começou a falar sobre a conexão entre homens e máquinas e como ela acaba questionando nossa noção de livre-arbítrio, colocando em xeque até mesmo a possibilidade de não ser o nosso consciente quem decide as escolhas que fazemos em nosso dia a dia. Justamente o tema da capa desta edição.
A matéria, escrita pelo colaborador Rafael Tonon, foi conduzida por Priscilla Santos, uma das editoras da revista, que também tomou conta de outra grande matéria desta edição, a tradução que fizemos da reportagem que a revista norte–americana Wired fez sobre o sucesso dos chamados TEDx. Essas conferências-satélite são filhotes do evento-mãe TED (acrônimo para Tecnologia Entretenimento e Design), que acontece há décadas nos EUA, mas que desde 2006 começou a se espalhar: primeiro via web, com íntegras de suas curtas palestras em vídeo, e depois para o mundo offline, por meio dessas franquias que se espalharam por todo o planeta — inclusive por aqui. E aí outra coincidência da edição: o marido de Priscilla, Helder Araújo, não só assiste há seis anos as conferências originais nos EUA como também ajudou a organizar o primeiro TEDx no Brasil, em São Paulo, além do TEDx na Amazônia. Assim, foi inevitável o chamarmos para dar um depoimento que daria um sabor pessoal e brasileiro à matéria estrangeira.
Aproveito a deixa da colaboração do casal na revista para parabenizá-los em público por outra colaboração dos dois, já que em breve serão pais. Congratulações a eles.
Esta edição também é a última que conta com a participação do editor Diogo Sponchiato, que deixou o Jaguaré rumo aos velhos “novos desafios”. Boa sorte, Diogo!
Por aqui, seguimos mudando. Sempre, afinal, as novidades não param. Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
Música como assunto na capa da Galileu é mais uma das mudanças que estamos engrenando na publicação. Entre as outras novidades do mês, vale ressaltar a parceria com o evento Fronteiras do Pensamento, a estreia do boletim do título na rádio CBN (no primeiro domingo de março, dentro do Revista CBN), o lançamento das colunas de toda a redação e um novo funcionamento das redes sociais. A revista de capa amarela que chega às bancas neste fim de semana, além do tema música livre em uma matéria escrita pelo Ronaldo, traz o Dossiê sobre o cenário das startups brasileiras, a força da indústria do álcool frente aos governos do mundo todo, guloseimas criadas em laboratório, um salmão transgênico, a geração de filhos únicos na China, como muda o museu com o século 21 e um ranking de celebridades brasileiras medido por aparições publicitárias na TV. Abaixo, a carta ao leitor que abre a revista, em que conto um pouco dos bastidores do fechamento desta edição.
NA CASA DA TULIPA: O diretor de arte Fábio Dias aproveitou a sessão que a fotógrafa Camila Fontana fez com a cantora para tirar a foto acima
Antes do Carnaval, reunimos toda a equipe GALILEU para uma foto. Ao lado da fotógrafa Camila Fontana, o diretor de arte Fábio Dias fazia as vezes de diretor de cena, reposicionando um, ajeitando a roupa de outro, pedindo para alguém levantar ou abaixar o rosto. Era a foto que ilustra as novidades desta edição. Mas para Fábio e Camila era só o finzinho do trabalho para nossa capa do mês.
Durante uma semana, eles foram aos quartéis-generais dos principais personagens de uma matéria que, embora seja protagonizada por artistas, fala de tecnologia e economia — e não apenas de cultura. Visitaram alguns dos nomes mais importantes desta nova cartografia musical brasileira, que vem reinventando o diálogo entre ídolo e fã, mercado e consumidores, gravadoras e ouvintes. E, no percurso, Fábio começou a pegar o espírito da pauta. Não só para saber como ficariam as fotos na matéria, mas para imaginar o conjunto das páginas e, inevitavelmente, a imagem da capa.
Eu havia pensado em pôr os artistas na própria capa — havia inclusive cogitado a possibilidade de juntarmos todos para tentarmos uma homenagem ao quadro Operários, de Tarsila do Amaral, pelo fato de esta ser uma geração que põe a mão na massa. Testamos algumas opções, mas o repórter Ronaldo Evangelista, autor da matéria, me mandou o recém-lançado clipe da banda mineira Graveola e o Lixo Polifônico, que recria o quadro de 1933 como um Sgt. Pepper’s, o clássico disco dos Beatles, à brasileira.
Partimos para uma nova opção e começamos a pensar em um objeto para ilustrar o tema — um rádio, um disco, um instrumento… E ao chegarmos ao fone de ouvido, Fábio veio com um trocadilho visual, usando o arco do assessório como a haste curva de um cadeado, mostrando que a música agora está livre — de suportes, de um modelo único, de formatos preestabelecidos. A princípio a imagem era um ícone, essencialmente gráfico, que acabou evoluindo para a ilustração de Marcus Penna, o Japs, que está nesta capa.
Corta para o sétimo andar do prédio da editora, onde nos reunimos para a foto da equipe, e vendo Fábio dirigir a fotografia, posto uma foto desta cena online. Seus amigos aos poucos comentam a imagem, usando frases típicas do gaúcho: “Tchê, sei não…”, “Não sei se gosto…”, “Que tu acha?”. Frases que traduzem sua já clássica inquietação em relação à qualidade visual da revista — que vai da ilustração às fotos e ao design das páginas —, rumo à tal mudança em câmera lenta que estamos empreendendo neste 2013. Ela está por toda a revista, mas detalhamos algumas delas mais pontualmente em nosso Ecossistema (págs. 10 e 11). Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
Eis a segunda edição da Galileu comigo no comando. A matéria de capa, pauta sobre medicina integrativa conduzida pelo editor Diogo Sponchiato já vem causando polêmica da parte daqueles que sempre trataram terapias alternativas como acupuntura, fitoterapia, homeopatia e musicoterapia como charlatanismo, cobrando rigor científico – e é justamente este o assunto da capa, como a medicina vem reconhecendo este tipo de tratamento através de comprovações científicas. Além da capa, a edição de fevereiro ainda traz reportagens sobre o mistério da ressaca, a falta de criatividade em Hollywood, o primeiro livro de Julian Assange, a solução dos telhados verdes para as grandes cidades, um zoológico de clones de animais extintos no Brasil, um cemitério de aviões, o RPG de South Park, a morte de Aaron Swartz, pessoas que monitoram o próprio corpo para detectar doenças, como o sedentarismo é pior que o cigarro, hotéis feito para hospedar astrônomos amadores, uma bicicleta elétrica que pode tirar os carroceiros do trânsito, como as palavras podem provocar dores físicas, o mapa da corrupção no mundo, um biólogo de games, a primeira impressora 3D comercial do Brasil, dicas para economizar na conta de luz e uma entrevista que fiz com Cory Doctorow. E além da pauta, essa edição marca também um início de mudança no site do título, que ganha um reajuste de layout, como sua presença para além das bancas de revista e da internet – e a equipe Galileu estará não só cobrindo mas também participando de cinco mesas durante a Campus Party, que começa essa semana. Falo mais disso no meu editorial desta edição, reproduzido abaixo.
À medida em que vamos fechando as páginas de GALILEU, este quadro, no meio da redação, vai sendo atualizado
Ainda não me acostumei com o ritmo de publicação de uma revista. Vim de jornal, onde o pique é acelerado e a pressa é companheira do fechamento, por isso sempre pergunto a alguém da redação se um determinado assunto cabe ou não na edição, se vale a pena cortarmos uma matéria que já está pronta e na página para a substituirmos por outra sobre algum assunto que acabou de acontecer. Conto sempre com a opinião do redator-chefe Tiago Mali para saber se vale investir nessa ou naquela pauta que acabaram de pintar.
Quase sempre repasso essas pautas para a Débora Nogueira, editora do site Galileu. A Paula Perim, diretora do núcleo que abrange GALILEU, fala que este jet lag entre os fusos horários dos fechamentos de jornal para a revista normalmente se estabiliza após três meses de casa. Tomara. Mas quando ficamos sabendo do suicídio de uma das mentes mais brilhantes do universo digital, Aaron Swartz, a pressa do jornalismo diário falou mais alto e invadiu o fechamento mensal, dedicando duas páginas da edição para celebrarmos sua importância.
Essas mudanças estão aos poucos entrando no dia a dia da redação. Nesta edição, dá para perceber outros pequenos detalhes que fizemos no percurso do fechamento. São mudanças discretas, mas que aos poucos mostram que 2013 será um ano bem agitado para o título.
Para começar, ao virar a página, você perceberá que a seção Online, antes dedicada às novidades do site da revista, mudou de nome. Agora ela chama-se Ecossistema Galileu, pois tratará da revista para além de sua edição impressa.
É claro que também estamos falando do site — mas não só. A nova seção mostra, por exemplo, que o título estará presente na próxima Campus Party, que acontece em São Paulo a partir do dia 28 de janeiro até o dia 3 de fevereiro, no Anhembi. Além de cobrirmos o evento, Galileu também estará presente com dois debates propostos pela revista: um sobre a influência do mundo digital no trânsito, idealizado e mediado pela editora Priscilla Santos, e outro sobre o mercado editorial brasileiro na época do e-book, que fica sob a batuta do editor Diogo Sponchiato. Nas próximas edições, você verá que a marca irá aparecer em outros lugares — e nossa equipe estará cada vez mais presente.
Outra mudança também anunciada nesta nova seção é a nova cara do site Galileu, que entra no ar a partir de fevereiro. É só a primeira das novidades que apresentaremos na área digital. Nos próximos meses, traremos ainda mais.
O ano de 2013 está só começando — e Galileu vai longe. É só acompanhar. Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
A primeira edição da Galileu sob a minha direção chegou às bancas um pouco antes do natal e, além da matéria de capa, que é um dossiê sobre maconha, saúde e legislação (escrito por um dos editores da revista, Tarso Araújo, autor do livro Almanaque das Drogas), a edição ainda traz matérias sobre o cérebro e o sexto sentido, a relação entre exercício físico e inteligência, as vacinas do futuro, livros inspirados em músicas, a chegada dos e-books ao Brasil, métodos de concepção humana que dispensam o sexo, os principais destinos turísticos do mundo, a primavera árabe e a falta de sexo, escritórios que não parecem trabalho, games indie, o novo Tarantino, RPG e o Facebook, obesogênese, um bilhão de “Gangnam Style”, uma casa com 92 centímetros de largura, os inimigos da eficiência e a disparidade entre a sociedade digital e as instituições analógicas que a gerem. Compra que eu garanto, custa só dez pilas. A capa acima você pode curtir lá no Facebook e abaixo reproduzo a primeira Carta ao Leitor que assino na revista.
A vista do meu novo escritório: o heliporto, a ponte do Jaguaré e o Parque Villa Lobos, eis meu horizonte do desafio dos próximos anos
Não esperava pelo convite, mas quando veio, demorei para acreditar. Depois de quase seis anos editando o caderno de tecnologia e cultura digital do jornal O Estado de S. Paulo, o Link, começou a me bater uma certa inquietação. Nunca havia passado tanto tempo num mesmo emprego e temia me entediar com um dos meus assuntos favoritos, que é o universo digital. Mas quando me convidaram para ser o novo diretor de redação da GALILEU, essas preocupações sumiram. Afinal, tomar conta de uma grife cuja bandeira é a expansão do conhecimento, ao mesmo tempo que me permitia continuar olhando para as novidades eletrônicas, ampliaria ainda mais a minha área de atuação.
Aceito o convite, veio o fim do ano e um curto período de readaptação. Saí da marginal Tietê para a marginal Pinheiros, da Ponte do Limão para a Ponte do Jaguaré, de um caderno semanal em um jornal para uma revista mensal. Mas mais do que me adaptar a prazos e lugares, tinha que entender melhor a publicação e, principalmente, as pessoas que a fazem.
Aí entra a segunda parte do desafio, que, felizmente, foi bem mais fácil do que imaginava. A GALILEU é uma das melhores revistas do Brasil, seja em profundidade de conteúdo, amplitude de abordagens e concepção visual. E ela é assim por ser fruto de uma equipe curiosa e atenta, ávida por novidades e disposta a dissecar assuntos que não são tão fáceis de entender, como ficam parecendo depois que chegam às páginas da revista.
Como é o caso do tema desta primeira capa de 2013. Não é a velha pauta que pergunta se maconha faz mal — disso já sabemos. Maconha volta à capa da revista pois dois estados norte-americanos e o Uruguai resolveram legalizar todas as etapas relacionadas à cadeia de produção da droga, do plantio ao comércio, numa tentativa de enfraquecer o narcotráfico e, consequentemente, o crime organizado. O autor da matéria, o editor Tarso Araujo, aos poucos se firma como uma autoridade no assunto — é dele, por exemplo, a autoria do livro Almanaque das Drogas, lançado no ano passado. Aprofundar-se num tema que deve ecoar muito no ano que começa não foi propriamente uma dificuldade para o jornalista. As outras matérias da edição também seguiram esse tom e, durante 2013, vamos conhecer melhor os talentos desta equipe.
Termino minha primeira carta agradecendo à minha chefe direta, Paula Perim, por me servir como bússola na editora, e ao meu copiloto na revista, Tiago Mali, pelas boas-vindas na última carta ao leitor de 2012 e por me ajudar a entender a lógica por trás da GALILEU. 2013 promete!
Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br