Sim, a edição de fevereiro é a última edição da Galileu sob minha direção. Fui demitido na sexta passada, em pleno fechamento da edição de março e não faço a menor idéia sobre o futuro da revista. Só sei que, como havia dito na minha retrospectiva do ano passado, esse ano Galileu foi um ano de muito aprendizado, em vários níveis, e saio de lá com a sensação de que o trabalho que vinha fazendo foi interrompido pela metade, mas disposto a seguir com meus planos por conta própria. Já tinha novidades engatilhadas e, agora, fora do escritório, vou poder dar mais atenção e empenho a elas (isso também diz respeito ao próprio Trabalho Sujo). Essa semana ainda estou devagar por motivos pessoais e devo tirar um fevereiro de madame, aproveitando o verãozão e a piscina, mas grandes novidades surgem ainda antes do carnaval. Abaixo, minha última Carta ao Leitor.
SEMPRE TEM: Perguntamos na redação se alguém tinha um iPhone quebrado e o Danilo Saraiva, da Quem, apareceu com esse
Quando foi que deixamos de fazer trabalhos manuais? Quando eu era criança — e nem faz tanto tempo assim —, gostava de montar quebra-cabeças, modelos Revell, carrinho de rolimã, além de abrir equipamentos quando meu pai deixava, normalmente eletrodomésticos velhos. Anos depois, na adolescência, comecei a tocar trombone e violão (não ao mesmo tempo) e a manutenção era uma parte tão importante quanto o uso dos instrumentos. Mas em dado momento as atividades manuais foram diminuindo — e a LER aumentando. O computador tinha entrado em nossas vidas.
Mas mesmo nos primeiros dias do computador, ainda havia alguma interação com a máquina para além da interface. Era preciso montá-lo: reunir peças e transformar HD, processador, pentes de memória, monitor, mouse, teclado e gabinete em um só aparelho. Isso também ficou no passado — e a caixa de ferramentas só sai do quartinho dos fundos quando há algum reparo rápido a ser feito em casa.
O certo é que, com a chegada do computador e da internet, deixamos as atividades manuais em segundo plano — em alguns casos, em terceiro ou quarto. Afinal, a era consumista que vivemos nos permite o luxo de, em vez de procurarmos o defeito, descartarmos o aparelho com problema. Basta lembrar quantos telefones celulares você teve nos últimos dez anos.
Esse luxo tem produzido uma montanha de lixo cada vez maior. E, mais do que isso, tem nos tornado menos práticos e mais dependentes de empresas e assistências técnicas para lidar com problemas que poderiam ser resolvidos em casa.
Mas há uma reação em curso e graças à mesma era digital que nos deixou mal acostumados: muita gente tem se reunido para retomar estas atividades — e consertar seus próprios aparelhos. O movimento “fixer” começou nos Estados Unidos, já se espalha pelo mundo e advoga que, se você não pode consertar seu próprio aparelho, você não é dono dele de verdade. Faz sentido.
Estes consertadores são o assunto de nossa matéria de capa e inspiram reflexões que vão além do descarte e da propriedade de aparelhos com problemas. Eles questionam a obsolescência programada que algumas empresas embutem em suas máquinas para que elas parem de funcionar depois de um tempo. E, como pude perceber, nossa falta de familiaridade com atividades que vão além de cliques de mouse e apertos de botões. Talvez seja o mote que precisamos para deixarmos o mundo virtual em outro plano. Vamos lá?
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
A primeira edição de 2014 da Galileu marca o início do meu segundo ano na direção da revista e cerveja artesanal na matéria de capa – num Dossiê feito pelo Daniel Telles que conta como este mercado está cada vez mais em ascensão, mostrando que qualquer um pode fazer sua própria cerveja. A matéria ainda traz um infográfico elaborado pela Ana Paula Megda, que desenhou as 12 páginas sobre o tema, que ainda conta com um depoimento do escritor Antônio Prata em suas desventuras ao tentar fazer sua única cerveja. Carlos Orsi, em sua coluna Olhar Cético, fala sobre como é fácil fazer previsões para o ano novo, além de assinar uma matéria sobre onde a autoajuda distorce a física quântica para dar ares científicos a um misticismo barato. Laura Knapp visitou o banco de cérebros da USP e explica para que eles dissecam tantos miolos anônimos, a Isabella Sanches escreves sobre como a pornografia via celular está transformando uma geração inteira de “zumbis sexuais”, o fotógrafo Ricardo Lima esteve no 12° Jogos Indígenas, o Ramon Vitral fala sobre a sobrevida de Calvin e Haroldo 18 anos após seu desaparecimento e o Mabuse assina o Novas Ideais sobre a importância de ensinarmos programação de computadores em sala de aula. Ainda há matérias sobre startups que gerenciam cursos livres sobre qualquer assunto para quem está disposto a aprender coisas que nunca havia imaginado, o dia-a-dia de uma aromista, uma mesa que transfere o movimento à distância, a fauna que habita as cidades do planeta, uma mapa dissecado das estradas mais perigosas do Brasil, a coluna do Diogo Rodriguez sobre as mortes de JK, Jango e Lacerda, a queda no preço dos painéis solares, a casa de papelão criada pelo japonês Shigeru Ban, uma explicação científica para a vertigem, a gamificação do Enem e entrevistas com Seth Rosenfeld (que escreveu um livro sobre como o FBI sempre monitorou movimentos sociais e políticos nos EUA, décadas antes do Prism) e com Alexandre O. Philippe (autor do documentário sobre zumbis Doc of the Dead). Pode comprar que eu garanto uma ótima leitura de verão. Abaixo, minha apresentação desta edição:
ROTULANDO: Chamamos o apreciador, sommelier de cervejas e produtor caseiro Pedro Cizoto para dar uma mão e produzir a foto de capa
Muita gente vive reclamando do próprio trabalho. Diz ter escolhido carreiras que mudaram com o tempo ou que não pareciam ser tão tediosas ou puxadas no momento da escolha. Sem contar os que não tiveram opção e pegaram o primeiro emprego que conseguiram. Isso, felizmente, tem mudado.
Cada vez mais gente chega a esta constatação e começa a repensar a vida. A primeira dúvida surge logo após a percepção de que não aguentam mais o emprego em que estão: o que fazer da vida? A resposta mais evidente também traz uma outra dúvida: o que você realmente gosta de fazer?
Para uns, é uma pergunta simples que puxa uma resposta simples (embora “nada” seja uma resposta que não valha para este caso). Particularmente nunca tive dúvidas da minha preferência pelo jornalismo, fé tão inabalável que nem as nuvens negras que pairam sobre a profissão me fazem cogitar outra carreira. Mas muita gente tem dificuldade de saber o que gosta de fazer porque nunca cogitou pensar nisso. Sempre tomou trabalho como algo chato e nunca como a possibilidade de se realizar pessoalmente.
Por isso, talvez seja melhor encurtar a pergunta e tirar o verbo “fazer”: do que você gosta?
Os personagens da matéria da nossa primeira capa de 2014 responderam à pergunta sorrindo: “cerveja!”. E se aventuraram a fazer sua própria bebida, primeiro por hobby, e, aos poucos, transformando o passatempo em ganha-pão.
É o caso do publicitário Pedro Cizoto, que ainda está na fase do hobby. Ele produz duas cervejas próprias — Cachalote e Pretinha — e sua mão estampa a capa desta edição, fixando o rótulo na “modelo” de nossa capa. Pedro é namorado de nossa editora de arte, Ana Paula Megda, que assina o design da reportagem de capa e fez um vídeo mostrando como se produz cerveja em casa — que explicamos no infográfico elaborado pela própria Ana, com ilustrações do Evandro Bertol. É a deixa para você se aventurar por este mundo e, vai saber, descobrir uma nova vocação.
***
E já entramos em 2014 à toda. Além do novo site GALILEU (já viu?), também repetimos as parcerias que iniciamos em 2013 com a Campus Party e o Fronteiras do Pensamento. E é só o começo, 2014 promete! Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
A Galileu de dezembro chegou às bancas com uma votação que escolheu os 25 nomes mais influentes da internet brasileira, com perfis escritos pela Ana Freitas, Vinícius Félix, Tatiana de Mello Dias, Luciana Galastri e André Bernardo, que entrevistaram nomes como Bruno Torturra, Jovem Nerd, Sílvio Meira, Maurício Cid, Porta dos Fundos, Movimento Passe Livre, Laerte, Jean Wyllis e Dilma Bolada, entre outros. No Dossiê, Marco Zanni descreve o futuro dos carros inteligentes, que dirigem e até se consertam sozinhos. Tiago Cordeiro escreve sobre como a medicina está conseguindo “ressuscitar” pessoas mesmo horas após de suas mortes cerebrais, Guilherme Pavarin mostra gamers que jogam pelo prazer estético, Natália Rangel fala sobre a cultura brasileira da gambiarra (e o que isso tem a ver com criatividade e inovação) e ainda há uma tradução da New Scientist sobre quatro possíveis cenários para o clima no planeta no século 22. Também temos entrevistas com o neuroconomista Paul Zak, que discorre sobre o papel dos hormônios na sociedade, com Luis Von Ahn, que criou uma plataforma de tradução colaborativa, e Robert Greene, que desmistifica a genialidade em seu livro Maestria. A revista ainda traz um artigo sobre porque a violência deve ser tratada como doença contagiosa, os 40 anos de O Exorcista, uma bicicleta que gera energia para si mesma, a vida de um piloto de drone, como funciona a perna mecânica ligada ao sistema nervoso, as carreiras mais procuradas no Brasil, um aparelho que grava tudo que você fala (e pra que serve isso), religiões nos videogames, uma startup em prol da pesquisa científica, qual é a doença mais temida pelos brasileiros, o asfalto que “acende” à noite, uma mudança na prática das cobaias e a dúvida sobre a dormência nas pernas. Em suas colunas, Carlos Orsi fala sobre a estrela de Belém e Papai Noel (sério!) e Diogo Rodriguez explica a bancarrota de Eike Batista. Enfim, muito para ler, descobrir e aprender. Abaixo, a apresentação da edição, que marca meu primeiro ano no comando da revista.
CENAS ESPETACULARES: 2013 nos deu dias tensos e um despertar de consciência cidadã que rendeu imagens icônicas, como as já célebres sombras no Congresso Nacional
O futuro é que vai dizer como vamos lembrar de junho de 2013. Mas é certo que a distância temporal e a perspectiva histórica provam que aquele mês tenso e turbulento ficará para sempre na história do Brasil.
Por motivos bem diferentes que reivindicações políticas ou sociais, os protestos deste ano também mostraram por aqui o extraordinário poder de mobilização da internet. Em anos recentes, ela já tinha feito história no Oriente Médio e norte da África (com a Primavera Árabe no início de 2010); em Londres (nos tumultos de agosto de 2011) e em Nova York (com o movimento Occupy Wall Street, no mesmo mês). Junho de 2013 foi a nossa vez e coincidiu com o momento em que o uso da internet torna-se cada vez mais móvel.
O acesso via smartphones começa a mudar a forma como as pessoas encaram a rede. Se antes nos conectávamos a ela, hoje estamos online o tempo todo. Dizemos “vou entrar na internet” como mero resquício linguístico, da mesma forma que serviços de entrega ainda se chamam de “disque-alguma-coisa” numa época em que os telefones com discos desapareceram.
Estamos conectados o tempo todo, mesmo ao ar livre, longe do escritório e de notebooks e computadores de mesa. Em pouco tempo a internet vai deixar de ser tratada como um universo à parte, uma dimensão paralela, e todos viveremos online sem precisarmos fazer esta distinção.
Talvez esta seja a principal constatação da eleição que fizemos na matéria de capa desta edição. Diferentemente de anos passados, revelações da internet não precisam mais escrever livros, virar apresentadores de TV ou serem reconhecidos pela mídia tradicional para ter suas carreiras chanceladas para o grande público.
Ao reunir estes nomes num mesmo panorama, vemos como o século 21 brasileiro parece promissor. Pois são nomes que não esperam ajuda externa para fazer e acontecer e que servirão de inspiração para muita gente tentar o mesmo. Reunir tanto talento em algumas páginas pode fazer muita gente arregaçar as mangas e decidir mudar sua vida fazendo o que gosta. Assim esperamos.
***
E esta é a 12ª GALILEU sob meu comando, o que quer dizer que completo meu primeiro ano como diretor de redação. Agradeço a paciência de todos — leitores e redação —, pois foi um ano de intenso aprendizado, em vários níveis. O novo site GALILEU, que estreia este mês, é o primeiro gostinho de 2014 que iremos sentir. E preparem-se, porque o ano que vem promete. Até lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
Na edição deste mês, trazemos na capa da Galileu uma longa matéria sobre como estatística e tecnologia estão reinventando o futebol para o século 21, numa meticulosa matéria apurada pelo Guilherme Pavarin, que cobre a licença-maternidade da Priscilla na redação do Jaguaré, e pelo Marco Zanni, colaborador da revista. Os dois detalham softwares que ajudam olheiros e técnicos, o desenvolvimento de materiais para a fabricação de uniformes, chuteiras e bola, tecnologias para prever e prevenir lesões, além de permitir o acompanhamento preciso da saúde de cada jogador, e concluem a matéria com a opinião do doutor Tostão sobre o avanço da ciência nos gramados. A revista ainda traz matéria do Vinícius Cherubino sobre resenhas falsas em sites de compras e de indicações, outra do Diogo Rodriguez sobre a controversa adoção do xisto como fonte de energia, uma matéria da New Scientist sobre os superpoderes dos animais e um papo que bati com o Peter H. Diamandis, da X-Prize Foundation. O André Bernardo escreve sobre autores que adotam pseudônimos, o Tiago Cordeiro relata as sweatshops digitais e uma matéria do Felipe Turion explica como o Brasil pode avançar ainda mais no combate ao fumo ao abolir os cigarros com sabor. Em sua coluna, Carlos Orsi critica o endeusamento da autoestima, a seção Numeralha mostra como estão os avanços ao combate da fome no planeta e a coluna Urbanidade apresenta sobre uma “madeira sintética” produzida a partir de lixo reciclado. Ainda temos matérias sobre como funciona o carro movido a ar, sobre o saneamento contra germes feito com a luz solar, sobre uma startup que faz curadoria de conhecimento, uma entrevista com o diretor do Instituo Franhofer, outra como ex-ministro da educação na França, Luc Perry, sobre a importância histórica do conceito do amor, sobre uma ONG que ensina a construir aquecedores baratos, sobre como se desenvolvem as pedras nos rins e um artigo sobre o futuro das escolas. Nessa edição trazemos duas capas complementares e a extinção da seção CPF, preparando para mudanças mais radicais em breve, como explico na carta ao leitor deste mês.
BOLA DIVIDIDA: A edição que você tem em mãos traz apenas uma das metades da capa sobre futebol. Abaixo seguem as duas versões lado a lado, complementares
Na edição de aniversário da revista, quando comemoramos 22 anos de GALILEU no início deste semestre, comentei que veríamos, nos meses seguintes, mudanças mais drásticas em nosso ecossistema. Começamos mudando com o acréscimo da Agenda e das colunas Sem Dúvida e Olhar Cético e neste mês vamos além com a morte do CPF. Criada para abrigar perfis e entrevistas no início da revista, ela ficou apertada quando colocamos as novas seções na edição de agosto e optamos por trazer o conteúdo desta seção para o PSC, que segue firme e forte, agora com matérias sobre pessoas que estão mudando os rumos do conhecimento.
Outra novidade desta edição é que começamos a experimentar nas capas. No mês passado, quando estávamos decidindo qual seria a imagem que apareceria no crachá estampado sob o logo da revista, chegamos às duas inevitáveis opções: publicar a foto de um sujeito ou de uma moça. A matéria sobre o futuro do mercado de trabalho não afetaria um ou outro gênero, ambos os sexos sentem as transformações que já estão em curso na maioria das opções. Até que o Fábio, nosso diretor de arte, cogitou: “Por que não fazemos com as duas?” — e a revista foi para as bancas com o sujeito e a mocinha, em duas versões da capa que alguns jornaleiros tiveram a esperteza de colocá-las lado a lado.
Daí quando começamos a pensar na matéria de capa desta edição — sobre como o futebol está mudando graças às intervenções da estatística e da tecnologia —, cogitamos em como ilustrar as transformações que estão mudando a cara do jogo na capa da edição. E foi o Tiago, nosso redator-chefe, quem considerou a possibilidade, usando duas capas, de mostrarmos a transição que está ocorrendo às vésperas da Copa do Mundo no Brasil: que o futebol está deixando de ser a proverbial caixinha de surpresas para ganhar contornos de ciência exata. Duas capas complementares, que formariam uma mesma imagem. Por isso a bola dividida em duas capas, à quais o Fábio acresceu linhas matemáticas para dar o tom mais preciso da mudança.
GALILEU é uma publicação que preocupa-se com este tipo de transformação, por isso é natural que ela mesma esteja em constante mudança. No mês que vem, quando completo minha décima segunda edição (portanto, um ano) à direção do título, traremos ainda mais novidades e não apenas nas páginas da revista.
Mas isso é papo para o mês que vem, depois falo melhor sobre isso — mas aposto que você vai gostar de saber desta surpresa.
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
Na Galileu deste mês, que já está nas bancas (com duas capas diferentes), falamos que as mudanças que mudarão a cara do mercado de trabalho do futuro já estão virando as profissões atuais do avesso. O Tiago Cordeiro traz uma extensa matéria sobre o futuro do trabalho hoje, para quem está às vésperas de entrar na faculdade ou querendo mudar de ramo depois de anos numa mesma área. Além disso, entrevistei a viúva de Stanley Kubrick sobre a exposição que estréia em São Paulo em homenagem ao diretor, o Rafael Tonon escreve sobre uma cidade que criou um sol artificial, além de explicar o que é gentrificação e como ela está mudando a cara das cidades no mundo todo. A Ana Freitas explica o que é o Wi-Vi, que usa ondas Wi-Fi para ver através das paredes e a Luciana Galastri entrevistou, na Rússia, o papa da segurança digital do país, Eugene Kaspersky. Traduzimos uma matéria da New Scientist sobre mitos da saúde, o Alexandre Rodrigues conta a eterna saga em busca do moto-contínuo, o Carlos Orsi fala de Atlântida e o Diogo Rodriguez sobre armas químicas. A Tatiana de Mello Dias escreve sobre os hackers que querem reescrever a constituição brasileira, o Ramon Vitral entrevistou o brasileiro diretor do filme The Flying Man e falamos da onda de bons filmes de ficção científica no cinema americano (como Elysium, Gravidade, o novo Robocop e o filme que os Wachoswki irão lançar no ano que vem). Ainda há o atlas do grafitti no mundo, o personal trainer dos olhos, uma startup que cuida do tempo que você não tem livre, um brasileiro que inventou uma lâmpada de garrafa pet, um helicóptero movido a propulsão humana, a taxa de poluição de todos os países do planeta, esterco que gera eletricidade, a Copa mexendo com as startups brasileiras, doenças autoimunes e um pesquisador que quer a proibição do boxe e do MMA. Abaixo, a Carta que escrevi no início da edição (e um dos meus salves à passagem de um grande amigo).
AQUELA VELHA MÁQUINA DE ESCREVER: Uma relíquia do século passado, minha Lettera 82 portátil me lembra das constantes mudanças que mexeram na profissão
Sou do tempo em que se fumava em redação. Não cheguei a ver máquinas de escrever em ação, embora tenha minha própria máquina de escrever, em que escrevia os trabalhos na faculdade e os primeiros frilas — a velha Olivetti Lettera 82 repousa hoje solene à entrada do meu escritório em casa (ao lado). Comecei a frequentar redações no momento em que os computadores começaram a invadi-las. Eram computadores com monitor de fósforo preto, terminais ligados a um servidor central da redação. Permitiam que se escrevesse num processador de texto, programado ainda nos anos 80.
De lá para cá, vi a internet entrar na redação, o telex ser aposentado para ser substituído pelo fax, a chegada dos e-mails, o milagre que pareciam ser os primeiros laptops, que permitiam que o repórter escrevesse a matéria entre o fato apurado e a redação. Vieram os blogs, os telefones celulares, as redes sociais e o modem 3G. O filme das fotos foi aposentado, programas de diagramação e ilustração foram substituindo métodos analógicos de riscar páginas.
Estas transformações não foram sentidas apenas no jornalismo. Qualquer profissão foi drasticamente transformada com a chegada dos computadores, da internet e das mídias digitais. Pergunte a qualquer um que, como eu, tenha quase duas décadas de trabalho na mesma área e confirme: o mundo era bem mais tacanho e menos divertido no final do século passado.
Mas essas mudanças não param e, nesta edição, nos dedicamos a mostrar que a natureza do trabalho entrou numa mutação constante, em que poucas coisas são dadas como certas. O repórter Tiago Cordeiro e o redator-chefe Tiago Mali se debruçaram em estudos sobre os profissionais do futuro e o resultado está na matéria de capa, que pode assustar os incautos, mas olha com otimismo para os dias que virão. Pode ser que em pouco tempo eu possa dizer com a mesma naturalidade que abri esta carta que “sou do tempo em que existia redação”. Mesmo porque o cigarro eu já estou disposto a abandonar em 2013.
***
Termino esta carta despedindo-me de um amigo que foi embora cedo. Conheci o carioca Fred Leal (1982-2013) em 1999, quando ele ainda era adolescente e eu tinha 20 e poucos anos e colaboramos juntos tanto online (quando escreveu no site da Play que editava em 2002) e no impresso (quando o convidei para entrar na equipe do Link Estadão que editava). Não colaborou com a GALILEU por pouco e deixa, além da saudade, uma lição de amor à vida. Um abraço, meu irmão.
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
Mais uma Galileu nas bancas e esta com a capa escrita por nosso redator-chefe, Tiago Mali, que viajou pelo Brasil para investigar o problema dos agrotóxicos no país – falo mais sobre esta matéria no editorial abaixo. Além desta matéria, o Felipe Pontes foi para Londres ver o tal hambúrguer feito de células-tronco, o Rafael Cabral entrevistou o Gavin Andresen do Bitcoin, a Tatiana de Mello Dias escreveu sobre os precursores da mídia de guerrilha, o Centro de Mídia Independente, a Luciana Galastri visitou um hotel-hospício no Rio de Janeiro, o Ramon Vitral entrevistou o Chris Ware e falou da nova série da Marvel, Agents of S.H.I.E.L.D., o nosso Dossiê fala sobre a felicidade possível do ponto de vista da ciência, Fausto Salvadori Filho escreve sobre os cypherpunks, o Carlos Orsi fala sobre a Síndrome do Nobel (que emburrece alguns vencedores do prêmio) e ainda falamos da influência das emoções no sistema digestivo, da invenção de um olho biônico, da ascensão da pedocracia, dos cursos online oferecidos pelas universidades brasileiras, sobre os extremos do Brasil, sobre a startup Samba Ads, sobre como é ser comandante de submarino e da relação do Google com o século 19. Revista linda, cheia de matérias foda escritas por jornalistas apaixonados pelos assuntos que escrevem. Pode comprar que eu garanto. Abaixo, minha Carta ao Leitor, que abre a publicação.
EM CAMPO: Nosso redator-chefe Tiago Mali entrevista moradores da cidade de Rio Verde (GO), durante a apuração que fez para a matéria de capa desta edição
Quando assumi a direção da GALILEU no fim do ano passado, tinha uma dupla preocupação: uma inquietação em saber como poderia me encaixar no histórico da revista sem atropelar as vontades e anseios da redação que encontrei. E qual foi minha surpresa ao descobrir que teria como principal interlocutor nesta etapa o redator-chefe Tiago Mali.
Entre os integrantes da redação, Tiago é um dos mais antigos na casa: foi editor do site, depois editor da revista e, finalmente, no começo de 2012, assumiu o cargo que ocupa atualmente. Seria fácil entrar em conflito em relação à linha editorial, mudanças estruturais ou abordagens jornalísticas, mas ocorreu justamente o oposto: a cada questionamento que fazia com ele em relação ao que pretendia fazer com o título, Tiago se dispunha a entender o que eu estava propondo e colocar as minhas preocupações em perspectiva quanto ao histórico da revista.
Mais do que isso: encontrei um senhor profissional. Um cara que entende a necessidade de um novo jornalismo, que em vez de temer o digital, o abraça, e que, ao mesmo tempo, preza pelos valores básicos da profissão. Ao mesmo tempo em que se dispõe a falar e trabalhar com o jornalismo de dados, uma das vertentes mais radicais e empolgantes de nossa área no século 21, também reconhece e anseia pela reportagem em si, de ir para onde a notícia está e apurar fatos direto dos protagonistas das grandes matérias.
E antes mesmo de fechar minha segunda edição, no início do ano, perguntei que matéria ele gostaria de fazer. Tiago nem pestanejou: queria falar do problema dos agrotóxicos no Brasil. Assim, investimos em viagens para lugares distantes no país para termos uma reportagem literalmente em campo. Apurada por seis meses, nossa matéria de capa é um esforço exemplar do tipo de jornalismo que queremos fazer aqui na GALILEU: vivo, atual, humano, incisivo e que reflete-se na vida de cada um de nós.
***
Outra novidade desta edição está na seção Ecossistema — a partir deste número, começamos a falar dos profissionais que ajudam a GALILEU a ser o título que é.
***
E já que estamos falando de nossa equipe, termino esta Carta parabenizando publicamente nossa editora Priscilla Santos pelo nascimento de sua filha Clara, que chegou ao mundo em julho. E aproveito para dar as boas vindas ao Guilherme Pavarin, que também já pertenceu à equipe da revista, e que voltou à redação para cobrir a licença-maternidade de Priscilla.
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
A edição de agosto da revista Galileu é também a que comemoramos o 22° aniversário da publicação – e ela começa a apresentar uma série de novidades que acompanham a data, como a estréia das colunas de Diogo Rodriguez (Sem Dúvida) e Carlos Orsi (Olhar Cético) e da seção Agenda, editada pela Tati – que eu trouxe do Estadão para assumir o cargo de editora do site da Galileu. A revista traz na capa uma matéria do Rafael Tonon sobre consciência e direitos dos animais, um debate cada vez mais presente em nosso dia-a-dia. Ainda temos matérias sobre a legislação digital no Brasil, como o Marco Civil da Internet se arrasta em trâmites burocráticos e a relação disso tudo com o escândalo revelado por Edward Snowden, esta também escrita pela Tati; uma reportagem sobre a única Copa do Mundo cancelada da história (e a relação deste caso com a Copa no Brasil no ano que vem); outra sobre os 10 anos da explosão da base espacial de Alcântara; uma entrevista que o Tiago Mali fez com o António Damásio sobre cérebro, sentimentos e emoções; outra que eu fiz com o James Gleick, sobe o volume de informação que nos assola e seu livro mais recente; uma matéria sobre os problemas em dormir aos poucos; um artigo sobre como o bullying entre irmãos é pior do que aquele entre colegas de escola; o escritor que criou um método coletivo de escrever livros que o levou ao posto de escritor mais rico dos Estados Unidos; as confissões de uma sociopata; como grandes pastos salvarão o planeta; uma organização que faz pornografia para melhorar o meio ambiente; babás de cachorros; a rotina de um “papirologista”; juízes artificiais; a saúde do jovem brasileiro em números e a diferença entre gripe e resfriado. A revista está excelente, à altura de seu legado, como explico na carta ao leitor deste mês.
GALILEUS: Nestes 22 anos a revista tratou de assuntos diferentes (afinal, tudo pode ser abordado pela ciência), sem perder a seriedade e o compromisso com o bom jornalismo
Em agosto de 1991, morava com meus pais em Brasília e cogitava por alto a possibilidade de ser jornalista, ainda no segundo grau. Em setembro de 1998, já morava em Campinas e trabalhava na redação de um jornal. Em agosto de 2013, já tenho mais tempo morando em São Paulo do que na minha cidade, quase 20 anos de profissão e passagem por cinco redações diferentes. Mas o que une estes meses não tem nada a ver com a minha biografia, e sim com a da GALILEU. Em agosto de 1991 era lançada a revista Globo Ciência, que, em setembro de 1998, se transformaria na GALILEU para, agora, em agosto de 2013, completar 22 anos.
Assumi a direção da revista no final de 2012 ciente dos desafios do novo cargo e da necessidade de expandir os horizontes do título. Mas sempre soube da importância da revista, que mantém um legado incomensurável.
Tenho esta consciência e espero estar fazendo boas contribuições para esta história. Afinal, estes 22 anos viram centenas de colaboradores passarem por estas páginas: jornalistas, repórteres, editores, designers, ilustradores, fotógrafos e infografistas (além de inúmeros convidados) que ajudaram a erguer a reputação da revista mais séria do Brasil quando o assunto é ciência, tecnologia, cultura e comportamento.
Nosso compromisso é com a apuração, com a seriedade na abordagem, o tom sóbrio que não perde a leveza. Repare: o humor da revista não apela, não forçamos títulos para ser engraçadinhos nem tratamos o público feito adolescente — mesmo os adolescentes que nos leem. É uma revista que prima pelo apuro visual e unidade gráfica, que trata de assuntos complexos com clareza e respeita a inteligência do leitor.
São também valores do bom jornalismo, mas nem todas as publicações nesta área prezam por isso. Seria muito fácil, por exemplo, colocar um cachorro fofinho na capa desta edição. Mas falamos de consciência animal e ciência — e no lugar do cachorro, veio a mosca, posando como o Pensador de Rodin. Afinal, como você verá na matéria do repórter Rafael Tonon, as moscas também se concentram.
Nesta edição, começamos uma mudança um pouco mais drástica em relação a que assistimos desde que assumi a direção da revista. Temos duas novas colunas (Olhar Cético e Sem Dúvida, esta última ressuscitada — sua versão original existe desde a primeira Globo Ciência) e a seção Agenda, que trazem os assuntos da revista para o dia a dia do leitor. Outras novidades virão nos próximos meses. Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
A capa da Galileu deste mês já havia sido pautada bem antes do clima de paranóia e tensão invadir as ruas das capitais brasileiras – convidei o Carlos Orsi para escreve-la ainda em maio. Além da capa sobre conspirações, a revista ainda traz um dossiê escrito por Salvador Nogueira sobre as dificuldades que a pesquisa científica encontra no Brasil, uma matéria do Tiago Cordeiro sobre desmanches de navios no Oceano Índico, um panorama sobre o uso de armas de fogo – e suas conseqüências – pelo Brasil, uma entrevista que o Tiago Mali fez com o Louis Ignarro, vencedor do Nobel que hoje é garoto-propaganda da Herbalife, a incursão de Rafael Tonon pelo mundo da microbiologia na cozinha e como chefs estão usando cada vez mais o microscópio em busca do ponto de putrefação perfeito, a trágica e estranha decadência de John McAfee – que de programador prodígio e criador de um dos antivírus mais populares do mundo, tornou-se obcecado com remédios para performance sexual, foragido da polícia e acusado de assassinato na América Central -, cidades ocidentais clonadas na China, por que congelar óvulos, confecções brasileiras e trabalho escravo, o novo filme do Cavaleiro Solitário e games que nivelam a dificuldade para facilitar a socialização. Mas não podia fugir ao assunto da capa em minha Carta ao Leitor, que reproduzo abaixo.
PARANOIA É PRECAUÇÃO: O autor norte-americano Philip K. Dick consagrou-se ao criar personagens que vivem em alerta
Em uma entrevista dada em 1974, um dos meus escritores prediletos, Philip K. Dick, explicou o motivo de suas obras serem sempre cercadas de uma sensação de que algo vem sendo orquestrado por baixo dos panos, longe de nossas atenções. Dizia ele que “a paranoia é um desenvolvimento moderno de uma sensação antiga, arcaica, que os animais ainda possuem, um sentimento permanente que tínhamos há muito tempo, quando éramos — nossos ancestrais — muito vuneráveis a predadores”, explicando que seus personagens “vivem como estes novos ancestrais. Quer dizer, o equipamento é do futuro, o cenário é o futuro, mas as situações, na verdade, são do passado”.
Como toda boa ficção científica, a obra de Philip K. Dick não era sobre ETs, robôs, planetas remotos, tecnologias fictícias ou futuros distantes, embora estes elementos fizessem parte da maioria de seus livros. Sua bibliografia reflete medos e paranoias de quem viveu a caça às bruxas dos anos McCarthy, a paranoia nuclear da Guerra Fria e a ascensão do estado frio e terceirizado das gestões Reagan-Thatcher. Morreu em 1982, o mesmo ano em que uma de suas obras (Blade Runner) virou filme pela primeira vez, e foi pelo cinema que ele ganhou popularidade, já que sua reputação nos livros não era suficiente para pagar as contas. Por mais que o reconhecimento tivesse sido tardio, ele veio para encaixar K. Dick no panteão dos grandes autores do século passado, que inclui outros nomes (como Don DeLillo e Thomas Pynchon) que também lidavam com esta mesma sensação estranha que é um dos principais traços da nossa época.
Teorias da conspiração, portanto, funcionam como um alerta para um instinto primitivo e também fazem parte do tecido cultural dos séculos 20 e 21. Gosto de acompanhá-las com curiosidade, como sistemas de constante alerta, mas ao pautarmos este assunto para a capa de GALILEU tivemos a preocupação de analisar seu impacto sobre a sociedade — que não é nada curioso e tende a ser mais maléfico que construtivo, como mostra o jornalista Carlos Orsi, convidado para dissecar esta pauta.
Orsi, que trabalha na Unicamp, é um dos jornalistas que cobrem ciência que mais acompanho o trabalho e acaba de lançar um livro que, como nossa capa, também se presta a desvendar histórias mal contadas — só que seu Pura Picaretagem (Leya, coescrito com Daniel Bezerra) ataca a forma como a física quântica é usada superficialmente pelo mercado de livros de autoajuda. O que quer dizer que ele está bem escolado neste tema. Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
A edição deste mês da Galileu lista as dez inovações que o Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT, aposta que sairão dos laboratório rumo a rotina das pessoas. Há serviços e novidades que já estão nas prateleiras, mas algumas – como o chip que pode permitir recuperar a capacidade de memorização que destacamos na capa – têm 2013 como um ano decisivo para sua popularização. A capa ainda traz uma matéria sobre a importância do MIT assinada pelo Tiago Doria. Além da matéria de capa, ainda temos um dossiê sobre o que são smart cities e como podemos mudar nossas metrópoles hoje para melhorar a qualidade de vida no futuro, uma matéria sobre pessoas que não sentem medo por problemas no cérebro, a farmácia de remédios brasileira, a resistência da internet discada no Brasil, uma entrevista que fiz com o porta-voz do PirateBay, que vem ao Brasil no mês que vem, um ranking de consumo de remédios no mundo, o novo disco do Daft Punk pela Gaía Passarelli e as pinturas na água da canadense Corrie White. Abaixo, a apresentação da edição que faço todo mês no início da revista, que já está nas bancas.
TRAFICANTE DE MEMÓRIAS: No filme Johnny Mnemonic, o personagem de Keanu Reeves cedia parte do cérebro para guardar segredos industriais
O chip na capa desta edição não será plugado em quem tiver lesões cerebrais que impedem a formação de lembranças a longo prazo. A ilustração é uma versão do dispositivo que foi conectado ao cérebro de cobaias em testes que provaram que é possível ligar o corpo à máquina. As experiências com humanos devem começar ainda este ano e, se forem bem-sucedidas, podem se tornar realidade em breve. Theodore W. Berger, da Universidade do Sul da Califórnia, não esperava ver o fruto de mais de três décadas de estudos funcionando, mas depois dos avanços neste século, ele está mais otimista.
O implante de memória é uma das tecnologias escolhidas na última edição da revista Technology Review, publicada pelo MIT, como um dos principais avanços científicos que veremos em 2013. A publicação seleciona anualmente 10 rupturas técnicas que estão saindo do laboratório rumo à realidade. O implante de Berger é, entre os itens deste ano, uma das que mais deve levar tempo para chegar às ruas para entrar em nossa rotina — ele fala em dois anos até que as aplicações médicas aconteçam de fato. Mas outras, como o relógio de pulso que conversa com o telefone celular, o robô-operário que interage com outros humanos e o sequenciamento de DNA de fetos, por exemplo, já são realidade e estão ao alcance de quem pode pagar por elas.
Tudo bem que ainda há muito chão pela frente para chegarmos a algo próximo do que William Gibson previu quando escreveu Johnny Mnemonic, conto que virou filme em 1995 com Keanu Reeves, em que um “traficante de memórias” cedia parte de seu cérebro para armazenar segredos industriais — se é que um dia chegaremos perto disso. Mas é fato que o século 21 vem nos apresentando, exponencialmente, novidades que antes pareciam fantasia, mas que graças a cientistas espalhados pelo planeta estão se materializando na vida real. O exemplo mais óbvio talvez seja a internet. Da mesma forma que, há 20 anos, nem sonhávamos com o que hoje fazemos rotineiramente, avanços científicos irão moldar o futuro de tal forma que aos poucos nos sentiremos vivendo num conto de ficção científica — que não será mais ficção.
***
Falha minha: na Carta ao Leitor passada, citei o livro Abundance: The Future IsBetterThanYouThink, de Steven Kotler e Peter H. Diamandis e disse que ele não havia sido publicado no Brasil. Mas a editora HSM me corrige e diz que lançou o livro por aqui como Abundância — O Futuro É Melhor do que Você Imagina. Feita a correção, refaço a indicação: leia. Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br
Na edição deste mês da revista Galileu, falamos sobre uma mudança no método de desenvolver novas tecnologias – concursos que oferecem milhões de dólares para que cientistas desenvolvam novas invenções. Esse formato vem se tornando cada vez mais comum nos últimos 20 anos e inclui desafios extremos como desenvolver um diagnosticador portátil, enviar um robô para a Lua e controlá-lo daqui da Terra, craquear a genética da longevidade até provocações mais mundanas, como desenvolver gelatina sem ingredientes que tenham origem animal. O Dossiê da edição é sobre estupidez (e porque burrice não é o antônimo de inteligência) (com direito à entrevista que o Tiago fez com o doutor em filosofia André Spicer, que fala sobre como as empresas nos emburrecem), a bicileta de Phillppe Stark, abstinência de internet, a contracultura da alimentação, um outdoor que transforma ar em água potável, um papo com Adriano Fromier Piazzi, da Aleph, sobre publicar ficção científica no Brasil (que também indica cinco clássicos do gênero), um mapa da população flutuante da região de São Paulo, uma conversa com o autor do livro Você Não é Tão Esperto Quanto Pensa, David McRaney, um físico polonês que está aplicando a lógica open source a equipamentos de agricultura e geração de energia, a visita que Juliana Cunha fez à Coréia do Norte, o país mais offline do mundo, um aplicativo brasileiro de recomendações, a rotina de uma favela na Índia, como é ser treinador de cão-guia, a história das epidemias e seu futuro próximo, moral e maniqueísmo nos videogames e Steven Pinker escreve sobre como estamos vivendo a era mais pacífica da humanidade. Abaixo, a carta ao leitor que escrevo no início da revista.
OLHANDO PARA FRENTE: A Fundação X Prize, de Peter H. Diamandis, é uma das instituições que apostam no otimismo prático para este novo século
Pouco antes de assumir a direção da redação da GALILEU terminei de ler Abundance: The Future Is Better Than You Think (Abundância: O Futuro é Melhor do que Você Pensa, Free Press, ainda não publicado no Brasil). O livro de 2012 foi coescrito pelos norte-americanos Peter H. Diamandis e Steven Kotler e defende a teoria que estamos às vésperas de uma era de fartura e que a vida neste novo século deverá ser ainda melhor.
Para enfatizar, eles enumeram índices que mostram como melhoramos nos últimos cem anos: das condições de higiene ao número de doenças que afligem nossa rotina, os dois escrevem que “usando qualquer métrica disponível, a qualidade de vida evoluiu muito mais do que no resto de toda a história”. Listam a queda da mortalidade infantil (90%) e do número de mães que morrem no parto (99%) e o aumento da longevidade (100%) nos últimos cem anos, entre outros números, para justificar a tese.
Diamandis especificamente vai além de simplesmente detectar estas melhorias. Ele é um dos principais responsáveis pelo investimento em ciência e tecnologia do futuro, seja como fundador da Universidade da Singularidade ou da Fundação X Prize, uma das instituições que abordamos na matéria de capa desta edição, em que o repórter Tiago Cordeiro elenca concursos internacionais que premiam ideias que podem melhorar o futuro. E você não precisa ser cientista para participar destas premiações.
O otimismo de Diamandis conversa com o do psicólogo canadense Steven Pinker, que lança seu novo livro Os Anjos Bons da Nossa Natureza no Brasil e assina o Novas Ideias desta edição, explicando por que acha que estamos vivendo na época mais pacífica da história.
Tal otimismo faz parte de nossa rotina de GALILEU, e não são poucos os exemplos que listamos de pessoas e instituições que preferem pensar em como melhorar o planeta do que simplesmente lamentar — siga folheando a revista e descubra. Não fechamos os olhos, no entanto, àquilo que nos incomoda, como o relato que a repórter Juliana Cunha fez ao visitar a Coreia do Norte ou o Dossiê desta edição, que enfatiza que inteligência e estupidez não são necessariamente antagônicas. O mundo está melhorando e queremos fazer parte desta mudança. Vamos lá!
Alexandre Matias
Diretor de Redação
matias@edglobo.com.br