Mais uma vez Bob Dylan pega todos de surpresa, inclusive seu colega de turnê John Mellencamp. Ao apresentar-se em Cuyahoga Falls, no estado de Ohio, nos EUA< em mais uma noite do festival itinerante Outlaw Festival, Dylan, que apresenta-se entre shows de Willie Nelson, Robert Plant com Alison Krauss e John Mellencamp, desenterrou mais uma música que estava fora de seu setlist desde 2018, a clássica "All Along the Watchtower", música que estreou ao vivo há meio século. A aparição da música, no entanto, não vem do nada: Dylan está a cada novo show fazendo comentários sobre o que está acontecendo nos Estados Unidos a partir do uso de canções que aos poucos vem reintroduzindo em suas apresentações - e se nas músicas novas incluídas nos shows comentava o filme que estão fazendo sobre ele e o fato de ter sido citado em uma playlist de Barack Obama, nesta quinta-feira ele apenas fez uma brincadeira com Mellencamp, que tocou antes de Dylan e mostrou justamente uma versão para a mesma música de Bob, que foi imortalizada na voz de Jimi Hendrix. Imagina a cara do colega quando ouviu o mestre tocando a música que ele havia acabado de tocar…
Como de praxe, Bob Dylan vem mexendo no setlist de sua atual turnê ao seu bel prazer, mas está aproveitando para desenterrar músicas que não tocava faz tempo. Na primeira noite da última etapa da Outlaw Festival Tour, que aconteceu neste sábado, o maestro não só desenterrou a ancestral “Silvio”, gravada em 1988 e tocada ao vivo pela última vez vinte anos atrás, como ressuscitou um clássico da maioria de seus shows que não era tocado desde 2019, “It Ain’t Me Babe”. Assista às duas abaixo:
O tradicional festival folk norte-americano de Newport começou nessa sexta-feira e Beck fez uma aparição surpresa quando fez questão de reverenciar o cânone musical que construiu a reputação do evento, em especial a importância do mestre Bob Dylan, de quem ele cantou a clássica “Maggie’s Farm” logo na abertura. No resto da apresentação, ele ainda saudou Fred Neil (cantando “The Other Side of This Life”), Jimmie Rodgers (com “Waiting for a Train”) e Blind Willie Johnson (com “God Moves on the Water”), além de canções de seu próprio repertório que passeiam por esta seara – como “John Hardy”, “Stagger Lee”, “The Golden Age”, “Lost Cause” e “One Foot in the Grave”, para encerrar a noite com uma versão country de sua clássica “Loser”. Mandou bem!
Eis o que esperávamos: finalmente o gostinho de Bob Dylan que teremos da interpretação do fenômeno pop Timothée Chalamet, escalado para viver o menestrel norte-americano em sua primeira cinebiografia, no primeiro trailer de A Complete Unknown, de James Mangold, que estreia no final deste ano – e ele vem com música. Depois de vagar de óculos escuros na noite nova-iorquina do início dos anos 60, passando por lugares-chave do período com o Café Wha? e o Chelsea Hotel, o Dylan de Chalamet sobe ao palco para cantar o início de “A Hard Rain’s a-Gonna Fall” e… não faz feio. Não é nada estarrecedor, no entanto, mas não compromete nem a imagem de Dylan para as novas gerações nem a reputação do ator como talento em ascensão. É claro que poucas cenas não fazem um filme, mas o pouco que é mostrado neste primeiro aperitivo faz a aguçar a expectativa para um outro tipo de filme… Muito bem…
Entre as diversas fases clássicas de Bob Dylan, sua volta aos palcos em 1974 está entre um dos momentos mais intensos de sua carreira e esse registro volta em formato pleno quando o mestre anunciou mais um projeto para envernizar ainda mais seu legado: a caixa The 1974 Live Recordings reúne nada mais nada menos que 431 diferentes versões de suas canções espalhadas por 27 CDs, 417 delas nunca ouvidas pelo grande público, e será lançada no próximo dia 20 de setembro. Desde que sofreu um acidente de moto em 1966, Dylan distanciou-se dos palcos e passou a fazer esparsas apresentações ao vivo ou aparições em programas de rádio ou TV enquanto lançava discos que aumentavam ainda mais sua importância ao mesmo tempo em que desafiavam as expectativas dos fãs.
O misterioso acidente do dia 29 de junho – que na época especulava-se sobre um atentado feito pelo FBI que poderia até mesmo ter tirado sua vida – nunca foi propriamente esclarecido, ninguém sabe se ele sofreu apenas ferimentos leves, se havia realmente se machucado ou se o acidente realmente aconteceu, mas veio num momento providencial para a carreira do artista, que vinha atraindo a ira dos antigos fãs enfurecidos por sua traição ao folk ao abraçar instrumentos elétricos ao lado de uma banda de rock, os canadenses Hawks, que agora se chamavam de The Band. A turnê que realizou na Europa no mês anterior deixou o grupo abalado por seus shows terem sido recebidos com agressividade e a nova popularidade de Dylan, não mais o grande nome do folk e agora um astro do rock, havia o colocado em um ritmo de trabalho que lhe exigia demais, principalmente em relação à sua presença. Fora da arena pública pode fazer discos sem a cobrança de colocá-los em turnê e quando sentiu-se à vontade para voltar à estrada, chamou a mesma The Band – agora um grupo estabelecido, com vários discos lançados – para atravessar as 30 apresentações em 42 dias (muitas vezes tocando dois shows no mesmo dia) naquilo que o crítico musical Robert Christgau descreveu como se o autor “atropelasse suas velhas músicas com um caminhão”, tamanha carga de energia em todas as noites. E além de revisitar vários clássicos de sua carreira, apresentou versões ao vivo pela primeira vez para faixas que gravou no período recluso dos palcos, como “All Along The Watchtower”, “Forever Young” “Most Likely You Go Your Way (and I’ll Go Mine)”, que quase sempre abria ou fechava os shows, Dylan também tocou músicas de sua carreira pregressa que quase nunca tinha tocado ao vivo, como “Hero Blues”, “Ballad Of Hollis Brown” e “Song to Woody”. A turnê gerou o disco ao vivo Before The Flood, que trazia na capa uma das invenções de Dylan nesta turnê, quando todo o público levantava isqueiros acesos, transformando a plateia num céu estrelado.
As músicas do duplo ao vivo são as únicas já ouvidas desta turnê, agora inteiramente reunida nessa ousada caixa de discos, que também terá uma versão compacta em três LPs lançada pela gravadora de Jack White, Third Man Records. As duas versões já estão em pré-venda e uma das versões para “Forever Young” (esta gravada no show da tarde do dia 9 de fevereiro, em Seattle) foi lançada para antecipar a novidade – ouça abaixo, além de ver a maravilha que é esse novo box set (que ainda vem com um encarte com texto escrito plea jornalista Elizabeth Nelson) e todas as faixas de cada um dos 27 discos:
Sexta passada, Bob Dylan deu início ao festival em movimento pelos EUA Outlaw Music, turnê que também traz shows de Willie Nelson (que, por motivos de saúde, não pode comparecer aos shows de abertura) e do ex-vocalista do Led Zeppelin Robert Plant – ressuscitando sua parceria com a cantora Alisson Krauss -, além de nomes mais novos (como John Mellencamp e as cantoras Brittney Spencer e Celisse, que tocam em diferentes datas da turnê de trinta datas). As primeiras apresentações ocorreram na cidade de Alpharetta, no estado da Georgia, e Dylan surpreendeu todos ao mudar radicalmente seu repertório: não houve nenhuma música de seu disco mais recente, Rough And Rowdy Ways, e em vez disso preferiu tocar músicas da década de 50 que o inspiraram, fazendo versões para músicas Willie Dixon (“My Babe”), Chuck Berry (“Little Queenie”), dos Fleetwoods (“Mr. Blue”), Hank Williams (“Cold, Cold Heart”) e Sanford Clark (“The Fool”), que nunca havia tocado ao vivo em sua vida. Da própria lavra, preferiu priorizar seu disco de 2012, Tempest, ao tocar “Early Roman Kings”, “Long and Wasted Years”, “Pay in Blood” e “Scarlet Town” (e colocando camisetas da turnê deste disco à venda no dia do show) e ainda puxou “Beyond Here Lies Nothin'”, faixa de abertura de seu disco de 2009, Together Through Life. As únicas faixas próprias do século passado foram “Simple Twist Of Fate” (de 1975), “Under The Red Sky” (de 1990) e “Things Have Changed”, gravada para a trilha sonora do filme Garotos Incríveis, de Curtis Hanson, lançado no ano 2000. Como na turnê que vinha fazendo do disco anterior, Dylan tocou mais piano e gaita do que guitarra e ao ser realizado no formato festival, permitiu que fãs registrassem em vídeo as apresentações (praticamente impossível anteriormente, menos por restrições ao público e mais por tocar na penumbra). Ele também trouxe mudanças na formação da banda, ao chamar o guitarrista Donnie Herron, que não tocava em sua banda há quase 20 anos, e o baterista Jim Keltner, que o acompanhou em sua fase gospel, no século passado. Mesmo octagenário, o velho não para de mudar – e fica aquele fiapo de esperança que ele possa vir ao Brasil em um futuro próximo.
A produção do filme A Complete Unknown sobre os primeiros anos de Bob Dylan (com o menino do Duna no papel principal) parece estar indo um pouco longe demais… Olha o disparate que é a recriação dessa capa do Freewheelin’ Bob Dylan? Qual é a necessidade disso? Acho que isso não se justifica nem se o filme for bom… E reforça a minha sensação de cosplay…
Vazaram as primeiras fotos de Timothée Chalamet fantasiado de Bob Dylan para o próximo filme de James Mangold, A Complete Unknown, que conta a história da chegada de Dylan a Nova York até seu rompimento com a cena folk que o acolheu no primeiro momento. Nem duvido que o filme possa ser bom (Chalamet é bom ator, Mangold bom diretor e é bom que mais gente conheça a história de Dylan), mas quando Hollywood se esforça pra tornar um ator famoso, ela acaba o tornando insuportável pela insistência – e não custa lembrar que o próprio Chalamet irá cantar no filme. Como o projeto começou a ser filmado agora, o filme vai levar um tempinho pra chegar nos cinemas e ainda tem Elle Fanning vivendo o papel de Sylvie Russo, Monica Barbaro como Joan Baez, Nick Offerman vivendo Alan Lomax, Boyd Holbrook fazendo o papel de Johnny Cash e Edward Norton como Pete Seeger (consigo vê-lo com o machado cortando o cabo de energia no festival de Newport).