Bob Dylan para o Rio Fanzine

, por Alexandre Matias

Achei outros textos que fiz para o Rio Fanzine, mas no HD. Todos saíram na versão impressa (já no formato mais recente, dentro do guia de programação do jornal, o Rio Show), mas eu não as achei por aqui, por isso seguem apenas os textos. O primeiro é uma entrevista com fiz em 2002 com o Howard Sounes, biógrafo de Bob Dylan. Tentei achar o link no site do jornal mas não achei, por isso não lembro o título com que essa matéria saiu nem a data precisa de quando foi publicada.

Dylan sem máscara

“Se ele não quisesse ser famoso, viveria em um chalé em Woodstock escrevendo músicas pros outros cantarem e ninguém se interessaria por ele”. Sucinto, o pesquisador e escritor inglês Howard Sounes explica a vaidade do biografado de seu último livro. Em Dylan – A Biografia (Conrad Livros), Sounes tira a máscara do velho Bob em busca de uma só pessoa – o autor e compositor épico, que marcou toda uma geração com suas canções, e o sujeito que maquinava friamente formas de se dar bem e fazer sucesso.

Este é o maior trunfo do livro – mostrar que ambos personagens são a mesma pessoa. Disposto a desmitificar o personagem que o cantor criou para se manter no topo, Sounes mostra um Dylan mais humano e menos utópico. “Hank Williams, Woody Guthrie, Jack Kerouac, James Dean”, lista o escritor, “estes eram os heróis e modelos seguidos por Dylan desde começo, em atitude e estilo. Mais do que todos, ele se moldou em Woody Guthrie, claro. Há muito sobre isto no livro, com comentários dos filhos de Woody, Nora e Arlo”.

“Não”, responde secamente ao perguntado se sente alguma culpa por desmascarar o mito Dylan para uma geração de leitores. Os fanáticos pelo bardo dividiram-se: “Uns gostaram, outros não. Mesmo assim, fico pasmo com a forma descuidada que estas pessoas leram e como eles entendem as coisas errado”.

Dylan, obcecado pela própria imagem, criou uma série de mitos para tornar-se mais misterioso e isolado. “Havia muito material para se trabalhar”, conta Sounes, “como o que realmente aconteceu no meio dos anos 60, quando sofreu seu famoso acidente de motocicleta e a história extraordinariamente opaca e complexa de sua vida pessoal e familiar”.

Sounes traça um paralelo entre os dois protagonistas de seus últimos livros, Dylan e o escritor Charles Bukowski. “Bukowski e Dylan são poetas marginais, na mesma forma que os beats e Rimbaud também eram marginais. Há um elemento poético e intelectual em comum. Interessante é o fato que ambos tem amigos em comum – os escritores beat, o ator Harry Dean Stanton e outras pessoas do cinema, por exemplo. Um dos filhos de Dylan conheceu Bukowski. Muitos dos músicos que trabalharam com Dylan gostam de Bukowski. Alguns, como T-Bone Burnett, até leram o meu livro”.

“Contudo, as diferenças entre Bukowski e Dylan são maiores que os fatores que têm em comum”, continua. “Pelo que eu me lembro, Bukowski não pensava muito no trabalho de Dylan e nunca ouvi falar o que Dylan pensa dos textos de Bukowski – apesar de ter certeza que ele o leu, como seus filhos. Bukowski era, no fim, um poeta relativamente marginal que passou a maior parte da vida na obscuridade e Bob Dylan é uma celebridade internacional de primeira grandeza desde quando era jovem. Eles vêm de gerações e classes diferentes. E, mais importante, um é um artista, um cantor enquanto o outro escrevia em particular para um público que nunca conheceu (sei que Bukowski fez leituras em público no fim da vida, mas ele odiava fazê-lo e não era seu trabalho, como era o de Dylan). Pessoalmente, parte das razões que eu escolhi escrever sobre Bukowski e Dylan é que eles são muito diferentes”.

Voltando ao assunto principal, o autor fala dos momentos-chave da carreira de Dylan: “Eu acho que são seus primeiros trabalhos acústicos, por volta de 62 e 63, seguido por seus discos elétricos: Highway 61, Blonde on Blonde. E depois Blood on the Tracks e, no final, Time Out of Mind. Aquele período de Woodstock também foi rico, as Basement Tapes, etc… Esta foi a época em que ele escreveu suas melhores canções. Provavelmente 65 e 66 foi a época mais forte. No livro, tento focalizar nestes períodos criativos. Assim, épocas menos interessantes de sua carreira, merecem menos atenção. Por isso, a narrativa vai devagar ou acelera à medida que Dylan faz bons discos”.

E qual sua canção favorita de Bob Dylan? “”Buckets of Rain”, do disco Blood on the Tracks”.

Tags: