Dylan segue desafiando os mestres da guerra

Bob Dylan segue usando seu repertório para comentar os acontecimentos recentes como tem feito em seus shows deste ano – e não foi diferente neste fim de semana, quando abriu os três shows de sua Outlaw Tour, que vem fazendo ao lado de de seu compadre veterano Willie Nelson, entre outros artistas, com a desafiadora “Masters of War”, tocando-a pela primeira vez ao vivo desde 2016. A faixa foi composta nos anos 60, quando a crise dos mísseis em Cuba e a guerra do Vietnã atormentavam os cidadãos estadunidenses, e segue atual mais de 60 anos depois, à luz das ameaças que o presidente de seu país vem fazendo a outras naçoes, da guerra na Ucrânia e da situação cada vez mais trágica em Gaza.

Assista abaixo:  

Bob Dylan volta ao estúdio – pela primeira vez depois dos 80 anos!

Por falar em Bob Dylan, o mestre esteve num estúdio de gravação pela primeira vez desde a pandemia — ainda mais, pela primeira vez desde que ultrapassou os 80 anos, há quatro anos — quando passou dois dias no estúdio White Lake, perto de Nova York. Ainda não há nenhuma informação sobre o que ele gravou nos dois dias que esteve lá, mas o estúdio fez questão de soltar um comunicado marcando a passagem (veja abaixo). Seria o primeiro disco de estúdio de Dylan desde o maravilhoso Rough and Rowdy Ways, que ele gravou nos dois primeiros meses de 2020 e lançou ainda no primeiro semestre daquele ano nefasto. Chega mais, Bob!  

Jeff Tweedy ♥ Bob Dylan

Em mais uma versão que compartilha com os seguidores de sua newsletter Starship Casual, o senhor Wilco Jeff Tweedy aventura-se por um dos grandes momentos de Bob Dylan (a imortal “Forever Young”) depois de fazer shows na turnê Outlaw, em que Dylan, ao lado de outros gigantes ancestrais, como Willie Nelson e Lucinda Williams, tem cruzado os EUA. Assistir a shows ímpares de seus grandes ídolos inspirou Jeff a refletir sobre envelhecimento e mortalidade ao regravar o clássico e a escrever sobre este momento, que traduzo abaixo:  

Mais um livro de Dylan vindo aí!

“O que eu desenharia?”, pergunta-se Bob Dylan às vésperas do lançamento de mais um livro, desta vez com seus desenhos. “Bem, acho que começaria por uma máquina de escrever, um crucifixo, uma rosa, lápis e facas e alfinetes, maços de cigarros vazios. Eu perderia completamente a noção do tempo. Uma ou duas horas se passaram e pareceria um só minuto. Não que eu me considere um grande desenhista, mas eu gosto da sensação de estar colocando alguma ordem no caos ao redor”. Com esse parágrafo, o mestre da canção dos Estados Unidos apresenta não apenas a exposição que já inaugurada na galeria Halcyon, em Londres, como seu novo livro, ambos com o mesmo título, Point Blank. A exposição já está aberta desde maio e o livro, seu segundo livro depois da pandemia (lançado após o ótimo The Philosophy of Modern Song, de 2022) e seu décimo livro com seus desenhos e pinturas e o décimo nono lançado com sua autoria, uma bibliografia que remonta ao clássico Tarantula, de 1971. Point Blank (Quick Studies) reúne mais de 100 desenhos e pinturas inéditos, em sua maioria desenhos em preto e branco que fez entre 2021 e 2022, incluindo retratos, naturezas mortas e paisagens, e será lançado pela mesma Simon & Schuster que lançou seu livro mais recente em parceria com a própria Halcyon Gallery – e já está em pré-venda. E não custa lembrar que há um forte rumor de um novo volume de seu clássico Crônicas pode finalmente vir à tona.

Veja imagens da exposição abaixo:  

“I’m going back to New York City, I do believe I’ve had enough”

Dylan está voando em mais uma turnê Outlaw pelos Estados Unidos, novamente dividindo as noites com Wilie Nelson e convidados, quando aproveita para desenterrar músicas antigas de seu repertório que não tocava há uma cara bem como pinçar versões para clássicos alheios que ouvia pelo rádio na adolescência. A novidade da semana veio no show que fez na cidade de Nampa na terça-feira, quando tocou pela primeira vez desde 2014, sua clássica “Just Like Tom Thumb’s Blues” com vocais, em vez da versão instrumental que apresentou apenas seis vezes nos últimos onze anos. E apesar de tocar o piano como principal instrumento nos últimos anos, ele tocou um pouco de guitarra – ainda que de costas para o público, no início da canção.

Assista abaixo:  

Novidades do Dylan!

O sujeito está prestes a completar 84 anos e não para de nos surpreender. Primeiro foi nesta terça, quando realizou o primeiro show de mais uma turnê que vem fazendo com Willie Nelson (a tal Outlaw Tour, que fez os dois se encontrar no ano passado), em Phoenix, nos EUA, e pinçou algumas músicas que não tocava há tempos, como sua clássica “Mr. Tambourine Man” e versões de músicas que nunca havia tocado, como “Axe In The Wind” de George “Wild Child” Butler, “I’ll Make It All Up To You” de Jerry Lee Lewis e “A Rainy Night In Soho”, clássico dos Pogues, que encerrou a noite (assista aos vídeos abaixo). Não bastasse isso, parece que ele está prestes a lançar o segundo volume de suas Crônicas, algo que os fãs já haviam desistido. A notícia, no entanto, veio de uma fonte pouco provável, quando Sean Penn, que foi o narrador da versão em áudio do livro autobiográfico que Dylan lançou em 2004, deixou escapar em uma entrevista para o podcast de Louis Theroux no Spotify, que “parece que irei fazer o segundo também. É, Crônicas Dois!”. Dedos cruzados!  

Minha lista de melhores de 2024 dentro da votação do Scream & Yell

Não passou o carnaval ainda então dá tempo de remoer o ano que terminou tem quase um mês e meio, por isso segue abaixo a minha votação na lista mais tradicional de melhores do ano da internet brasileira, promovida pelo heróico Scream & Yell do compadre Marcelo Costa.

Leia abaixo:  

Um completo desconhecido no Saturday Night Live

Timothée Chalamet conseguiu mais uma vez e ao apresentar-se neste sábado no Saturday Night Live – tanto como ator quanto como músico convidado – defendeu bonito sua indicação ao Oscar ao apresentar três músicas de Bob Dylan no programa humorístico que completa meio século este ano. E em vez de seguir o riscado de A Complete Unknown, preferiu inovar – e fez bem. Optou nem por fantasiar-se de Dylan como por não ficar preso ao período do filme, além de ter convidado James Blake para acompanhá-lo ao piano. Começou com duas músicas num só take ao misturar “Outlaw Blues” do clássico Bringing It All Back Home, de 1965, com “Three Angels” de seu New Morning, de 1970, ambas pouco familiarizadas com o palco (Dylan só tocou a primeira uma única vez ao vivo e nunca tocou a segunda). Depois foi mais ousado ainda ao pegar o violão e cantar “Tomorrow Is A Long Time”, que nunca foi gravada em estúdio e só saiu em disco numa versão ao vivo incluída na coletânea Bob Dylan’s Greatest Hits Vol. II, de 1971. Mandou bem, pequeno Timmy.

Assista abaixo:  

Um completo conhecido

Há uma ironia inescapável proposta por James Mangold ao batizar a cinebiografia que fez sobre Bob Dylan como Um Completo Desconhecido, mantido em português sem precisar incluir o nome do biografado no título. Verso do refrão de sua música-símbolo (“Like a Rolling Stone”), ele é usado para mostrar a época em que o senhor Zimmerman era um anônimo literal, encontrando ídolos e personagens que o ajudaram a moldar sua reputação e personalidade. A ironia vem do fato de que quase tudo que é retratado no filme – seus encontros com Woody Guthrie, Johnny Cash e Pete Segeer, sua relação com Joan Baez e com outros músicos que se tornaram parceiros, seu ataque elétrico contra a cena folk que o deificava – é amplamente conhecido até pelos ouvintes mais desatentos. O que Um Completo Desconhecido faz, portanto, é enfileirar causos e passagens (como toda cinebiografia atenuando questões mais polêmicas, exagerando alguns trechos e deixando outros pra lá) para que quem realmente não sabe quem é Bob Dylan possa ter uma vaga ideia sobre o porquê de sua importância. Nesse sentido é uma história de origem, como reza o evangelho dos filmes sobre super-heróis, sublinhando feitos e acontecimentos que foram cruciais para tornar o protagonista daquele jeito. Nesse sentido, Timothée Chalamet está irrepreensível e faz um Dylan convincente o suficiente para encantar o próprio Dylan, trazendo-o para o século 21 com aquela cara de brechó descolado, usando a pátina artificial do cinema atual a seu favor, inclusive quando canta (vale procurar a trilha sonora do filme, já lançada, em que o jovem ator segura bem a onda como cover do novo ídolo). Um Completo Desconhecido certamente desagradará os fãs mais radicais por estes detalhes e minúcias, mas ele foi feito para apresentar esse artista – e suas contradições – para um público mais jovem ou alheio à sua história (como certamente serão os quatro filmes sobre os quatro Beatles que Sam Mendes está prometendo para 2027). Acerta em cheio e faz com que a chama que Dylan mantém acesa consiga atingir um público ainda maior, menos refinado e exigente – o que é ótimo para sua vida e obra. E não duvide se Chalamet sair em turnê tocando as músicas do filme… O filme estreia no Brasil em fevereiro.

Assista a um trecho abaixo:  

Vida Fodona #831: Dezembro de 2024 tá intenso

…e tá longe do fim!

Ouça abaixo: