O gênero chillwave vai aos poucos se desfazendo na medida em que seus principais representantes saem dos quartos e descobrem o prazer de explorar outras fronteiras. Imagine que o Beck dos anos 00 fosse não só um artista, mas uma geração inteira de geniozinhos solitários, com o pendor para o ambient, brincando com timbres de dance music dos anos 80 para reconstruir climas etéreos e frios, em atmosferas zen. O Washed Out deu um primeiro passo adiante no ano passado, descobrindo o prazer de ser uma banda, o que também aconteceu com o Toro y Moi, que ainda teve o prazer de descobrir o groove tocado ao vivo. O Memory Tapes partiu para o progressivo eletrônico em seu disco novo e o Teen Daze, desde o primeiro registro de seu All of Us Together, “Brooklyn Sunburn”, resolveu sair de dia, com uma faixa fria e ensolarada ao mesmo tempo.
2012 foi um ano de entressafra para os Arctic Monkeys, que, mesmo sem disco novo, lançou dois singles bem sucedidos (a ponteaguda “R U Mine?” e o cover que fizeram para “Come Together”, do Beatles, por ocasião dos Jogos Olímpicos em Londres). Mas ao regravar “Katy on a Mission“, o single que colocou a irrelevante Katy B no mapa pop britânico, num especial para a BBC que o grupo de Alex Turner reforçou seu papel de principal banda de rock da Inglaterra no século 21, trazendo o hit insosso da pista de dança rumo ao palco de pub tão afeito ao grupo. Eles ainda vão longe…
Apesar do foco de 2012 ter ficado nas travessuras com seu Major Lazer (que além de emplacar uma das músicas do ano, ainda teve tempo de levar Snoop Dogg à Jamaica), Diplo não deixou o pop mais tradicional de lado e, ao lado de um desconhecido de sobrenome famoso (não são parentes), cometeu essa pequena pérola perfeita para tardes ensolaradas e manhãs na praia. Ele pode até ser picareta, mas quando acerta, acerta em cheio.
O hipster que mais se diverte no planeta, James Franco se esforça para mostrar que é mais do que um rostinho bonito revelado num seriado de TV – e assim, além de se estabelecer como um dos melhores atores de sua geração, também escreve, dirige, publica, expõe, apresenta o Oscar chapado, tira fotos e brinca com a fronteira entre a ficção e a realidade como poucos neste novo século. Era inevitável que em algum momento ele se voltasse para a música e assim o fez ao lançar sua banda Daddy ao lado do produtor de indie eletrônica Tim O’Keefe. E mesmo gravando uma colaboração com a lenda viva da soul music Smokey Robinson, é a sua primeira faixa que entra nos destaques do ano. O suingue hippie da nostálgica “Love in the Old Days” parece clamar por um luau com o Little Joy, mas quando Franco entra falando, monocórdico, lembrando de sua infância, seus pais e de Tennessee Williams e de Marlon Brando, o tom sai da celebração e vai para a cultura beat, para a década que consagrou o termo “hipster”, entortando devagar – e sem precisar da juventude do contemporâneo rock’n’roll – nossa noção de normalidade. Muito bem, James Franco.
David Lynch é pouco. Lana Del Rey mira no coração daquilo que conhecemos como os Estados Unidos da América do Norte e reinventa “Bittersweet Symphony” como um rap de brinquedo encenado na Casa Branca da Camelot dos Kennedy de um clipe épico, ousando encarnar a primeira dama (revivendo o filme Zapruder) e a segunda (em seu clássico presente de aniversário ao Jack) damas de um JFK negro e rapper – uma crítica à atual decadência dos EUA que se apega ao seu passado histórico como porto seguro que ecoa em versos que falam de armas, sucesso, dinheiro e sexo como se fossem slogans de um filme patriota. Eis a história se repetindo, e como previam, como farsa.
Vamos recapitular as melhores músicas e discos de 2012? Começando pelas 75 melhores músicas de 2012.