A versão pós-rock instrumental que o grupo curitibano submete a triste constatação de Renato Russo ao final do segundo disco do Legião Urbana dá outra leitura ao clássico dos anos 80, que atinge níveis de grandeza, melancolia e desespero apenas cogitados em teoria nas letras do grupo de Brasília, mas nunca sonicamente falando. Até 2012.
Com seu disco de 2012, Shields, a banda mais classuda do Brooklyn nova-iorquino segue sua curva ascendente rumo a uma obra-prima (ainda não chegou lá), que já vem apontando desde o álbum anterior, Veckatimest. “Yet Again” é a melhor amostra do nível de maturidade do Grizzly Bear em 2012.
Céu saiu do fumacê de seu segundo disco rumo a uma trip no deserto acompanhada de uma trupe de ases instrumentais, mas “Falta de Ar” talvez seja o momento mais jamaicano desse road album chamado Caravana Sereia Bloom.
Mallu, por sua vez, vem saindo de sua casca indie e começa a explorar as possibilidades da canção até para além da influência de Marcelo Camelo, inevitável muso e influência de seu terceiro disco, Pitanga. “Me Sinto Ótima”, ainda sem disco e lançada num programa da MTV brasileira, mostra que ela vem ouvindo muita MPB dos anos 70 – Jards, Erasmo, Clube da Esquina, Rita Lee – e é prova de que a menina ainda tem muito o que mostrar.
A voz que encantou o mundo com “American Boy” começou 2012 trazendo a clássica Motown para o século 21, numa parceria com a hipster p-funk Janelle Monae em que é impossível ficar parado. Fora que “you don’t know where I am going, and so you think I am lost”, senhor verso, poderia ser subtítulo para o ano inteiro.
Damon Albarn e Graham Coxon estão em fases solos tão boas que seria o maior desperdício se os dois não voltassem a compor juntos. “The Puritan” é uma das duas músicas que o Blur soltou em 2012 e, mesmo sendo a mais fraca das duas, está bem acima da média inglesa atual.
De repente, vem uma banda do nada e faz uma música genial. É o caso de “Sad Facts”, uma pequena pérola do Cambriana, de Goiânia, que foi lançada quase às escondidas, mas que poderia estar tocando em qualquer rádio do mundo nos anos 80. O disco inteiro, Slow Moves House of Tolerance, não acompanha o fulgor da faixa, mas o que importa é que bastaram os quatro minutos do primeiro single para que o grupo passasse a ser notado. Vamos ver o quanto crescem.
2012 começou com aquela vibração oitentista que mistura verão e sintetizadores na mesma frase e essa marola retrô aumentou ainda mais com a presença de Marcela Vale – codinome Mahmundi – que leva o R&B carioca para a década do rock de bermudas, usando timbres eletrônicos quase 8-bit. Sua primeira aparição veio com “Desaguar”, gospel dance suave e manhoso em que o Redentor é, ao mesmo tempo, paisagem e literal.
O ano mal começava e João Brasil pegava um dos hits do fim do ano passado – “212”, da Azealia Banks – e o misturava com o viral infame do Bonde dos Avassaladores, provocando uma síncope de sincronicidade que ia além do choque bem humorado da aparição súbita do vocal hedonista teen do MC Vitinho. O mashup sincroniza Nova York e o Rio de Janeiro e a marra carioca alinha-se ao “swag” da maior cidade do mundo, tirando onda com as próprias sexualidade e arrogância. E funciona na pista de um jeito inacreditável…
Difícil pinçar uma música só da estréia dos Alabama Shakes, daquelas bandas que fazem você esquecer em que época que você está porque as referências de tempo são inúteis. Presos até a cintura no lodaçal do rock hippie do final dos anos 60 e começo dos 70 embebedados por timbres curtidos na Stax, a banda ainda conta com o luxo de ter uma vocalista que é a encarnação da voz de Janis Joplin. Em “Hold On”, Brittany Howard flexiona toda sua amplitude vocal sem parecer exibicionismo e nos hipnotiza com a voz.