Juçara Marçal e o “Negro Drama” a capella

Juçara postou em seu Soundcloud a versão feita só no gogó pelas meninas do Vésper para o clássico dos Racionais – em que ela mesma segura a voz principal. Bem bom. Dica do Arthur – e a foto é que ilustra o post é da participação dela no show do Sambanzo no Prata da Casa, feita pelo Josué de Holanda.

Brasil, banana, samba… grindcore?!

O sempre sagaz Velot Wamba cogita uma hipótese interessante: seria o grindcore um gênero musical tipicamente brasileiro?

Lost por Arthur Dantas

11 Pontos para desconstruir LOST

(Ou como não falar do assunto proposto para apontar caminhos em termos nativos para a criação/destruição).

O Matias, esse sim experto das teorias cultura pop, me pediu um texto sobre o Lost. Tentei ser o homem dos 20 mil caracteres para jogar à altura do patrono, mas aqui é mais pá-pum, falta fôlego e dedo indicador para digitar. Assim, vai um texto com gosto de convite para conversa de nerds obsessivos e parcamente ilustrados e deformados.

Saí confuso depois do penúltimo episódio. Mas adianto: o único personagem “forte” pra valer nessa brincadeira toda depois de tanto enrola-desenrola é o Desmond Hume! Não vou arriscar futurologia – por mais óbvio que aparentemente pareça o fim da série –, porque acho desnecesário.

Resolvi prestar homenagem ao falecido e superlativo Ricardo Rosas, criador do portal rizoma.net – que, com certeza, estaria curtindo muito essa farra toda de 6 anos de duração e rivalizaria com o Matias nas observações sobre essa série fenômeno.

1. Lost in The Supermarket – no tiroteio das referências, essa música do The Clash serve como balizador da ideologia/projeto/conceito da série. E, ironia das ironias, reverbera novamente o filho de diplomata: o futuro não está escrito. Evoé Joe Strummer!

2. Lost = Charles Dickens. Sentimentalista e melodramática, jogos de moralidade. Inglaterra chega aos Estados unidos moderno – a crítica social e de costumes para a sarjeta. Da era vitoriana para o fundamentalismo cristão pós-moderno. Linhagem enviesada, linhagem enfraquecida. Muito a que se observar. A equação entre Orwell e Alan Moore, de Revolução dos Bichos à V de Vingança, linhagem coerente e sintomática de nosso tempo. Política. Ah, a Inglaterra. Soprano e Crime e Castigo. Bernard Shaw e Monty Python. Mark Twain e David Chapelle. Lost consolida e/ou encerra o período áureo das grandes narrativas em séries/folhetins teledramatúrgicos.

2. Nada é sagrado, tudo é permitido. Sincretismo religioso careta – nada que assuste a nós, brasileiros. Nos bastidores, o zeitgeist da cruza entre estadunidenses democratas, liberais, e judeus expatriados do grande capital do enterteinment. Nunca a religião se prestou tanto a ficção sem potência alguma.

3. Assim, se a religião foi o ópio das massas, hoje nosso ópio realmente está na TV – sem medo de parecer retórica esquerdista circa 1960. Medo e delírio. A banalização do bem e do mal – ou a elasticidade desses onceitos. Viva o ópio, viva o torpor. A religião para “religarmos” a TV.

4. a síntese máxima da conjunção do melhor que a literatura especulativa produziu (Fantasma de Lee Falk/HQ Adulta pós Gaiman-Moore-Morrison aportarem na Amérikkka/Hollywood dos filmes em série) – deslumbre com as possibilidades cênicas do capitalismo pós-fordista/limitações estruturais e/ou estruturantes, a ficção pós-moderna em seu ápice: constrói-se uma fortuna narrativa exemplar sem nenhum poder constituinte.

5. A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica ad exaustão. Arte/mercadoria. Walter Benjamin rolando no túmulo. Os donos da série em orgias homéricas em mansões de L.A, curtição no Havaí. Espectadores ansiosos – a ansiedade alimentada pela indústria farmacêutica chega à TV Paga. Mal aí, Escola de Frankfurt: alienação wins!

6. Ainda em termos pós-modernos: o revés da ideia multitudinária ainda que plena em LOST – o revés da própria teoria ímplicita. A ilha como o Leviatã hobbessiano. Sawyer e Ana Lucia, Hugo e Libby, Sayid e a loira. Descontração no meio do pesadelo. A resolução pouco importa. Locke – vejam bem, Locke! – mata as possibilidades sociológicas radicais do texto. Logo, Bakunin é um personagem do quarto escalão com poucos recursos cênicos. O inconsciente estadunidense – essa besta com bombas atômicas comandando sinapses e o Apocalipse. Lost poderia ser a encenação do apocalipse bíblico. Não será.

7. Encruzilhadas do Labirinto. Cá entre nós: vale a pena pinçar cada uma das armadilhas em exercício mental botequeiro? Lost prova a descontinuidade do raciocínio e da historicidade como um exercício inevitável para o homem médio. Deixa Lost me levar, lost leva eu…

8. Ficção científica e a ideia de não estarmos sozinhos no universo. Bullshit. Mais um mote para a lata de lixo da história. O estranho em nós. Um, nenhum, cem mil. Personagens lineares: Jack e Hugo. A Amérikka profunda e débil, flácida em sua estupidez. Sedutora e engraçada, companheira, ao mesmo passo. O sonho americano – aqui cada vez mais tedioso e lento e contínuo como um elefante – em chave maior.

6. Seis anos e alguns estudos de caso da moralidade estadunidense – infelizmente – implícita. Pretos amarelos e terceiro mundistas explodidos, soterrados, afogados. Mortes violentas. Mesmo o consenso hollywoodiano democrata e o liberalismo judaico ressoando em cada episódio. Fim trágico do multicultarismo como promessa de um mundo globalizado.

7. o mundo não suporta/quer/demanda grandes narrativas estruturantes – foda-se Balzac e Proust e cavalgando alucinadamente da outra ponta mas em direção convergente, o Pynchon também – o que se espera/suporta/necessita-se são grandes narrativas não-constituintes. Será uma grande biblioteca de Alexandria de ponta cabeça, desorganizada, um remédio consentido entre as partes para finalmente enterrarmos a história, pra aliviar nossas dores?

8. Lost como cume de uma grande espiral de um gênero que se pretende como o “das ideias” em nosso tempo, a ficção especulativa, e mais centralmente a ficção científica, devidamente dopado e sintetizado ao DNA de uma cultura viciada e analgésicos e aliviadores de consciência – do Prozac aos construtores de consenso manufaturado. Transcender essa espiral, assim espero, somente com as surpresas dos samurais oriundos do Oriente profundo – para vingar os amarelos, negros, terceiro mundistas e demais párias devidamente jogados para debaixo do tapete da série para que soçobre um heroi bundinha tipicamente americano (eleja-se do caipira racista Elvis Presley, ao Ciclope dos X-men ao sem sal emolóide Jack Sheppard de LOST) que diz muito sobre o anima de um império decadente. Nem Obama nem Mao Tsé Tung. A devir, se ele guarda algo de grandioso para nosotros, terá mais que ver com uma narrativa Luther Blissetiana.

9.O caos reina. A cultura pop ganhando vulto de alma popular.

10. Diversão descompromissada? Jamais, Siegel e Shuster, Crumb e Shelton, irmãos Wachowski, irmãos Coen, irmãos Marx, Moore e Morrison, Pelé e Coutinho, Maradona e Careca, descontração e sedução de inocentes.

11. Inocentes? Ninguém é inocente, diria Sayid Jarrar, o personagem de onde começaria uma narrativa a moda do Brasil pós-Lula – o meu herói da série. Viva Lost!

P.S: um comentário ingênuo e objetivo: no meio da última temporada me sentia enganado, mas acabarei no domingo plenamente recompensado.

* Arthur Dantas é o Velot Wamba. Ou é o contrário?

O filme do Piratas do Tietê e a fase existencialista de Laerte

Em entrevista ao Arthur para a revista Soma, o Otto Guerra – que ajudou Adão, Angeli e Allan a virar desenho animado – fala sobre o filme que está fazendo com a obra do Laerte, que, a princípio, é sobre os piratas do Tietê, mas…

Estamos fazendo o roteiro de um filme do Laerte, “Cidade dos Piratas”. Eu tava indo pra São Paulo conversar com ele e caiu a ficha que não valia a pena tentar esse tipo de cinemão, início-meio-conflito-virada-virada-fim, porque não dá pra competir. No filme do Laerte vou me agarrar a referências ao cinema marginal brasileiro – brincar em cima da transgressão. E esse existencialismo atual do Laerte é genial. Já tem um argumento, usando as tiras mais atuais: vamos usar várias fases dessas tiras, amarrando tudo isso.

A entrevista toda está aqui.

Bê-a-bá de anarquismo

O Tiago dá espaço para o Arthur comemorar os 100 anos da Confederacion Nacional del Trabajo espanhola e falar um pouco sobre um dos assuntos que ele mais é versado, o anarquismo:

Aconteceu de virar um cdf sobre o assunto, conhecer a história das lutas anarquistas de cabo a rabo e fazer uma biblioteca sobre anarquismo/comunismo de esquerda bonita de se ver. E fiz muitos amigos e conheci lendas do meio, como o Maurício Tragtenberg e o Jaime Cuberos (dois autodidatas incríveis) que muito me impressionam até hoje; tanto eles quanto boa parte dos amigos anarquistas que estimo – com os quais não compartilho mais do “nobre ideal”, me sentindo próximo ao autonomismo –, tem uma virtude que é algo que persigo muito: manter relações éticas com o mundo.

O anarquismo pode estar velho, caduco, mas a ética destas pessoas impressiona muito. Isso é motivo de chacota inclusive por parte de muito esquerdista que acredita que os fins justificam os meios sempre. Daí, me parece importante falar sobre os 100 anos da Confederacion Nacional del Trabajo da Espanha, desde sempre, a maior organização anarquista do planeta. Na Guerra Civil espanhola – o que, curiosamente os antiautoritários chamam de Revolução Espanhola – de 1936/39, chegaram a ter dois milhões de associados.

O resto do texto você lê aqui.

“O meu nome é Sayid!”

Infâmia pouca é bobagem. Dica do Arthur – e se você não sacou a referência, dá mole.