CFest: Balanço final

O C6Fest terminou neste domingo estabelecendo um novo padrão de realizar festivais de música em São Paulo. Conseguiu provar que é possível fazer um bom festival com boa estrutura e curadoria equilibrando-se entre o comercial e o pouco previsível trazendo tanto artistas novos e relevantes quanto nomes consagrados – e, principalmente, dissociar a ideia de festival de música estar atrelada a dia de perrengue, como o que fizeram os festivais realizados em São Paulo na última década. Obviamente a questão do preço extorsivo do ingresso é um ponto central nos poucos contras do evento: não bastasse ser caro pra cacete, só era permitido que se frequentasse um dos três palcos em que se realizavam os shows, algo que é uma irrealidade longe da vida de qualquer fã de música que não nasceu em berço de ouro. Eu mesmo já estava conformado em não ir caso não estivesse credenciado. Mas falo disso abaixo.  

C6Fest traz Kraftwerk, War on Drugs, Weyes Blood, Arlo Parks, Dry Cleaning e Underworld para o Brasil

Depois de já ter anunciado Kraftwerk (pela primeira vez no Brasil sem um de seus fundadores, Florian Schneider, que morreu em 2020), Weyes Blood e Tim Bernardes tocando Gal Costa em sua escalação, o festival C6Fest, produzido pela Dueto de Monique Gardenberg que fazia o Free Jazz e o Tim Festival, acaba de anunciar sua formação completa. O evento acontece no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, entre os dias 18 e 20 de maio, e no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, entre os dias 19 e 21 do mesmo mês e traz, na escalação final, nomes novíssimos como Arlo Parks, Black Country New Road, Samara Joy e Dry Cleaning, grandes nomes da última década como War on Drugs. Christine and the Queens, The Comet is Coming e Jon Batiste e veteranos como Underworld e Juan Atkins, entre várias outras atrações. No time brasileiro, há um tributo a Zuza Homem de Mello (que foi curador do Free Jazz e do Tim Festival) com a Orquestra Ouro Negro, Fabiana Cozza e Monica Salmaso, Russo Passapusso com a Nômade Orquestra, Caetano Veloso e uma homenagem musical ao ano de 1973 com Kiko Dinucci, Juçara Marçal, Arnaldo Antunes, Tulipa Ruiz, Linn da Quebrada, Giovani Cidreira e Jadsa. Os ingressos começam a ser vendidos a partir do próximo dia 5 e separei mais informações sobre horários e preços abaixo.  

Os indicados a melhores do ano na APCA em 2020

A comissão de música da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte, revelou nesta semana, os indicados às principais categorias da premiação neste ano. Devido ao ano estranho que atravessamos, reduzimos a quantidade de premiados, focando nas categorias Artista do Ano, Revelação, Melhor Live e Disco do Ano. Além de mim, também fazem parte da comissão Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (do canal JoseNorbertoFlesch), Marcelo Costa (Scream & Yell), Pedro Antunes (colunista do UOL e Tem um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (Radio Eldorado e TV Cultura). A escolha dos vencedores deve acontecer de forma virtual no dia 18 de janeiro. Eis os indicados às quatro principais categorias:

Os 5 artistas do ano
Caetano Veloso
Emicida
Luedji Luna
Mateus Aleluia
Teresa Cristina

Os 5 artistas revelação
Flora – A Emocionante Fraqueza dos Fortes
Gilsons – Várias Queixas
Guilherme Held – Corpo Nós
Jadsa e João Milet Meirelles – Taxidermia vol 1
Jup do Bairro – Corpo sem Juízo

As 5 melhores lives
Arnaldo Antunes e Vitor Araujo (03/10)
Caetano Veloso (07/08)
Emicida (10/05)
Festival Coala – Coala.VRTL 2020 (12 e 13/09)
Teresa Cristina (Todas as Noites)

Os 50 melhores discos
Àiyé – Gratitrevas
André Abujamra – Emidoinã – a Alma de Fogo
André Abujamra e John Ulhoa – ABCYÇWÖK
Arnaldo Antunes – O Real Resiste
Baco Exu do Blues – Não Tem Bacanal na Quarentena
Beto Só – Pra Toda Superquadra Ouvir
BK – O Líder Em Movimento
Bruno Capinam – Leão Alado Sem Juba
Bruno Schiavo – A vida Só Começou
Cadu Tenório – Monument for Nothing
Carabobina – Carabobina
Cícero – Cosmo
Daniela Mercury – Perfume
Deafkids – Ritos do Colapso 1 & 2
Djonga – Histórias da Minha Área
Fabiana Cozza – Dos Santos
Fernanda Takai – Será Que Você Vai Acreditar?
Fran e Chico Chico – Onde?
Giovani Cidreira e Mahau Pita – Manomago
Guilherme Held – Corpo Nós
Hiran – Galinheiro
Hot e Oreia – Crianças Selvagens
Ira! – Ira
Joana Queiroz – Tempo Sem Tempo
Jonathan Tadeu – Intermitências
Josyara e Giovani Cidreira – Estreite
Julico – Ikê Maré
Jup do Bairro – Corpo sem Juízo
Kiko Dinucci – Rastilho
Letrux – Letrux aos Prantos
Luedji Luna – Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água
Mahmundi – Mundo Novo
Marcelo Cabral – Naunyn
Marcelo D2 – Assim Tocam Meus Tambores
Marcelo Perdido – Não Tô Aqui Pra Te Influenciar
Mateus Aleluia – Olorum
Negro Leo – Desejo de Lacrar
Orquestra Frevo do Mundo – Orquestra Frevo do Mundo
Pedro Pastoriz – Pingue-Pongue com o Abismo
Rico Dalasam – Dolores Dala Guardião do Alívio
Sepultura – Quadra
Seu Jorge & Rogê – Seu Jorge & Rogê
Silvia Machete – Rhonda
Tagua Tagua – Inteiro Metade
Tantão e os Fita – Piorou
Tatá Aeroplano – Delírios Líricos
Thiago França – KD VCS
Wado – A Beleza que Deriva do Mundo, mas a Ele Escapa
Zé Manoel – Do Meu Coração Nu

MPB Kids

tribalistas

Escrevi lá no meu blog do UOL sobre o disco novo dos Tribalistas, que parece um disco de música infantil para perpetuar a ideia engessada de MPB.

Você já parou para se perguntar o que é MPB? Três letrinhas que pairam sobre nossa música brasileira como uma espécie de rótulo oficial para “música séria”: tudo que não é MPB é tido como menor, desprezível, descartável, pop, juvenil. Criada na virada dos anos 60 para os anos 70, a sigla é parente da sigla do partido que agora ocupa a presidência da república, que naquele período era a oposição formal à situação dos generais de nossa mambembe ditadura militar. Naquele tempo, o PMDB ainda se chamava MDB e a sigla irmã funcionava para formalizar uma nova elite musical ao reunir uma geração de artistas influenciados pela bossa nova, consagrada nos festivais da canção daquela época, como a cara do que deveríamos conhecer por música popular brasileira.

Assim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Elis Regina, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e tantos outros passaram a ser referidos desta forma, consolidando um gênero musical que não é propriamente um gênero musical: o que une os artistas de MPB não é uma musicalidade específica, mas a negação de uma outra musicalidade, ainda mais popular. Enquanto o Olimpo do banquinho e do violão recebia novatos que em pouco tempo seriam reconhecidos apenas pelo prenome, fora dele multidões movimentavam-se ouvindo artistas que não eram bons o suficiente para serem tachados com o carimbo da nova elite cultural. De Roberto Carlos a Luan Santana, passando por todos os egressos da Jovem Guarda, Nelson Ned, Waldick Soriano, Odair José, Fábio Júnior, os luminares do sambão-jóia e do pagode, os roqueiros dos anos 70 e 80, toda a música sertaneja, a geração criada no Chacrinha, a axé music, o mangue beat, o rock gaúcho e os Mamonas Assassinas. A verdadeira música popular brasileira não era boa o suficiente para receber o aval da MPB.

Mas à medida em que seus primeiros bastiões foram envelhecendo, poucos novos artistas foram sendo aceitos neste seleto grupo. Embora haja uma massa gigantesca de artistas que se dispõem a entrar nesse clubinho seguindo todas as regras ditadas pelo rótulo nos últimos cinquenta anos, pouquíssimos conseguem a carteirinha de sócio. Por isso é natural que seu público também tenha diminuído – além de não se renovar em termos etários, os velhos fãs de MPB estão lentamente morrendo. Talvez por isso seja importante retomar o fio da meada – largado em algum lugar da última década do século passado – e é aí que entram os Tribalistas.

Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes (foto: Divulgação)

Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes (foto: Divulgação)

Supergrupo de MPB, o trio reúne alguns dos poucos nomes que conseguiram a adesão oficial à sigla. Carlinhos Brown veio via Caetano Veloso, Marisa Monte chegou através de Nelson Motta e Arnaldo Antunes renegou os Titãs. Separados, traçaram carreiras distintas que sempre miravam em públicos adultos, buscando referências na história da música brasileira ao mesmo tempo que as atualizavam para seus universos particulares. Juntos pela primeira vez em 2004, corroboraram a tradição emepebista num disco cheio de violões mas puxado por um hit de axé music gentrificado para esta tradição (“Já Sei Namorar”).

Treze anos depois do primeiro disco, o grupo volta à ativa com um desafio maior: retomar esta tradição num momento em que ela vem se desfazendo. Sem acalentar a MPB como sempre fez, a indústria fonográfica preferiu voltar-se para os campeões de audiência e aos poucos o público foi deixando aquela elite musical de lado. E por mais que Gil e Caetano tenham feito uma bem sucedida turnê de cinquenta anos de carreira, que Chico ainda consiga se manter relevante e que Gal tenha gravado um disco saudando uma nova geração de compositores, pouquíssimos novos nomes conseguiram surgir e se estabelecer neste período como artistas de MPB. Dá pra contar nos dedos, uma Ana Carolina aqui, um Jorge Vercilo ali, um Seu Jorge acolá. Tudo muito genérico, tudo sem personalidade. E por mais que tentem não dá para encaixar nomes como Céu, Tulipa Ruiz, Emicida, Tiê, Karina Buhr, Siba, Mariana Aydar, Lucas Santtana e Ava Rocha (entre inúmeros outros) neste rótulo pelo simples de eles quebrarem as regras pétreas da sigla: não são filhotes da bossa nova, amam rock e música pop, transitam entre diferentes nichos de artistas, ultrapassaram o violão e os poucos que tiveram padrinhos musicais logo saíram de sua sombra.

O novo disco dos Tribalistas, lançado subitamente nesta madrugada, é uma clara tentativa de recuperar um público jovem para a vetusta MPB. E a saída descoberta por Brown, Arnaldo e Marisa vem na contramão de outra forte tendência deste século – a da música infantil feita por artistas que se consagraram fazendo música para adultos. Diferente do que aconteceu nos anos 70 e 80 (quando, graças a especiais da Globo como A Arca de Noé, Pirlimpimpim e Plunct Plact Zum, artistas de renome gravaram músicas para crianças em antologias com vários músicos), a partir dos anos 00, artistas como Pato Fu, Adriana Calcanhotto e Mombojó abriram carreiras paralelas para tocar músicas para crianças que não tinham cara de jingles de programas infantis de TV. Sucessos de bilheteria deste novo mercado, como Palavra Cantada e Pequeno Cidadão, contam com nomes estabelecidos da música brasileira em suas formações – o Pequeno Cidadão, inclusive, contava com Arnaldo Antunes em sua formação original.

O novo disco dos Tribalistas soa como um disco de música infantil feito para adultos – os temas não são para crianças, mas a forma como eles são apresentados faz parecer – e assim eles pegam o público pela mão, ensinando as canções muito didaticamente. O disco é de uma simplicidade conceitual, seja buscando uma beleza na singeleza, seja discutindo temas sérios de forma trivial. Nesta última categoria encaixam-se músicas como “Diáspora” (sobre a questão das migrações no mundo), “Um Só” (sobre polarizações e diferenças de classes), “Aliança” (desdobramento da música “Joga Arroz”, que lançaram em 2013 para apoiar a causa do casamento gay), “Trabalivre” (sobre o mercado de trabalho) e “Lutar e Vencer” (sobre resistência política), todas elas seguindo o mesmo padrão: versos curtos, rimas fáceis, palavras que se repetem, termos de fácil apelo e que ficam na cabeça, melodias triviais.

Há um equilíbrio ousado nesta tentativa, que às vezes derrapa: “Baião do Mundo” (que rima água com água diversas vezes) tem versos que poderiam estar no programa Rá-Tim-Bum: “”Vem Cantareira / Canta na calha / Abre a torneira / E chora / Vem bebedouro, purificador / Me dê um gole agora”, “Preciosa, milagrosa/ Vem regai por nós/ Vai corrente/ Da nascente/ Até chegar na foz”, e “Os Peixinhos”, com a deliciosa voz da cantora portuguesa Carminho, fala sobre as cores refletidas nas escamas dos peixes ao som de água borbulhando. Mas o saldo final é um conjunto de canções feito para cativar um público que nem sabe o que é MPB.

Sua infantilidade, no entanto, é um ás na manga, pois não só pode conquistar um público jovem que aos poucos começa a cansar de música sobre pegação (pois está envelhecendo) mas também pode apresentar-se às crianças de hoje como os especiais da Globo nos anos 70 e 80 apresentaram Chico Buarque nos Saltimbancos e Gilberto Gil na abertura do Sítio do Picapau Amarelo às crianças daquela época. A expectativa é que o trio saia em turnê no ano que vem, inevitavelmente atraindo multidões – e preparando o terreno para a turnê de reunião dos Tribalistas em 2037, para que a MPB continue hegemônica.

Do Amor – a volta!

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O grupo carioca Do Amor volta à ativa depois de Piracema, lançado em 2013, e finalmente lança Fodido Demais, disco que vêm maturando lentamente desde então (“O Aviso Diz“, por exemplo, é de 2015). Lançado pela Balaclava, o disco marca a quase mudança literal da banda do Rio de Janeiro para São Paulo, onde eles apresentam o disco pela primeira vez ao vivo neste sábado, no Sesc Pompéia (mais informações aqui). O disco chega às plataformas digitais nesta sexta, mas eles já adiantaram outra faixa, “Frevo da Razão”, esta ao lado de Arnaldo Antunes.

Tudo Tanto #017: A volta do protesto

viradaocupacao

Fiquei sem atualizar minhas colunas da Caros Amigos desde o início do ano, por isso vou começar a compartilhá-las aqui. A primeira do ano foi sobre a aproximação da nova música brasileira a um novo protesto, que começava a surgir nas ocupações das escolas que aconteceram no ano passado e que anteciparam os protestos deste tenso 2016.

A volta do protesto

Há um tempo que a música brasileira não protesta. Uma conjunção de fatores diferentes fez a voz dos descontentes perder eco na música no início deste século. A derrocada das gravadoras fez que boa parte dos artistas passassem a depender de empresas e do poder público para gravar discos e fazer shows e, com isso, temáticas como provocação, cobrança e vingança desapareceram do cancioneiro nacional no início do século. A ótima fase econômica que o país atravessou na década passada ativou o sempre alerta otimismo brasileiro, que também ajudou a desligar as ganas da contestação. O rock deixou de ser a voz do contra e mesmo bandas de hardcore começaram a falar de amor. E a crise que o hip hop nacional enfrentou após incidentes violentos no meio dos anos 00 o fez repensar todo aquele sangue nos olhos.

Tudo isso transformou a temática da música brasileira do início do século em algo menos agressivo, incisivo, contestador. O amor assumiu de vez o papel de principal tema, abrindo espaços para outras platitudes – e os artistas que antes falavam apenas de amor começaram a falar de sexo no lugar. E logo a música brasileira para as massas se referia mais à pegação, balada e vida noturna, tanto em gêneros que sempre apostaram nestes temas (como a axé music e o funk carioca) até em estilos mais tradicionais (como o sertanejo e o samba).

Mas do mesmo jeito que essa conjunção de fatores fez diminuir o clima de contestação na década passada, ela foi se desfazendo à medida em que entramos na década atual. As chamadas jornadas de junho de 2013, a crise econômica no País, a insatisfação com o governo Dilma, os protestos contra a Copa do Mundo e os nervos à flor da pele nas redes sociais tornaram o país mais belicoso e agressivo. O brasileiro voltou a tomar às ruas como não acontecia há muito tempo e as pautas destes protestos eram – e são – as mais díspares possíveis.

E aí que parte daquela geração que cresceu à sombra dos artistas que falavam de amor e outros assuntos menos sérios começou a botar suas manguinhas de fora. Artistas que já vinham falando de temas menos óbvios e mais interessantes, buscando horizontes musicais mais amplos e desafios pessoais através da arte. Foi justamente a safra que culminou no ótimo 2015 que eu comentei na coluna anterior. Uma rápida audição em cada um daqueles álbuns deixam claro um clima de descontentamento, de não aceitação, de exigência – cada um à sua maneira, cada um do seu ponto de vista.

Assim, o Fortaleza do grupo cearense Cidadão Instigado é um desabafo agoniado sobre a forma como sua cidade-natal foi consumida pela violência, pelo consumismo e pela especulação imobiliária, usando-a como metáfora para esse estilo de vida de jecas brasileiros se sentindo melhores que seus conterrâneos porque falam inglês errado. O mesmo sentimento atravessa o fantástico De Baile Solto do pernambucano Siba, um disco feito em protesto contra a lei de segurança pública que proibiu o maracatu de tocar até o sol raiar – quando a própria definição de maracatu pressupõe a noite virada e o sol raiando. Dois discos feitos às próprias custas, sem gravadora, incentivo fiscal, apoio cultural, nada – justamente para não ser acusado de ter o rabo preso com alguém.

Os discos de Emicida e Karina Buhr são bombas-relógio que partem de dois temas – racismo e feminismo, respectivamente – mas que vão aos poucos mostrando a presença de ambos em diferentes aspectos de nossas rotinas. Outros discos abordam a política em nossos gestos, hábitos e comportamento, longe de siglas, ideologias e líderes – TransmutAção de BNegão e seus Seletores de Frequência fala sobre a mudança interior, o autoestranhamento de Rodrigo Campos em Conversas com Toshiro, A Terceira Terra dos Supercordas é sobre como passar para o próximo estágio da vida em sociedade, Estilhaça do Letuce transforma problematiza a vida a dois como uma tensão em busca de um equilíbrio e o Violar do Instituto pressupõe um incômodo, algo que destoa e desarmoniza. Até o instrumental do Bixiga 70 também “fala” isso, seja nos títulos de suas músicas ou no andamento mais pesado de seu terceiro disco.

Até os trabalhos mais experimentais do ano passado carregam esse tom. Discos como Niños Heroes de Negro Léo, o improviso interminável de Abismu de Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thomas Harres, o encontro de tirar o fôlego entre a mesma Juçara e Cadu Tenório, a alma livre e torta do Voo do Dragão do trompetista Guizado e até o transe telúrico de Ava Rocha em seu disco de estreia Ava Patrya Yndia Yracema – estão todos alinhando-se com o coro dos contrários, cada um vindo de uma direção diferente. Bárbara Eugenia e Tulipa Ruiz vão pelo caminho oposto, fingindo-se de pop em seus respectivos Frou Frou e Dancê para falar sério sem que a gente perceba.

Essa produção artística toda culmina no instigante Mulher do Fim do Mundo, que Elza Soares gravou com alguns dos músicos acima citados e que parece sintetizar o clima de descontentamento atual que todos os discos acima sublinham. Mas mais do que celebrar o encontro de Elza com uma geração mais nova, 2015 talvez tenha sido importante por mostrar para essa geração mais nova que uma geração ainda mais nova pode ser seu novo público.

Foi o que se viu no início do mês de dezembro do ano passado, quando a atual geração da música brasileira resolveu entrar de cabeça na luta das ocupações das escolas públicas de São Paulo, realizadas por adolescentes alunos das mesmas. Revoltados contra a decisão unilateral do governador Geraldo Alckmin de fechar escolas, os alunos foram lá e tomaram conta das instituições, assumindo a gestão e a rotina de mais de 200 escolas em todo o estado. E os artistas mais velhos se reuniram para fazer shows para arrecadar mantimentos para essa nova geração rebelde.

Pude assistir a uma de várias destas apresentações ao ar livre e gratuitas que aconteceram na cidade. Artistas como Céu, Cidadão Instigado, Bárbara Eugênia, Vanguart, Criolo, Maria Gadu, Tiê e até veteranos como Paulo Miklos e Arnaldo Antunes se reuniram num domingo em uma praça no Sumaré para celebrar esse novo momento de resistência – e aos poucos criava-se uma conexão improvável entre adolescentes que não conheciam uma geração mais velha de artistas que se dispunha a fazer shows de graça para eles. Um elo que parece ingênuo e frágil à primeira instância, mas que pode fazer com que estas duas gerações cresçam juntas, se respeitando e construindo um país melhor do que esse que tentam nos empurrar entre anúncios comerciais.

Os 75 melhores discos de 2015: 56) Arnaldo Antunes – Já É

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Um experimentalista em busca do pop.

Japan Pop Show em vinil!

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Japan Pop Show, o ótimo disco de 2008 do jovem mestre Curumin é o novo lançamento do clube do vinil da revista gaúcha Noize, Noize Record Club. O disco conta com participações de nomes como BNegão, Tommy Guerrero, Lucas Santtana, Marku Ribas, Fernando Catatau e os rappers Lateef e Gift Of Gab (do Blackaalicious) e a Noize me chamou pra falar um pouco sobre o disco na apresentação em vídeo abaixo, que ainda conta com depoimentos do Emicida, Arnaldo Antunes e Tommy Guerrero.

Vida Fodona #448: Pedradas cabeçudas

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O começo é daqueles, depois amacia.

Ween – “What Deaner Was Talkin’ About”
Aphex Twin – “syro u473t8+e [141.98]” (piezoluminescence mix)”
Ruido/mm – “Cromaqui”
Beulah – “Don’t Forget to Breathe”
Mopho – “Caixa de Vidro”
Raul Seixas – “How Could I Know”
Rita Lee + Lúcia Turnbull – “Gente Fina é Outra Coisa”
Dizzy Gillespie – “Matrix”
Dom Um Romão – “Caravan”
Cassiano – “Onda (Fatnotronic Edit)”
Marcelo D2 – “Fazendo Efeito”
Los Amigos Invisibles – “Mujer Policia”
Ariel Pink – “Put Your Number In My Phone”
Courtney Barnett – “Pickles From The Jar”
Arnaldo Antunes – “Ela é Tarja Preta”
Pato Fu – “Cities in Dust”
Gilberto Gil – “Palco”

Vamos?

Véi… Na boa…, Patrick Magalhães é gênio

Tirei da página do Patrick, dos Walverdes, no Facebook, que devia virar um blog (ou não, sei lá). O cara é uma metralhadora de bobagens foda, de vídeos do arco da velha (ele toca Neil Young e Rush na sequência), imagens do nível dessa daí de cima, lolcats, links bizarros e pérolas de sabedoria cujo poder de síntese implora pela publicação naqueles livrinhos que vendem em caixa de supermercado. Sente o nível:

‎”Mãe, tu devia parar de fumar, tu vai morrer”
“Tua tia avó viveu até os 99”
“Ela fumava?”
“Não, ela cuidava dos problemas dela”

Ou:

Hoje o dia tá tão modorrento que tô chamando ele de Lenine

Ou:

AQUELE CANTOR MODERNO O ARNALDO ITUNES

Ou:

O socialismo tem bons argumentos, mas o capitalismo tem essas TVs 3D 84 polegadas

Ou:

tu bota o blusão fica calor aí tu tira o blusão fica frio aí tu bota o blusão fica calor aí tu tira o blusão fica frio aí tu bota o blusão fica calor aí tu tira o blusão fica frio aí

Ou:

‎”Viajar de avião é mais seguro do que andar de carro” OLHA TU VAI ME DESCULPAR MAS DE CARRO NA OSWALDO EU NAO CORRO RISCO DE CAIR NO ATLANTICO

Ou:

O meu cabelo está armado e apontado para a cara do sossego

Ou:

Cada vez que alguém aplaude ou vaia um filme no cinema um filme de Natal do Didi é lançado.

Ou:

Ou:

Imagina a dona Florinda dando um tabefe na cara do Cazuza e dizendo: “E da próxima vez vá contar segredos de liquidificador pra sua avó”

Ou:

ter duas caras é facil, quero ver é as duas caras serem bonitas

Ou:

APOCALIPSE: LULA SABIA E NÃO FEZ NADA. (via @reinaldoazevedo)

Ou:

a banda mais esse é o quinto fim do mundo desde que eu nasci da cidade

Ou:

imagina que loco se o mundo acaba amanhã mesmo e daí existe céu e deus mesmo de verdade

Sério, muito gênio. Umas dessas podiam virar camisetas, adesivos, fotomontagens.