Os 25 melhores discos do primeiro semestre de 2024 segundo a comissão de música popular da APCA

Terça passada aconteceu mais uma premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (desta vez transmitida online, dá pra conferir aqui) e esta semana a comissão de música popular da APCA, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (TV Cultura), Bruno Capelas (Programa de Indie), Camilo Rocha (Bate Estaca), Cleber Facchi (Música Instantânea), Felipe Machado (Istoé), Guilherme Werneck (Meio e Ladrilho Hidráulico), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell), Pedro Antunes (Estadão e Tem um Gato na Minha Vitrola) e Pérola Mathias (Poro Aberto), escolheu os 25 melhores discos do primeiro semestre deste ano. Uma boa e ampla seleção que não contou com alguns dos meus discos favoritos do ano (afinal, é uma democracia, todos têm voto), mas acaba sendo uma boa amostra do que foi lançado neste início de 2024. E pra você, qual ficou faltando?

Confira abaixo os indicados:  

Um virtuose à vontade

Maravilhosa a apresentação de Amaro Freitas no Sesc Pompeia, quando tocou seu recém-lançado Y’Y depois de uma turnê intensa pela Europa. Primeira vez que o vejo sozinho ao piano, o jovem erudito pernambucano não economizou sons ao explicar a opção por trabalhar o piano preparado de John Cage à brasileira, misturando referências culturais que vão de texturas pré-gravadas, loops eletrônicas, uma kalimba, chocalhos e apitos, além de percutir as cordas do piano por dentro. Em alguns momentos mais virtuose, em outros mais à vontade, ele chegou ao equilíbrio entre as duas partes quando, no bis, mostrou a inédita “Gabrielle”, composta para sua companheira, a artista Luna Vitrolira, presente na plateia, cujo nome de batismo é o título da canção. Uma apresentação forte e delicada na mesma medida.

Assista abaixo:  

E esse festival de jazz com André 3000, Nile Rogers, Kamasi Washington, Elvis Costello…?

E que tal a escalação desse ano do Newport Jazz Festival, que inclui nomes como André 3000, o Chic de Nile Rogers, Kamasi Washington, Elvis Costello, o brasileiro Amaro Freitas, Brittany Howard, Laufey, Meshell Ndegeocello, Corey Wong, Noname, Robert Glasper, Sun Ra Arkestra, Samara Joy, Thievery Corporation, Lianne La Havas, o Dinner Party de Terrace Martin, Robert Glasper e Kamasi Washington (que vem pra São Paulo tocar no festival C6), Cimafunk, Makaya McCraven com Jeff Parker e tantos outros? O evento acontece entre os dias 2 e 4 de agosto deste ano, em, claro, Newport, nos EUA, e os ingressos já estão à venda.

O Amaro Freitas tá vindo…

O primeiro grande disco de 2024 – e não apenas brasileiro – chega aos ouvidos de todos nesta sexta-feira, quando o pianista pernambucano Amaro Freitas compartilha conosco o mergulho que fez nas águas amazônicas e na alma dos povos originários desta região. Y’Y (pronuncia-se Ieiê e quer dizer “água” ou “rio” no dialeto indígena sateré mawé) será lançado pelo selo norte-americano Psychic Hotline e segue sua busca com seu jazz decolonial para além dos rumos do ótimo Sankofa, de 2021. Em faixas como “Mapinguari (Encantado da Mata)”, “Uiara (Encantada da Água) – Vida e Cura” e “Sonho Ancestral” (em que cita lindamente “Luar do Sertão”), ele nos conduz por uma viagem ao mesmo tempo misteriosa e mágica ao lado de músicos estadunidenses como o harpista Brandee Younger, o baterista Hamid Drake, o flautista Shabaka Hutchings e o guitarrista Jeff Parker (ele mesmo, do Tortoise), do baixista cubano Aniel Someillan e dos arranjos do professor Laércio Costa e ainda saúda o mestre Naná Vasconcellos em “Viva Naná”. Dá pra ouvir alguns dos singles que ele já lançou abaixo, pra ter uma ideia do que vem por aí…

Ouça aqui:  

Dois pernambucanos em Minas Gerais

Que maravilha esse tributo que os pernambucanos Zé Manoel e Amaro Freitas estão fazendo ao Clube da Esquina e que aconteceu nessa sexta-feira na Casa Natura. Em alguns momentos os dois dividem o piano, mas em grande parte do show os dois conduzem sua veneração a esta sagrada igreja mineira de som cada um em seu plano – um no canto, outro no piano. Zé assume seu lado crooner e canta lindamente quase todo o show, acompanhado do piano forte de Amaro, tornado delicado graças ao disco homenageado. O público acompanhou tudo quase em silêncio, sussurrando os hits mais conhecidos, a não ser quando eram instigados por um dos dois a soltar a voz ou bater palmas (ou quando Amaro sacava o celular no meio do show para filmar o público cantando junto). Uma noite de chorar.

Assista aqui.  

Primavera Sound São Paulo – Dia 2

O segundo dia da versão paulistana do Primavera Sound correu ainda mais suave do que o primeiro. Talvez por não ter atrações tão midiáticas quanto Arctic Monkeys ou Björk, o domingo do festival atraiu um público mais afeito ao trabalho dos artistas – ou, melhor dizendo, das artistas. O festival consagrou uma versão feminina do pop contemporâneo que se traduzia tanto no público quanto no astral coletivo, deixando tudo mais receptivo e suave, tolerante e acolhedor. O domingo foi das mulheres e mesmo que Travis Scott tenha atraído uma enorme massa para o palco do patrocinador principal (o pior palco do evento, disparado), corações e mentes foram tragados pela alma fêmea do festival, que no segundo dia foi representada especificamente por Phoebe Bridgers, Jessie Ware (o melhor show de todo o fim de semana!), Lorde e Arca.

Vamos aos shows…  

Os 50 melhores discos de 2021, segundo a APCA

É sempre assim: dezembro chega e com ele as listas de melhores do ano, mas a lista com os melhores de 2021, feita pelo júri de música popular da Associação Paulista de Críticas de Arte (APCA, da qual faço parte ao lado da Adriana de Barros, José Norberto Flesch Marcelo Costa, Pedro Antunes e Roberta Martinelli) só será revelada no início de 2022. Por enquanto, antecipamos os 50 indicados à categoria Melhor Disco, mostrando como, mesmo com todas adversidades do caminho, foi intensa a produção de música neste ano que chega ao fim. Confira os indicados a seguir.  

Vida Fodona #747: Emanar boas temperaturas

Esquentemos.

Ouça aqui:

 

Milton e Criolo cantam “Cais”

existeamor

Mais uma joia deste encontro entre dois seres humanos sublimes – depois de cantarem juntos “Não Existe Amor em SP” como primeiro gostinho do EP Existe Amor, que será lançado nesta sexta, a dupla Milton Nascimento e Criolo faz o jogo de volta e dessa vez cantam uma canção do primeiro, a eterna “Cais”. Como na primeira música, esta também tem arranjo do gigante Amaro Freitas e produção de Daniel Ganjaman – que, por sua vez, antecipou a capa do disco e as outras duas músicas que completam o repertório, as inéditas “Dez Anjos” – parceria de Criolo com Milton – e “O Tambor” – que junta Criolo e o maestro Arthur Verocai.

Precisamos de beleza nestes tempos tão duros

Milton Nascimento ♥ Criolo

Foto: Fred Siewerdt (Divulgação)

Foto: Fred Siewerdt (Divulgação)

O caso Milton Nascimento e Criolo está ficando sério: depois de duetos ao vivo, os dois ícones da música brasileira anunciam o lançamento de um disco em conjunto, o EP Existe Amor, que será lançado no mês que vem e antecipam o que vem por aí ao mostrar regravação da faixa “Não Existe Amor em SP”, com produção de Daniel Ganjaman e arranjos do pianista Amaro Freitas, que acompanha os dois na gravação. E como se não bastasse, o EP também conta com arranjos de outro mestre, Arthur Verocai.

Isso promete…