80 anos de Benito di Paula


Foto: Murilo Alvesso (Divulgação)

Neste domingo Benito di Paula completa 80 anos lançando seu primeiro disco com faixas inéditas em 25 anos, O Infalível Zen. Produzido pelo filho Rodrigo Vellozo ao lado do professor Rômulo Froes (e com o auxílio luxuoso dos bambas Thiago França, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Igor Caracas e Allen Alencar), o disco resgata ideias de canções que vinha trabalhando há décadas e mais outras tantas compostas há pouco, Conversei com os produtores e com o velho compositor em mais uma colaboração para o site da CNN Brasil.

 

O “1964” de Allen Alencar

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O período da quarentena é inevitavelmente fértil para quem trabalha com criação – e quem está prestes a lançar mais um disco registrado no período é o músico sergipano Allen Alencar, que aproveitou a solidão para preparar um EP colaborativo com alguns amigos, sempre à distância. Rastro será lançado nesta sexta-feira e o músico antecipa uma das faixas, a melancólica e delicada “1964”, poema de seu amigo Felipe Bier, que assina como Lobo Guará, em primeira mão para o Trabalho Sujo, com direito até a clipe.

“Bati o olho um dia no poema, já à noite, e foi saindo a música, como uma coisa só”, lembra Allen. “Foi bem rápido, o que não é muito comum pra mim nesses casos. O poema tem o ano do golpe militar e fala um pouco sobre essa sensação de deslocamento, de um estado da mente que se está meio dormindo, meio acordado, como num vôo de avião, depois de um Dramin. Acho que de alguma forma ele se conecta com esse momento maluco que estamos vivendo, tanto nessa reedição de um autoritarismo aqui no Brasil e de se sentir ao mesmo estrangeiro e familiarizado com seu país, quanto no sentido fantástico e quase onírico de viver uma pandemia e todo esse momento, quase parecido com um sonho ruim, ou algo do tipo.”

“O disco foi realizado todo a distância”, continua o músico. “Gravei as coisas aqui em casa, o que era possível de fazer sozinho eu fiz, e outras coisas mandei pros amigos, músicos que eu confio e admiro. Dudu Prudente, produtor e baterista, amigo de longa data de Aracaju, gravou a bateria de uma delas, Daniel Doctors, parceiro em vários projetos gravou baixo, e Zé Ruivo, parceiro costumeiro, gravou alguns teclados. Me meti a mixar, eu mesmo, foi uma aventura.”

Allen Alencar solo

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O guitarrista sergipano Allen Alencar, que já tocou com Criolo, Curumin, Fafá de Belém, Russo Passapusso, Karina Buhr, Guizado, Junio Barreto e Andreia Dias começa a mostrar seu primeiro disco solo, Esse Não é um Bom Verão pra Nós (capa acima), que será lançado na semana que vem em primeira mão no Trabalho Sujo, ao mostrar o clipe de “Kabul”, música que conta comas participações de Richard Ribeiro, Julia Valiengo e Zé Ruivo, este último coprodutor do disco.

https://www.youtube.com/watch?v=hF9WcBXzbcw

“Kabul é umas das músicas que gosto muito desse disco. Foi uma das primeiras que fiz nessa leva de canções que deram forma a ele. Acho que ela de algum modo capta o espírito fundacional do disco, sintetiza algo que eu queria transmitir nesse trabalho. Fui compondo com a Bruna (Barros), enquanto brincávamos com um mapa enorme do continente asiático que temos em casa, fomos construindo sensações de como seria estar em cada uma dessas cidades da música. Ela tem uma atmosfera onírica, como se fosse uma viagem em sonho por cidades reais imaginárias. A Julia Valiengo cantou lindamente comigo e selou essa atmosfera de viagem onírica”, ele me conta.

O Amarelo de Meno Del Picchia e Allen Alencar

Meno Del Picchia e Allen Alencar

Meno Del Picchia e Allen Alencar

Velhos conhecidos da cena independente, os músicos Allen Alencar e Meno Del Picchia resolveram partir para construir uma carreira própria ao criar o duo Amarelo, que mostra seu primeiro disco homônimo aqui no Trabalho Sujo. “Nos conhecemos em 2013, quando a Andreia Dias me convidou pra fazer parte de uma big rock band maluca chamada Canibaile”, lembra Allen. “Além da Andreia a banda contava com o Meno, Tatá Aeroplano, Juliano Gauche, Gustavo Galo, Bárbara Eugênia, Peri Pane e Zé Pi. A partir do Canibaile no mesmo ano eu acho, Meno me convidou pra tocar nos shows do seu então recém-lançado disco Macaco Sem Pelo, naquele mesmo ano. A amizade foi se estreitando a partir daí, continuou no Barriga de 7 Janta, de 2016, e segue até hoje.”

“O Amarelo surgiu dessa afinidade que fomos construindo ao longo do tempo, tocamos juntos em diversos trabalhos com outros artistas e a amizade foi crescendo”, continua Allen. “A partir de um momento comecei a enviar umas músicas pro Meno, pra que ele me ajudasse a termina-lás e a parceria de composição foi surgindo. Todas elas tinham algo em comum, uma coisa cancioneira, uma atmosfera de simplicidade e contemplação parecidas, e tinham como tema basicamente tanto as questões afetivas que circundam uma relação amorosa, como as afetividades de si consigo mesmo, do seu próprio lugar diante das coisas.”

Os dois já têm seus trabalhos solo (além dos dois citados de Meno, Allen lançou dois EPs instrumentais), mas são mais reconhecidos como músicos e já tocaram com grandes nomes do atual cenário brasileiro: o paulista Meno já tocou com Otto, Tulipa Ruiz, Alessandra Leão, Metá Metá e Cacá Machado, entre outros, enquanto o sergipano Allen acompanhou Criolo, Curumin, Russo Passapusso, Junio Barreto e mais outros tantos. Tocaram juntos com Andreia Dias, Karina Buhr e Guizado, banda que participam até hoje.

O primeiro EP, com quatro canções, não tem previsão de lançamento ao vivo, foco que ficou para o ano que vem, com os dois sozinhos no palco, “formato fácil e acessível, modelo que ajuda a circular”. Para 2019 eles prometem mais um novo EP.