Um quadrinho de Stephen Collins, publicado na revista Prospect, e indicado por Alan Moore no podcast Infinite Monkey Cage, da BBC.
Seguindo aquela linha de recriar ícones atuais como se fossem do passado, o designer Steve Finch transformou clássicos dos quadrinhos de super-herói em velharias pulp.
Um dos roteiristas mais importantes de Hollywood hoje em dia (pra você ver o nível…), Akiva Goldsman está se estabelecendo como um dos principais nomes da indústria ao fazer filmes corretos e esquecíveis (como as duas adaptações para os livros de Dan Brown, Uma Mente Brilhante – que lhe garantiu o Oscar – e as adaptações recentes de Eu, Robô e Eu Sou a Lenda), mas ele entrou nesse jogo mostrando credenciais nerds que lhe fizeram escrever o roteiro do quarto filme do Batman (o deplorável Batman & Robin, que eu considero o melhor filme da primeira fase do homem-morcego no cinema, por ser uma reverência ao seriado dos anos 60 mais do que ao quadrinho original) e produzir a bomba que foi o remake de Perdidos no Espaço.
Mas mesmo se tornando cada vez mais certinho e coxinha, ele não largou sua nerdice (não é à toa que JJ Abrams o convidou para dirigir e escrever o episódio de estréia da segunda temporada de Fringe) e está envolvido nas adaptações de Lobo (que vai ser dirigido pelo Guy Ritchie – e isso pode ser bem bom) e de Jonah Hex para o cinema, além de um filme que, mais uma vez inspirado em uma obra de Alan Moore, pode arriscar mexer com os paradigmas do cinema de super-herói – para logo depois voltar atrás. Mas em uma longa entrevista para o LA Times, Akiva conversou um pouco sobre o que pode ser o Monstro do Pântano no cinema:
“We want a film with real Southern, dark horror overtones, a little bit like a classic Universal horror film,” Goldsman said, knowing full well that his presence on the project will stir controversy — it’s a character that filmmaker Guillermo del Toro has called one of the “few remaining Holy Grails” in comics.
Pode ser fodão, mas na mão de quem tá, é mais provável que um filme do Monstro do Pântano mais uma vez seja vítima da maldição de Alan Moore – e gere um filme que até instigue algum interesse próximo ao da obra original, mas que vá fracassar drasticamente em termos comerciais.
O mago, que é um dos principais autores vivos, prepara sua volta, desta vez capitaneando aquilo que ele chama de “o primeiro fanzine underground do século 21”, chamado Dodgem Logic. Segue um trecho do release, assinado pela filha de Moore, Leah:
As cheap and beautiful as a heartbreaking teenage prostitute, Dodgem Logic has a cover price of £2.50, with its content similarly tailored to the fiscal toilet-bowl that we are currently engaged in sliding down. Regular columnists provide delicious, inexpensive recipes, wide-ranging medical advice, simple instructions for creating stylish clothing and accessories from next to nothing, guides to growing your own dinner by becoming a guerrilla gardener, and, in the first of Dave (The Self-Sufficient-ish Bible) Hamilton’s environmental columns, a bold experiment in living with no money. The same approach to helping readers deal with socio-economic meltdown and a blitz of repossessions is there in upcoming features on the present-day resurgence of the squatters’ movement, or in our communiqués from the Steampunk/ Post-Civilisation gang on how to start rebuilding culture and society before those things have broken down completely and our children are reduced to battering each other to a bloody pulp with their now-useless X-Boxes in a dispute over the last tub of pot noodles.
Not only seeking to give practical advice on getting through a rough stretch, Dodgem Logic is also committed to alleviating the attendant sense of anguish and despair by brightening the world with the astonishing cartoon-work of League of Extraordinary Gentlemen’s sublime Kevin O’Neill or that of underground legend Savage Pencil; the musings of Father Ted, The IT Crowd and Black Book’s own Graham Linehan or of the nation’s sweetheart, the implacably positive Josie Long; even a delirious commemoration of the lunar landing’s anniversary by the masterful Steve Aylett. In addition to a variously-hosted women’s column launched by Lost Girls co-creator and erstwhile underground cartoon artist Melinda Gebbie, Mr. Moore will himself be contributing a lead feature on the history of underground subversive publishing from its origins in the thirteenth century, along with various illustrations and words of advice. All these and many other sterling features, including a free CD of magnificent home-grown Northampton music over fifty years, will be contained in the historic premiere issue, sporting an hallucinatory front cover by digital artist Tamara Rogers and debuting this November. Wake up and smell the fairground ozone! No ramming!
A revista sai em novembro, pela Knockabout. Vi lá no CBR.
Mais notícias da série em quadrinhos que deu origem ao tão falado filme: vocês sabiam que existe um RPG inspirado na HQ, que foi lançado logo depois de sua primeira edição? E mais: que Alan Moore aprovou esse RPG? Não é brincadeira, não: dá uma sacada neste post do Once Upon a Geek.
Foto:bluelephant
“To me, all creativity is magic. Ideas start out in the empty void of your head – and they end up as a material thing, like a book you can hold in your hand. That is the magical process. It’s an alchemical thing. Yes, we do get the gold out of it but that’s not the most important thing. It’s the work itself. That’s the reward. That’s better than money.”
Mestre Alan Moore em uma das poucas entrevistas que deu após o lançamento de Watchmen, explicando a natureza de seu trabalho.
Já o leu o Watchmen em quadrinho? Tá com um tempo? Ouve bem em inglês? Então saca só esse episódio da clássica série The Outer Limits, dos anos 60. Há quem diga que o seriado seria uma resposta institucional a outro líder de audiência, Além da Imaginação, uma vez que seu criador Leslie Stevens, ao que consta, seria um agente do governo norte-americano dentro da emissora ABC. Neste episódio, The Architechs of Fear, vemos a criação e execução de um plano Veidtiano até dizer chega – ainda mais no sentido original de Watchmen – que pode ter sido a inspiração original para o próprio Alan Moore (que cita o episódio no encerramento da série). O episódio tem quase 50 minutos, vale assistir.
Por que Watchmen de Zack Snyder não é Watchmen – O Filme, e por que nenhum será
Há muito tempo, quando o filme de Watchmen ainda era considerado uma espécie de lenda urbana, uma das principais curiosidades dos fãs era como eles iriam representar a história do Cargueiro Negro. Para quem não sabe nada sobre Watchmen, Contos do Cargueiro Negro, uma revista em quadrinhos sobre piratas, é um dos títulos do formato mais lidos no mundo paralelo da saga – afinal, num mundo em que super-heróis fazem parte da rotina, por que quadrinhos de super-heróis fariam sucesso?
Mas os tais contos, pelo menos do ponto de vista de Watchmen, não são nos mostrados, à exceção de um. Este surge lido por um personagem completamente alheio à qualquer história das muitas acompanhadas na série. Um garoto negro, chamado Bernie (o mesmo nome de seu único interlocutor na série, o dono da banca de jornais), recostado na esquina que veria o final monstruoso da série se materializar em sua última edição, calmamente lê o quadrinho, completamente alheio à qualquer história que realmente importe em Watchmen, à exceção da revista que lê. Nela, ele acompanha a trajetória do único sobrevivente de um naufrágio, que tem de tomar providências desesperadas – e mórbidas – se quiser continuar vivo.
A história é um dos muitos exercícios de narrativa que Alan Moore exibe como se pudesse dançar com a linguagem que domina. Começamos a ler as passagens da história através da ótica do guri sem sermos perguntados, quadrinhos do conto de terror marítimo superpostos sobre os quadrinhos da história central que fazem o leitor perguntar o que diabos essa porra de história tem a ver com as calças. Até que, como um mágico, Alan Moore tira seu coelho de uma cartola que sequer havíamos avistado – e os quadrinhos começam a conversar entre si, a história ficcional em alto mar e a história real dos super-heróis em crise. Um toque magistral, uma homenagem à força e importância dos quadrinhos, seja linguagem, formato ou narrativa.
Daí a dúvida dos fãs naquele tempo remoto. Será que vão colocar o garoto em frente a uma vitrine de lojas vendendo TVs e alternar as cenas umas às outras? Ou – à medida em que o século digital começou a ver o filme Watchmen tornando-se realidade – será que vão colocá-lo assistindo ao filme ao mesmo filme num PlayStation portátil? Ou será que o diretor vai deixá-lo lendo seu gibi e fazer a câmera “entrar” na história, dando movimento e textura orgânica a imagens estáticas e bidimensionais?
A solução que Zack Snyder optou foi a de transformar o conto em uma animação – e lançá-lo fora do filme. Mas mesmo que em sua versão Ultimate Director’s Cut de cinco horas lançada daqui a dois anos (alguém duvida?) mescle a animação com o filme, a história vai parecer estranha e continuará distante do impacto dos quadrinhos.
Muito pelo fato de Watchmen ser, verdadeiramente, infilmável. Por mais que a direção de arte do filme tenha se esmerado em reproduzir os cenários e personagens desenhados por Dave Gibbons à perfeição (talvez só o Dr. Manhattan, com seu lápis de olho egípcio, olhos sempre bucólicos e benga gigante balangando não tenha ficado tão convincente), a narrativa está longe da burilada por Moore. E olha que Zack Snyder se esforçou para contar tudo: a história paralela dos Minutemen (contada, rapidamente, em uma memorável cena de abertura ao som de “The Times They Are A-Changin’ e em flashbacks) quanto as diversas cenas que acontecem paralelamente e que constroem a história principal e os contrapontos rápidos com a época em que os super-heróis ainda não tinham se tornado ilegais, são histórias superpostas, numa linha do tempo não-linear que alterna câmera lenta, explosão, vísceras e vôos.
Mas Watchmen não tem movimento. A ausência ou excesso de expressões nos rostos dos personagens são detalhados ou caricaturais. Não tem som. A voz de Rorschach e a do Dr. Manhattan soam exatamente como a do narrador da história do pirata, o locutor do telejornal ou do presidente Nixon, pois são vozes ouvidas dentro da cabeça do leitor. Suas cores berrantes são ainda mais berrantes – e suas sombras, menos escuras. Balões de diálogo se alternam com manchetes de jornais, logotipos na rua ou em legendas de narração.
Por isso, por mais que alguns trechos do filme realmente se pareçam com as cenas lidas no quadrinho, elas funcionam mais como homenagem do que como leitura fiel de Watchmen. Porque só há uma leitura fiel de Watchmen: nos quadrinhos. Nisso Alan Moore está coberto de razão ao brigar não apenas com as adaptações de suas obras para a telona mas como ao reclamar que quadrinhos não funcionam no cinema. Parecem que funcionam, mas são mídias opostas, apesar de terem uma série de elementos em comum. Quadrinhos e cinema fazem parte da narrativa histórica do século passado, da forma como aprendemos a ler o mundo e entender o que acontece com ele sem precisarmos nos contentar com livros, rádios, televisão ou jornais.
Então por isso o filme é ruim? Por mais que torçam os detratores, não – sejam eles de Zack Snyder, de filmes de ação ou de histórias de super-herói. Muito pelo contrário. Watchmen é didático e épico ao mesmo tempo, um feito que poucas produções de Hollywood conseguem realizar (Titanic e Gladiador são os únicos que me vêm à memória – ambos, para mim, piores que Watchmen). Como filme de ação, é denso e deprimente, sem nunca deixar a adrenalina cair – seja na tensão ou na pressão. E, mais importante do que qualquer impacto que possa ter, ele está fazendo as pessoas lerem e relerem a obra original (só em 2007, quando o auê em torno do filme começava a ganhar corpo, Watchmen liderou a venda de quadrinhos naquele ano – em relação a todos outros títulos à venda, novos ou velhos). Só por isso, o filme já merecia existir.
E aposto que quando os cheques dos direitos autorais das vendas do quadrinho pingam na conta do Alan Moore, ele sorri escondido. Pode até amaldiçoar, mas…