Alan Moore nos deseja um feliz ano novo

, por Alexandre Matias


Ilustração: Johnathan Edwards

Mas não sem antes falar sobre a importância em se acreditar em deuses de mentira. Via BBC:

Alan Moore”s alternative Thought for the Day (mp3)

Olá todo mundo, meu nome é Alan Moore e eu ganho a vida inventando histórias sobre coisas que nunca aconteceram de verdade.

Quando o assunto são minhas crenças espirituais, talvez seja por isso que eu venere um deus-cobra de cabeça humana do século 2 chamado Glycon, que foi desmascarado como sendo um boneco de ventríloquo há quase dois mil anos. Famoso por todo o Império Romano, Glycon era a criação de um empreendedor conhecido como Alexandre, o Falso Profeta, que é um péssimo nome para os negócios.

O corpo do boneco consistia de jibóia domada, enquanto sua cabeça artificial tinha olhos com pálpebras pesadas e vasta cabeleira loira. Em muitos aspectos, Glycon parecia-se um pouco com Paris Hilton, porém mais simpático e biologicamente mais crível.

Deixando o visual de lado, me interessa um deus-cobra puramente como símbolo, na realidade um dos mais antigos símbolos da humanidade, que pode representar sabedoria, cura ou, de acordo com o antropólogo Jeremy Narby, a própria espiral serpenteante de nosso DNA.

Mas também me interessa um deus que é visivelmente um boneco de ventríloquo. Afinal, é assim que usamos a maioria de nossas divindades. Podemos olhar nos muitos livros sagrados e, ao escolher uma passagem ambígua ou determinada interpretação; podemos fazer que nossos deuses justifiquem nossas próprias agendas atuais. Podemos fazer com que eles falem o que nós quisermos que eles falem.

A grande vantagem em adorar um fantoche de verdade é que, obviamente, se as coisas saem do controle, nós sempre podemos colocá-los de volta na caixa. E você sabe, não importa que eles queiram ou não voltar para a caixa, eles têm que voltar para a caixa.

Em todo o caso, muitíssimo obrigado por ouvir a mim e Glycon, um feliz ano novo a todos vocês!

A transcrição saiu do blog da Forbidden Planet (se alguém se dispor a traduzir, publico e dou crédito) foi traduzida pela Raquel Botelho (valeu Raquel!). O blog da FPtambém separou um trecho de uma entrevista com Alan Moore em que ele fala sobre esse seu deus particular chamado Glycon:

E, há muito tempo, publiquei um texto do Jeremy Narby que ele cita rapidamente ao falar na BBC. Um trecho abaixo:

Após meses de leitura e reflexão, comecei a enxergar coerência nas práticas xamãnicas mundiais. Todos os xamãs trabalham em estados de transe que alcançam de distintas formas, não necessariamente por meio de plantas alucinógenas.Todos os xamãs os acompanham por uma música. Primeiramente, em especial, os xamãs realizam as músicas, tanto cantadas ou por meio de instrumentos. Os xamãs ao redor do mundo associam as essências, ou espíritos, a uma forma que os historiadores de religião chamam de axis mundi, o eixo do mundo, que está formatado tal qual uma escada trançada , ou duas vinhas entrelaçadas , ou uma escada em espiral , as quais eles as descrevem como sendo extremamente longas, tão longas que unem o céu à terra.

A íntegra do texto – parte de um show que Narby fez em 2004 com os Young Gods aqui em São Paulo, quando o entrevistei para a Folhaestá aqui.

Tags: