Minha lista de melhores de 2024 dentro da votação do Scream & Yell

Não passou o carnaval ainda então dá tempo de remoer o ano que terminou tem quase um mês e meio, por isso segue abaixo a minha votação na lista mais tradicional de melhores do ano da internet brasileira, promovida pelo heróico Scream & Yell do compadre Marcelo Costa.

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Driblando o ouvido


(Foto: Sebastina Scauvet/Divulgação)

“‘Canhoto de pé’, diz a mística do futebol, que são os jogadores mais habilidosos, de dribles desconcertantes, enigmáticos”, explica Thiago França sobre o título de seu quinto disco solo, que lança nessa próxima sexta-feira. Quase todo instrumental, o disco foi iniciado em plena pandemia e conta com participações de Juçara Marçal (que canta a única letra do disco, numa versão tocante para “Dor Elegante”, de Itamar Assumpção), dos comparsas que fecham seu trio (Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) e de dois integrantes do grupo Aguidavi do Jêje. Ele segue explicando o título do disco a partir das escalas que usou na gravação. “Daí a viagem: essa música usa uma escala próxima ao blues, que tem a terça maior e a menor e fica variando entre elas, driblando e enganado o ouvido. Acho que nesse disco eu tô tocando dum jeito mais ‘habilidoso’, diferente do Sambanzo e até do MetaL MetaL, onde tudo soa bem forte, explosivo. O fato de eu ser canhoto de pé não influencia nem ajuda em absolutamente nada meu jeito de tocar, e no meu caso, também não me ajudou nada com a bola”, brinca.

O disco, cujo show de lançamento acontece no dia 4 de setembro, no Sesc Pinheiros, surgiu durante o período pandêmico e, segundo o saxofonista mineiro “foi o disco menos planejado que já fiz”. “Ele foi acontecendo lentamente, ao contrário do que eu sempre faço, que é pegar uma idéia e desenvolvê-la ao redor de uma banda fechada que vai tocar tudo”, continua, fazendo referência aos processos tanto a seus projetos coletivos, como o Metá Metá, a Charanga do França, a Space Charanga, os Marginals e o Sambanzo, como a seus outros discos solo. “Eu tava fazendo backup dos arquivos do Logic ouvindo coisas que ficaram de fora do Bodiado (de 2021) e achei que tinha assunto ali pra continuar trabalhando”, contando que começou pelas faixas “Download de Paranóia” (cujo título surgiu num papo com André Abujamra), “Cabecinha no Ombro” (o clássico acalanto de Paulo Borges, gravada com quatro saxes, gravada no aniversário de seu avô) e “Ajuntó de Xangô”, que caíram fora de Bodiado por diferentes motivos e ressurgiram neste disco novo. “Eu não queria repetir a fórmula do disco anterior e elas ficaram guardadas, a vida foi seguindo, pandemia acabando, eleição de 22 que foi aquele caos…”

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Jardim Sonoro 2024: A primeira edição do primeiro festival de música de Inhotim aponta novas possibilidades para o formato

Desde que a curadoria de música do parque Inhotim, um dos grandes templos à arte contemporânea brasileira, no interior de Minas Gerais, foi criada, em abril do ano passado, o primeiro titular do cargo, o maestro carioca Leandro Oliveira vislumbra a possibilidade de realizar um grande festival que mostrasse a que veio este novo pilar do museu-parque. Importante frisar que o superlativo não necessariamente se traduziria em números – a ideia nunca foi reunir nomes pop ou grandes para gerar números para atrair possíveis patrocinadores e sim fazer jus à grandiosidade a céu aberto do jardim que fica do lado da cidade de Brumadinho. O evento aconteceu no fim de semana passada e seu título, Jardim Sonoro, acertou em cheio ao contemplar nomes radicalmente modernos e amplamente populares, reunindo artistas de diferentes nacionalidades, mas com principais atrações brasileiras. Fui convidado pela organização do evento e voltei apaixonado pelo festival.

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Uma orquestra de ritmo

De cair o queixo o ritual rítmico que o grupo Aguidavi do Jêje promoveu neste fim de semana no Sesc Vila Mariana. Pude ver a apresentação de domingo desta orquestra percussiva baiana que já tem 20 anos de atuação e só agora conseguiu apresentar-se pela primeira vez em São Paulo. Também pudera, só no palco são 16 cabeças atracadas ao ritmo do terreiro de Bogum, um dos mais longevos do país, que há quase 200 anos teve papel central na histórica – e pouco difundida – Revolta dos Malês, um dos principais levantes dos africanos escravizados na história do Brasil e palco para a gravação de seu primeiro álbum, homômino, lançado no ano passado, motivo de sua vinda para São Paulo. O grupo é um asombro percussivo cujo único instrumento harmônico – o violão de seu maestro e fundador, Luizinho do Jêje – é tocado de maneira percussiva e funciona como batuta para essa orquestra de ritmos. Entre os músicos, além do filho de Luizinho Kainã do Jêje (que toca uma bateria de atabaques chamada atabaqueria e acompanha artistas como Caetano Veloso e Ivete Sangalo), ainda temos músicos que acompanham diferentes artistas baianos de todas vertentes, de Bel Marques a Baco Exu do Blues, passando por BaianaSystem, Carlinhos Brown, Timbalada, Orquestra Afrosinfônica, entrre outros. O coletivo é um dos muitos filhotes espirituais deixados pelo mestre Letieres Leite, da Orkestra Rumpilezz – Luizinho era percussionista do Quinteto Letieres Leite e já tocou com Olodum, Mateus Aleluia, Virgínia Rodrigues, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Margareth Menezes, Daniela Mercury, entre outros. À esquerda do palco, ele rege com seu violão e canto, as vozes e peles vibradas por seu time, um grupo de músicos de idades distintas e dividido em grupos por instrumentos, embora entre agogôs, pandeiros, caxixis e berimbaus a predominância seja de atabaques. O ataque dos couros do grupo é único na música brasileira e sua força hipnótica de timbres ancestrais atrelada ao canto uníssono de 16 homens foi um dos espetáculos mais impressionantes que vi nos últimos tempos. Mágico.

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Os 50 melhores discos de 2023 segundo o júri de música popular da APCA

Estes são os 50 discos mais importantes lançados em 2023 segundo o júri da comissão de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e apresentadora do Mistura Cultural), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell) e Pedro Antunes (Tem um Gato na Minha Vitrola, Popload e Primavera Sound). A amplitude de gêneros, estilos musicais, faixas etárias e localidades destas coleções de canções é uma bela amostra de como a música brasileira conseguiu se reerguer após o período pandêmico com o lançamento de álbuns emblemáticos tanto na carreiras de seus autores quanto no impacto junto ao público. Além dos discos contemporâneos, fizemos menções honrosas para dois álbuns maravilhosos que pertencem a outras décadas, mas que só conseguiram ver a luz do dia neste ano passado, um de João Gilberto e outro dos Tincoãs. Na semana que vem divulgaremos os indicados nas categorias Artista do Ano, Show e Artista Revelação, para, no final de janeiro, finalmente escolhermos os vencedores de cada categoria. Veja os 50 (e dois) discos escolhidos abaixo: